sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Gelatina

                              



Tive uma semana difícil; pressão alta e dores articulares.
O ortopedista receitou um remédio controlado que, segundo ele, seria mais eficaz no controle das dores.
Mas o remédio me fez mal; causou náuseas, tontura, sono, moleza e aliviou relativamente bem as dores.
Não saí ontem nem hoje e fiz muito pouco pela casa.
Amanhará estarei melhor, acredito.
Ouvi dizer que gelatina também é boa no alívio das dores articulares, assim como chá de gengibre com limão.
Tenho o chá e amanhã farei a gelatina.
Boa noite a todos.


                                 

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Zona Leste

                                


Tive perícia marcada para hoje às onze horas e pedia-se que chegasse quinze minutos antes da hora agendada. Até aí tudo bem.
O local da perícia mudou e não temos mais que encarar má vontade, cara feia de médicos grossos e mal educados do DPME. Têm uns bem famosos entre os periciados; o cara fez curso de estupidez junto com o de medicina.
Conforme o agendamento, o local da perícia seria na Rua Rincão, 40 na Vila Esperança, próximo ao metrô Guilhermina- Esperança. Ok.
Vejo o endereço e parece-me simples, próximo à Avenida Amador Bueno da Veiga. Encontrei o endereço com facilidade.
Estaciono em uma ruazinha estreita e de ladeira, pego meus exames, bolsa e bengala e dirijo-me ao endereço mencionado no agendamento. Encontrei um local fechado e sem movimentação de pessoas. Esse local foi a Diretoria de Ensino Leste 1.
Em uma porta vejo um pequeno aviso, mas não consigo enxergar e preciso descer três degraus sem corrimão para pode ler o que está escrito: Perícia na Rua Doutror Heládio, primeira à esquerda. #$%@!
Subi e desci uma ladeirinha até chegar ao bendito local e encontrei uma recepcionista educada e simpática. Ela diz que a perícia é demorada e que o médico fica com o paciente algo em torno de uma hora. Então por que falam para chegar mais cedo?!
Cheguei um pouco antes das dez da manhã e fui atendida ao meio dia e meia.
O médico foi simpático, fez inúmeras perguntas e me examinou, coisa que nunca foi feita pelos outros peritos pouco simpáticos.
O doutor mediu minha pressão, que para variar estava alta (17x11), examinou e apertou meus joelhos e minha coluna. Doeu. 
Eu não deveria dirigir estando hipertensa e só, mas como era um local próximo, não achei que haveria problemas, mas o médico me orientou e me liberou.
Fiquei preocupada e com medo, já pensou se esse homem resolve me internar?! Ave Maria! Pensei comigo.
Termina a perícia e subo a ladeirinha e desço outra até chegar ao carro. Cansei e só consegui subir e descer porque estava com minha bengala e me apoiei em algumas árvores; tive medo de cair.
Agradeci às árvores.
Entro no carro e faço o caminho de volta pela Amador Bueno, achei que bastaria fazer o percurso inverso e logo logo estaria em minha humilde residência. "Si ferrei".
Em determinado trecho da avenida é obrigatório virar à esquerda para retornar na mesma avenida quarteirões depois. Não era assim antigamente.
Sigo o fluxo e vejo placas indicando a Radial Leste e a Marginal Tietê; fiquei tranquila. Passo por ruas com belíssimos ipês amarelos e primaveras coloridas enfeitando os quintais e calçadas de casas antigas que deixam a Penha com jeito de cidadezinha de interior.
Fui dirigindo, dirigindo e nada de voltar na Amador Bueno da Veiga e passo por várias estações de metrô: Vila Matilde, Artur Alvim, Patriarca...
Placas indicam o bairro de Itaquera e ao longe vejo o Itaquerão, o Arena Corinthians. Coisa linda.
Estou é longe casa!
Paro em um posto e pergunto ao frentista como voltar sentido Centro e sou informada para seguir em frente e fazer o retorno. Fiz.
Rodei e rodei e fiquei feliz quando vi lá no alto a Igreja da Penha.
Volto pra minha quebrada, como dizem os manos da ZL, e de lá vou à casa da minha irmã Rosi para saborear a deliciosa farofa do meu cunhado Pepê.
Que dia meu Deus, que dia.
Vou fazer meu chá de gengibre com limão para ajudar a aliviar as dores e proporcionar um bom sono. 
Hoje abusei do meu corpinho acromegálico, principalmente das minhas pernas e joelho.
É isso.




segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Um dia de domingo

                                



Deitei-me cedo ontem e estava bem, apesar de cansada.
Havia limpado a cozinha, afastado a geladeira, o fogão e esfregado o chão. Pretendia lavar a garagem, mas as energias foram se exaurindo à medida que meus joelhos iam inchando. Parei e decidi que continuaria hoje pela manhã, pois à tarde eu iria à casa da minha irmã Rosi para saborear sua deliciosa comida e a farofa de Pepê, meu cunhado.
Acordei com fortes dores às cinco da manhã e fui ao banheiro. Vomitei e passei muito mal; tive calafrio, senti ondas de calor e frio intensos e uma sensação de desmaio.
Tomei água, remédio e voltei para a cama e adormeci até as dez horas.
Acordei melhor, mas as pernas estavam duras e pesadas e os joelhos doloridos e inchados.
Meu cunhado Pepê me ligou e eu disse que não iria porque não estava bem e o mais legal de tudo é que ele trouxe uma "marmita" para mim. Minha irmã Rosi preparou tudo direitinho e ele trouxe e ainda disse que eu posso ligar a qualquer hora quando precisar de ajuda.
Esse meu cunhado Pepê é cabra bom, tem coração bom e peço a Deus que abras os caminhos dele, o ilumine e proteja a ele e a sua família. 
A todos nós. Amém.
Comi a deliciosa comida da minha irmã e me senti melhor. 
Depois fiz algumas coisas leves que ainda não havia feito, limpar o quintal dos gatos e regar as plantas, que estavam meio murchas nesse calor de quase trinta graus em pleno inverno.
Assisti ao Repórter Eco e ao Planeta Terra da TV Cultura, odiei esse novo quadro de humor do Faustão. Coisa chata e confusa.
O Fantástico também deixou a desejar e detesto quando perdem tempo com reportagens sobre mágicos mascarados, malucos que desafiam o perigo, cozinheiros que fazem comida química e afins. É muito chato!
Meu irmão Fubá me ligou e primeiro me deu uma bronca, claro, para depois perguntar porque não liguei para ele e oferecer ajuda quando eu precisar.
Estou perdendo meus movimentos, que estão cada vez mais difíceis e doloridos.
Levantar da cama, sofá, cadeira etc... é difícil e preciso fazer malabarismo para manter-me de pé.
Não está fácil, mas eu vou vencer mais essa.
É isso.




domingo, 25 de agosto de 2013

Maxixe e Água de Chocalho

Maxixe
                                
Maxixe é uma hortaliça muito consumida no Nordeste.
É um fruto ovalado, verde e coberto por espinhos que não picam.
Nossas hortas simples eram cheias de maxixe, cebolinha verde, coentro e outros legumes, verduras e temperos.
Meu avô Paipreto ajudava mamãe e Mãevelha a cercar nossa pequena horta para evitar que as galinhas, cabras e outros animais a destruíssem.
Era encantador caminhar pelos caminhos entre as plantas e colher folhas verdes que iriam temperar carnes, ser consumidos em saldas, caldos etc...
O Maxixe também tinha outra função além da de nos alimentar, explico.
Servia para calar a boca de crianças que falavam muito.
Os adultos reclamavam da tagarelice da meninada e diziam assim: "Mas esse menino fala demais, deram água de chocalho pra ele, foi?"
Segundo a tradição, dava-se água em um chocalho para a criança beber e logo ela desembestaria a falar pelos cotovelos.
O chocalho era feito com a cabaça e servia como cuia para beber água ou consumir alimentos.
E quando nós ou alguém falávamos demais, mamãe dizia: "Ah um maxixe quente na boca desse menino!"
Lembrei disso agora a pouco, após a tagarelice em altíssimo volume dos vizinhos.
Oh povo pra falar alto!
Esses sim mereciam um maxixe bem quente na boca!
É isso.





                                       

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Helicópteros

                              


Adormeci pela manhã e tive um sonho que me deixou meio triste.
Estava em um hospital moderno que tratava de pacientes com câncer; helicópteros particulares e da polícia sobrevoavam o local.
Vejo dois bebês em um dos helicópteros e eles vão ao hospital para serem tratados. Tadinhos.
São bebês de menos de um ano e são tão bonitinhos.
Vejo uma moça com um tumor enorme e que ela tenta esconder sob a blusa; ela me olha com olhos tão tristes.
O hospital está lotado e muita gente a andar para todos os lados. Vejo papai deitado em uma cama e dou-lhe uma bronca. Digo que ele não tem câncer e que está tomando o lugar que poderia ser de alguém que realmente precisa.
Mas papai estava interessado em uma enfermeira ou paciente bonitona.
Olho para aquelas pessoas deitadas ou sentadas em suas camas, a tomarem remédios, a serem cuidadas. Vejo suas cabeças carecas, seus olhares tristes, suas dúvidas e esperanças. Meu Deus.
Acordei muito triste e pedi a Deus e ao Povo lá de Cima que cuidem dessas pessoas, sejam elas desse lado da vida ou de qualquer outro lugar, mas que as amparem, as acalentem, as façam sorrir.
Voltei a dormir e me vi tentando amarrar um enorme lenço branco de seda em minha cabeça. Eu ficava tão bonita. Mas isso só no sonho mesmo.
Subo as escadas de uma casa e lá há uma festa. Alguém sorri carinhosamente para mim e me da doces, balas e jujubas coloridas.
Vejo três moças loiras e bonitas e elas falam comigo e me dão conselhos. Vejo que elas têm pés grandes como os meus e experimento o sapato delas. Fiquei feliz por encontrar pessoas como eu e isso me fez sentir menos só.
Acordei mais aliviada.
Antes de fazer a primeira cirurgia sonhei com pessoas deformadas, doentes tanto física quanto emocionalmente, abandonadas pela família, tristes, solitárias e largadas em uma ala de um hospital.
Acordei tão triste e pedi por essas pessoas.
Desde que o mundo é mundo sabemos que o que se leva dessa vida é a vida que se leva. Não levaremos riqueza, posses, poderes, nada disso e mesmo assim as pessoas são perversas, cruéis, cínicas, hipócritas...
Conheci mais uma paciente acromegálica que foi deixada pelo marido assim que ele soube sobre a doença dela.
Ninguém quer cuidar de alguém doente, todos querem que todos os outros sejam saudáveis, bonitos, perfeitos, mas se esquecem que as doenças não escolhem, elas apenas acontecem.
E acontecem para ricos, pobres, feios, bonitos... Todos somos suscetíveis, ninguém é inatingível, mas muitos pensam e agem assim.
Eu vou ficar bem.
Tenho fé.
É isso.



                                       

Batalhas

                                


Tomo chá de gengibre com limão todas as noites antes de me deitar, mas mesmo assim está difícil dormir.
Deito e o chá acalma e lentamente vou me transportando para lugares bons, tranquilos e bonitos.
Viajo para meu Sertão ,para a doce época em que segurava a mão de mamãe enquanto caminhávamos por entre os pés de feijão.
Enquanto caminhava pelas ruas de Gravatá vestida em minha adorada jardineira e uma mão na mão do meu amado avô Paipreto e a outra no bolso da minha roupa favorita.
Para os braços fortes de meu avô José, que sempre chegava na hora certa para me defender das chineladas de mamãe e de minha avó Mãevelha. 
Eu aprontava muitas artes e sempre perto dos animais da fazenda e era aí que eu deixava mamãe e minha avó doidas.
Acho que meu avô José deveria ter um radar, uma câmera escondida ou algo assim, pois ele sempre sabia quando eu estaria em perigo e chegava montado em seu belo cavalo a tempo de me envolver em seu braços fortes e morenos.
É uma das mais doces e belas lembranças que tenho do meu avô José; ele montado em seu cavalo bonito.
Mas dali a pouco as dores vêm me despertar. Maldita, horrenda, estúpida Acromegalia!
Acordo, joelhos doendo, coluna doendo. 
Escuto os barulhos da madrugada e lá pelas cinco ou seis da manhã o sono chega, mas é bem na hora de levantar.
Parece que minhas "férias" acabaram e agora a Acromegalia me ataca com tudo.
Mas eu já venci outras batalhas mais difíceis e vencerei essa também.
É isso.




                                        

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Feroz

                                                 


Observava uma foto do aniversário de minha sobrinha Rafaela, há apenas um ano, e me entristeci com os danos causados, as dificuldades, as dores, o entrevamento... Tudo isso aconteceu em apenas um ano.
Há um ano eu podia andar sem bengala, andar por uns duzentos metros sem me cansar muito, sem doer, sem entrevar, mas hoje está tudo diferente.
Hoje fiz algumas coisas pela casa. Coloquei roupas na máquina, limpei o fogão e a geladeira e só faltou limpar o chão.
Eu ia bem, mas comecei a sentir um peso nas pernas, um entravar e as malditas dores, claro.
Sinto-me um robô velho e enferrujado.
Esticar as pernas dói muito; as pernas "acostumaram-se a ficar dobradas e quando as estico, é uma dor absurda. Preciso ficar de pé lentamente até adquirir estabilidade e confiança para poder andar.
Odeio tudo isso.
Tenho falado com novos pacientes acromegálicos e a maioria teme e reclama dos males causados pela doença. Não é fácil.
Tive quase dois anos de tranquilidade, de dores que eram controladas com remédios e depois desapareciam, de poder caminhar com certa naturalidade.
Acabou o tempo e a Acromegalia voltou com tudo.
Veio a Acromegalia como um animal feroz que ataca a presa, que lhe rasga as entranhas, que a devora, que saboreia a carne e o sangue frescos.
E as pessoas são tão cruéis...
Uma moça acromegálica disse que descobriu-se com a doença por meio de uma brincadeira de mal gosto de uma pessoa que estava na mesa com ela e mais outras pessoas.
Essa pessoa, muito da idiota, diga-se de passagem, começou a fazer brincadeiras e comentários maldosos sobre o nariz dessa moça acromegálica e após todos irem embora, ela chorou bastante.
Gente assim deveria se olhar no espelho antes de sair por aí julgando os outros e de fazer piadinhas nada engraçadas.
Detesto quando me olham insistentemente e em seguida fazem comentários, cochichos e depois dão risadinhas.
Conheço gente assim, infelizmente.
Não está fácil pra ninguém.
E é um porre ter que ser objeto de admiração de ignorantes.
Saio quando necessário, faço minha coisas, mas gosto de ficar na minha.
Não sou boa com palavras ditas e quase sempre sou incompreendida; sou melhor com as palavras escritas.
Guardo-me em meu silêncio e transbordo-me nas palavras escritas.
É melhor assim, evita mal entendidos, mal estares, mágoas...
Em meu silêncio guardo meu barulho. 
É ensurdecedor.


                                      

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Bolinhos e Rosquinhas

                              


Fiz bolinhos de chuva e os polvilhei com açúcar. 
Preparei um bom café forte e doce na medida. Tomei deliciosos goles entre uma mordida e outra nos bolinhos.
Minha avó Mãevelha adorava bolinhos com café ou às vezes com chá Mate Leão. 
Em épocas difíceis e de pouco dinheiro, mamãe preparava bolinhos para a mistura. Acho tão estranho esse termo.
Farinha de trigo, ovos, sal, óleo, fermento em pó químico, tomate, cebola, alho, folhas, temperos...
Misturava tudo e despejava colheradas no óleo quente; os bolinhos ficavam macios, deliciosos e devorávamos com o arroz e o feijão de cada dia.
Em dias melhores eu fazia rosquinhas; dava um trabalhão mas o resultado eram roquinhas douradas, fofinhas, polvilhadas com açúcar, deliciosas.
Mamãe nem esperava eu fritar as rosquinhas direito e ia colocando-as em um tigela, polvilhando-as com açúcar e devorando-as.
Era dor de barriga na certa.
Eu dizia para mamãe esperar esfriar, que as rosquinhas estavam quentes, que ia fazer mal... Mas mamãe era gulosa, devorava uma boa meia dúzia de rosquinhas, se não mais, e depois reclamava. E ainda tinha a cara de pau de dizer que não gostava muito de doces.
Era tão bom.
É isso.