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domingo, 28 de agosto de 2011

Mar oceano, rios, água, Recife, São Paulo, memórias...

Hoje está um dia lindo. Céu azul, sol e calor...
E uma vontade imensa de ver o mar. Mar Ocenao, como diziam os antigos.
Nasci no sertão seco, tórrido, árido, mas sempre tive um fascínio pelo mar; uma atração que é na verdade uma paixão.
Diferentemente das pessoas "normais", não vou à praia apenas quando o tempo está quente e ensolarado, gosto mesmo de apreciar o mar bravio e cinzento em dias cinzentos de chuva e frio.
O mar me encanta, envolve, atrai.
Lembro-me de minha infância em Pernambuco e das nossas dificuldades. Mamãe pedia dinheiro emprestado aos vizinhos para poder pagar a passagem até Recife para irmos à casa de tio José. O tio sempre nos ajudou em momentos de dificuldade. Ele morava em uma casa pequena cercada pelos rios Beberibe e Capiberibe. Era assustador e encantador.
Mamãe e eu chegávamos à casa do tio e éramos recebidas pela tia Mira, esposa do tio José. Ela já sabia como proceder, conhecia nosso sofrimento.
Sempre que nos aproximávamos da casa do tio, víamos a tia Mira com a vassoura na mão varrendo os caranguejos que insistiam em entrar na casa. Eu parava para ver essa cena que achava engraçada e mamãe partia para os cumprimentos habituais à tia e aos sobrinhos. O tio estava no trabalho.
Mamãe e a tia entravam na casa, mas eu queria ficar do lado de fora olhando os caranguejos e fascinada pelas águas cinzentas e poderosas do rio.
Era aquele mundo de água, como diziam mamãe e mãevelha, minha avó.
Eu tinha a impressão que os rios de certa forma respeitavam a pequena casa dos tios, pois seria muito fácil para aqueles dois rios imensos e poderosos invadirem aquele espaço físico que era deles por natureza. Era muita água! E muito fascínio também. As águas sempre me atraíram.
Voltávamos para nossa casa em Gravatá. Mãevelha e Paipreto, minha avó e meu avô, nos aguardavam. Trazíamos sacolas com alimentos e algum dinheiro. Mamãe pagava o empréstimo feito para podermos ir a Recife.
Na sacola vinha alimentos que faziam a alegria de meu avô. Leite condensado, que ele chamava de "leite de moça" e achocolatado. Paipreto adorava! Acho que seus netos têm a quem puxar, pois adoram leite com chocolate!
E essa fartura e alegria duravam até chegar o dinheiro de "Sum Paulo" que papai mandava todo o mês. Mamãe recebia o dinheiro, pagava as contas e voltava a Recife para pagar o tio. Ele negava a receber, ficava bravo e ainda voltávamos para casa com a sacola cheia de "leite de moça" e achocolatado.
São lembranças doces e boas e que tornam a vida suportável.
São lembranças de uma época de sofrimento e pobreza, mas que eu tinha saúde, tinha meu adorado avô e eu nem sabia que raios que é acromegalia.
É isso! São essas doces memórias de uma curtíssima infância em Pernambuco que me fortaleceram e são o meu pilar de sustentação para aguentar o tranco. O amor de meus avós, a luta e a coragem titânicas de minha mãe ajudaram a formar o meu caráter.
Sou mameluco, sou de Casa Forte,
Sou de Pernambuco, sou Leão do Norte.