quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Almoço e Janta

                                                         
                                                 
Minha sobrinha Rafaela tem apenas cinco meses mas já está terrivelzinha.
Rafaela encara, deixa claro quando não está satisfeita com algo, gosta de passear, é rueira, adora melancia e tem o apetite de lobo do seu pai Fubá. 
Resumindo: Rafaela é da família, graças a Deus.
Ontem fui visitá-la e a cobri de mimos e fiquei sabendo de um detalhe sórdido contado por sua mãe, minha cunhada Preta. 
Era hora do almoço e a avó, dona Elza, deu-lhe a comidinha mas Rafaela continuou chorando. O jeito foi dar também a janta a Rafaela, que encheu o buchinho de depois dormiu a tarde toda. 
É que Preta deixa tudo encaminhado para facilitar os cuidados da avó para com Rafaela. 
E numa tacada só lá se foram almoço e janta para saciar a fome da pequena linda e terrível.
Falei para Preta pedir um feijoada, uma buchada, um mocotó ou uma coisinha light dessas para Rafaela.





                                                         

Rare Disease Day - Dia das Doenças Raras

                                                                                                             


Hoje é 29 de fevereiro, dia do aniversário do meu irmão Rogério.
Hoje é também o Dia das Doenças Raras: www.rarediseaseday.org
A Acromegalia é uma doença rara, estranha, desconhecida e que nos deixa com uma aparência estranha e brutalizada.
Participo de um grupo chamado Acromegaly Support e foi fundado por um acromegálico que também luta contra a doença. Têm pessoas do mundo inteiro e nos comunicamos em inglês.
É um grupo bacana e divertido e trocamos informações, fazemos confidências e oferecemos ombros e ouvidos amigos aos que precisam desabafar e aliviar o peso que carregam.
O bacana desse grupo é que ficamos sabendo de histórias semelhantes às nossas: preconceito, temores, tristezas, cansaço e tudo o que envolve a Acromegalia e seus efeitos físicos e emocionais.
Apenas moramos em países diferentes, falamos línguas diferentes, mas somos iguais em nossas batalhas por vida e saúde.
Somos humanos, demasiado humanos.


"Eu sou quem eu sou e sua opinião não é necessária"
                                                   



                                                 

Rotina

Saí de casa hoje cedo e fui à escola para levar alguns papéis e depois fui à casa do meu irmão Fubá.
Meu irmão tem um pequeno mercadinho e é um entra e sai de pessoas comprando de tudo um pouco, principalmente crianças atrás de doces e balas.
Conversava com Fubá quando entram no estabelecimento dois rapazes querendo comprar cigarros. Eles param, cochicham, olham para mim e continuam a cochichar. Ouvi o de sempre: "É mulher ou homem?".
Eles nem se preocuparam em disfarçar ou parecer elegantes; agiram como gentinha mesmo.
Alguns minutos depois vem uma garotinha para comprar balas, ela sai e volta dali a pouco acompanhada de um senhora que deveria ser sua avó. Ambas ficam na calçada a olhar e a apontar para mim e não precisa ser gênio para adivinhar sobre o que elas falavam.
Isso já virou rotina. Todo santo dia é a mesma coisa.
Acho que se eu vivesse na época do Freak Show/ Circo dos Horrores, acharia normal o comportamento das pessoas ditas normais, mas vivemos em pleno século XXI (21) e numa era de informação rápida e tecnologia cada vez mais moderna e mesmo assim as pessoas cultuam, alimentam, perpetram a ignorância, o preconceito e a intolerância.
Talvez eles não tenham espelhos e, se tivessem, viriam quão doentes são.


                                                

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Segredo

                                                


Hoje fui à casa de minha irmã Rosi, mãe da minha lindíssima sobrinha Beatriz.
Esperei Beatriz voltar da escola para cobri-la de beijos e me deixar ser "vítima" de suas travessuras.
Ela está doidinha para voltar ao Pet Center e comprar alguns animaizinhos. Quer comprar alguns ratos fofinhos, porquinhos da Índia, coelhinhos, gatinhos, cachorrinhos, peixes, tubarão, aves exóticas e uma arara linda e vermelha com uma bela e longa cauda.
O problema é que arara linda custa apenas R$ 1.800.00 e uma ave colorida e exótica com que Beatriz brincou, custa a bagatela de R$ 6.000.00! 
Pensei comigo: "Será que eles aceitariam minha injeção que também custa R$ 6.000.00 como forma de pagamento ou escambo?"
Beatriz e eu combinamos que seria nosso segredo e não contaríamos a ninguém sobre nossa aquisição animal, literalmente.
Daqui a pouco será quarta-feira e logo logo o domingo estará aí e isso quer dizer que Beatriz me lembrará da visita aos animais do Pet Center.
Amanhã também é dia de jogar na Mega Sena; vou criar coragem e vergonha na cara e vou jogar. Vai que eu ganho.
Vixe Maria! Vou comprar o zoológico de São Paulo, meu.


                                                   

7 Vidas

                                            


Quando vou ao hospital Santa Helena sou reconhecida pelos enfermeiros, médicos e até pelas senhoras da cozinha e da limpeza. 
Trato a todos com educação e respeito e brinco com a moça da cozinha dizendo que ela fez confusão e trouxe o almoço errado. Digo a ela que o meu prato é uma picanha com alho e uma cerveja bem gelada e não aquela comida insossa, hipo sódica (com pouco ou nenhum sal). 
Na minha última cirurgia, e queira Deus que tenha sido a última mesmo, fiquei todo o tempo na U.T.I. e uma das médicas me reconheceu e falou sobre o trabalho que dei à toda equipe médica.
Ela disse que eu usei pelo menos umas três das sete vidas de gato que tenho. Era para eu ter ido, eu cheguei bem perto da morte ou ela chegou bem perto de mim, não sei. 
A doutora disse que peguei infecção generalizada, que meus rins pararam de funcionar, meu pulmões não funcionavam e eu respirava por aparelhos. Dei um trabalhão a eles e tive um trabalhão imenso, gigantesco para voltar à vida. 
Depois que ela saiu eu fiquei com aquilo na cabeça e fiquei triste. Lembrar e falar do meu coma sempre me deixa triste.
Algumas horas depois veio o Dr. Chico e me deu os parabéns por mais uma cirurgia; me chamou de guerreira e eu disse a ele, que também é pernambucano:
Sou mameluco
sou de Casa Forte
sou de Pernambuco
sou Leão do Norte
Acho que usei todas as forças de todos os leões nortistas e nordestinos para poder estar aqui, deste lado da vida.
E se usei três das minhas sete vidas, pretendo fazer o melhor dessas quatro vidas que me restam. 
Se Deus quiser.
E como mamãe gostava de dizer: "Que os anjos digam amém".


                                                  

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Guaraná

                                                 


Morávamos em Gravatá e papai estava em São Paulo.
Mamãe trabalhava em casa de família e o pouco que ganhava era para ajudar com as despesas da casa até chegar o dinheiro que papai nos mandava todos os meses.
A patroa de mamãe ia fazer uma festa de aniversário para um de seus filhos e mamãe ajudava com os preparativos. Estava quase tudo pronto. 
A patroa chama mamãe e diz:
"Pare um pouco para descansar e fazer um lanche, vá até a cozinha e pegue um guaraná e um sanduíche".
Mamãe agradece e pergunta: "Será que eu poderia ir até minha casa e levar o guaraná e o sanduíche para meus filhos? Eles ainda não comeram hoje".
A dona da casa comove-se com o pedido de mamãe que vai para casa não apenas com sanduíche e um refrigerante, mas com uma sacola cheia de alimentos.
Foi uma festa só nossa.
Mamãe volta mais tranquila para o trabalho.


                                            



Água

Açude com pouca água
                                               


Estávamos no ano de 1971, ano de muita seca.
O açude da fazenda estava secando. O gado tinha sede. Nós também.
Papai e mamãe faziam o que podiam, mas não era o suficiente.
A água era necessária para saciar a sede do gado e a nossa.
Papai andava léguas em busca de água.
Mamãe estava grávida de Naldão; Rogério e eu éramos pequenos.
Um dia não havia mais água; o açude estava seco e os potes também.
Papai e mamãe vão até a fazenda de um vizinho que ainda tinha água em seu açude e pedem um pouco do precioso líquido, mas mesmo vendo o barrigão de mamãe, ele nega a água.
Papai e mamãe voltam para casa e esperam anoitecer; eles têm um plano. 
Pegam latas vazias e caminham em direção à fazenda do vizinho; embrenham-se no mato, agachados, tentando não serem vistos. Passam por baixo de cercas de aveloz, planta cheia de espinhos.
Estão na beira do açude enchendo suas latas d'água, escutam um ruído e uma voz que grita. O ruído era um tiro, que passou de raspão por mamãe e a voz que gritava era a do dono do açude que expulsava os ladrões de sua água.
Papai e mamãe voltam para casa, amanhã seria outro dia. Tentariam de novo.
Mamãe dizia: "Nada como um dia depois do outro e uma noite no meio. Deus não há de desamparar os filhos Dele".


Aveloz
                                          

Mamadeira e calça plástica

                                          


Na época em que nasci as mamadeiras eram de vidro. Não havia a variedade plástica que há hoje e que é muito mais segura.
Lembro que minha mamadeira era de vidro com desenhos vermelhos e a tampa vermelha.
Vermelho era a cor favorita de mamãe.
Quando a mamadeira quebrava ou quando tinha muita criança para alimentar, minha avó Mãevelha improvisava com uma garrafa de guaraná, que também era de vidro. Lavava muito bem, colocava o leite e depois o bico da mamadeira na boca da garrafa. Ficava meio estranho, mas funcionava do mesmo jeito: nos alimentava e nos "enchia o bucho", como ela dizia.
E eu gostava de olhar e comparar a diferença de cores que havia entre o leite na mamadeira de vidro transparente e o leite na garrafa verde de guaraná.
Às vezes eu cismava de tomar leite só na garrafa porque achava que a cor verde do vidro deixava o leite mais gostoso.
As fraldas também eram um episódio à parte; geralmente eram panos feitos com sobras de lençóis velhos. Algumas fraldas bonitinhas eram compradas para serem usadas em ocasiões especiais, mas dentro de casa no vuco vuco era pano véio mesmo.
Fraldas descartáveis eram caras e coisas de gente rica, nós não podíamos nos dar o luxo de termos nossas bundinhas protegidas por fraldas tão chiques.
E para não molhar a roupa, já que a fralda era de pano, usávamos calças plásticas. Tinha as bem básicas e simples e tinha umas bem bonitas com botões na lateral. 
Quando lavadas, essas calças plásticas demoravam muito a secar, principalmente nos meses frios e chuvosos, mas Mãevelha e minha tia Anália encontravam soluções para o problema: sacolas plásticas de supermercado. Elas dobravam as sacolas no sentido do comprimento, cortavam a parte de cima para deixar no comprimento certo e cortava a parte de baixo para passar as pernas. Pronto! Tínhamos uma prática e útil calça plástica. 
Minha família reciclou muito e muito antes de isso virar moda.


                                                

Educação, ou a falta desta

Vejo cada vez mais a falta de educação das pessoas para com os outros.
Ontem fui ao Pet Center com minha sobrinha Beatriz e enquanto ela me ajudava a pegar a ração dos gatos, um casal de mal educados passa por nós e quase nos derruba. Eu imaginei que ao nos ver, o casal parasse e nos deixasse passar; mas não foi isso que aconteceu.
Não estão respeitando mais ninguém; nem idosos, grávidas, crianças, ninguém!
Que país é esse cuja economia é a sexta do mundo mas que em educação e respeito deve estar nos últimos lugares?!
Deus me livre.


                                           

Parece

Ébano (mas pode chamá-lo de Nêgo Lindo que ele vem) e Morena Rosa
                                                   
Ontem fui ao Pet Center da Marginal Tietê com minha sobrinha Beatriz.
Geralmente evito ir a esses lugares aos domingos, estão sempre lotados, mas era caso de urgência urgentíssima; meus gatos recusavam-se a comer a ração simplesinha que eu comprara.
Eu pensei que poderia enganá-los com uma raçãozinha básica até comprar a ração que eles gostam, mas eu estava errada e eles, desesperados.
Fui ao Pet Center e a fila para entrar começava na Marginal, o que ocasionou buzinaços de motoristas sem educação e sem paciência, (olha quem fala).
O estacionamento do Pet Center é muito pequeno e estranho e fica lotadíssimo aos fins de semana, mas como tenho cartão Defis, estacionei eu mesma meu possante e não precisei esperar pelo manobrista.
Beatriz ficou encantada com os cães e gatos para doação. Todos lindos, fofinhos e carentes de um lar amoroso, carinhoso e legal como o meu.
Ela acariciou alguns gatinhos e dizia: "Olha tia Rejane, esse aqui se parece com a sua gata Branca, esse outro se parece com o Léo Caramelo e aquele se parece com o Ébano...Será que eu posso levar um deles pra casa?"
"Ihhhhh, Bibi, acho que sua mãe não vai gostar muito da ideia".
"Então vamos levar um aquário grandão com aquele peixe de bolinha e o tubarão? E também vamos levar aquele coelho fofinho e aquela arara vermelha pro meu pai?"
Fizemos nossas compras e voltamos para a casa de Beatriz; sua gata Alice estava impaciente. Separamos nossas rações e de lá vou para minha casa; meus gatos também estavam impacientes.
Entro na minha rua e reduzo a marcha, pois sempre há meninos jogando bola. Um deles diz: "Ah, é a professora, ela é legal".
E o outro diz: "É? Mas era parece homem".
Guardei o carro na garagem, descarreguei a ração ( nessas horas homens fazem falta) e alimentei meus esfomeados, impacientes e enjoados felinos que após encherem a barriguinha, dormiram a tarde inteira.
Acabada a tarefa felina, fiquei com a frase do menino na minha cabeça e me perguntei pela milionésima vez: "Mas será que pareço mesmo com um homem?!".
Já me olhei e me olho no espelho inúmeras vezes e não consigo ver nada de homem em mim. Já perguntei para minhas irmãs, amigas e minha cunhada Preta e elas dizem o mesmo. Preta até disse que pode ser que os conhecidos não me estranham porque são próximos a mim e me veem sempre e o que pode chamar a atenção das outras pessoas é o fato de eu ser grandona. 
Será?
Não sei.
Sei que chamei mais a atenção no Pet Center do que os próprios animais.
Todos me olhavam e me senti uma celebridade... de novo.
Talvez eu seja um mix de celebridade com uma espécie rara de animal raro.
Animal!



Ébano, Branca, Léo Caramelo e Morena Rosa
                                              

sábado, 25 de fevereiro de 2012

São Pedro

                                       


A festa do vizinho acabou, graças a Deus.
A rua ficou cheia de lixo; papéis, pratos e copos descartáveis. Aí quando as enchentes acontecem, a culpa é do sistema, é do governo, é de São Pedro.
Mas quem joga o lixo na rua? O governo? O sistema? São Pedro?
E por falar em São Pedro, devo agradecê-lo pela forte chuva que agora cai e que espantou convivas e acabou com a festa. Valeu Pedrão!
Mas devo alertá-lo também para que a chuva não cause estragos e danos às pessoas de bem. Amém.
                                             



Petit Gateau

É um bolo de chocolate crocante por fora e úmido por dentro e é saboreado acompanhado por uma bola de sorvete de creme.
É simples e delicioso.
Procurei fazer usando as receitas mais simples e sem muitos detalhes de frescura. 
E para quem interessar possa, aqui vão duas receitas simples, fáceis e gostosas.


Primeira receita.


4 ovos
1 xícara de chocolate em pó
1 xícara de leite em pó
1/2 xícara de açúcar
Misturar tudo muito bem e assar por 7 ou 10 minutos, dependendo do forno. O bolo deve ficar firme por fora, mas macio por dentro.


Segunda receita.


1 lata de leite condensado
1 lata de creme de leite
1 xícara de chocolate em pó
6 ovos (4 gemas e dois ovos inteiros)
Bater tudo e assar por 7 ou 10 minutos.


                                             

Sustança

                                              


Consegui dormir bem ontem. 
O cansaço e a sonolência causados pelo remédio permitiram-me uma boa noite de sono.
Acho que foi para compensar o que viria depois: dor de cabeça e mal estar.
Acordei bem, mas alguns minutos depois a cabeça começou a doer e me incomodou o dia todo. 
Mas o incômodo maior estava por vir e ainda continua: vizinho celebrando aniversário com churrasco e música alta, claro. O detalhe sórdido fica pelo fato de a festa acontecer no meio da rua, literalmente. O simpático e barulhento vizinho colocou o som na garagem, a churrasqueira na calçada e os convidados circulam livremente enquanto se servem. Legal, né?
Pessoas sentadas na minha calçada, crianças tentando pegar meus gatos pelas grades do portão, a fumaça do churrasco adentrando minha humilde residência e a horrenda música a tocar. Agora a pouco cantaram parabéns para o infame; será que significa que a festa está perto do fim?!
Não, não acredito. Esse povo é barulhento e exagerado e a festa vai noite adentro. Veremos...
O rega bofe começou às 14hs e continua firme e forte até agora, 20h30.
Bom...
Tentei descansar, dormir um pouco, mas não foi possível.
Meu irmão Fubá, Preta e a bela adormecida Rafaela passaram por aqui.
Como não consegui descansar, decidi cuidar das minhas plantas. Troquei algumas de vasos, podei outras e reguei a todas.
Fiquei com fominha e cozinhei jerimum (abóbora), fiz cuscuz nordestino (fubá, farinha, água e sal e cozinha no vapor) e fiz leite em pó.  Depois de pronto, comi. 
Coisa boa. Dá a maior sustança (substância).
O camarada come um bom cuscuz com jerimum, ou macaxeira, ou batata doce e com um bom xicrão de café e terá sustança para aguentar o dia todinho. Graças a Deus.
Se tiver um queijo coalho assado na brasa e uma tapioca feitinha na hora, aí é que a coisa fica muito mais melhor de boa. Ave Maria.
Sinto que vou precisar de muita sustança para aguentar o barulho que pelo jeito vai longe.


                                              

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Celebridade

Às vezes sinto-me como uma celebridade, mas antes que pensem qualquer coisa, os olhares que recebo não são devido à minha bela forma física e nem à minha estonteante beleza. 
Sou olhada, observada, medida dos pés à cabeça; sou "devorada" com e pelos olhos daqueles que me observam. Será que me pareço com alguma BBB? Com alguma mulher fruta -frutífera- desfrutável?
Não, acho que não.
Estou mais para mulher cirurgia ou mulher acromegalia. Ou talvez mulher gato; acho que minha gataiada justificaria o título auto atribuído.
Algumas pessoas tímidas ou educadas apenas me olham quando eu não estou olhando - supostamente.
Já tem gente que me encara mesmo e eu ajo com naturalidade, (nem sempre). E não vejo porque haveria de agir de outra maneira; sou humana, tenho uma doença rara, estranha e não tenho culpa de tê-la e como dizia mamãe: "Sou honesta, trabalhadora e cumpridora de meus deveres".
E num momento de revanche, meio vingança e toma lá da cá, eu também observo meus observadores e teço comentários mentais (críticas mesmo) a respeito de deles. 
Não sou perfeita e se eles podem, eu também posso.
Vejo mulheres vestidas em roupas que não combinam com sua idade e com sua forma física avantajada e com excesso de tecido adiposo; leia-se banha mesmo. Na boa.
Vejo mulheres "mãe de neto", como diria mamãe, se comportando como se fossem adolescentes.
Vejo homens maduros e barrigudos vestidos como se fossem meninões.
Vejo cada coisa...Só vejo e fico na minha.
Sou uma celebridade recatada.


                                               

Sandostatin LAR (Acetato de Octreotide)

É o remédio que tomo mensalmente para o controle da Acromegalia.
É o remédio que pego mensalmente na Farmácia Alto Custo.
Comecei com 10mg e agora tomo 20mg. 
Acho que meu corpo está acostumado com o remédio, pois os efeitos que outrora eram mais fortes, hoje estão mais suaves. Apenas um leve cansaço e uma leve sonolência.
Estou bem.


                                            

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Minas Gerais

                                           


Estive em Minas Gerais em 1989. Faz muito tempo, mas as boas lembranças de um lugar tão bonito e de pessoas tão acolhedoras ainda continuam.
Conheci a cidade de Pouso Alegre e me encantei. Tenho vontade de conhecer as cidades histórias mineiras.
Minas, Paraná, Santa Catariana, Pernambuco, São Paulo...
O Brasil é muito lindo e acho uma bobagem tremenda as pessoas ficarem ofendendo uma às outras por causa de tolos bairrismos estaduais. Bobagem, somos todos brasileiros.
Mas...
Já que não fui à Minas, Minas veio até a mim e em deliciosa forma de queijo e doce de leite. Gosto demais da conta, sô!
Meu irmão Fubá e família (é muita gente, escrevo família para ficar mais fácil, prático e rápido) foram a Minas Gerais no feriado do Carnaval e voltaram munidos de delícias mineiras. O povo pra saber cozinhar bem, minha Nossinhora!
Fubá, Preta e Rafaela me visitaram e trouxeram os quitutes mineirinhos.
Agora vou-me. Vou me entregar ao pecado da gula com deliciosos "quejim" e "dosdeleite" de Minas Gerais. 
Trem bão, sô!


Doce de leite
                                     
Queijo




quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Desassossego

                                                


É assim que tenho me sentido, num grande desassossego.
Um turbilhão de dúvidas, temores e alguma melancolia.
Centenas de pensamentos invadem minha cabeça, que dói e que não me deixa dormir.
Tem tanta coisa presa aqui dentro, tanta coisa querendo ser dita, mostrada, libertada. 
Eu tinha tanto ânimo, tanto pique, tanta vontade, mas não sei onde foram parar. 
Tenho me comunicado com pessoas de várias partes do mundo e que enfrentam o mesmo problema, a Acromegalia, e elas falam das mesmas angústias, temores, melancolia...
Somos apenas separados pela geografia e pelo idioma, mas estamos todos juntos na mesma batalha.
Sei de gente que "pirou" e é triste isso. Pessoas produtivas transformam-se em seres inertes, sem vontade e sem iniciativa.
Alguns podem dizer simplesmente que trata-se apenas de preguiça, mas não é.  Nem eu nem as pessoas acromegálicas e angustiadas sabemos dizer o que é.  É essa coisa que nos rouba a vida, a vontade de viver, de fazer, de ser.
Alguns também podem dizer que trata-se de depressão; não sei, pode ser.
Alguns também podem dizer que é frescura e que depressão é doença de rico. Não, não é.
Surpreende-me a mim mesma essa coragem de falar/escrever o que acabei de falar/escrever. Eu que sempre fui tão fechada em mim. Falar pra quem? Quem iria ouvir? E se ouvisse, que palavras usaria para me responder? Mais críticas, mais verdades verdadeiras de pessoas donas da verdade? 
Não. 
Basta-me.
Mas me conforta o fato de saber que existem pessoas como eu e que talvez minhas palavras sirvam para alguma coisa, algum alívio.
Sou melhor com palavras escritas; nunca me dei bem com palavras ditas. Sou quase sempre mal entendida, mal interpretada. 
Algumas vezes o receio de não ser compreendida cala minha voz e a tranco dentro de mim.  
É melhor assim, acho eu. Já bastam as porradas que a vida me deu.


Poema em linha reta - Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)



Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


Fernando Pessoa
                                                

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Empréstimo

                                      


Morávamos no barraco de madeira que ficava nos fundos da casa dos proprietários.
Havia outras casas no mesmo quintal; era uma espécie de condomínio particular. Todos pagavam aluguel ao proprietário que ainda mantinha a horrenda profissão de abater porcos, cabras e carneiros para serem vendidos na feira.
Além das casas havia no quintal os tanques de lavar roupa e uma bica d'água. Não havia água encanada. Havia também uma espécie de altar que ficava bem no meio do quintal.
Nesse altar havia uma estátua de mulher, algumas flores, copos e algumas notas de dinheiro.
Mamãe sempre parava para admirar aquela imagem e enquanto olhava, eu percebia que seus lábios mexiam, era como se mamãe conversasse com a estátua.
A dona da casa era seguidora das belíssimas religiões africanas e seus belos Orixás. 
Todas as manhãs, antes de saírem para o trabalho, papai e mamãe deixavam com Mãevelha o dinheiro do pão e do leite. Mas uma certa manhã, porém, mamãe e papai não tinham dinheiro e ficaríamos sem nosso café da manhã.
Mamãe ficou um longo tempo em pé olhando para os filhos ainda adormecidos e falou para Mãevelha que daria um jeito de arrumar o dinheiro para comprar o pão e o leite nosso de cada dia.
Mamãe saiu e passados alguns minutos volta com uma sacolinha com pães e leite, coloca tudo em cima da mesa, dá o troco para Mãevelha e diz que tem que ir logo, pois já está atrasada para o trabalho. Não há tempo para explicações.
Anoitece e mamãe volta do trabalho. Mamãe para em frente ao altar, conversa com a estátua da misteriosa mulher e coloca uma nota de dinheiro aos seus pés.
A dona da casa e Mãevelha observam tudo sem nada dizerem.
Terminada a "conversa", mamãe caminha para casa e é questionada por Mãevelha: "O Marlene, e tu perdesse o juízo, foi? Pois onde já se viu a pessoa conversar com istáuta?  E o que foi que tu botasse lá?"
Nesse ínterim a dona da casa se aproxima e mamãe aproveita a oportunidade para explicar tudo a ambas: "Hoje eu não tinha o dinheiro para o pão dos meu filhos. Passei várias vezes pelo altar e vi a nota de dinheiro nos pés da imagem; pensei em pegar mas fiquei com medo e com vergonha e fui embora. Mas no caminho lembrei que meus filhos acordariam com fome e não teriam o que comer, então voltei do caminho e peguei o dinheiro e disse para ela - a estátua - que não estava roubando, estava pegando emprestado; era para meus filhos e assim que pudesse eu devolveria o dinheiro dela".
Nunca soube quem era a mulher ou entidade representada na estátua, mas agradeço pela ajuda e pelo empréstimo.


                                           

Igreja Santa Rita de Cássia e os pães

                                            


Quando chegamos a São Paulo moramos por um mês na casa do tio Manoel Gomes, irmão de mamãe, e depois nos mudamos para nosso bairro.
Éramos vizinhos da Igreja Santa Rita, que na época estava em construção ou reforma; não sei dizer exatamente. 
Sei dizer que brinquei muito debaixo da igreja e sobre os montes de areia da construção.
Lembro que o piso da igreja ficava a mais ou menos meio metro do chão e as pessoas passavam por uma rampa para poderem entrar no recinto.
Hoje está tudo nivelado com a rua, mas naquela época o bairro sofria com as enchentes e a igreja está sobre um terreno que outrora fora charco e área de muitas chácaras, por isso a altura entre o chão e o piso da igreja.
Mãevelha e eu íamos sempre às missas e ela gostava de levar suas flores para o altar. 
Íamos sempre à missas dominicais, mas na época da Páscoa íamos a todas as missas que tivessem durante o dia. O motivo era a distribuição de pães.
Havia cestos de vime cheios de pães e o padre os abençoava e no fim da missa os distribuía às pessoas presentes.
Morávamos num barraco simples e muitas vezes esperávamos mamãe voltar do trabalho para sabermos o que iríamos jantar. Mamãe sempre dava um jeito; pedia emprestado a um vizinho ou a algum parente que morasse próximo.
Voltávamos com os pães para casa e papai ainda brincava: "E vocês vão pra missa de novo é? Vão ver o padre ou vão buscar pão?"
Mãevelha, sempre muito séria e religiosa, não gostava dos comentários engraçadinhos de papai e o recriminava: "O Dedé, tu deixe de graça, visse? E tu bem que come do pão, num é? Me arrespeite, homi".
E os pães da Igreja Santa Rita aliviaram nossa fome muitas vezes, graças a Deus.


                                           





R&R

                                             


Era uma fábrica de tintas.
O cheiro de tinta e de produtos químicos era fortíssimo, podíamos senti-lo do outro lado da rua.
Minha avó Mãevelha e eu íamos buscar água na R&R. Outros moradores do bairro também.
Eu ficava do outro lado da calçada enquanto Mãevelha entrava pelo portão da fábrica e voltava com baldes e outros recipientes cheios de água. O motivo de eu ficar do outro lado da calçada era devido ao forte cheiro químico que vinha da fábrica e o guarda não me deixava entrar por eu ser criança e o cheiro poderia me fazer mal.
E fazia mesmo. Chegava em casa com a água e podia sentir o cheiro das tintas por muitas horas; mesmo tomando banho o cheiro estava lá. Às vezes dava dor de cabeça e Mãevelha fazia chá com casca de laranja e limão e passava Vick Vaporub no meu rosto. 
Aliviava.
Muitas vezes íamos buscar água e tínhamos que esperar o sinal do guarda para podermos encher nossos vasilhames. É que o gerente não permitia essa distribuição gratuita do precioso líquido e o guarda fingia que obedecia suas ordens. Nós ficávamos dando voltas pela ruas próximas e Mãevelha deixava alguém vigiando e esperando pelo sinal do guarda; ouvíamos um assobio ou víamos um acenar de mãos e pronto, lá íamos em busca de nossa água.
Analisando bem minha história e a de minha família posso deduzir que perpetramos vários atos criminosos: mamãe, papai e Mãevelha "roubaram" chuchu, água, leite... Mas tudo em nome da sobrevivência.
Os anos se passaram...
Mãevelha partiu, o serviço de fornecimento de água foi regularizado, outras empresas se fixaram no bairro e a R&R fechou suas portas.
Quando eu fazia minhas caminhadas pelo bairro sempre passava em frente à R&R, fosse qual fosse minha rota. Eu andava pra caramba e tinha meus points favoritos: a igreja Santa Rita, a R&R, a escola Romão Gomes e uma casa azul onde mora um velhinho que lembra muito meu avô Paipreto.
Hoje eu não consigo andar tanto e por tanto tempo; minha mobilidade é reduzida devido aos parafusos em minha coluna e à artrose em meu joelho direito. 
A Acromegalia me roubou muita coisa.
Mas eu estou viva e celebro isso. Agradeço a Deus e ao Povo lá de Cima por estar viva.
Hoje fui ao supermercado do bairro e na volta passo em frente ao que foi a R&R. Hoje estão erigidos prédios de apartamentos que abrigarão famílias que não terão problemas com o fornecimento de água e nem com cheiro de tinta.