domingo, 30 de setembro de 2012

Corujas, Gatos Pretos, Lobos

                                   

Falei aqui sobre o preconceito e ignorância em relação a animais de cor preta, principalmente gatos. Mas não são apenas os felinos que sofrem com esse misticismo tolo e sem fundamento, outros animais também.
Havia levado Aurora à clínica veterinária para fazer ultrassom do aparelho urinário e enquanto a segurava, conversava com os veterinários. Falávamos sobre preconceito, ideias bobas, crendices e tolices afins em relação a determinados animais e um dos médicos disse que estagiava em uma cidadezinha do interior paulista onde havia muitas corujas-de-igreja; as pessoas da cidade diziam que quando coruja pia é sinal de que alguém vai morrer e que por isso mesmo deveriam ser destruídas. Quanta ignorância!
Todo dia morre alguém, é o ciclo da vida, e isso não é "culpa" de nenhum animal. Tenha santa paciência!
Outro animal que foi perseguido durante muito tempo é o lobo, tanto que teve que ser reintroduzido nos Estados Unidos.
O pior animal é o bicho homem. Bicho que destrói, mata, dizima e ainda cria histórias estapafúrdias para incriminar animais inocentes.
Que mal poderia nos fazer um bicho só por causa da cor de seu pelo ou de seu canto?!
O que faz muito mal é a ignorância aliada ao preconceito.
Gatos, corujas, lobos e outros animais são apenas animais e não têm o dom ou o poder de causar mal a quem quer que seja. Quem inventa, complica e estraga tudo é o pior dos animais na face da Terra: o Homem.
Estamos em pleno século XXI (21) e o povo ainda cai nessa esparrela. Oxe!
É isso.

Coruja-de-igreja
                                   

                              

sábado, 29 de setembro de 2012

Fase

                                        

Há alguns dias que não escrevo; ando sem inspiração.
Ideias até tenho, mas falta-me ânimo.
Eu era tão ativa, tão esperta, tão viva.
Às vezes, na maioria das vezes, sinto-me um caco.
Não sei se é apenas devido à Acromegalia ou se a uma soma de vários outros fatores. Deve ser um pouco de tudo.
Ando numa fase ruim, desanimada, carregada, triste... Acho que deveria ir à uma dessas "sessões descarrego" ou arriar oferenda pro santo. Honestamente e com todo o respeito, prefiro a segunda opção.
Preciso ver o mar, meu doce mar. Irei.
Irei só mesmo. Se chamo pessoas para irem comigo, certamente declinarão. Não quero a companhia de pessoas que certamente me acompanhariam em minha aventura oceânica, mas que "certamentemente" tornariam a aventura em uma grande desventura. Deus me livre!
Estou cansada de gente ruim, mesquinha, desumana e que roubam nossas vidas, nossas energias, nosso ânimo. Mas como nada é para sempre, graças a Deus, essas pessoas ruins também não são para sempre. Ainda bem!
Hoje pela manhã recebi a agradável visita de meu irmão Fubá com minha sobrinha Rafaela. A pequena está cada dia mais linda e já ensaia os primeiros passos; ela adorou os gatos e fez carinho neles. Mostrou-me suas unhas pintadas, tomou iogurte, explorou a casa, abriu portas, espalhou as coisas e depois foi embora feliz. Coloquei um chapéu em sua cabeça de cabelos negros e macios e ela foi embora para casa. 
Vou para a cozinha preparar um bolo para levar à casa da minha irmã Rosi; teremos bingo mais tarde. Ouviremos as mesmas histórias contadas e recontadas dezenas de vezes, mas riremos como se as ouvíssemos pela primeira vez.
É isso.

                                  

terça-feira, 25 de setembro de 2012

As Borboletas


                                             



                                               
AS BORBOLETAS


Brancas
Azuis
Amarelas
E pretas
Brincam
Na luz
As belas
Borboletas

Borboletas brancas
São alegres e francas.

Borboletas azuis
Gostam muito de luz.

As amarelinhas
São tão bonitinhas!

E as pretas, então…
Oh, que escuridão!



Vinícius de Moraes

                            

Imagens e Detalhes

                                     

Sou muito observadora e como disse minha irmã Rosi: "A gente pega as coisas é nos detalhes". E ela está certa.
Desanimou-me o detalhe da capinha de dólar do doutor galã: ostentação e frieza.
Desanimou-me o corpinho de caminhoneiro do cardiologista: médico que cuida da saúde alheia tem que cuidar da sua saúde primeiro.
Desanimou-me a bagunça da recepção do consultório do ortopedista: imaturidade e bestagem de gente jovem e deslumbrada demais. Mas a seriedade e profissionalismo do doutor compensou a desorganização.
Bom...
Saio da clínica veterinária e me deparo com um senhor idoso acompanhado por um simpático cachorro de pelagem e olhos cor de caramelo; lindo.
O cachorro se aproxima de mim e eu lhe afago.
O idoso diz que andava pelo bairro desde manhã e que iria pedir um pouco de ração no pet shop que fica no andar de baixo da clínica. 
Perguntei-lhe se ele e o cão haviam almoçado e ele disse que um rapaz de uma firma havia dado um marmitex que foi dividido e devorado por ambos: ele e o cachorro.
Que Deus abençoe esse rapaz.
Eu perguntei ainda se ele e o cão haviam tomado água, essas comidas de marmitex são bem salgadinhas.
O idoso me pediu um real para comprar um pouco de ração caso o pessoal do pet shop se negasse a dar-lhe alguma. Eu tinha cinco reais na bolsa e dei a ele para comprar a ração do cachorro. Ele me agradeceu, o cachorro esfregou a cabeça em minhas pernas ao mesmo tempo agradecendo e pedindo carinho. 
Fui ao Pet Center da Marginal e passei pelos locais onde têm animais em exposição para a venda: cães, coelhos, aves, peixes...
Os cachorrinhos corriam para a frente de suas jaulas/gaiolas e abanavam o rabinho; as aves abriam suas asas coloridas e conversavam em sua língua exótica; dei a volta pelo aquário e o simpático e risonho baiacu me acompanhou. Fiquei contente pela saúde e bem estar do baiacu, pois da outra vez que lá estive, o peixe não estava muito disposto.
Volto para casa pela Marginal Tietê e entro em rua que tem um enorme terreno à venda, passo muito rápido mas vejo uma imagem azul que me lembrou a imagem de Nossa Senhora de Aparecida. Dei marcha à ré e reparei que não era uma imagem, mas um saco de lixo azul que se dobrara e parecia a imagem da santa.
Cheguei em casa e alimentei os gatos com a ração nova e dei o remédio de Aurora. Sentei-me no sofá e estiquei as pernas, meus joelhos doíam muito, principalmente o direito, que estava inchado e parecendo uma broa de milho. Dirigi muito o dia inteiro.
Cochilei um pouco e me veio à mente a imagem de São Lázaro acompanhado por seus cães e a imagem de Nossa Senhora de Aparecida em seu manto azul.
Oxe! Que bom! Obrigada pela visita. 
Minha irmã Rosi tem razão, as coisas se revelam nos detalhes.
É isso.



                                 



Andanças

Rafaela
                                         

Ontem bati os quatro cantos do mundo, andei mais que "tiradô de esprito", como dizia mamãe. Fui ao laboratório fazer exames, fui ao ortopedista, voltei ao laboratório para a segunda parte dos exames, fui à clínica veterinária para buscar o laudo médico de Aurora e depois fui ao Pet Center da Marginal para comprar a ração da gataiada. Ufa!
Aurora está se recuperando bem, graças a Deus.
Ainda passei na lojinha do meu irmão Fubá e beijei muito as pernas e os braços roliços de Rafaela, que está cada dia mais linda.
Adoro meus sobrinhos mas tenho queda maior pelas sobrinhas; meu cunhado Pepê havia notado isso. Acho que é porque eu quis tanto ter minha própria filha, Mariana, mas como ela não veio, eu "babo" nas sobrinhas. É uma forma de compensação.
Bom...
Saí de casa bem cedinho e a chuva que caíra no alvorecer dava um clima natalino ao dia. Sei explicar não, só sei sentir.
Subi pela Rua Tuiuti e admirei os eucaliptos do Parque do Piqueri molhados de chuva; lembrei do perfume exalado por eles. Borboletas coloridas passeavam pra lá e pra cá, um espetáculo de dança. 
Passo pela Melo Peixoto e observo a relva coberta de pequenas flores amarelas; lindo.
Jacarandás e Ipês floridos, lindos. O roxo das flores do jacarandá mimoso contrastava com o cinza do céu chuvoso. Das paineiras começam a brotar folhas novas e em breve teremos o espetáculo de suas flores róseas.
Então...
Fui ao ortopedista e levei exames pedidos pelos outros médicos; mudei de convênio, como já citei.
Cheguei ao local e de cara não gostei da desorganização das recepcionistas, era um "Toma lá da cá dos infernos"; cada uma que pegasse um documento, uma ficha; um caos. Pensei comigo: "Se eu não gostar do médico não volto mais aqui, muita bagunça".
Aguardo ser chamada e observo o teto decorado com gesso trabalhado em desenhos elegantes e antigos. O consultório fica em uma "casona" bonita no Tatuapé; casa antiga dos tempos em que prédio era coisa rara na região e só tinha no centro da cidade, mas hoje a ZL está invadida por prédios lindos e novinhos em folha. Prefiro casa.
O médico me chama e faço um breve relato do meu histórico: acromegalia, cirurgias, hipertensão, artrodese.... O doutor foi bem simpático, direto, sincero e papo reto, bem ao contrário do médico caminhoneiro e do médico galã. 
Ele leu os laudos dos exames e disse: "Palavras bonitas e difíceis mas que se resumem a um único problema: artrose". Gostei do cara, meu.
O doutor ortopedista foi muito claro e não usou de metáforas para explicar o caso; gosto assim. Ele disse que o remédio que atualmente tomo para controle da artrose está aumentando minha pressão; por isso que essa infame não sai do 17x11 de jeito nenhum! Os anti-inflamatórios aumentam a pressão.
Ele mudou para um medicamento mais leve e disse que devo fazer hidroginástica e fisioterapia pelo resto da vida. Já estou ficando "véinha" e com o avançar da idade o entrevamento das juntas só piora. A fisioterapia é processo longo e lento mas as melhorias são para sempre. 
O ortopedista ainda fez piadinha: "Evite chás e ervas do 'Tio João', se erva fosse boa, vaca não ficaria doente". Rimos.
O doutor tem pacientes mais idosas que adoram um chazinho e uma ervinha, no bom sentido, claro. Sabe essas pessoas que adoram simpatias, chazinhos e garrafadas e outras gororobas indicadas por "entendidos"? Tem sempre alguém que conhece alguém que tem problema igualzinho o nosso e que fez isso ou tomou aquilo e melhorou! Nossa!
Sou meio cética com essas e outras coisas, embora respeite.
É isso.
Voltarei.

                                

sábado, 22 de setembro de 2012

Gato Esperança

                                     

Tenho seis gatos.
Sei que para algumas pessoas é muito, mas quem cuida deles sou eu. Desculpa aí.
Sei de pessoas que jamais gastariam tempo e dinheiro para cuidar de um gato, cachorro ou qualquer outro animal e acham uma tremenda bobagem e desperdício fazer isso.
Eu não penso assim.
Seria muita crueldade ver e deixar um animal sofrer doente e não levá-lo ao veterinário só porque não quer gastar dinheiro; por acaso esse dinheiro economizado será levado junto para o túmulo?
Sou contra o desperdício mas também sou contra o apego excessivo ao dinheiro.
Tive uma boa despesa com Aurora e parcelei a dívida em suaves prestações; foi o jeito, não dava para pagar à vista e estou devendo até promessas aos santos.  
Não está fácil não, mas vai melhorar. Tenho fé.
Pensava comigo em fazer um "Gato Esperança": Para doar ração, disque #1; Para doar remédios, disque #2 e para doar dinheiro, deposite em minha conta!
Mas como dizia mamãe: "Amanhã é outro dia e dias melhores virão". Amém.
É isso.

                                 

Aperreio, Estrada e Frutas

Estrada
                                      

Detesto finais de semana, não sei por quê.
Sei sim, talvez não queira saber que sei muito o porquê.
Elucubrei de novo.
Bom...
Adoro dirigir, pegar estradas sem destino, sair por aí.
Levei Aurora para fazer ultrassonografia e constatou cistite, inflamação na bexiga. A primeira veterinária que a examinou foi bem simpática, mas como hoje era folga dela fui atendida por seu colega que queria me dar lição de moral. Oxe, mas o cabra não sabe com quem está bulindo! Queria me "homilhar", me "creticar" e abater minha moral. Presta não!
Não sou de barracos, sou educada até demais, mas se a pessoa vem se engradecer pra cima de mim, dá certo não. 
Constatada a cistite em Aurora o doutorzinho veterinário vem me dizer indiretamente que sou eu a culpada pelo problema de saúde de minha gata favorita em todo  o Universo e em todas as Galáxias.
Ele disse que a ração é inadequada e eu respondi-lhe muito educadamente, mas com fogo saindo pelas ventas, que compro rações comerciais e caras e não compro qualquer raçãozinha porquêra por aí não senhor. Fiquei foi aperreada!
Disse-lhe ainda que se for assim, então somos todos vítimas de propaganda enganosa pois essas rações são caras e prometem nutrição completa e balanceada. Que culpa tenho eu? 
Procuro dar o melhor possível para meus gatos e ainda falei para o "dotôzinho" que se uma pessoa se propõe a cuidar de uma vida, seja ela humana ou animal, tem que fazer o melhor; e é exatamente o que faço. Só cuido aqui de vidas animais, humanos dão muito trabalho e são complicados  por demais.
Voltei para casa com Aurora e dei-lhe a medicação prescrita; ela está bem melhor, graças a Deus. Já faz suas artes e seu terrorismo contra Preta Maria.
Saí de novo e fui à farmácia para comprar meus remédios e na volta decidi rodar mais por aí. Peguei um pequeno trecho da Via Dutra e saí no acesso para a Rodovia Fernão Dias que por sua vez bifurca e dá acesso à Ponte Aricanduva. Nesse trecho havia muitos caminhões que traziam mercadorias como frutas, plantas, coco, vassouras de palha e até botas de couro cru que parecem as botas do Jeca Tatu. 
Mas não vi mais esses caminhões e fiquei sabendo que a fiscalização proibiu o comércio na área; só podem agora caminhões pequenos. Tá.
Parei atrás de um caminhãozinho que vendia frutas a preços convidativos e comprei abacaxis, melões, laranjas e morangos; queria uvas também, mas haviam esgotado. Que pena.
Voltei para casa carregada de frutas e já saboreei algumas. Dei a segunda dose do remédio de Aurora e estou com Ébano Nêgo Lindo no meu colo, é um dengo só.
Já é fim de uma belíssima tarde.
É isso.

                                    

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Coisa de Paulista

Paulistanos a caminho da praia
                                      

Estou em São Paulo, meu santo São Paulo, há trinta e nove anos.
Amo tanto meu Pernambuco quanto meu São Paulo.
Cantávamos o hino paulista na escola e imaginava São Paulo de pau e pedra, pedra e cal...
Como falei na postagem anterior, basta chover ou baixar a temperatura e o paulistano se agasalha todo; é um "dizagero" de blusas, cachecóis, toucas...
Aliás, demorei a entender que paulista é o mano que nasce no interior e paulistano é o mano que nasce na capital, tá ligado?
Paulista ou paulistano, na verdade é tudo igual, é nóis.
Bom, paulista não usa o plural, paulista "come" o "S" das palavras, por exemplo: "Um chopps  e dois pastel... Vou buscar os livro... Vou trocar os pneu do carro..."
Paulista come bolacha e não biscoito.
Paulista diz: "Passa lá em casa", mas não dá o endereço. 
Paulista fica mais de cinco horas no trânsito para descer para o litoral e quando chega lá, chove.
Praia de paulista é Shopping. 
Quando têm feriados prolongados, metade dos paulistas fica preso nos congestionamentos e a outra metade fica na fila do caixa das lojas, supermercados e Shoppings.
Paulista fala meio italianado, o "R" é forte, sonoro, bonito. 
Paulista fala muito "meu": "Se liga, meu", "Meu, a parada é a seguinte", "Tá loco, meu".
Paulista fala "as mina e os mano".
Paulista fala "Tá ligado? É nóis, Tá me tirando?"
Paulista é muito da hora!
Amo por demais a terra da garoa e de céu cinza , a terra de trânsito caótico, de congestionamentos, a terra da pizza, das quermesses italianas e das festas juninas nordestinas. 
São Paulo tem de tudo. São Paulo tem "intaliano", como dizia papai; tem nordestino, tem boliviano, coreano, tem toda a gente de todos os cantos do mundo.
São Paulo tem judeu, muçulmano, cristão, macumbeiro, espírita...
São Paulo tem de um tudo e de tudo um pouco.
São Paulo que nos recebeu e ainda recebe gente de todos os cantos desse Brasil continental e de todos os cantos do mundo.
Mas o melhor de tudo é que São Paulo tem o Corinthians, o nosso "Curinthia", mano!
São Paulo, meu santo São Paulo.
É nóis.
                                     
                                



Conjunto, Agasalho, Esquente

Paulista
                                        

Choveu, esfriou e fez um lindo dia cinza hoje. 
Quem me dera ver o mar, meu doce mar, num dia tão lindo como esse.
Gosto de sol, sim, mas não desse sol escaldante que me deixa suando em bicas e vermelha que nem um camarão.
Bom...
Observo as pessoas na ida e na volta do consultório médico e estão todas agasalhadas, encapotadas e encolhidas. Pensei comigo: "Paulista é assim mesmo, basta cair uma gota de chuva ou baixar um grau na temperatura que todo mundo veste roupas de inverno".
E pensando em inverno, lembrei de nossos uniformes escolares, eram dois: o de verão e o de frio. Mamãe dizia que era "liforme de calor e liforme de frio".
Dizíamos "conjunto" para os agasalhos constituídos de calça comprida e blusa de manga comprida, alguns tinham capuz. 
Lembro que sabíamos a qual escola pertencia tal aluno só pelo número de listras em seus "conjuntos", por exemplo: O "conjunto" da escola Heróis da FEB era de um azul anil com duas listras finas e o conjunto da escola Coronel Romão Gomes era de um azul mais claro e três listras largas. Sabíamos se a molecada conhecida estudava no Heróis ou no Romão só pelo tipo de conjunto que usava. Época boba e engraçada.
Mamãe vendia roupas e as pessoas perguntavam se ela tinha agasalhos e em dúvida, ela nos perguntava: "Agasalho é conjunto, é?"
Estávamos em Buíque, Pernambuco, e lá faz bastante frio nos meses de inverno; a cidade está a setecentos e noventa e oito metros acima do nível do mar. Mamãe voltava da casa de uma das sobrinhas que diz para a filha: "Bote um esquente no menino". Estranhamos.
Mamãe perguntou o que era esquente e ficamos sabendo que esquente, conjunto e agasalho são a mesma coisa.
Um só país, uma só língua, mas tanta variedade.
É isso.
                                    

Doutor Galã

                                      

Marquei consulta com o novo neurocirurgião; mudei de convênio médico e o antigo neurocirurgião não trabalha com o convênio atual e uma consulta com ele custa a bagatela de quinhentos reais.
Escolhi o novo neurocirurgião meio que aleatoriamente e favoreceu o fato de seu consultório ser no bairro do Tatuapé, bem perto e fácil para mim.
Liguei para agendar a consulta e fui informada pela atendente que eu deveria chegar no horário porque o doutor é pontual e sua consulta é demorada, tá. Agendei para as duas horas da tarde e cheguei ao local quinze minutos antes, beleza. Fiz a ficha e aguardo; sou chamada por um jovem bonitão que me atenderia em sua sala com móveis design, decoração fashion e ambiente clean. Reparei em alguns objetos decorativos como vasos de formas exóticas e esse conjunto de três bolas brilhantes e cheguei que todo novo rico tem, Pra que serve aquilo? Acho que serve como arma, já pensou jogar aquilo em alguém em um momento de stress? Vixe!
OK.
Cumprimento o doutor e ele diz: "Já sei porque você veio aqui", e eu completei a frase: "Acromegalia".
É. O carão acromegálico não esconde nada, saco!
Relatei meu histórico médico e mostrei-lhe exames. O jovem neurocirurgião olha as imagens da ressonância magnética e diz que está tudo bem e que minha doença está muito bem tratada. Disse-lhe que tomo uma injeção mensal de Sandostatin -LAR (Octreotide) e que tomei a dose mais recente no domingo passado. Certo.
O doutor galã me devolve os exames e seu celular toca, ele atende alguém que precisa de um laudo para alguma coisa; enquanto fala com a pessoa o doutor escreve o tal do laudo e diz à sua interlocutora que o documento está pronto e que ela pode vir ao consultório para pegá-lo. Terminada a conversa e o laudo o belo doutor me diz: "Está tudo bem, você pode ir e só volte aqui em dezembro com novos exames", e eu disse: "Mas eu tenho perguntas a fazer, tenho dúvidas", e ele disse: "Tudo está associado à Acromegalia".
Nossa! Se ele não me fala eu nunca saberia! Que diagnóstico profundo!
A consulta com o doutor bonitão foi mais rápida do que a consulta com um médico do SUS!
Reparei no celular do doutor enquanto ele falava com sua paciente, a capa do telefone é uma nota de dólar. Sabe essas capas para celular que tem várias cores e modelos? Pois é, a do doutorzinho é uma nota de dólar. O cara é metido!
A imagem que me passou é que esse jovem e belo médico se especializou em uma área nobre da medicina não por pura vocação, mas por status, ostentação e exibicionismo. Por dinheiro também, claro. Custa caro manter um consultório com decoração clean, fashion e de design; não sei quanto custa a capinha de dólar. 
Custou-me meu tempo, minha educação, minha paciência. Não retornarei ao consultório do doutor neurocirurgião metido a galã da ZL, procurarei outro médico. Pago caro por um convênio médico e tenho direito de escolher quem eu quiser. Se eu não me sentir bem com uma pessoa ou profissional de uma determinada área ou se o santo não cruzar... esquece! Não volto mais lá e ponto final! Oxe!
Acho que esse doutorzinho bonitinho prefere pacientezinhas bonitinhas e riquinhas da ZL. Talvez se eu fosse assim a consulta seria tão demorada como disse a atendente e minhas dúvidas e perguntas seriam respondidas e esclarecidas.
Paciência.
É isso.

                                 


quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Veterinária

                                  

Aurora amanheceu doentinha, tinha dificuldade para urinar e quando conseguia, urinava muito pouco e com sinais de sangue. Fiquei muito preocupada.
Aurora ficou quietinha, amuada e desanimada e logo ela que é tão ativa, esperta e "terrivi".
Liguei para a clínica veterinária e levei minha Aurora para consulta.
Aguardei alguns minutos e enquanto aguardava, observava em volta. Os minutos pareceram horas, eu estava preocupadíssima com minha gata favorita de todo o Universo e todas as Galáxias. Só quem sabe o que é amor pode entender.
O funcionário me chama para fazer o cadastro e enquanto forneço os dados necessários percebo duas imagens de santos na prateleira dos remédios: Santa Rita de Cássia e São Francisco de Assis. Pedi-lhes que cuidassem de minha Aurora e que nada de mais grave acontecesse com ela. Chorei. Estou ficando chorona por demais, minha Nossa Senhora! Será a idade? A Acromegalia? Tudo junto? Sei não.
A veterinária pede para eu subir mas eu tenho dificuldades e um funcionário da clínica me ajuda, ele sobe com a gaiola de Aurora.
A simpática e agradável veterinária examina minha Aurora e constata que ela está com inflamação na bexiga, por isso tem dificuldade para urinar. Diagnóstico feito e a primeira dose da medicação é aplicada na minha gata; desço para comprar os remédios receitados pela médica veterinária e para acertar a conta. Devo retornar sábado para fazer um ultrassom em Aurora para ver se as pedras ou cristais instalados em sua bexiga podem ser removidos com remédios, permita Deus que sim.
A veterinária me orientou a mudar a alimentação de todos os gatos e disse que essas rações mais comerciais têm grande quantidade de sal o que mais cedo ou mais tarde prejudica a saúde dos bichinhos. Cachorros também sofrem com o mesmo problema.
Saí do consultório mais aliviada e trouxe Aurora medicada e sonolenta, precisei sair mas fui agoniada, avexada e aperreada, será que ela ficaria bem até eu voltar? Permita Deus que sim.
Voltei depois e encontro Aurora caminhando pelo quintal e perseguindo Preta Maria e ao perceber que cheguei, minha terrível favorita correu ao meu encontro, se esfregou em minhas pernas e me olhou com seus enormes olhos de gato selvagem. 
Ela estava melhor, graças a Deus.

Santa Rita
São Francisco
                                           


quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Pacote Sobrinhos

                                    

Aniversários do sobrinhos se aproximando: Maitê e Rafaela em setembro e Vinicius e Beatriz em outubro.
Falava com minha cunhada Preta sobre a sobrinhada aniversariante e ela disse: "Vamos à uma loja e faremos um 'pacote sobrinho' aí fica mais fácil comprar e dar os presentes. É muito sobrinho!".
Beatriz quer festinha de aniversário para ganhar presentes e já até escolheu o que gostaria de ganhar: skate, patins, patinete... Beatriz só tem cinco anos mas é bastante precoce. Ela, assim como Maria Julia e Vinicius, fazem parte da ala inteligente, esperta e "terrivi" da família. 
Ainda não sei o que comprar para a pequena Rafaela que completará um aninho; estou pensando em brinquedos lúdicos que desenvolvem a habilidade motora e a percepção da criança. São brinquedos baseados no trabalho de Maria Montessori, médica e educadora italiana que defendia o respeito às necessidades de cada criança de acordo com o seu desenvolvimento.
Estou pensando também em livros infantis.
Ainda não sei.
É isso.

Maria Montessori
                                

Consulta, Cardiologista, Caminhoneiro, Carrões

                                     

Assistia ao programa A Liga que falava sobre baladas. 
Balada para mim é coletivo de balas perdidas. 
Bom...
Mostravam dois tipos de baladas: a dos ricos e a dos pobres da ZL. É nóis.
O que separa essas baladas é o poder aquisitivo das pessoas, porque a futilidade é a mesma. Desculpa aí.
Tanto as meninas pobres quanto as ricas usam salto alto, vestidinhos curtos, muita maquiagem e cabelinho esticadinho. Os meninos ricos usam roupas de marca e os da ala pobre também; todos se esforçam para manter o status, mesmo que para isso todo o salário do mês seja comprometido.
Antes de saírem para a balada param em um bar para um "aquecimento" onde são consumidos litros e litros de bebidas alcoólicas e energéticos. A turma rica gasta mais de dois mil reais nas bebidas do "aquecimento pré balada". 
Só bebem, e se um grupo pedir, por exemplo, cinco garrafas de champagne, o outro grupo pede seis ou sete, é para competir quem gasta mais, quem pode mais.
Futilidade.
Muita bebida, carrões, aparência, exibicionismo, ostentação, vazio.
Como as pessoas podem se esforçar tanto para parecerem aquilo que não são?
Provar o quê pra quem? 
O valor de um produto não tem nada a ver com suas características físicas, já disse Karl Marx.
Assisti parcialmente ao programa, é muita babaquice para meu gosto, mudei de canal e depois decidi me deitar e além do mais, eu teria consulta com o cardiologista na manhã seguinte.
Saio pelas ruas afora no meu humilde possante e vou ao bairro do Tatuapé, o novo Morumbi da ZL. Prédios de luxo, carrões e ostentação. Aguardo o farol abrir e estou entre dois baita carrões, um KIA Sorento e um IX35, e ambos tocam as mesmas musiquinhas chiclete de mal gosto. Nossa! No sentido contrário vem uma Pick Up gigantesca tocando som de balada em altíssimo volume que estrondava os tímpanos dos inocentes ao redor. O dinheiro compra carrões potentes mas não compra bom gosto e educação.
Chego ao consultório do cardiologista, faço a ficha e aguardo. Sou chamada e ao entrar no consultório sou atendida por um homem gorducho, com barriguinha de cerveja que lembrava um caminhoneiro, com todo respeito. O doutor de poucas palavras e paciência igual não usava jaleco, estranhei.
Fez as perguntas de praxe, mediu minha pressão, que para variar estava alta e fiz um eletrocardiograma: Bloqueio divisional antero superior esquerdo. Nada de mais ou de muito grave, apenas um desvio formado pelo esforço do coração para bombear o sangue; esforço acentuado pela pressão alta. 
Segundo o cardiologista, é necessário controlar a pressão e evitar que ela fique nos altos e constantes 16x11, é isso que sobrecarrega o coração. A Acromegalia intensifica o problema já existente e hereditário, papai e mamãe eram hipertensos assim como boa parte da família. 
Às vezes a situação piora e a pressão chega os 22 ou 24x18, aí o risco de um AVC (acidente vascular cerebral) o famoso derrame, é bem maior.
Vou fazer um ecocardiograma e exames de sangue e tomar mais um remédio para o controle da pressão e quando os exames estiverem prontos, os levarei ao lacônico doutor com cara e corpinho de caminhoneiro. 
Aliás, é uma coisa que me incomoda e tira um pouco da credibilidade que poderia depositar em determinado profissional: médicos obesos e/ou fumantes. Não combina. Profissionais da saúde deveriam zelar pela própria saúde para dar o exemplo aos pacientes. Na boa, que moral tem um médico gorducho e/ou fumante? Dá para confiar em um profissional assim? Dá não.
Vou cuidar de mim.
É isso.

                             

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Calor e Secura

Muito calor; insuportável.
Termômetros marcaram trinta e quatro graus, dez a mais dos tolerados por mim.
Passo mal, fico mole, sem ânimo e a pressão sobe.
O ar seco também provoca sensações de boca seca, tosse, coceira nos olhos e outros desconfortos.
Dizem os meteorologistas que uma frente fria está a caminho da região Sudeste, tomara.
Que essa frente fria venha e refresque todas as frentes, lados; a secura está demais!
Que venha chuva.
Que a chuva traga alívio imediato.
É isso.

                             

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Professor

                                       

Mamãe ligava a TV e ia para o tanque lavar roupas.
Terminava a programação do rádio e mamãe iria assistir aos telejornais da tarde; mamãe mais ouvia a TV do que assistia.
Acaba o Jornal Hoje e eu colocava na TV Cultura, tinha um programa educativo com aulas pré vestibulares. Os alunos/pessoas mandavam perguntas e os professores esclareciam suas dúvidas.
Tinha um professor de História ou Geografia, não lembro bem, que era engraçadinho; ele dizia: "Opção A de Ailóviu". Era engraçado.
Tinha um professor de Biologia que cantava musiquinhas para melhor expressar seus conhecimentos: "O músculo relaxa, contrai...Contrai, relaxa..."
Tinha uma professora de Língua Portuguesa que lembrava muito a cantora Nara Leão, o cabelo lisinho, os dentes enormes e a voz delicada.
Mas tinha um professor bonitão de inglês que mamãe adorava; nos dias que tinha aula dele nós chamávamos mamãe: "Manhê, vai começar a aula do professor bonitão". Ela deixava suas roupas de lado, sentava-se no sofá e assistia à aula de inglês do professor bonitão. 
Perguntávamos a ela o que foi que o professor havia ensinado e ela respondia: "Oxe, sei não. Eu gosto é de ver esse homem bonito. Eita homem bonito, minha Nossa Senhora!".
Ríamos desse gosto de mamãe por professores bonitões.
Ainda hoje gosto de assistir ao Telecurso que passa tanta na Globo como na TV Cultura. Adoro. Acordo cedo e ligo a TV e assisto ao Telecurso, depois ao Globo Rural e SPTV.
Adoro.
É isso.

                                     

Meia Social

Meu irmão Naldão chega à casa do meu irmão Fubá vestindo camiseta, bermuda, tênis e meia social.
Fubá olha e diz: "Naldão, meia social não combina com bermuda e camiseta, pelo amor de Deus! Isso é uma agressão às leis da moda!".
Preta estava presente e nos contou tudo depois.
Rimos muito desse desconhecido lado fashion de nosso irmão Fubá.

                                

Besteirinha

Calor demais, detesto!
Tem passado dos trinta graus a temperatura aqui em São Paulo e isso porque estamos no final do Inverno.
Não chove há dois meses também e a secura do ar é outro problema.
Em dias quentes não costumo comer muito, costumo beber muito suco com bastante gelo. Adoro.
Mas suco não enche o bucho de ninguém, diria Mãevelha, e é preciso o camarada comer uma besteirinha para ter "sustança".
É isso. Estou como fome e acho que vou comer uma besteirinha; frutas geladinhas.
Na casa das minhas tias em Buíque, Pernambuco, uma besteirinha dá para alimentar uma família faminta, quem dirá uma só pessoa! É muito "dizagero", como dizia papai.
É isso.

                              

                                     

Mundo

                                                

Ligo a TV e assisto às notícias do dia: violência no trânsito, incêndios em favelas, assassinatos de policiais e de civis inocentes.
Que mundo é esse, minha Nossa Senhora?
A violência cresce e se espalha como um câncer, sem dar muita chance de sobrevivência.
Todo dia é assim: violência, mortes, incêndios... 
Parece que isso já formou um padrão: violência, mortes, incêndios...
Quando teremos notícias boas?
Vidas inocentes perdidas, interrompidas.
Lares desfeitos, destruídos, queimados.
E agora, José? E agora, Marias, Pedros, Paulos, Antônios...?
É esse o mundo que nós criamos?
Um mundo consumista, descartável, fútil. Um mundo de aparências. Um mundo de pessoas que adoram ostentar e exibir o que têm. Tantas riquezas materiais e tanta pobreza de espírito, tanta solidão, vazio.
Fome de um lado e desperdício do outro.
Tantos morrendo de fome enquanto outros gastam fortunas com dietas malucas.
Que mundo é esse?
Pessoas apressadas, estressadas, impacientes, agressivas, violentas. Tanta pressa pra quê? Pra gerar mais violência?
Parece que voltamos às origens boçais onde cada um tem que defender seu território e para isso precisa eliminar o outro para garantir a sobrevivência sua e de sua prole.
Somos boçais no trânsito, nas relações humanas.
Humilhamos o outro para nos divertir; basta ver os programas da televisão.
Somos obrigados a ter nosso descanso interrompido por músicas tocadas em altíssimo volume; é aquela coisa: "Eu estando bem, o resto que se exploda".
Não é bem assim não!
O direito de um acaba quando começa o do outro. 
Todos temos direito à diversão, à ouvir nossas músicas, mas isso não quer dizer que podemos incomodar os ouvidos alheios ao nosso bel prazer. É muita falta de educação!
E por falar em mundo e música, lembrei de uma canção do Queen que fala sobre o mundo complicado que criamos e vivemos: "Is this the world we created?", "É esse o mundo que nós criamos?"
Será que podemos reconstruir? Melhor?
Espero que sim.
É isso.

Queen
                                        

sábado, 15 de setembro de 2012

Preta, Preta, Pretinha... Preta Maria

Preta Maria
                                            
Estamos no século XXI (21), o século da tecnologia, do conhecimento, do estreitamento das relações humanos, da aldeia global. Será?
Na Baixa Idade Média, século XIV (14), a peste bubônica dizimou um terço da população europeia; a peste bubônica é causada pela pulga de ratos.
A falta de higiene, muito comum à época, somada à ignorância e ao fanatismo religioso, isso na minha opinião, foram os principais causadores e espalhadores da peste pela Europa, explico. Os ratos procriavam e se espalhavam abundantemente pelo continente porque os gatos foram perseguidos e banidos pela população porque acreditavam que os felinos era animais diabólicos, principalmente os gatos pretos.
Sem os gatos, seus principais predadores, a rataiada fazia a festa e suas pulgas causaram a morte de milhares de pessoas. 
A infestação da peste negra ou bubônica dava-se mais rapidamente pelo fato de as pessoas lotarem as igrejas e rezarem pedindo perdão de seus pecados; a proximidade dos corpos era o facilitador da epidemia.
O nome Peste negra ou bubônica da-se porque surgem protuberâncias (bubos) azulados na pele.
Bom...
Falei sobre isso porque na noite de quinta-feira, quando eu ainda estava adoentada, escuto uma voz chamar: "Professora!". Olhei no relógio e já passava das vinte e duas horas; abri a janelinha da porta e vejo meu aluno segurando desajeitadamente um gatinho preto, pergunto o que houve e ele diz: "Esse gatinho apareceu no meu quintal e eu estou com medo dele porque ele é preto e tem cara de mau. Gato preto dá azar, não dá, professora?"
Abri a porta e fui ao encontro do meu aluno munida com potes de água e comida e disse a ele que o que dá azar são o preconceito, a ignorância e o medo infundado de coisas que não conhecemos e acreditamos só porque alguém disse. Animais não são maus, são criaturas inocentes que usam suas defesas para protegerem suas vidas e sua prole.
Enquanto conversávamos, o gatinho, que depois vi que era gatinha, devora o pote de ração. Deixei-a na garagem e preparei uma caminha fofa e confortável, coloquei mais ração e outro pote com leite.
Amanhece o dia o percebo que minha gata Branca Maria não dormiu em casa e nem apareceu para o café da manhã e está sumida desde então. Já fui de casa em casa e perguntei aos vizinhos se alguém tinha visto minha gata branca; um dos vizinhos me pergunta se tenho um gatinho pequeno para doar, pois sua esposa quer um bichinho para fazer-lhe companhia. Disse-lhe que tenho uma gatinha pequena, filhote ainda, e ele pergunta que cor que ela é, pois se ela for preta, a esposa não vai querer. Uma outra vizinha havia oferecido um cachorrinho preto, mas a esposa também recusou.
Eu disse: "O senhor me desculpe, mas isso é preconceito e ignorância. Bichos pretos não dão azar, pois se Deus criou todas as coisas, criou bichos pretos, brancos, amarelos...Isso é muita ignorância e preconceito bobo por parte de sua esposa".
Penso comigo: "Se o cabra está lascado a culpa é do gato preto?! Me pópi!, como diria papai".
Voltarei a oferecer a Preta Maria a quem quiser e não tiver preconceito, mas acho difícil que a aceitem.
Além disso, ela já se apegou a mim e hoje pela manhã eu a procurei e pensei que tivesse passado pela grade do portão e ido embora, mas não, a espertinha estava deitada confortavelmente em minha cama, para horror e ciúmes de Aurora e do resto da gataiada.
Continuei com meus afazeres e me senti mal, tomei o remédio da pressão e deite-me um pouco, estou cochilando e sinto uma coisa fofa ronronar, era Preta Maria encostada em mim e lançando olhares graciosos de cumplicidade.
Acho que ela quis agradecer pelo acolhimento, pelo alimento do corpo e da alma, por eu não ter preconceito besta, graças a Deus.
Meu Paipreto dizia e já falei aqui que Deus manda seus anjos ou alguém lá de cima disfarçado de bicho para ver como nós o tratamos.
Assisti a um programa no Animal Planet sobre um homem que mora há vinte e cinco anos no Alaska cercado por wolverines e não achei má ideia.
O bicho homem é tão complicado, tão tacanho e tão preconceituoso, minha Nossa Senhora! E isso porque é o animal racional e o ser superior! Superior em bestagem? Oxe!
Estou brutalmente cansada, fisicamente e emocionalmente. Estou cansada de parar o trânsito, o movimento, as pessoas e não por causa da minha estonteante beleza, mas sim por causa da minha aparência acromegálica.
Sou humana, demasiado humana.


Preta, Preta, Pretinha
                                                                                                
                                               


sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Guincho e Farinha Láctea

                                             

Fiquei "ruim" esses dias, como dizia mamãe.
Comprei uma farinha láctea genérica e não me caiu bem; logo de cara não gostei da aparência e para piorar, misturei leite de vaca ao suspeito alimento. O resultado não poderia ser outro: vômito, mal estar, fraqueza, tontura e uma série de outros sintomas.
Eu sempre compro farinha láctea Nestlé, a mais tradicional no mercado, mas acontece que fui a um mercadinho simples do bairro e que só vende marcas mais baratas para atender ao público consumidor da região e comprei o que tinha; não deu certo.
A farinha láctea genérica parecia areia e quando misturada ao leite ficou parecendo massa de pedreiro, dava para encher qualquer reboco. Juro! Dei duas colheradas e joguei fora, nem os gatos quiseram.
Isso foi de manhã.
Saí à tarde com minha irmã Rosi para ir ao banco pagar as contas e depois ir à casa dela para tomar seu forte e amargo café; todo mundo reclama da falta de açúcar, menos eu.
Mas acontece que o carro começou a falhar e a "tremer" e tive que parar e estacionar e chamar o guincho. Liguei para o seguro e fiquei na espera ouvindo a infame musiquinha; desliguei e liguei de novo umas quatro vezes, cansei. Resolvi ligar para corretora de seguros e lá falei com uma funcionária que conseguiu agilizar mais rapidamente a chegada do guincho, acho que se eu estivesse esperando ser atendida pelo seguro estaria lá até agora.
O guincho fazendo a manobra e atrás dele para um abestado reclamando e pedindo que saísse logo da frente, não me contive e movida pelo stress deixei a elegância de lado e disse: "Oh abestado, vou tirar o carro da frente como?! Não está vendo que o carro está quebrado? Oxe!" 
O motorista do guincho, um senhorzinho muito simpático, caiu na gargalhada e aproveitou para contar um causo semelhante: Ele socorria uma moça que era lutadora de Jiu Jitsu e o outro motorista envolvido na batida era um taxista metido a machão; resumo da ópera: o taxista machista ficou pianinho perante às habilidades esportivas da jovem condutora de veículos.
Ele ainda riu quando eu disse que é por essas e outras que não ando armada, valha-me minha Nossa Senhora!
Carro guinchado e levado ao mecânico que descobriu o problema: impurezas no combustível entupiu um bico "não sei das quantas" e isso fazia com que o carro falhasse e "tremesse". O mecânico limpou o tal do bico e o carro voltou a funcionar normalmente, graças a Deus.
Volto para casa e me sinto muito mal; ainda tento fazer as coisas mas me dá uma fraqueza tremenda, deito-me um pouco. Durmo profundamente e acordo com uma ânsia enorme e passo o resto da noite correndo para o banheiro. Chás, água de coco, suco, Mylanta e Buscopan fazem parte do ritual.
Fiquei mal pra caramba e dormi o dia inteiro.
Hoje acordei bem, graças a Deus.
Fui ao banco pagar as contas mas só consegui pagar metade, pois apareceu a seguinte mensagem na tela do caixa eletrônico: "Saldo insuficiente, sua pobre!".
Só faltou aparecer o "pobre".
Esse mês tive despesas extras e o dinheiro não deu, "Si ferrei!".
Mas paguei as contas mais importantes, como aluguel, seguro do carro, plano de saúde e a fatura do cartão de crédito. O mais importante mesmo foi ter comprado a ração da gataiada e dos peixinhos.
Amanhã será outro dia e será melhor. Amém.
É isso.

                                     

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Caras e Bundas

Perdoem-me o título, mas causou-me irritação saber sobre um certo concurso que elegerá a bunda mais bonita! Teve até candidata desclassificada por usar implante de silicone; a bunda tem que ser natural, minha filha!
Meu Deus!
É o que mais temos hoje: concursos bizarros de beleza. E o pior é que o número de candidatas é imenso! Todo mundo quer se inscrever, todo mundo quer se exibir e mostrar o corpinho e o cabelinho bonitinho, todo mundo quer ser celebridade.
Por que não há mais concursos sobre conhecimento, literatura ou algo em que use o cérebro e não a cara, a bunda e outras partes?!
Estamos nos tornado um país babaca que investe e se orgulha de suas mulheres fruta, bundudas, boazudas e burras. Somos um país burro.
Aliás, uma coisa que não entendo e abomino é o fato de as pessoas, principalmente os homens, dizerem coisas como "gostosa... fulano comeu ciclana..."
Acho isso horrendo e de um desrespeito enorme!
Gostosa/o para mim é comida, é bebida, é alimento.
Come-se comida, alimento sólido, porque se fosse líquido, bebe-lo-íamos.
Não somos antropofágicos, não comemos gente, não somos canibais.
Que país é esse?