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sábado, 26 de julho de 2014

Séria

                                   


Alguém me disse que sou muito séria, mas eu sempre fui assim.
Nunca fui de muitos exageros emocionais, sentimentais etc...
Saio de casa para o trabalho, para o mercado, pet shop, farmácia, casa da minha irmã... Coisas básicas.
Eu adoro viajar, pegar estrada e já fiz muito isso mas agora não dá mais. Não por um longo percurso, pois está difícil dirigir com uma coluna dolorida e um joelho endurecido pela artrose. 
Vivo minha vida de modo simples e procuro não incomodar as pessoas.
Cumprimento a todos, mas não sou de ficar de braços cruzados na calçada de vizinhos e fofocando o dia todo. Mas tem gente que consegue.
Sempre lembro de mamãe, que dizia: "E esse povo não tem um feijão pra botar no fogo, uma roupa pra lavar, uma casa pra varrer?!
Bom...
Assisti há pouco ao programa, "Andante", no Canal Brasil, com um artista pernambucano chamado "Maestro Forró", muito bom. Ele viajou pelo Leste Europeu e mostrou a música e a cultura da Bulgária e Romênia. Belíssimo.
Depois assisti ao filme "Narradores de Javé" e dei boas risadas.
E assim sigo na minha seriedade que para mim é bem normal. como dizia papai: "Não gosto de muita risadage".
Rir, sorrir, gargalhar é bom, mas tudo em excesso fica chato e nos faz parecer hienas lesadas. Na boa.
É isso.




                                        


                                         

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Improviso

                             


Meu Ébano Nêgo Lindo adora presunto, ovos e leite e toda noite me chama até a cozinha e posta-se perto da geladeira; ele sabe que o leite está lá.
Eu não tinha leite de vaca e Ébano não gosta de leite de soja e o jeito foi improvisar. Peguei uma lata de leite condensado, tirei uma pequena quantidade, adicionei água, mexi, diluí bem e dei ao meu mamífero de plantão.
Ébano tomou seu leitinho improvisado e depois foi para a cama para dormir o sono dos justos.
Lembrei-me de como minha avó Mãevelha fazia com o "leite de moça" que mamãe trazia de Recife e fiz o mesmo. Meu Paipreto adorava "leite de moça" com achocolatado e minha avó fazia litros, rendia que era uma beleza.
É isso.

                                 

domingo, 22 de julho de 2012

Pela cabeça dos outros

                                        


Mamãe dizia que quem vai pela cabeça dos outros é piolho e que caranguejo por causa de amigo perdeu a cabeça.
Quando pequenos tínhamos o hábito de tomar gemada. Nossa avó, minha Mãevelha, batia as gemas com açúcar e nos dava,
Estávamos em mais uma época difícil: seca, desemprego, fome...
Meu avô Paipreto era velhinho e doente; estava bem fraquinho e os alimentos eram racionados para poder render mais e dar de comer a todos. Nessas épocas difíceis a parentada se reunia e um dividia com o outro o pouco que tinha.
Não tínhamos tomado nossa gemada naquela manhã e minha prima Lúcia estava com vontade. Ela é mais velha que eu dois anos.
Tinha apenas um ovo na cozinha e que foi reservado para Paipreto; os outros poderiam aguentar a fome por mais tempo, eram mais fortes e resistentes.
Minha prima me convence a pegar o ovo na cozinha e levá-lo até ela, estávamos escondidas em um dos quartos. Depois ela me manda pegar uma caneca, uma colher e o pote de açúcar. Eu fui.
Ela fez a gemada. Tomamos.
Fomos brincar pelo quintal grande da casa e adorávamos pegar mamonas maduras e abrir para ver as sementes.
Dali a pouco Mãevelha nos chama e pergunta se vimos o bendito do ovo e eu fiquei sem saber o que dizer e lancei o olhar para minha prima; a filha da mãe diz: "Foi Rejane que pegou, vozinha. Ela queria a gemada e eu fiz pra ela".
Apanhei e nem tive oportunidade de explicar a minha versão da história. Mifu.
Algumas horas depois mamãe voltou de Recife com a ajuda do Tio José e eu contei-lhe a verdade. Fiquei com raiva da prima.
Estávamos agora em São Paulo e minha irmã Rosi era bebê. Naqueles tempos o posto de saúde entregava seis latas de leite em pó mensalmente para as mães que levavam os filhos para pesar, medir e vacinar.
Estava no quintal cuidando e brincando com minha irmã e a vizinha adolescente chega. Ela tinha um nome bem primaveril: Florinda!
Eu estava com nossas bonecas e brincava de fazer comidinha com as plantas do jardim de Mãevelha e com areia. Florinda diz: "Sabia que não pode dar comidinha de mentira para a boneca? Tem que ser leite de verdade, se não ela fica doente!".
"Mas boneca não  é gente", retruquei.
"A minha prima não quis dar leite pra boneca dela e a bonecar ficou doente e morreu".
Bom, fui até a cozinha e trouxe a lata de leite Ninho para fazermos o leite da boneca, mas a esperta da Florinda fez um copão de leite e botou goela abaixo!
Mãevelha veio ver o que estava acontecendo e vê a lata de leite em meio aos nossos brinquedos. Vixe! 
"Tu não sabe que o leite é pra tua irmã e pro teu irmão? Tu perdesse o juízo? Quem no mundo viu dar leite pra boneca?"
Falei que foi ideia da Florinda e Mãevelha botou a menina pra correr: "Vá simbora! Tu tá muito grande pra modi brincar de boneca. Vá pra sua casa! Vá procurar o que fazer!"
Apanhei com uma sandália de borracha grossa e pesada de papai.
Passei a evitar a Florinda. 


                                             

domingo, 25 de março de 2012

Pitomba

                                               


É uma frutinha que dá em cachos e tem até a sua própria festa na cidade de Jaboatão dos Guararapes em Recife, Pernambuco.
O mês de abril é o mês da pitomba e é facilmente encontrada durante a Quaresma.
Adoro pitomba e a maioria das frutas exóticas do Norte-Nordeste do Brasil.
Pitomba, jaca, pinha, seriguela, graviola, tamarindo...
Mas gosto também de manga, mamão, abacaxi, morango, uva...


                                           

segunda-feira, 19 de março de 2012

Coca Cola e Gordura de Porco

                                            


Ligo para tio José do Recife e pergunto se está tudo bem, e a resposta é: "Está mais ou menos, minha filha".
Fico preocupada e pergunto o que está acontecendo e a resposta me deixa mais aliviada: "Não é nada demais não, minha filha. É que fui obrigado a tomar Coca Cola; nem pude tomar um golinho de Whisky".
"Mas por que, tio?"
"É por causa dos remédios que estou tomando. Mas se Deus quiser, pra semana acaba o tratamento e eu vou poder tomar minhas cachacinhas".
"Ainda bem, né tio?"
"E não é, minha filha?"
Tia Filomena do Paraná era hipertensa, problema recorrente nessa nossa família, e adorava cozinhar com gordura de porco. Punha gordura de porco em tudo quanto fosse prato salgado... Delícia! Assim você me mata...literalmente.
Tia Filomena vai ao médico e faz alguns exames.
Tia Filomena leva os exames ao médico e ele diz: "Dona Filomena, a senhora já é hipertensa e está com colesterol alto, melhor parar de consumir gordura de porco".
"É mesmo, doutor?"
Tia Filomena volta para casa cabisbaixa e pensativa e alguém pergunta a ela: "O que foi? O que é que a senhora tem?"
"Estou muito triste, o médico me proibiu de comer gordura de porco".
É muito triste mesmo.
                                          


                                          

sábado, 3 de março de 2012

Ruas de Recife, Alceu Valença, Marcas...

Rua da Aurora - Recife
                                               


Como foi dito anteriormente, papai trabalhou no cais de Recife e sempre falava sobre o trabalho e a cidade.
Papai falava os nomes das ruas de Recife e os caminhos que percorria para chegar ao trabalho.
Eu sempre ouvia interessada e ficava curiosa; queria conhecer mais sobre essas ruas.
Há uma canção de Alceu Valença que lembra muito o que papai dizia, é a "Pelas ruas que andei"... Rua do Sol, da boa hora, da Aurora...
Outra canção de Alceu Valença que gosto muito e que me traz nostalgia e uma certa melancolia é "La Belle de Jour". Eu ouvi essa música enquanto caminhava pela Praia de Piedade em Jaboatão dos Guararapes, região metropolitana do Recife. Era um dia quente, céu azul, mar de esmeralda e eu acompanhada de minha solidão e meus pensamentos.
Tanta saudade. Saudade arretada de grande!
Eu gosto da maioria das canções de Alceu Valença e a muitas delas tiveram participação em alguns momentos de minha vida.
Gosto também de "Anunciação". Sempre que ouço essa música vejo uma menina montada num cavalo; sendo trazida por ele. A menina brincando com as roupas estendidas no varal. Essa menina seria a filha que quis tanto ter, mas não tive: Mariana.
Falei esses dias com minha tia Antônia de Buíque e ela perguntou quando eu vou lá e eu disse que não sei. A questão nem é tanto a viagem em si, eu adoraria voltar ao meu Pernambuco, a questão é o preconceito mais forte que sofreria devido à minha aparência acromegálica.
Posso falar de cátedra e não me chamem de preconceituosa, pois não sou! Sofro preconceito todo santo dia!
É que nordestinos, sou uma, não medem palavras, falam o pensam sem pensar no que vão falar. É natural deles e creio que a maioria fale sem maldade, mas essa naturalidade incomoda e machuca.
Como já escrevi aqui, já ouvi dezenas de vezes críticas negativas ao meu cabelo, ao "crime" de ter pele clara e "cabelo de negro", à minha falta de beleza física etc etc etc...
Não estou generalizando e muitos podem dizer que não é bem assim, que isso, que aquilo, mas as marcas continuam em mim. 
Outras vezes penso em enfrentar o preconceito em outras terras, situações, locais etc, já sou PhD nisso, mas por mais marcada que eu seja e esteja, toda nova cicatriz dói.
Sei lá.


                                         



Lolita

Recife, a Veneza Brasileira
                                         


Lolita é personagem do livro homônimo de Vladimir Nabokov.
Odiei a personagem Humbert Humbert no livro, mas a adorei no filme; interpretada lindamente pelo ator britânico Jeremy Irons. 
Os atores britânicos carregam consigo uma melancolia mesclada com beleza.
Legal.
Mas essa pequena introdução foi para falar de uma outra Lolita, não a Lolita de Nabokov ou de Jermy Irons, mas a Lolita de Recife.
Explico.
Chego à casa de minha irmã Rosi e meu cunhado Pepê me pergunta: "Você sabe quem foi Lolita?".
E eu respondo falando sobre o livro e o filme mas Pepê diz: "Que livro o que! Lolita era um traveco que teu pai e seu Rafael conheceram lá em Recife".
"Oxe!"
Seu Rafael é pai de minha cunhada Preta e é pernambucano também.
Segundo os anais da História, no bom sentido, papai e seu Rafael trabalharam no cais de Recife e entre as visitas que faziam às moças de fino trato nas casas de luz vermelha, encontraram Lolita. 
Mas segundo eles, Lolita era apenas um/a boa/bom amiga/o. Entenderam?
Pois é.
Seu Rafael afirmou ter conhecido Lolita e disse enfaticamente: "Só conheci, visse? Agora, pense numa bicha feia. Lolita era mais feia ainda"
E para sacanearmos Seu Rafael, perguntamos: "Mas se Lolita fosse jeitosinha, o senhor pegava?"
"Oxe! Deixe de conversa!"
Aí jogamos a bomba para papai: "Pai, é verdade que você nem almoçava direito só para ver Lolita? Você saia correndo do trabalho só para ver Lolita? Lolita foi seu primeiro amor?"
E prosseguíamos a aporrinhar papai com nossas conjecturas.
E o nome Lolita pegou e passamos a chamar papai, Seu Rafael e Ricardo, um conterrâneo nosso, de Lolita.


PS: É mais um causo de minha família maluquetes. Tenho respeito por todas as opções, sejam elas quais forem. :)

                                         
                                        



domingo, 29 de janeiro de 2012

Domingo

Recife, a Veneza Brasileira
                                              


Nunca gostei dos dias de domingo.
Não sei dizer exatamente porquê. 
Relaciono o dia de domingo à tristeza, solidão, volta à rotina, sei lá.
Mas até que fez um dia bonito hoje; a chuva parou e o sol apareceu.
Li, coloquei roupas na máquina e dei uma geral na casa. Não consegui estender as roupas porque Aurora e Branca decidiram tirar um soneca em cima da máquina de lavar e eu não quis tirá-las de lá e nem atrapalhar o soninho delas.
Se mamãe estivesse aqui, diria: "Não sei quem é mais sem vergonha, você ou esses gatos".
Arrumei minhas plantinhas também; estão lindas e resistem bravamente aos ataques da gataiada.
Ouvi músicas dos aparelhos de som dos vizinhos. Ouvi pérolas que fazem sucesso fácil e depois alguém teve a feliz ideia de ligar na rádio que toca MPB (música popular brasileira), graças a Deus.
Ouvi músicas que nem me lembrava mais, mas que gosto muito e que estiveram presentes em alguns momentos da vida.
Engraçado, eu achava que era coisa de novela, mas a música marca sim um momento, uma situação, um acontecimento em nossas vidas.
Ouvi Chão de Giz de Zé Ramalho e me lembrei do passeio de catamarã que fiz em Recife. Na verdade, ouvi a música na voz de Elba Ramalho enquanto a embarcação deslizava pelas águas dos rios Beberibe e Capibaribe em Recife, Pernambuco.
Ouvi Vem ficar comigo de Elba Ramalho que também trouxe lembranças, memórias e recordações.
Legal.
Hoje os vizinhos capricharam. Claro, que primeiro ouviram as porquêras deles e depois mudaram para algo melhor. Acho que foi reflexo de ontem; explico. Não tenho aparelho de som, mas tenho canais de música e liguei em um deles para ver se o distinto vizinho se tocava e abaixava o som dele. Estava alto demais, Nossa Senhora! E isso incomoda a qualquer um, ainda mais para quem já está com dor de cabeça.
Coloquei em um canal que toca Rock/Heavy Metal e aumentei o som. 
Bingo!
A música deles parou e desliguei a minha.
Nada como o precioso som do silêncio.

                                                

sábado, 28 de janeiro de 2012

Ônibus

                                       


A seca mais uma vez assolava o Nordeste.
Saímos da Fazenda Taquari e nos mudamos para Gravatá, que ficava mais perto de Recife e da ajuda de tio José.
Mamãe escreve para seu irmão Manoel, que morava em São Paulo, e ele sugere que nos mudemos para lá também.
Não dava para todos nós irmos, então foi decidido que papai iria na frente e depois que estivesse trabalhando mandaria o dinheiro de nossas passagens.
Além do mais, Paipreto estava velhinho e doente e não aguentaria a longa viagem de três dias.
Papai compra a passagem, arruma a mala muito simples e feita de papelão grosso e nela coloca algumas poucas peças de roupas eu um par de alpercatas (sandálias de couro).
Mamãe prepara uma sacolinha com comida para papai comer durante a longa viagem.
Em uma lata de leite vazia, mamãe coloca farinha de mandioca e uns pedaços de galinha frita. Era tudo o que tinha.
Papai parte. Choramos.
Papai vai em busca de dias melhores para a família.
Mamãe lança seu poderoso olhar aos céus e pede a Deus que acompanhe papai na viagem.
O ônibus segue viagem e entra no estado da Bahia; é noite e chove muito.
Estradas escorregadias; o ônibus derrapa, capota e cai numa ribanceira.
Papai dormia e acorda com barulho e o movimento do ônibus capotando.
A lata com farinha e galinha frita estava no compartimento superior de bagagens e cai na cabeça de papai, que sangra.
Papai fica atordoado, não sabe o que fazer  e tenta entender aquela comoção toda: gente chorando, gritando, luzes e sirenes de ambulâncias, carros da polícia e bombeiros.
Todos os passageiros são atendidos e aqueles que não se machucaram gravemente seguem viagem em outro ônibus.
Papai chega a São Paulo são e salvo.
Deus tinha ouvido o pedido de mamãe.


                                                        

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Mato

                                             


Acabei de falar sobre nossa aventura em Gravatá, mas a história se divide em antes e depois.
Papai, claro, é personagem principal dessa história.
Foi assim: Antes de nos separarmos do grupo de mamãe e nos perdermos na cidade, houve alguns acontecimentos insólitos envolvendo papai, obviamente.
Tomamos caldo de cana em um botequinho de beira de estrada e de lá prosseguimos com nossas andanças. 
Papai fica nervoso por não acharmos o caminho de volta e diz: "Acho que quero c..."
"P.Q.P. pai! Mas tem que ser agora? Não dá para segurar até chegarmos em casa?"
"Dá não. Aquele caldo de cana me ofendeu-me. Meu istambo é fraco e quando eu fico néivoso  me dá vontade de c...".
"E onde é que vamos achar um banheiro num lugar desse e a uma hora dessa?"
"Carece de banheiro não. Eu c...ali no mato mesmo".
Papai embrenha-se no mato de um terreno baldio, agacha-se e ali faz suas necessidades. O mato alto lhe dá cobertura, sendo possível apenas ver a sua cabeça branca.
Papai termina o serviço e vem em nossa direção para continuarmos nossa caminhada.
Marcos e Demétrius perguntam: "Você limpou a bunda, vô?"
Chegamos em casa de Lia, nossa anfitriã e estão todos preocupadíssimos conosco e querem saber o motivo de tanta demora; Demétrius explica e pergunta ao mesmo tempo "Sabia que meu vô c...no mato?"
De Gravatá vamos às montanhas da região onde nasci, Cumaru, e depois vamos a Bezerros, Buíque e voltamos a Recife e em todos os lugares Demétrius fala para as pessoas: "Sabia que meu vô c...no mato?"