sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Dia

                                           



Primeira semana de trabalho e eu estou cansadinha. O corpinho demora a se acostumar ao novo ritmo, mas estou gostando e estou bem.
Levanto cedo para assistir aos telejornais e acabo cochilando no sofá; é sempre assim.Assisti a um programa de artesanato e depois zapeei pelos canais de TV. Nossa!
Parei no canal Multishow e passava o programa TVZ; decidi dar uma olhada, fazia muito tempo que não assistia. Não perdi nem ganhei grande coisa. Perdi meu tempo.
Os clipes mais pedidos eram exibidos e quando liguei estava na posição número cinco; resolvi ver quem seriam os campeões. Não consegui.
Em quarto lugar cantava Claudia Leite uma música muito da boba, um tal de "Largadinho"; deixei para ver se a próxima prestava e só me decepcionei: Rihana dançando vulgarmente um quadradinho de oito em versão americanizada e cantando uma música monótona, enfadonha e fazendo apologia ao sexo, bebida, ostentação... Que moça chata!
Não dá! Pra mim não dá!. 
Mudei de canal e me desinteressei totalmente pelos clipes que viriam a seguir. Bons tempos aqueles de clipes simples mas com boa música.
E, na boa, se Claudia Leite, Rihana, Jennifer Lopez, Beyoncé, Mariah Carey dependessem de mim pra vender seus álbuns horrendos... melhor nem pensar.
Desliguei a TV e fui cuidar das coisas antes de me preparar para ir ao trabalho. Chego à escola e fico na secretaria; a inspeção esteve no local e recomenda que eu evite subir as escadas. A primeira coisa que fiz foi abaixar o volume do rádio. 
Gosto de música quando estou em casa fazendo as coisas, mas ouvir música enquanto leio, estudo, trabalho etc... não dá.
Trabalhei bastante e nem tive uma folguinha para ler mais umas páginas de Tchekhov. Voltei para casa cansada e esse calorão de deserto só piora as coisas.
Estou na metade do livro e o próximo na lista de espera será mais um de Erico Verissimo, um de meus autores favoritos.
Vou tomar mais um banho e me deitar; estou cansada.
É isso.


                                           

                                                  

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Molecão

                                     


Um jovem rapaz, um molecão com cara de nerd, de cabelos compridos, vestido com camiseta dos Ramones, me cumprimenta e sobe para a sala dos professores.
Quem é esse moço?
É o professor de Química.
Moleque novo, no bom sentido. Achei isso muito bacana, uma raridade nos dias de hoje.
Subi para a sala dos professores e lá soube um pouco mais sobre o jovem colega.
Falamos sobre a Educação, o comportamento do jovens, o apego exagerado à ostentação, aparência, exibicionismo, futilidades...
O jovem colega foi aprovado entre os cinco primeiros em um concurso público para professores de uma cidade do interior paulista e se mudará para lá a partir do segundo semestre.
Ele poderia ter optado por escolas na capital, mas preferiu deixar a cidade para viver onde ainda haja sossego, paz e respeito pelos outros. Não quer criar a filha pequena em um meio ambiente barulhento, desrespeitoso, ruim e por isso optou pela mudança.
Um rapaz tão jovem e tão adulto, maduro, sábio... E os jovens de hoje estão tão bobos, tolos, fúteis... (a maioria, infelizmente).
Disse que está cansado de ouvir músicas horrorosas de duplo sentido, e/ou recheadas de palavrões, que os vizinhos tocam sem o menor pudor ou sem se preocupar se estão incomodando os outros. Sei muito bem como é isso.
Reclamou do alto custo que é viver em São Paulo, uma das cidades mais caras do mundo.
Conversamos sobre vários assuntos.
Essa primeira semana de volta ao trabalho tem sido de muita conversa e eu gosto disso.
Desço as escadas para falar com a diretora e vejo o oposto do jovem professor: jovens bobos, vestidos e calçados em roupas e sapatos da moda e extremamente preocupados em serem vistos. Famosinhos, exibidinhos, tolinhos. 
Jovens andando pelas ruas da comunidade, segurando e dando tragos no narguilé; acham aquilo bonito e se sentem mais velhos, sábios e experientes.
Mas que bom que ainda têm "molecões e moleconas" como o jovem professor. Nerds, CDFs... Jovens inteligentes, estudiosos e que se preocupam com a vida e com o futuro.
E, claro, já foi cientificamente comprovado: roqueiros são mais inteligentes.
É isso.


                                          


quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Opções

                                       



Sou da paz.
Embora meu carão acromegálico possa, talvez, mostrar o contrário, eu sou da paz. 
Trato a todos com educação e respeito, só não gosto de muita "firula, lero-lero, nhem-nhem-nhem, blá,blá,blá, tal e coisa, coisa e tal". 
Pronto, falei.
E julgar os outros pela aparência é um grande erro, a não ser que a pessoa esteja acima do peso e insista em usar legging quase transparente mostrando as coisas. Jesus, Maria José!
Bom...
Estou na sala dos professores lendo o jornal "A Folha de São Paulo; sou assinante do "Estadão", mas gosto de ler os fabulosos textos de Contardo Calligaris, colunista do jornal.
Jornais e revistas são assinados pela escola, mas são pouquíssimos os professores que se dão o trabalho de ler. Eu devoro tudo o que vejo largado ali na mesa.
Uma professora senta-se ao meu lado e puxa conversa e eu deixo o jornal de lado e bato um agradável papo com a colega. Ela se surpreendeu com minha educação, simpatia e ausência de preconceito e disse que muitos colegas a evitam por não gostar ou concordar com sua opção sexual.
Eu disse-lhe que ali dentro somos todos professore e a opção sexual, religiosa ou seja lá o que for de qualquer um, não me diz respeito; nem a mim nem a ninguém. Estamos ali para fazer nosso trabalho da melhor maneira possível, não estamos ali para julgar ou sermos julgados.
"Poxa, você é mente aberta mesmo! Só pessoas cultas têm essa visão de mundo. Você lê bastante né?..."
E aí a conversa prosseguiu; falamos sobre jornais, revistas, livros, autores, jornalistas, cultura... Assuntos que adoro falar a respeito.
Mamãe nos dizia: "Saibam entrar e sair dos lugares, a gente é pobre, mas tem que mostrar que tem educação".
Acho que ouvi mamãe.
É isso.


                                          



AVC

                                      






Voltamos ao trabalho nessa segunda-feira que passou, dia vinte e sete de janeiro. Escolas particulares e municipais voltam ao trabalho em datas diferentes.
Cumprimentei a todos, fui bem recebida de volta, conversei com alguns colegas e senti falta de outro: o professor que trabalharia comigo na sala de leitura. Estávamos tão animados e tão empenhados no projeto de leitura para os alunos!
Não temos muita estrutura; a sala é pequena, tomada por estantes abarrotadas de livros, não tem espaço físico para juntar um grupo de alunos e discutirmos literatura, minha paixão maior.
Mas temos boa vontade, coragem, paixão pelo que fazemos. Se amor pelo que se faz pagasse salário, ganharíamos salários maiores que o de jogadores de futebol!
Mas não vi o professor. Sempre simpático, sorridente, prestativo, um cara bacana mesmo. Ele estava tão empenhado em reconfigurar os computadores e catalogar os livros; até me mostrou como se faz.
Perguntei a um colega se tinha visto o professor e ele disse: "Você não sabia? O professor teve um AVC (acidente vascular cerebral/derrame), está andando e falando com dificuldade, etá meio desligado".
O professor é diabético e, segundo soube, não se cuidava direito. 
Fiquei triste ao saber sobre meu colega e peço a Deus que ele fique bem.
Torço por ele.
É isso.


                                          

Carne Moída de Soja

                                     



Estava na sala dos professores e a colega esquenta seu almoço trazido de casa. É mais saudável e mais barato que comer todos os dias as guloseimas vendidas na cantina da escola.
Eu achei bonita e bem soltinha a carne moída com legumes que a colega trouxe e soube que era carne moída de soja. Eu também uso essa carne, mas geralmente  a coloco no molho à bolonhesa para o macarrão, tortas salgadas e lasagna.
Na embalagem do produto dize-e para hidratar a "carne"; despejar água quente, tampar e aguardar uns dez minutos. Depois escorrer e apertar até tirar o excesso de líquido; preparar a gosto.
Tanto a carne de soja, como o leite e os outros produtos não têm um sabor propriamente gostoso, é preciso temperar bem, no caso da carne.
Cozinhei cenouras com temperos e usei cominho e pimenta do reino; gosto muito. Mamãe comprava na feira esses temperos e os usava sem moderação.
Escorri o caldo e reservei. Juntei a carne de soja diretamente da embalagem, sem hidratar, como me ensinou a colega natureba, e refoguei com azeite de oliva, molho de soja, temperos etc... Adicionei o caldo da cenoura aos poucos e só o suficiente para deixar a carne úmida, sem molhar demais. 
Cozinhei arroz branquinho, meu favorito, e fiz suco de melão com limão. Congelo pedaços de melão e depois bato no liquidificador com limão, fica parecendo aquele "smoothie" caro do "begui magui". O meu é mais barato e mais gostoso.
Jantei bem e estava tudo até que gostosinho. Não era lá uma picanha com alho, um tutu à mineira, um virado à paulista, um churrasco gaúcho, uma tapioca com queijo coalho lá de Olinda, uma acarajé da Bahia de Nosso Senhor do Bonfim... 
Pequenos excessos só aos finais de semana e eu estou doida por uma cerveja bem gelada, uma caipirinha bem docinha, uma carninha assada, uma linguicinha, uma farofinha...
É isso.