sábado, 31 de dezembro de 2011

Reciclagem antes do politicamente correto

                                         


Já falei aqui que antigamente a sandálias Havaianas eram coisa de pobre, hoje estão nos pés de celebridades e é coisa fashion.
O mesmo ocorre com as camisetas e produtos Hering. No nosso tempo de escola usávamos camisa branca para as aulas e camiseta branca da Hering para as aulas de Educação Física.
Havia pouca opção de marcas e produtos e dessa forma nos tornávamos fiéis a determinadas marcas: Hering, Havaianas, Conga, Kichute, USTop, shampoos Colorama, iogurte Danone e por aí vai. É, sou meio "véinha" e vivi/usei tudo isso. Tenho 44 anos mas um corpinho de 43!. Ah, e estou doida por uma sandália Havaiana do Corinthians e doida também para ir à loja Hering que vi na Vila Maria. Sou humana e sou menina.
Sim...
Lembro do sabonete Lux Luxo e de suas embalagens bonitas e elegantes. Adorava a imagem da rosa no papel perolado do sabonete. Depois a imagem da rosa foi substituída por fotos de celebridades e me lembro do comercial do sabonete com a atriz americana Michelle Pfeiffer. Eu assistia ao comercial e tentava imitar os gestos da atriz durante o banho; queria fazer aquela espuma cremosa que ela fazia. Mas tudo que conseguia era irritar aqueles que aguardavam na fila para tomarem banho e/ou usarem o banheiro. Era gente pra caramba e um só banheiro.
Então...
As embalagens dos produtos raramente eram jogadas fora e quase sempre reaproveitadas. Por exemplo: os copinhos de iogurte serviam para tomar suco; eram mais seguros para as crianças pequenas. Era e é arriscado dar copo de vidro para os pequenos.
O óleo de soja e outros óleos usados na cozinha vinham em latas; hoje vêm em embalagens plásticas. Lembro de um óleo de soja que vinha numa lata cilíndrica com listras pretas e amarelas e um desenho ovalado no qual se lia o nome "Salada". Depois de vazia, Mãevelha ou Paipreto abriam a lata, cortavam-na ao meio, faziam uma asa para segurar e faziam canecas para beber água. A água na lata ficava mais fresquinha e gostosa.
Havia outra marca de óleo de soja que não me lembro o nome mas me marcou a imagem. Era uma lata com fundo laranja avermelhado e uma enorme variedade de folhas verdes e legumes. Achava aquela imagem linda e tentava falar os nomes das verduras e legumes que compunham a salada daquela imagem.
As latas de leite em pó da marca Ninho também eram reutilizadas, ou recicladas, como está na moda hoje.
Engraçado, primeiro o Homem destrói o planeta e depois faz campanhas para tentar conter o estrago que Ele mesmo fez! 
Bom...
As latas de leite Ninho eram usadas como vasos para plantas e flores. Mãevelha plantava suas cravinas e mamãe colhia algumas outras flores e folhagens e fazia um belo arranjo para colocar na mesa e decorar a sala. Tudo muito simples, porém bonito e sem desperdício.
Mamãe também tinha o hábito de colocar água na embalagem vazia das caixas de leite longa vida e depois despejar essa água leitosa nas plantas. Ela dizia que servia como adubo e as plantas ficaram mais fortes e bonitas.
Mamãe já fazia reciclagem muito antes de isso virar moda e ser politicamente correto.
Mamãe também aproveitava a água que soltava do tanquinho e da máquina de lavar roupas para lavar o quintal e o banheiro. Segundo ela, a água já continha sabão e por isso seria útil reaproveitá-la e evitaria o desperdício. 
Quando se tem muito pouco sabe-se fazer muito bom uso daquilo que é e está disponível.
Os alimentos também eram reaproveitados. Já falei aqui também sobre o coco e a parte que tem o furinho era usada como vasinhos para plantas e a outra parte era usada como concha para pegar alimentos líquidos. Meu Paipreto colocava um cabo de madeira e estava pronta a concha ou a "quenga", como dizíamos.
As sementes das frutas e legumes também eram reaproveitadas. As sementes de jerimum (abóbora) eram salgadas e torradas no forno; ficavam deliciosas. As sementes de jaca eram cozidas e substituíam o feijão.
As sementes de melancia eram secas ao sol e depois pisadas (moídas/trituradas) no pilão e serviam de remédio contra a febre; fazia-se um chá com esse pó. 
A parte branca da melancia servia para fazer doce e com as cascas eram feitos bonecos e outras figuras pelas habilidosas mãos do meu avô Paipreto.
As cascas do abacaxi eram colocadas de molho em bastante água e ficavam de um dia para o outro; depois escorríamos e tínhamos um refrescante suco de abacaxi natural e sem conservantes, acidulantes, adoçantes, e qualquer "antes" químicos.
As cascas de laranja e limão eram penduradas e secas e serviam para fazer chás calmantes ou para acompanhar uma bolachinhas. As deliciosas bolachas que "roubávamos" de Mãevelha. Tínhamos as nossas próprias bolachas, mas as de nossa avó Mãevelha eram mais gostosas. 
A borra do café era usada como adubo. As cascas de ovos e de alimentos também.
Tudo era reciclado, reutilizado, reaproveitado e nada desperdiçado. Às vezes penso que foi muito bom termos tido essa vida bem difícil, pois assim sabemos valorizar o que temos e se temos, é porque conseguimos conquistar com nosso trabalho. (nem todos, é claro. Há exceções, como sempre).
Papai dizia que se quiséssemos conquistar as coisas na vida tínhamos que trabalhar e muito e arrematava: "Quem quiser moleza que vá empurrar bêbado na ladeira ou tomar sopa de minhoca". Eca!
"Rapadura é doce mas não é mole não!". Dizia também meu ignorante, semianalfabeto, pernambucano, palmeirense e macho pai. 


                                              









Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixem comentários, adoro saber o que pensam sobre o blog. Obrigada ;-)