quinta-feira, 31 de maio de 2012

Escrever

                                     


Acho que sou melhor com palavras escritas do que com palavras ditas.
Ter que se explicar, tentar fazer o outro entender o que se quis dizer, geralmente surgem mal entendidos.
Sempre adorei ler, escrever, conhecer, saber, descobrir...
Queria muito contar para alguém meu novo aprendizado, minha nova descoberta, minha opinião.
Quando estava na escola prestava atenção a cada detalhe da aula e não via a hora de voltar para casa e contar tudo à mamãe. Mas ela estava sempre muito ocupada com aquela eterna montanha de roupa para lavar, os ouvidos ligados ao rádio e a mente a viajar por algum lugar de paz, conforto, felicidade.
Cresci e continuei faminta por conhecimento, é como se meu cérebro fosse dependente e entrasse em crise ao sentir-se vazio.
Aos quatorze anos já conhecia Kafka, Nietzsche, Goethe, Fernando Pessoa, Clarice Lispector, Oscar Wilde, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Lima Barreto, Machado de Assis, Rachel de Queiroz e tantas outras mente brilhantes da literatura brasileira e mundial.
Era nos livros que eu fugia do meu mundo de dor, críticas, culpa...
Lia escondido, era muito criticada por perder tempo com livros em vez de cuidar da casa e dos irmãos menores.
Como dizia mamãe: "Mateo que pariu, Mateo que balance", mas não era bem assim. Mamãe paria, e eu balançava.
Bom...
Sempre fui de poucos porém bons amigos. Não sou afeita à amizades excessivamente grudentas. Me chamam de anti-social, mas não sou, apenas gosto do meu espaço e detesto exageros.
Às vezes sinto uma vontade tremenda de falar sobre um livro que acabei de ler, um filme ou programa que vi, qualquer coisa... 
Tenho receio de passar a imagem errada, de ser julgada arrogante, metida, mas não sou.
Sou mal interpretada, sempre fui.
Escrever é melhor.
Clarice Lispector disse: "Eu não escrevo aquilo que quero, eu escrevo aquilo que sou".
Cazuza disse: "Escrevo para não falar sozinho".
Faço dessas minhas palavras.
É isso.


                                

Coma

                                          


Coma é a perda de consciência.
A pessoa não reage a estímulos e parece dormir profundamente.
Fiquei em coma por vinte e sete dias e quando despertei ainda demorei um tempo para saber o que era realidade e o que eram sonhos e visões. 
Continuei respirando com ajuda de aparelhos que foram lentamente retirados e/ou reduzidas suas funções.
Foi feita uma traqueostomia após minha parada cardio-respiratória; acordei com um peso enorme sobre meu peito e fazia uma força tremenda para respirar, mas não conseguia.
Meu peito pesava, doía e respondia lentamente aos estímulos e massagens dos fisioterapeutas. Eles diziam para eu fazer força, mas era como respirar com um caminhão em cima de mim. Não dava.
A pior parte era quando vinham fazer aspiração da traqueostomia, era horrível. Eu não podia me mexer muito e a sensação daquele procedimento era como se o ar estivesse sendo retirado dos meus pulmões e minha vida junto.
Foi uma temporada difícil, meu Deus.
Uma enfermeira me deu um líquido azul para tomar para ver se eu já poderia me alimentar com comida sólida; eu engasgava um pouco, mas fui lentamente melhorando.
Eu dormia e acordava e não sabia se estava no mundo real ou se no mundo do coma.
Tinha medo das coisas que eu vi.
Outras coisas me encheram de esperança.
Levei Morena Rosa à clínica veterinária para tirar os pontos; ela ficou estressada e não queria ir. Voltamos depois para casa e ela voltou sonolenta e dorme agora.
A assistente da veterinária disse que se eu quiser posso levar os dois machos para a castração, mas decidi que não levarei. Meus machos são frágeis, meigos, delicados, carentes e o impacto e estresse de uma cirurgia seria demais para eles.
Léo Caramelo já enfrenta deformidade física em suas patas traseiras e enxerga muito mal com seus belos olhos azuis e vesgos.
Ébano Nêgo Lindo é meigo e dorme com a patinha em minha mão, acho que não aguentaria alguns dias longe de casa e trancado e isolado em um cubículo frio.
As fêmeas são mais fortes.


                                            

Hora do Recreio

                                           


Na nossa época de escola o intervalo para o lanche era chamado de hora do recreio.
Eram curtos quinze ou vinte minutos onde podíamos conversar com nossos colegas, alguns corriam pelo pátio e a maioria ficava na imensa fila da cozinha para pegar o lanche e repetir. Quando alguém dizia que ia ter repetição todos corriam para garantir o lugar na fila.
Via os alunos com seus pratos e canecas nas mão a esperar a tão desejada vez de comer ou beber mais um pouco da gororoba chamada lanche.
Eu raramente pegava lanche, só quando era bolo ou bolacha wafer.
Eu tinha certo nojo das refeições preparadas pelas merendeiras da escola; a sopa era um caldo marrom com uns grãozinhos estranhos a boiar e chamávamos "sopa de Bonzo". Bonzo era uma ração para cães, uma das primeiras a surgir no mercado.
O arroz doce e a canjica era ralos caldos brancos e para encontrarmos um grão tínhamos que pescar com a colher.
Só sobrava mesmo o bolo e as bolachas, porque o resto...
A coordenadora ia de sala em sala para falar sobre a importância de uma boa alimentação, que estávamos em fase de crescimento  e que precisávamos comer. Eu não comia aquela gororoba de cor estranha.
Mamãe foi chamada e informada sobre minha recusa em comer o lanche oferecido pela escola e eu continuei me recusando, mas chegava à casa e só não comia as paredes.
Algumas vezes comprava Lanche Mirabel (já falado sobre em postagem anterior), mas comia no caminho para a escola.
Nossa turma era dividida em riquinhos e pobres e as filas do lanche eram compostas por estes; os riquinhos levavam seu próprio lanche e eu achava chic e delicioso o embrulho em papel alumínio. Outros levavam iogurte e eu achava lindo lamber a tampa do pote e dizia comigo mesma que um dia eu também levaria um delicioso lanche embrulhado em papel alumínio e um pote de iogurte.
Cresci e hoje a variedade de ração e iogurte é imensa.
Mas ainda acho que o lanche embrulhado em papel alumínio fica muito mais gostoso.


                                                         

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Reinações de Beatriz


Recebi esse e-mail da minha irmã Rosi, mãe de Beatriz.
Já falei que Bibi é inteligentíssima, lindíssima, espertíssima e muitos outros "íssimas".
Falo tudo isso sem exagero, pois apenas falo a verdade e nem sou tão coruja assim!

                                              


Oi Rejane,

Uma da Bia, mais umas!

Passava o comercial sobre a série “As Brasileiras”.  Algumas atrizes ela conhece de outros trabalhos, por exemplo: “Olha mãe, a Cláudia da novela Aquele Beijo”, é a Giovanna Antonelli. A Norma da Insensato Coração, é a Glória Pires, a Chiara(novela do Totó) é a Maria Ximenes, enfim.....
Aí ela sai com essa ideia, eu adorei só falta agora avisar pra Globo! “Mãe por que eles não fazem “Os Brasileiros” ??? Não seria legal?” Pergunta Beatriz.
Respondo que sim, séria ótimo, afinal porque só contar histórias sobre mulheres né!? E pergunto se ela teria sugestões de nomes de atores, pra testar se ela também conhece/associa algum como faz com as atrizes.
Bia responde: “O Selton Mello do filme O Palhaço que a gente assistiu, e o Rodrigo Santoro, porque ele é bonito né mãe?! Claro que eu concordo! Pouco depois passa um comercial de escola de inglês com quem? Rodrigo Santoro. E Bia fala: Olha lá mãe o Rodrigo Santoro. E o pai dela pergunta: “Desde quando você sabe quem é Rodrigo Santoro menina???. E Bia não se deixa abater: Ué pai, não lembra que a gente foi ver o filme “Reis e Ratos”? Tem ele, o Selton Mello e o Jorginho da Novela!, lembra?
E o pai olha pra mim com cara de incrédulo e orgulhoso. Nossa precoce brasileirinha já tem lá suas, boas, preferências.
Aliás, o Jorginho da Novela também daria um ótimo brasileiro, Cauã Reymond!

Essa é sua sobrinha.

Ontem ela perguntou sobre a palavra “Bravo”. Dei o significado mais próximo ao nosso dia a dia: bravo, chateado, nervoso... Aí ela deu o exemplo de um desenho em que alguém chama outro de “bravo cavaleiro!. Expliquei que aí significa corajoso, valente.... Mãe, mas nem um desses combina com o que o Cebolinha e o Cascão falaram quando acabou a exibição de um filme no episódio em que eu assisti no meu DVD da Turma da Mônica? Eles batem palmas e gritam “Bravo, bravo...”
Ahhhh, disse eu, aí significa ótimo, bom, gostei do filme, legal,.......
Nossa mãe! Como uma palavrinha só pode significar tanta coisa né!?
Pois é, filha! É a sua língua, vai se acostumando. Ela ri, e fala “língua, que engraçado”
Lá vamos nós pra outra explicação.............!

Muito legal ver a Beatriz descobrindo o mundo, e a Língua Portuguesa. Não tem preço!


Beatriz
                                           

Energia

É assim que me sinto hoje
                                       


Tenho estado meio mole.
Muito cansada e dolorida, fisicamente.
Sem energia para nada. 
Tenho essa sensação de queimação nos olhos, nariz e garganta,  como se gás do fogão estivesse escapando, mas não está. Verifiquei meu fogão.
Falei com outros pacientes acromegálicos do grupo do qual sou membro, Acromegaly Support, e todos relatam sintomas semelhantes.
Escuto o menino do vizinho chamar: "Professora!".
Veio dizer que Branca estava na rua e meteu a cara na grade do portão ao correr assustada e tentar voltar para casa. Ela não enxerga direito. Léo Caramelo e Morena Rosa também não e são vesgos. Gatos de olhos azuis têm certa dificuldade visual.
Branca correu e se enfiou debaixo do carro do vizinho; deu um trabalhão para conseguir tirá-la de lá.
Agradeci ao menino e ao vizinho.
Branca está imunda, está mais para encardida do que para branca. Eu pensei que após a castração ela ficaria quieta, mas parece que foi pior, sua curiosidade e instinto explorador estão mais fortes.
Estão todos os seis em casa, graças a Deus.
Vou para minha cama, amanhã será um dia melhor. Amém.
É isso.




Branca
                                            

terça-feira, 29 de maio de 2012

Curiosidade & Banho

                                             


Fui hoje à Farmácia Alto Custo para buscar minha injeção de Sandostatin-LAR.
Eu deveria ter ido ontem, mas o trânsito estava travado; hoje foi melhor.
Entreguei a papelada para conferência e foi-me dada a senha para retirar o remédio na sala ao lado; havia "apenas" cinquenta e três pessoas na minha frente. Esperei uma hora e quinze minutos até chegar minha vez e até que não foi tão demorante assim, como diz Bibi, já esperei mais de três horas.
Estava sentada com a caixa de isopor no colo e um garotinho se aproxima e pergunta o que é que tem ali dentro e eu digo que é gelo.
Acho que ele pensou que na caixa de isopor haveria bebida, sorvetes ou outras guloseimas geladas.
Meu número é chamado e vou ao balcão entregar a papelada mais uma vez, assinar, entregar cartão do SUS e pegar meu remédio. 
Voltei para casa e tomei banho. É uma coisa que aprendi com Mãevelha, tomar banho quando retornar de locais como farmácias, hospitais, cemitérios, velórios e locais onde haja energia forte e carregada.
Não sei se tem fundamento, mas desde criança faço isso e via minha avó, minha mãe, minhas tias velhas fazendo o mesmo.
Mamãe dizia que o banho além de nos limpar fisicamente, limpava as energias pesadas e as mandava para o fundo do mar sagrado e assim ficaríamos limpos e protegidos. Amém.
É isso.




                                        


                                            

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Memória

                                                   


Lembro de causos e acontecimentos de quando era muito criança, mas tenho dificuldade de lembrar coisas atuais.
Fui levar Morena Rosa para a veterinária e lá chegando dou as informações básicas, mas na hora de falar o número do telefone...
"Esqueci! Vou pra casa e de lá te ligo para te falar meu número"
E foi o que fiz.
Eu tinha mania de guardar papéis, documentos e até dinheiro dentro dos livros. Ficavam lá e eu me esquecia.
Tempos depois eu ia fazer a limpeza, adorava tirar meus livros da estante e limpar um por um e depois colocar de volta um por um, e encontrava coisas que eu nem lembrava que existiam ou que eu tivesse colocado lá.
Muitas vezes mamãe via-se nervosa por estar acabando as coisas em casa e não tinha dinheiro nem para o cigarro; o problema maior era papai, que não comia sem mistura, tinha que ter carne, ovo nem pensar. 
Papai ficava bravo ao voltar do trabalho e saber que iria jantar arroz, feijão, farinha e ovo: "Oxe, e não tem carne não, é?"
"É fim de mês, meu velho, as coisas estão acabando, graças a Deus. Você quer que eu faça milagre, é?"
"Eu não vou comer sem mistura!"
"Oxe, pai. É só misturar o arroz com o feijão e pronto!"
Papai ficava doido.
Fim de tarde e mamãe começa a preparar o jantar; ela sabe que papai iria reclamar da falta de carne e da presença de ovo, de novo.
Mamãe tem uma ideia: "Vou procurar nos livros! Quem sabe Rejane não esqueceu um dinheirinho dentro de um deles?"
Mamãe procura e acha.
Chego do trabalho e encontro a mesa farta; mamãe fumando cigarros de um maço cheio, café quentinho e cheiroso, panelas cheias no fogão, graças a Deus.
"Oxe, mãe, onde a senhora conseguiu dinheiro pra comprar as coisas? Pegou emprestado com alguém, foi?"
Mamãe sorri e diz: "É que tem alguém aqui em casa que deixa dinheiro nos livros e esquece".
Outras vezes conhecidos iam à nossa casa para pedir ajuda à mamãe e ela dividia o pouco que tinha. Às vezes a pessoa precisava de dinheiro para a condução, para comprar leite ou remédio para o filho e mamãe dizia: "Tenho não, meu filho. Estou esperando meu velho e meus filhos receberem"
Mamãe pensava um pouco: "Espere aí. Vou dar uma olhada nos livros da minha menina mais velha"
Mamãe com o livro nas mãos, olha para o céu e diz: "Deus abençoe minha filha e os livros dela"
Amém.


Alguns dos meus preciosos livros
                                           

Bolinhos

                                               

Meio da tarde e dá aquela fominha, aquela vontade de comer uma coisinha, uma besteirinha, como diz meu irmão Rogério.
Eu sempre gostei de assistir a programas de culinária e tentava fazer as receitas; algumas delas, as mais simples.
Não tinha muita coisa disponível na despensa e eu improvisava com o que tinha: farinha de trigo, ovos, açúcar, sal, leite e fermento.
Eu fazia uma massa mais doce e depois polvilhava com açúcar os bolinhos fritos e fazia outra massa salgada para os bolinhos salgados de Mãevelha. Ela comia dos dois, mas dizia preferir os salgados.
Para acompanhar os bolinhos eu preparava chá Matte Leão e o fazia bem docinho.
O lanche da tarde estava pronto: chá com bolinhos doces e salgados.
Li em algum lugar que a felicidade está nas pequenas coisas; a felicidade é encontrada pelo caminho e não no fim deste.
Era bom ver meus irmãos, Mãevelha e até a bicharada se deliciando com meus bolinhos.
É isso.


                                           
                       
                                                  


                                          



Frango e Batata

                                           


Mamãe havia partido e em casa ficaram papai, Renata, Naldão e Fubá.
Renata era a chef da casa e preparava o jantar para quando todos chegassem do trabalho. O cardápio era sempre alguma carne com batata: carne moída com batata, carne com batata, salsicha com batata, frango com batata, qualquer coisa com batata.
Uma vez fui ao supermercado e Renata foi junto, pois precisa comprar, adivinha o que? Batata!
O preço da carne subiu e o consumo de frango aumentou; era frango todos os dias. Frango frito, assado, cozido, empanado, com molho, torta de frango, qualquer coisa com frango.
Fubá chega do trabalho e pergunta: "O que vai ter pra janta, Renata?"
"Frango com batata"
"De novo?! Pelo amor de Deus! Não aguento mais comer frango, daqui a pouco vou criar bico!"




                                                   

domingo, 27 de maio de 2012

Fim de Tarde

Fim de tarde do meu portão
                                              


Adoro fins de tarde.
Paro para observar a claridade dourada, a luz, a sombra, o comportamento dos pássaros e da Natureza.
Tem gente que não liga para isso, acha que é bobagem; gente que apenas vive a vida prática, fria, insensível às vezes.
Fui tomar minha dose mensal de Sandostatin LAr e claro, teve alguma burrocracia até eu conseguir tomar a bendita injeção.
Volto para casa. Era um belo fim de tarde.
Observo o movimento das folhas das árvores sob o sabor dos ventos, o azul do céu, o dourado da tarde que se despede aos poucos para dar lugar à noite. É o crepúsculo.
Tudo e todos dormem. Tudo e todos precisam descansar. Tudo e todos amanhecem até o dia que cumpram seus ciclos e não amanheçam mais por aqui, mas em outro lugar.
A passarinhada corre para as árvores, é hora de dormir, de se aconchegar em um cantinho e descansar; amanhã mais uma batalha pela vida.
Observo esse movimento, essa mudança diária. Observo a Natureza, a vida, o ciclo.
Às vezes acho que não sou muito normal.
Mas normal é ser frio, prático demais, insensível? 
A vida não é apenas trabalho, obrigações, convenções, muitas vezes fingir aquilo que não é apenas para ser aceito em um grupo, por exemplo. 
Não, isso não é para mim.
Gosto dessa minha relação com as coisas da Natureza.
A vida moderna é tão rápida e tão corrida que são taxados de loucos aqueles que desaceleram um pouco para apreciar a dádiva da vida.
Agradeço por poder ver, ouvir, sentir e viver.
Sou normal.
É isso.


                                               

Hinos, Mudanças & Versões

                                           


Beatriz é filha de mãe corinthiana e pai santista.
Beatriz é sobrinha de um palmeirense e uma dúzia de corinthianos. Graças a Deus.
Mas Beatriz está se bandeando para o lado do Santos: "Eu não gosto mais do Corinthians, agora eu sou Santos. Tá bom, eu torço só um pouquinho pro Corinthians".
Voltávamos da Festa de Casa Luce e falávamos sobre futebol, torcidas e hinos e Beatriz cantou o Hino Nacional Brasileiro e uma nova versão para o Hino do Santos: 
"Agora quem dá a bola é o Santos
O Santos é o novo campeão
Glorioso alviverde baiano"
Agora o jeito é torcer para que Rafaela não mude de time e continue sendo sempre Corinthians.
Vai Curinthia!!!




                                           



Itália

Paróquia de Casa Luce
                                              
Papai tinha orgulho de dizer que era nordestino neto de "intaliano", além de pernambucano, palmeirense e macho! Exatamente nessa ordem.
São Paulo é a cidade mais italiana fora da Itália e a partir do mês de maio podemos apreciar a cultura, a música, a alegria e principalmente a culinária italiana nas festas típicas de Casa Luce, San Genaro, San Vito, Achiropita e quermesses de bairro.
Muito macarrão, vinho quente, quentão, bolos, doces, jogos e muita alegria.
São festas juninas que trazem o melhor do sertão com o melhor da Itália e esquentam as frias noites do outono/inverno paulistano.
Ontem fomos eu, minha irmã Rosi, meu cunhado Pepê e minha sobrinha Beatriz à Festa de Casa Luce (Casa de Luz) no bairro do Brás, um bairro tipicamente italiano mas que recebeu e recebe migrantes e imigrantes de outras paragens: italianos, nordestinos, coreanos, bolivianos...
São Paulo está sempre de braços abertos a receber gente dos quatro cantos do mundo.
Passeamos pela Rua Caetano Pinto, entramos na Paróquia de Casa Luce e depois fomos degustar uma bela macarronada da mamma ao som de belas canções italianas.
São canções conhecidas por nós, pois ouvíamos no rádio que ficava sempre ligado quando mamãe ficava em casa. Adorávamos quando mamãe saía mais cedo do trabalho ou quando não ia trabalhar. Ela trabalhava em casa, e muito, mas estávamos em sua companhia, para nossa alegria.
Músicas como "Torneró, Io que amo solo te, Dio come ti amo, Roberta, Champagne" eram tocadas no rádio e cantávamos num italiano improvisado. Algumas músicas também foram temas de novelas e é muito bom ouvir de novo boas canções.
Fotografei a capela, o cantor de bela voz e Beatriz se deliciando com o macarrão.
Rosi perguntou se ela queria mais alguma coisa e ela disse: "Não, mãe. Eu vou si matar com esse spaghetti aqui".
E enquanto definíamos o cardápio, eu pergunto à Beatriz se ela queria macarrão e ela disse: "Macarrão não, eu quero spaghetti".
É isso.


Beatriz degustando o macarrão da mamma
                                      

sábado, 26 de maio de 2012

Medo

                                           


Papai gostava de dizer: "Duas coisas que eu não conheço: medo e preguiça".
Deus estava vendo.
Dias desses me perguntaram qual meu maior medo ou medos, e eu respondi.
Tenho tido sonhos tensos, intensos, fortes, incômodos. Pesadelos.
Anos atrás acordei com uma voz malévola, sarcástica e debochada que dizia: "Você é sozinha".
Meu Deus.
A solidão, o abandono, o procurar terra nos pés e não encontrar...são esses meus maiores medos.
Tenho outros medos básicos que todo mundo tem e é normal: medo de altura, de lugares fechados, de barata (mais nojo que medo), da violência das grandes capitais...
Tenho medo de palhaço, de gente mascarada, de gente que pinta o rosto e passa-se por estátua viva. Não gosto disso. Na minha mente maluquetes acho que a pessoa é abafada pela maquiagem/máscara e o que fica exposto é o seu verdadeiro eu e não conhecemos de verdade o verdadeiro eu das pessoas; conhecemos suas máscaras!
Meio doido, mas é assim que vejo e penso.
Estava caminhando pela calçada e vejo uma figura vestida e maquiada de estátua viva distribuindo doces e pirulitos; era promoção de uma loja. Atravesso a rua. A figura percebe, pega alguns doces e faz sinal para mim; agradeço e recuso, de longe,  a simpática e assustadora oferta e penso comigo: "Se essa coisa atravessar a rua e vier em minha direção vou descer a porrada!".
Sou da paz, mas como qualquer animal acuado, o ataque é a melhor defesa.
Já vi crianças pequenas em estado de pânico ao se depararem com pessoas vestidas de bichinhos, de personagens de desenho animado, estátuas vivas etc...
Meu, quer fazer promoção e dar docinho? Então dá! Mas sem essa coisa besta e medonha de gente vestida e pintada! Oxe!
Acordei hoje chamado por mamãe. De novo.
Estávamos na casa onde havia a majestosa mangueira e as adoradas cravinas de Mãevelha.
Conversávamos e cada um ia para um lugar; eu ficava só. 
Abria um armário e via maços de couve, acelga e catalonha e outras verduras e dizia para mim mesma que prepararia alguma coisa para papai comer quando chegasse do trabalho. Ele deveria chegar logo.
Ando pela casa e todos os cômodos estão vazios assim como todas as outras casas do quintal. Estou só e me bate um desespero. Me senti só e abandonada.Cadê todo mundo? Chamo por mamãe e acordo chamando "mãe, mãe!".
Muitos temores nascem do cansaço e da solidão, já cantou  Renato Russo.
É isso