sexta-feira, 30 de março de 2012

Nuvem

                                              


Quando eu era pequena eu achava que as nuvens eram feitas de algodão doce e que atrás delas ficavam os anjos escondidos a fazer arte e a deixar São Pedro de cabelos e barba em pé.
Era assim que dizia meu Paipreto.
Quando chovia, ele nos perguntava: "Sabem porque está chovendo, meus filhos?"
"Está chovendo porque os anjos estão lavando o céu. São crianças e fazem muita arte e deixam São Pedro danado, visse? São Pedro fica brabo e é por isso que têm raios e trovões, só assim os anjos se comportam"
E se vocês também não obedecerem à sua mãe, vai ter muito raio e muito trovão.
Ficávamos quietinhos e olhávamos para o céu. Se chovesse então, ficávamos encolhidinhos em nosso quarto até a chuva passar.
Olhávamos para o céu e perguntávamos a Paipreto onde estavam os anjos. Queríamos ver um anjo com a vassoura na mão a lavar o céu.
Paipreto olhava, olhava para o céu e nos chamava: "Corre aqui, ligeiro! Olha lá atrás daquela nuvem...É um anjo!"
Olhávamos, não víamos nada e ficávamos desapontados, mas Paipreto tinha uma explicação para a ausência angelical: "Os anjos não podiam demorar muito, São Pedro veio chamá-los, ainda tem muito céu pra lavar".
Eu esticava meus braços para alto tentando pegar uma nuvem e ver se tinha algum anjo escondido: "Paipreto, me levanta"
"Pra que, minha filha?"
"Pra pegar aquela nuvem".
                                                 


                                       

Mamãe

                                                  

Manhã de sábado 05 de maio de 2001.
Dormia.
Acordo com o telefone a tocar. Era minha irmã Rosi; eu ia fazer uma brincadeira perguntando se ela por acaso sabia que horas eram. Não deu tempo para brincar, assim que falo alô, minha irmã me diz: "Não sei como te dizer isso, mas mamãe morreu".
Meu mundo caiu, não tinha chão sob meus pés.
"Você tá louca?! Mamãe não morre! Mamãe é muito forte! Oxe!"
Como eu disse, era uma manhã de sábado e mamãe ia à feira mas sentiu-se mal no caminho, agarrou-se ao poste e caiu na calçada. 
Mamãe era muito conhecida no bairro e as pessoas que passavam estranharam mamãe naquelas condições; um conhecido se aproximou de mamãe disse: "Dona Marlene, a senhora tá bem? Parou pra descansar, foi? Tá muito calor, né?"
Mas mamãe não respondia e esse conhecido correu e foi chamar papai.
Mamãe é colocada na ambulância e é levada ao hospital do bairro e depois transferida para o Hospital do Mandaqui, lá teria mais recursos.
Com papai a acompanhá-la dentro da ambulância, mamãe dizia: "Não me deixe morrer não, meu véio".
Mamãe era hipertensa, fumou durante anos e era muito ativa, muito viva, muito esperta, comprava fiado e ainda pedia troco. Mamãe.
Mamãe teve um aneurisma (hemorragia cerebral) e foi levada às pressas para a sala de cirurgia.
Vamos todos visitar mamãe no hospital; filhos, vizinhos, conhecidos, familiares...Mamãe era muito querida. Mamãe ajudou a muita gente, nem que fosse com uma simples palavra de conforto: "Se avexe não, meu filho. Amanhã é outro dia e Deus não desampara os filhos Dele". Mamãe.
Estamos no hospital e aguardamos nossa vez de visitar mamãe. Combinamos que cada um ficaria no máximo cinco minutinhos com ela, pois havia muita gente querendo vê-la e o tempo de visita era curto.
Eu deixo para ir por último.
Meu irmão Fubá vai ver mamãe e volta chorando, abraça papai e diz: "Aquilo não é mamãe não, pai".
"Oxe, meu filho, fale assim não de sua mãe".
Chega minha vez de ir ver mamãe. Entro na U.T.I., olho à volta e não vejo mamãe, será que ela ficou boa e foi para o quarto? Pergunto à enfermeira por mamãe ela diz que é aquela senhora ali.
"Não, não é minha mãe"
"É sim, não é Marlene o nome dela?"
Mamãe estava inchada, roxa, com um corte na cabeça raspada, respirando por aparelhos, as unhas curtas e sem esmalte. Não, não era a minha mãe vaidosa que tinha orgulho de suas belas unhas pintadas sempre de vermelho, que cortava e tingia seus cabelos a cada quinze ou vinte dias. 
Olho para mamãe...Aqueles fios, os aparelhos com aquele som que até hoje me dá paúra, a máscara de oxigênio...
Mamãe estava coberta com um lençolzinho fino e perguntei: "Tá com frio, mãe?"
Puxo o lençol para cobrir melhor mamãe mas a enfermeira diz para eu não mexer com ela.  É minha mãe! Você não entende?!
"Você tem um cobertor? Minha mãe tá com frio"
"Pode deixar, assim que eu terminar de cuidar desse paciente eu arrumo um cobertor para sua mãe".
"Por favor".
Disfarço e tento inutilmente puxar o lençol para cobrir melhor mamãe; me despeço dela: "Tchau, mãe. Fica com Deus".
Mamãe já estava com Deus.
Segunda-feira, 07 de maio de 2001, mamãe tem uma pequena melhora e já começamos a fazer planos sobre como vamos cuidar dela.
Segunda-feira, 07 de maio de 2001; às 22 horas recebemos ligação do hospital: mamãe foi embora com Deus.
"Mas os médicos não disseram que ela tinha melhorado?! Cadê?!"
Meu cunhado Pepê vai com um dos meus irmãos para cuidar do enterro. Nesse país é burocracia para nascer e para morrer.
Às quatro horas da manhã vem o carro da funerária com o caixão e eu e minha irmã Renata descemos para o botequinho de mamãe onde seria o velório. Mamãe não gostava quando chamávamos de botequinho, ela dizia que era um mini restaurante.
Papai diz para tentarmos dormir e que pela manhã iríamos ver mamãe no seu mini restaurante e, além demais, seria perigoso sairmos à rua àquela hora da madrugada.
"Mamãe morreu, pai. E quem vai ser doido de querer mexer com a gente num momento como esse? Oxe!"
Eu e Renata ficamos olhando o pessoal da funerária abrir o carro, tirar as flores, as velas e por fim, o caixão. Eu ainda tinha esperança que só teriam flores e velas naquele carro e que logo logo mamãe surgiria apressada para fazer o café dos meninos que iam ao trabalho.
O caixão de mamãe é retirado e eu grito desesperadamente e dolorosamente: "Mãe! Mãe!"
Mas mamãe não respondeu. Mamãe dormia.
Amanhece o dia e as pessoas vão ao botequinho de mamãe e se surpreendem: "Quem morreu? Dona Marlene! Não, não pode ser! Dona Marlene era tão boa pra gente. Pode não!"
A rua foi tomada por uma multidão e a polícia foi até lá achando que havia alguma confusão. Mas não tinha confusão nenhuma, era apenas uma grande despedida para mamãe.
Terça-feira, 08 de maio de 2011, o enterro de mamãe.
Oficialmente mamãe faleceu na segunda-feira, 07 de maio de 2001, mas para mim mamãe morreu mesmo ao cair na rua naquele sábado, 05 de maio de 2001.
Esses mais recentes dias (evito dizer últimos) tenho sonhado muito com mamãe e como sempre, ela não para um minuto, está sempre pra lá e pra cá, trabalhando, fazendo alguma coisa em prol de seus filhos. Mamãe não descansa, não consegue, se avexa e se aperreia quando vê um de nós com problema. 
Permita Deus que um dia mamãe possa descansar de verdade.
E eu peço a Deus que mamãe tenha o que ela precise no lugar onde ela está. 
Que mamãe tenha paz, sossego, alegria e que prossiga a fazer e a trazer coisas boas vindas do seu coração de gente boa. Que assim seja, meu Deus.
Que mamãe não sinta frio, meu Deus.
Que Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Nossa Senhora Aparecida, São Severino do Ramo, Nossa Senhora do Carmo, Meu Padim Ciço do Juazeiro e todo o Povo lá de cima cuidem, protejam, iluminem minha mãe e não a deixe sentir frio.
Mamãe.
                
                                          


quinta-feira, 29 de março de 2012

Senha Especial

                                                   


Fui ao DPME (Departamento de Perícias Médicas do Estado) para passar por perícia e lá chegando foi-me dada senha especial.
Eu geralmente evito pegar senha especial por me julgar em melhores condições físicas que outras pessoas e por respeito à essas pessoas. Mas há dia que estou bem "moída" e resolvo fazer uso de meus direitos.
Bom...
Peguei minha senha e fui encaminhada à sala ao lado para estar aguardando ser chamada.
A atendente chama " a próxima senha especial" e eu me levanto sob olhares e expressões de espanto e indignação; posso ver nas caras das pessoas e ler em seus pensamentos: "O que é que essa fulana tem? Pegou senha especial por quê?!".
Pois é. 
Como disse uma enfermeira certa vez, " se a pessoa não estiver enfaixada, quebrada, com muleta, sangrando ou o que valha, então ela não tem nada!".
Mas não é bem assim.
Há problemas de saúde bem mais graves e que são internos. Não são visíveis aos olhos escrutinadores das pessoas de moral e bons costumes. Gente perfeita que não tem defeito nenhum! 
Deus tá vendo.


                                         





Hipermercados

                                               


Fui ao Hipermercado Extra da Penha.
Fui comprar um aparelho de telefone e mais uma vez me convenci de que devo ir a esses locais para apenas fazer compras de gêneros alimentícios e coisas/objetos dos quais não precisamos da ajuda dos funcionários da loja.
Explico: 
Primeiro - Procuramos por um produto, não encontramos, procuramos um vendedor que esteja por perto e não encontramos.
Segundo - Finalmente encontramos um vendedor e perguntamos pelo tal produto e a resposta é: "Só tem esse mesmo aí do mostruário... Aqui não é meu setor...Vou chamar alguém para ajudar a senhora". Mas o bendito vendedor some e ficamos à ver navios, ou melhor, à ver produtos que queremos comprar mas não o fazemos por falta de informação, boa vontade e ajuda dos funcionários.
É isso.
A variedade de eletro-eletrônicos é imensa nesses hipermercados mas a falta de funcionários e de boa vontade em ajudar é inversamente proporcional. Esses funcionários não são pagos para atender aos clientes?!
Fiquei uns quinze minutos olhando os telefones e esperando que alguém me atendesse. Olho à volta e vejo vendedores falando ao telefone, conversando e usando o computador; todos muito ocupados, como pude perceber.
Eu ia desistir mas um dos simpáticos vendedores chama uma moça que veio me atender com uma má vontade do cacete. Ela não sabia o que estava vendendo, não sabia dar as informações básicas sobre as funções dos aparelhos à venda.
Falei para ela deixar pra lá mas ela disse que iria verificar e voltou com o aparelho que eu queria e por um bom preço. Comprei.
O problema foi efetuar o pagamento no caixa do setor. Não havia ninguém lá e voltei e perguntei à vendedora pela pessoa do caixa e fui orientada a aguardar um instantinho.
"Instantões" depois vejo uma senhora emburrada, andando a passos de tartaruga manca e perguntando quem é o próximo.
Pela disposição, preguiça e má vontade do "maduscachorro" que ela demonstrava, perguntei se ela era a pessoa do caixa: "Sou sim!".
Paguei a porcaria do telefone e peço a nota fiscal e sou informada de que preciso ir ao balcão de atendimento ao cliente para tal finalidade.
Vou ao balcão e encontro três pessoas na minha frente e uma única funcionária a conversar animadamente ao telefone.
Prometi a mim mesma nunca mais comprar nada que precise de vendedores preguiçosos e mal encarados.
Outra coisa que me desagrada nesses hipermercados é a falta de fiscalização do trânsito de veículos; vejo carros passando a alta velocidades e isso sem contar naqueles estacionados nas vagais especiais. Há os que estacionam seus veículos bem na entrada do hipermercado, dificultando a passagem dos clientes com seus carrinhos de compras.
Fui ao Atacadão da Marginal Tietê para comprar ração e água de coco. Pedi ajuda para pegar o saco de ração com 20 quilos ao funcionário mais próximo que consegui encontrar e ele disse que não era seu setor. Como sempre. Foi buscar alguém para me ajudar e sumiu! Nem ele nem a ajuda e tive que pegar sozinha o saco pesado de ração; me lasquei depois com dores nas costas.
Fui ao corredor de bebidas para pegar água de coco e a embalagem com vinte e sete caixinhas que eu queria estava na parte mais alta da prateleira; de novo peço ajuda e ouço a mesma desculpa. Subi na prateleira de baixo e puxei uma caixa de água de coco e derrubei as outras; aí apareceu um grupo grande de funcionários para me dizer que eu não poderia fazer aquilo! Se tivessem me ajudado...
É isso.
Carrefour, Extra, Atacadão e todos os outros hipermercados e lojas deveriam treinar melhor seus funcionários. Nós clientes consumidores não estamos ali para pedir, estamos ali para adquirir um produto e/ou serviço e vamos pagar por isso.


                                                        


                                                   

Jornal Nacional

                                               


Papai chegava do trabalho, tomava banho, jantava e assistia ao Jornal Nacional. Exatamente nessa ordem.
Se a TV preto e branco estivesse sintonizada em outro canal, papai nos lembrava da hora do telejornal global.
Todo mundo tinha que ficar em silêncio e prestar atenção às notícias do jornal que na época era apresentado por Sérgio Chapelin e Cid Moreira.
Papai dizia que era muito importante saber das notícias do mundo e já bastava o pobre ser pobre, mas "inguinórante" não.
Naquela época não havia a enorme variedade de canais e opções de programação que há hoje e o Jornal Nacional era o que tinha de melhor no jornalismo da TV Brasileira.
Minha irmã Rosi disse que esse gosto de papai pelo Jornal Nacional foi o que, entre outros fatores, a incentivou a fazer Jornalismo.
E até hoje assistimos ao Jornal Nacional.


                                                        

Piolhenta

                                                  


Fubá estava no estacionamento do supermercado e manobrava o carro quando uma motorista faz sinal pedindo passagem. Ele permite que a moça passe mas alguns metros depois, na saída do supermercado, Fubá é quem pede passagem mas a motorista nega.
Fubá irrita-se e diz: Você pediu passagem e eu dei; agora eu peço passagem e você não dá! Sua piolhenta!".
O riso foi geral e o "piolhenta" pegou.


Fubá, com seu 1.90m e mais de 100kg no amado "Fuquinha Azul"
                                                    

Ser vivo

Seres vivos
                                                     


Beatriz me liga pela manhã para me fazer a seguinte pergunta: "Computador é um ser vivo?"
Fingi que não sabia, era uma pergunta muito difícil para ser feita e respondida àquela hora.
"Computador não é um ser vivo. Sabe por quê?  Porque ele não nasce, não cresce, não reproduz e não morre".
"É mesmo, Bibi? Puxa vida, eu nem sabia disso!"
"Eu fui a única aluna que sabia a resposta. Minha professora perguntou pra todo mundo, mas ninguém sabia, só eu! Ela me deu uma bala de limão".
"Eu adoro bala de limão, Bibi"
Quando eu falo que meus sobrinhos são lindo e inteligentes, não estou exagerando e nem é corujice de tia babona-bobona, é a mais pura verdade.


                                              

quarta-feira, 28 de março de 2012

Oh meu amado...

                                                


Tínhamos um vizinho que sempre aprontava das suas artes com a ajuda de meus irmãos; era o Gordo. 
Nunca soube seu nome verdadeiro, sabia apenas que ele morava com a irmã e seus pais eram separados.
Gordo estudou na mesma escola que nós e morava na nossa rua.
Gordo vivia lá em casa e sempre chegava bem cedo, lá pelas sete horas da manhã. Podia fazer frio ou calor, chuva ou sol que Gordo está à nossa porta.
Papai dizia: "Oxe. Esse menino já está de pés uma hora dessa?! Não tem o que fazer em casa não?".
Gordo adorava cantar um música da cantora Diana, esposa de Odair José e com quem vivia aos tapas e beijos, era a música "Porque brigamos" e começava assim: "Oh meu amado..."
Nos fins de semana e feriados podíamos ouvir a voz que cantava lá da rua e sabíamos para onde a voz se encaminhava: para nossa casa.
Papai, ao ouvir Gordo cantar "Oh meu amado", dizia: "Vixe Maria, lá esse menino chato cantando essa música besta de novo. Isso tudo por causa de Nádão (Naldão)".
Era divertido ouvir Gordo cantar.


Diana
Odair José



                                           

Sardinha

                                             


Acabei de jantar; comi sardinha frita com farofa e suco de limão. Delícia!
Aliás, sardinha e bacalhau são os meus peixes favoritos.
Meus gatos também estavam doidos por uma sardinhazinha cheirosa, fritinha, gostosa. 
Dei-lhes sardinha. Adoraram e brigaram para ver quem comia mais rápido e pegava mais.
Todo mundo "jantado", fomos para a sala e Ébano deita-se no encosto do sofá atrás de mim e dali a pouco escuto um "pum".
Foi ele.
Buchinho cheio de sardinha e o resultado são gases poluentes emitidos pelos meus gatos.
É isso.
Ébano descansando após o jantar
                                         
                                    

                                         

Feliz Ano Velho

                                               


Anos depois, já adulta, ganho de minha professora do Curso Técnico de Administração, o livro "Feliz Ano Velho" de Marcelo Rubens Paiva".
Todos os alunos ganharam livros e eu tive a sorte de ganhar justamente o livro que eu mais queria.
A professora havia escrito uma dedicatória muito bacana para mim e quando eu me sentia triste, pegava o livro e lia aquela parte e me sentia melhor.
Temos depois é lançado o filme baseado no livro e eu assisti e não gostei.
Geralmente os filmes procuram ser fiéis ao livro, com algumas sutis diferenças, mas muitas vezes o filme foge à proposta inicial da história do livro. Aí fica chato.
Há uma personagem no livro, uma pernambucana de pele e cabelos claros, que namora a personagem do autor; mas no filme foi interpreta por Malu Mader: morena e com seu sotaque "carioquêixxxxxxxxxxx".
Malu Mader é uma ótima atriz, mas como outras atrizes e atores cariocas, têm dificuldade em fazer o sotaque nordestino. Lembram da novela "Senhora do Destino" onde a Carolina Dieckmann fazia o papel de uma retirante nordestina? Pois é.
Já a atriz Juliana Paes fez um bom sotaque como uma pernambucana de Olinda na série "As Brasileiras". Gostei.
Bom...
Meu precioso livro "Feliz Ano Velho" foi lido, relido, emprestado, devolvido e...Sumiu!
É, sumiu. 
Não vou entrar em detalhes para evitar manifestações de desagrado via mensagem de texto. Não entendeu? Mas eu sim. E como!
Beleza.
Agora leio o livro do Lobão, "50 Anos A Mil", presente de aniversário de minha irmã Rosi e meu cunhado Pepê.
:)
                                              

A Abelhinha Feliz e O Peixinho Sonhador

Autor: Ivan Engler de Almeida. Editora Ática. 1974
                                              


Estava na terceira série do Ensino Fundamental I, o antigo primário.
Era final de ano e já havíamos feito nossas provas bimestrais. Tive notas boas e "passei de ano", como dizemos até hoje, para a quarta-série. Eu tinha nove anos.
No último dia de aula comparecemos com bolos, salgadinhos e refrigerantes; era nossa festinha de despedida do ano que terminava.
Muita choradeira, muitos abraços e muitos "Eu nunca vou te esquecer"; isso porque morávamos todos no mesmo bairro e iríamos estudar na mesma escola no ano seguinte. Mas como alguns gostavam de dizer: "É, mas quem garante que a gente vai ficar junto na mesma classe?". 
Verdade. Isso era uma dura realidade a ser encarada.
Perto do final da festinha nossa professora Dona Maria Tereza pede que nos sentemos em nossos lugares, ela tem algo a nos dizer.
A Professora Dona Maria Tereza tem nas mãos uma sacola enorme com pacotes coloridos dentro e nos perguntamos animados: "Será que é presente pra gente?!".
Era sim.
A professora passa de carteira e carteira e coloca um embrulho bonito e colorido em cima e nos pede para esperar para abrirmos  todos juntos.
Ela diz que podemos abrir e o que se seguiu foi um rasgar frenético de papel com expressões felizes de "Oba! Que legal! Vou começar a ler agora mesmo!".
Eram livros. Lindos livros. Preciosos livros.
Era meu primeiro livro! 
O primeiro livro que eu consegui ler sozinha e sem muita dificuldade para unir as sílabas e formar palavras. Que alegria, meu Deus!
E os livros que ganhamos da professora foram "A Abelhinha Feliz" e "O Peixinho Sonhador, ambos do autor Ivan Engler de Almeida.
Eu ganhei o livro da abelhinha, mas fiquei doida para ler o do peixinho também.
A minha coleguinha ao lado havia ganho o livro do peixinho e o guardou em sua mochila para poder conversar e brincar com os outros coleguinhas; eu pedi a ela para me deixar ler seu livro e o devolveria no final da aula/festa. 
Eu não ia brincar nem conversar com ninguém mesmo! Eu estava doida pra ler!
Li "O Peixinho Sonhador" e adorei. Devolvi o livro à coleguinha e fui para casa para ler o meu livro da abelhinha.
O problema era Mãevelha. "A escola acabou então tu vai ficar em casa pra me ajudar a cuidar dos teus irmãos e das coisas, visse?"
Eu fazia tudo o mais rápido que podia só para me entregar ao prazer da leitura do meu querido e precioso livro, mas Mãevelha percebeu e não me deixava ler. "Mas tu não larga desse livro, não é essa menina? Bote isso pra lá e vá cuidar de seus irmãos, tá na hora da mamadeira da menina nova". Minha irmã Rosi tinha dois anos na época.
Papai e mamãe chegavam do trabalho e ouviram as reclamações de Mãevelha: "Essa menina só quer viver agarrada com aquele livro e não faz as coisas direito. 
E eu só tinha nove anos de idade!
Para escapar da vigilância de minha avó eu preparava a mamadeira de minha irmã e depois de mamar ela iria dormir. Era minha chance.
Segurava Rosi em meus braços infantis e deixava que ela segurasse a mamadeira e, ao lado, sob um fralda, estava meu livro escondido. 
Mãevelha não contava com minha astúcia.
Rosi dormia em meus braços e eu viajava na historinha da abelha que veio da Itália para o Brasil em um navio e que sofrera muito até saber diferenciar as flores naturais das artificiais. As abelhas têm um período curto de vida e então aparece uma "abelha madrinha" e concede cinco anos de vida para a abelha Ítalo-Brasileira.
Eu associava a abelhinha italiana à minha avô Mariana que também viera da Itália para o Brasil.
Mãevelha percebia que eu estava demorando muito para fazer minha irmã e dormir e gritava de lá da cozinha: "Mas tu não fizesse essa menina drumi ainda, Rejane?"
"Não, Mãevelha. Ela ainda está tomando a mamadeira".
Rosi dormia o sonos dos pequenos anjos e eu me deleitava com a leitura do meu adorado livro "A Abelhinha Feliz".




Autor: Ivan Engler de Almeida. Editora Ática. 1974
                                            







terça-feira, 27 de março de 2012

Humor




Sou do tempo em que programas de humor ou eram inteligentes como os de Chico Anysio e Jô Soares ou pastelão como Os Trapalhões.
Gostava de todos.
Jô Soares e Chico Anysio nos faziam rir e pensar e Os Trapalhões nos faziam apenas rir, e muito.
Hoje o humor está diversificado, mas ainda não vemos muitas mulheres humoristas nem em programas de televisão nem em Stand Up Comedy.
Atualmente temos muitos programas humorísticos na TV, mas alguns deles apelam para o mal gosto, o desrespeito e à exploração e exibição exaustiva de mulheres com corpos seminus. É um exagero de peitos e bundas pra dar e vender (sic).
Os programas humorísticos de hoje parecem seguir o mesmo princípio dos comerciais de cerveja, infelizmente.
Há dois humorísticos antigos que ainda estão na TV e nos fazem rir: A Praça é nossa e mais uma versão da Escolinha do Professor Raimundo, a Escolinha do Gugu.
O problema desses programas, principalmente da Escolinha do Gugu, é a apelação sexual disfarçada de piada. Explico: Na dita escolinha há uma "aluna" que sempre tira nota dez e à medida que responde corretamente às perguntas tira uma peça de roupa até ficar só de biquíni ou lingerie; sei lá.
A moça tira a roupa e depois corre para se sentar em seu lugar e tenta se cobrir com a peça de roupa recém tirada (??!!).
Mas nesse programa o problema nem é tanto a exibição de peitos e bundas, mas sim o comportamento de velho tarado de um pseudo humorista que não tem a menor graça, o tal do "Seu Eugênio" vivido por César Macedo.
Acho que a Record mantém esse senhor na Escolinha do Gugu por compaixão e por não saber o que fazer com ele, e não porque ele seja engraçado ou tenha talento.
Em um episódio do programa o "Seu Eugênio" passa as mãos pelos seios da "aluna" Marilyn Brasil e isso me desagradou e mandei um e-mail relatando o fato à TV Record.
Não recebi nenhuma resposta.
No programa de domingo de 25 de março de 2012, o "Seu Eugênio" tocou no corpo da "aluna" Dona Fifi, aquela que tira a roupa quando tira um dez, e ela deu-lhe um tapa e ficou de mal humor o restante do programa.
Os outros atores riram acho que para disfarçar a situação, pois não teve graça nenhuma.
Assédio sexual não é engraçado.
Esconder-se por trás de uma personagem e fazer uso disso para se tocar em mulheres seminuas ou não, também não é engraçado.
Mandei meu segundo e-mail hoje para TV Record relatando o mesmo fato e acredito que não terei resposta nenhuma, como da primeira vez.
As emissoras de televisão deveriam estudar melhor as propostas de seus programas de humor, e outros também, para evitar cair na vulgaridade e na apelação sexual. 
Mostrar mulheres seminuas com peitos e bundas à mostra dá mais audiência e atrai anunciantes, mas até quando essa fórmula funcionará?
Já temos lixo demais na TV: Big Brother, A Fazenda, Mulheres Ricas, Superpop, Pânico na TV e outras porcarias. Já passou da hora de investir em cultura, bom gosto, educação, informação e respeito ao telespectador.
Há bons programas, como: Todo Seu, Café Filosófico, A Liga, CQC...
A velha fórmula da TV que vende sexo e que ainda está em voga já dá sinais de desgaste.


"Seu Eugênio" com "Marilyn Brasil" e ao fundo "Dona Fifi" sem roupa.
                                              







Suco em pó... Tang & Ki-Suco

                                              


Estávamos habituados a sucos de laranja, limão e garapa.
Aqui em São Paulo garapa é como se chamam o caldo de cana, mas para nós sertanejos, garapa é água com açúcar.
Bom... Os sucos de laranja e limão tinham muita água, muito açúcar e pouca fruta. Era muita gente e os sucos precisavam render bastante. Mãevelha fazia litros daquela água açucarada a que denominava suco.
Mas eis que surge o suco em pó: Ki-Suco. 
Vinha num envelopinho com a imagem de uma jarra sorridente e só tinha o sabor uva.
Juntávamos as moedinhas para podermos comprar Ki-Suco e preparávamos com muito açúcar e gelo; o suco não vinha adoçado como os de hoje.
Nossas mãos e boca ficavam vermelhas devido à forte cor do suco em pó; adorávamos e tomávamos litros de Ki-Suco.
Tempos depois surgiram novos sabores e queríamos experimentar todos: laranja, abacaxi, limão...Mas o nosso favorito era de uva mesmo. 
Às vezes colocávamos o suco em bandejas de gelo para depois chuparmos como se fosse picolé.
O bom de ser pobre é que usamos bastante a imaginação e a improvisação.
Tempos depois surge um novo suco em pó e que já vem adoçado, é o Tang. 
Ficamos com vontade de experimentar o novo suco, mas é mais caro que o Ki-Suco.
Pedimos a mamãe para comprar Tang quando ela recebesse o pagamento e ela compra!
Alegria, Alegria.
Pobre é besta mesmo.


                                              

segunda-feira, 26 de março de 2012

CSI - Crime Scene Investigation (Investigação Criminal)

                                        


Fomos à Ilha Comprida e passamos o Réveillon de 2011.
Ilha Comprida é um lugar muito lindo e tem dunas e um belo rio de águas escuras que corre para o mar.
Caminhávamos pela praia quando Beatriz e Sarah param para olhar alguma coisa na areia: era um caranguejo morto.
Olham e olham e perguntam: "Ele está morto? Quem matou ele? Tadinho!".
Respondemos que poderia ter sido atropelado pelos carros que passavam ou até mesmo ter sido trazido já sem vida pelo mar.
Beatriz e Sarah ficam bravas com o suposto assassino do pobre crustáceo e tristes com a perda de tão jovem e inocente vida.
Mas deixam o cadáver do caranguejo para ser levado pelas águas do mar e vão procurar conchinhas.


                                                      

Papo

                                          


Beatriz brinca com Sarah, Sabrina e Thaís e tudo vai bem até que Sarah reclama: "Bibia, você me tratou mal".
Beatriz, muito inteligente e articulada, retruca: "Tratei mal coisa nenhuma! Eu deixo vocês brincarem no meu quarto, eu deixo vocês brincarem com água no meu quarto, vocês pegam minhas coisas, meus brinquedos, tomam meu "Muppy" (bebida láctea com frutas) e agora vêm com esse papo que eu trato mal!"
Sarah aguarda a vez para falar: "Mas não foi hoje, Bibia, foi aquele dia".
"Não vem com esse papo de tratar mal, Sarah!".
Beatriz vai até a cozinha e pega a lata de Nescau e a mãe pergunta: "O que você vai fazer, filha?"
"Vou prepar um Nescau pra mim, mãe. Estou muito nervosa, vou fazer um Nescau para me acalmar".
E enquanto misturava o achocolatado no leite, dizia para si mesma: "Calma, Beatriz. Calma".


                                        

Ideia

                                                


Beatriz adora fazer bolos, cupcakes e outras guloseimas comigo.
Quando chego à sua casa, ela diz: "Tia Rejane, vamos fazer um bolo?"
"Tem todos os ingredientes?"
Se não tiver, minha irmã Rosi providencia e em alguns minutos estamos Beatriz e eu com as mãos na massa, literalmente.
Uma vez, porém, Beatriz me chama para fazer bolo mas muda de ideia com a chegada da amiga Sarah. Eu faço o bolo sozinha e Rosi diz: "Mas Beatriz, você chama sua tia para fazer bolo e não ajuda; sua tia fez tudo sozinha".
"É mãe, mas a ideia foi minha".


                                                 


                                               

Peixeiro

                                              


Antigamente era comum peixeiros, verdureiros, muambeiros e outros profissionais de vendas oferecerem seus produtos e serviços de porta em porta.
Geralmente gritavam a plenos pulmões: "Pêeeeeeeexêro"
Eles vinham a pés, em carroças e depois em Peruas-Kombi.
Mamãe comprava quilos e mais quilos de peixe. Era muita gente em casa e mamãe era exagerada por natureza.
Tinha o peixeiro da carroça que sempre parava à nossa porta e perguntava se mamãe queria peixe e anos depois era o peixeiro japonês que parava sua Perua-Kombi em frente à nossa casa e chamava: "Olha o peixe, Dona Marlene!".
E lá saia mamãe com uma bacia plástica enorme para poder caber os quatro ou cinco quilos de sardinha, pescada branca, cação e outros peixes que estivessem à venda.
Era um desembesto que só vendo. 
A vizinha econômica, ou "tacanha e miseravi" como dizia papai, vinha comprar peixes e trazia um prato onde o peixeiro colocava  cinco filés de pescada. Era um filé para ela e um filé para cada um dos quatro filhos.
Papai via aquilo e ficava doido: "Oxe! É muita tacanheza, meu Deus do céu. A pessoa comprar só cinco filézinho, contadinho, um pra cada um! Comprava não. Deus me defenda".
Mamãe dizia: "Mas Dedé, tu não quer que a vizinha compre um desembesto de peixe, quer? Ela tem pouca gente na casa, não é que nem a gente, com esse freva de gente pra comer".
Eu e Rosi ajudávamos mamãe a limpar os peixes e depois a temperá-los. Mamãe usava bastante alho, vinagre, sal, pimenta do reino e cominho e os peixes ficavam deliciosos.
Rosi não gostava de sardinha e por isso mamãe comprava pescada branca ou cação para ela.
Eu e meus irmãos adorávamos sardinha. Eu só não gostava da cavalinha. O peixeiro dizia que sardinha e cavalinha eram quase iguais, mas não me convencia.
Quem gostava dessa fartura de peixes eram os gatos que já conheciam o peixeiro e ficavam em cima do muro esperando mamãe entrar com a bacia cheia.
Dávamos a cabeça e as tripas dos peixes para os gatos que se deliciavam com essa fartura e depois passavam o dia, e a noite também, a peidar; (não só só gatos). 
Papai, pra variar, ficava doido: "Bote esses gatos pra fora! Estão com o maduscachorro a peidar. Valha-me Deus!".
Colocávamos os gatos para fora mas "esquecíamos" a janela da cozinha aberta e de madrugada papai levantava virado no Jiraya a procurar os gatos peidões e a nos culpar: "Não sei quem é mais safado: vocês ou esses gatos. Eu não falei pra botá-los pra fora?".
"Mas a gente colocou, pai. Não temos culpa se eles entraram de novo"
"Que não tem culpa o quê?! Estão se fazenda de besta, é? Vou botar esses gatos pra fora de novo e dou doce se eles entrarem outra vez".
Papai dormia e eu levantava e deixava os gatos entrarem e os escondia debaixo das cobertas. Papai levantava e ia lá fora procurar os gatos e não encontrava nenhum, voltava para casa mais uma vez virado no Jiraya, ia ao quarto e levantava nossas cobertas e encontrava os felinos muito bem acomodados ao nosso lado. Os gatos corriam em disparada e nós ouvíamos mais um longo e interminável sermão.
Os gatos de hoje só comem ração, mas na nossa época comiam cabeça e tripas de peixe, resto de comida e até batata doce e abóbora.
E dá-lhe peidorreira.