terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Empregos de papai

                            


Papai trabalhava como vaqueiro na Fazenda Taquari, onde nasci. 
Papai adorava seu trabalho e orgulhava-se de seus conhecimentos na lida com o gado.
Mas a seca mais uma vez assola nosso Sertão, o gado morre de fome e sede, os retirantes tentando vida nova em "Sum Paulo" e papai sem emprego.
Papai vai de fazenda em fazenda mas a situação é a mesma e é aí que um dos poderosos coronéis oferece um emprego de coveiro no cemitério da cidade.
Papai não tinha experiência nenhuma nisso, mas mentiu dizendo que sabia tudo sobre a nova profissão. Sobreviver é preciso.
Papai levanta-se cedo, como todo bom nordestino, e sai leve e fagueiro para seu primeiro dia no novo emprego.
Papai tem que abrir covas novas, tirar os restos das sepulturas existentes e colocá-los em gavetas para dar espaço aos novos defuntos que viriam.
A seca mata gente e bicho sem piedade. Ela não escolhe não.
Papai pega as ferramentas de trabalho e sem experiência nenhuma, mete a pá  bem no meio de uma cova cujo defunto fora enterrado há menos de um mês.
Uma explosão seguiu-se e um susto enorme também. 
Papai contava: "Eu carecia de trabalhar e fiquei reparando como o outro coveiro fazia. Meti a pá na cova e puf! Estourei o bucho do defunto!".
Nós ríamos quando ele contava, mas posso imaginar a vergonha e o medo de perder o emprego que ele sentiu.
Vida de coveiro não era para papai e ele decidiu tentar a sorte em terras paulistanas. Foi metalúrgico por muitos anos e antes de se aposentar trabalhou como vigia de uma empresa.
Mesmo aposentado, trabalhava vendendo doces e salgados em sua barraquinha na calçada do Ambulatório Maria Zélia.
Papai era inquieto, agoniado, avexado, trabalhador, honesto, neto de "intaliano", pernambucano, palmeirense e macho.


                                   

                                   

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