quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Desligando

                                 


Eu pretendia escrever mais, mas o laptop esquenta, desliga, liga...
Já o levei ao técnico, mas não há uma solução, a não ser comprar outro.
Agora não dá. Até lá, vou usando esse aqui mesmo até quando der.
Vou parar por aqui, para evitar o liga-desliga e minha impaciência. Arre égua!
Amanhã retornarei.
Amanhã será um dia melhor.
Boa noite.

                          


                        

Halloween - Dia das Bruxas

                               

Hoje, 31 de outubro, é comemorado o Halloween, o Dia das Bruxas.
Muito se fala sobre o assunto e muitas correntes religiosas mais fanáticas evitam o tema como se se tratasse de algo maléfico. Mas não é.
Halloween é uma festa para a criançada se fantasiar, pedir doces e "ameaçar": "Trick or treats (gostosura ou travessura)".
Há momentos em que tanto fanatismo, ignorância e intolerância me assustam.
Bom...
O dia 31 de outubro era o último dia do ano para os celtas e o dia primeiro de novembro o ano novo, respectivamente. Os celtas acendiam grandes fogueiras para homenagear a Deusa Mãe, Gaya, a Mãe Terra, e para agradecer pela colheita farta que os ajudaria a atravessar o rigoroso inverno no continente europeu.
Nesse dia, vivos e mortos celebravam juntos e na hora de voltar para seus lugares, os mortos tentavam trocar de lugar com os vivos e por isso as pessoas (vivas) se fantasiavam de bruxas e monstros para assustar aqueles que não queriam voltar para o mundo dos mortos.
Abóboras eram cortadas e talhadas em forma de rostos assustadores, mais engraçados que assustadores, e era colocada uma vela acesa dentro para afastar um morto teimoso que insistisse em trocar de lugar com o vivo. O nome da abóbora ficou conhecido como Jack O´Lantern e aqui no Brasil o chamamos de Jack Cabeça de Abóbora.
O termo Halloween significa All Hallows Eve, Noite de Todos os Santos.
A igreja católica sempre tentou impor sua religião sobre as religiões pagãs e para isso fez uso de métodos desumanos e cruéis, como a dita santa inquisição. Como algo tão vil e cruel que tirou vidas inocentes pode ser chamado de santo?!
Bom...
O Halloween é comemorado no dia 31 de outubro e nos dias 01 de novembro é comemorado o dia de todos os santos e no dia 02 de novembro é comemorado o dia de finados. Coincidência?
Não estou aqui para defender ou atacar fés, crenças ou religiões; defendo apenas o direito de cada um adorar seu deus ou deuses como bem lhe aprouver, respeitando e sendo respeitado pelos outros. Beleza?
Halloween, Dia das Bruxas, Dia do Saci, seja lá o que for, o importante é se divertir com a diversidade cultural. 
Sem neura.
É isso.

Preta Maria com sua coruja de estimação
                                 

                              

Comentários

Tenho recebido, lido e respondido a mensagens, comentários e e-mails de uma moça muito simpática chamada Clara.
Não sei o que ocorre, mas Clara diz não receber meus retornos; creio que deva ser alguma configuração relativa ao Windows, Blogger ou Google Chrome.
Costumo responder a todos os e-mails e comentários das pessoas, é minha forma educada de agradecer pela participação.
É isso.

                              

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Deformidade, Artrose, Carro

                                   

Voltei ao consultório do ortopedista para levar a papelada que ele deveria preencher; deveria.
O doutor achou melhor não ficar enrolando com papeladas e buRRocracia do convênio e laboratório e decidiu fazermos um exame de cada vez; farei a ressonância da coluna lombo sacra, que é mais urgente.
Fiz radiografia do pé esquerdo, tive inflamação no tarso; a dor voltou e às vezes é difícil pisar, acabo mancando.
O exame constatou o que eu, o médico e a torcida do Corinthians sabemos: artrose. Ossos tortos, inflamação, acúmulo de líquidos.
A artrose está espalhada por todo meu corpo, todos meus ossos e ameaça minha mobilidade, meus movimentos e é por isso que o médico tem certa urgência nos exames para tomar a melhor decisão. Agora vai explicar isso para os buRRocratas de plantão!
Há a grande possibilidade de uma nova cirurgia para a descompressão da medula, que é cercada pelos parafusos e pelos ossos que crescem. Se não fosse a Acromegalia, tudo estaria bem, pois os parafusos, pinos e afins estão muito bem colocados. 
Acromegalia, como a odeio!
O doutor disse que precisa dos exames para decidir e que só fará a cirurgia se puder me ajudar, se for para atrapalhar mais ainda ou para apenas operar, ele não faz. Ele disse que tem muito colega que opera por operar, como se o paciente fosse uma mera cobaia.
Perguntou ainda se demorei a descobrir a doença, se não percebi a deformidade em meu rosto e corpo. Achei o termo deformidade meio forte e isso me arrebentou por dentro. Chorei por dentro. Por fora, tudo normal.
Deus está vendo.
Nunca fui exemplo de beleza e a Acromegalia só piorou ainda mais, muito mais, mas dizer deformidade, deformar... Sei não. Machucou, doeu, magou, feriu e desenterrou velhos fantasmas que lutei e luto tanto para mantê-los enterrados e longe de mim.
Artrose, cirurgia, crescimento, ossos deformados... deformidade.
Saí do consultório triste, chorosa por dentro e quando atravessei a rua, permiti que as lágrimas saíssem. Saíram em profusão. 
Sou humana, demasiado humana.
Vou até o carro e tento abri-lo, não abre. A chave entra mas não vira. Tento o porta malas, tento a chave mais uma vez e acho melhor chamar o guincho com chaveiro. Decido dar mais uma volta no carro e percebo que tem um bichinho de pelúcia preso ao espelho retrovisor, penso comigo: "Mas esse carro não é o meu!".
Que mico!
Disfarço, caminho mais um pouco e vejo meu carro há alguns metros do carro que tentei "arrombar".
Uma viatura da polícia passa em frente e graças a Deus não desconfia de nada. Já pensou o que poderia acontecer até eu conseguir explicar que me confundi e que passo por uma fase difícil e delicada da minha vida?
Eita lasquêra!
Mas a viatura passa e eu entro no meu carro e vou até a casa da minha irmã Rosi. Minutos depois chega meu irmão Naldão e vem munido de pães, rosquinhas, salame e Coca Cola. Adoro salame, adoro rosquinhas, mas não posso dizer o mesmo do refrigerante.
Conversamos, lembramos de causos de nossa história antiga e rimos muito. Meu cunhado Pepê cisma que eu devo me lembrar do National Kid e eu digo que não; lembro do Ultraseven, Ultraman e Spectreman.
Pepê diz que sou véia e que finjo que não lembro só para disfarçar. Quem precisa de inimigos com um cunhado desse?
Minha sobrinha Beatriz voltou da escola e fomos fazer arte, pintura com cola colorida. 
Foi uma tarde agradável. Foi uma tarde perfeita, sem deformidades.
É isso.

                                 

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O quanto antes

Morena Rosa de mau humor, assim como eu
                                 

Estou há um mês tentando realizar os exames pedidos pelo ortopedista. 
São cinco ressonâncias magnéticas (dois joelhos, dois ombros e coluna lombo sacra, amém). Já foi pedido e levado laudo médico e quando pensei que finalmente faria os exames, lá vem mais papelada para ser preenchida com letra legível pelo médico. 
Médico com letra legível, claro.
No e-mail com anexo, diz: "Trazer o documento preenchido o quanto antes". Jura?
Basta ligar para o consultório e agendar a consulta para quando bem quisermos, fácil assim... Até parece.
As agendas médicas estão sempre cheias e os pacientes precisam esperar semanas e até meses para uma consulta e quando conseguimos um encaixe, temos que esperar mais de duas horas pelo médico. Bacana isso, né?
Não depende apenas de nós, pacientes, fazemos nossa parte e o interesse maior pela saúde é nosso! 
Mas o que fazer quando laboratórios e convênios embaçam para liberar e autorizar um exame? O que fazer quando tentamos agendar uma consulta e ouvimos: "Tem que estar ligando na primeira semana do mês para estar agendando, o médico vai estar abrindo a agenda só nesse período".
Não dá para abrir a agenda? É tão difícil assim? E ouvimos isso quando ligamos ainda no meio do mês e temos que esperar pelo mês seguinte para estar ligando e estar agendando. Minha paciência, que não é das melhores, não vai estar aguentando! Saco!
O ortopedista e eu temos certa urgência e precisamos dos exames para que ele possa tomar a melhor decisão quanto ao tratamento a ser feito. Além da artrose que deixa meus joelhos entrevados, pesados, quentes, gorduchos e inchados, ainda tem a bendita da síndrome da cauda equina, que pressiona a medula e limita os movimentos. Já tenho mobilidade reduzida devido a artrose espalhada pelos ossos e à cirurgia de artrodese e agora com essa tal cauda equina, a tendência é reduzir mais ainda.
Lenta e progressivamente vou perdendo a mobilidade e a capacidade de movimentos. Ontem não senti a perna direita e não tinha força para empurrar o pedal do freio; a sorte dada por Deus, como dizia mamãe, foi que não tinha muito trânsito e joguei o carro na calçada para evitar a possibilidade de um outro carro ou pessoa na rua.
Tá embaçado. Estou fazendo o que posso, faço tudo o que os médicos pedem, sigo à risca os tratamentos, mas têm coisas que não dependem só de minha humilde pessoa.
Preciso ver isso o quanto antes... Claro.
É isso.

                                


domingo, 28 de outubro de 2012

Pertencer

                                


Domingo muito quente, temperatura acima dos trinta graus, dá não.
Segundo turno das eleições para prefeito e fui votar. No primeiro turno minha seção ficou no térreo, mas nesse segundo turno tive que subir escadas.
Eu pensei que nada mudaria e eu poderia votar no mesmo lugar de antes, mas como diz meu irmão Naldão: "Si ferrei!".
Subi degrau por degrau e me apoiei na parede, não havia corrimão. A coluna e os joelhos reclamaram, doeram.
Votei e voltei para o carro e saí à procura de um lugar para almoçar, cheguei aos restaurantes lá pelas dezesseis horas mas fui informada que o local acabara de fechar e só abriria de noite, que falta de sorte. Nesse ínterim desaba uma chuva forte com ventos poderosos e furiosos. Lindo espetáculo da Natureza.
Aguardei a chuva passar para eu poder sair à procura de um lugar aberto para poder almoçar. Tenho o péssimo hábito de não comer de manhã, só tomo café preto, puro e forte.
Observei a chuva, os ventos balançando as árvores, o céu cinzento e lindo. A chuva despede-se e um sol tímido esconde-se atrás das nuvens ainda cinzentas e carregadas; que coisa linda!
Às vezes acho que não sou desse planeta, não pertenço a esse mundo. Acho que sou de outra dimensão, outro plano, outra galáxia... sei lá.
Sou sempre incompreendida, quero dizer uma coisa e tento explicar mas algumas pessoas não entendem e pensam que as estou desmerecendo ou duvidando de sua inteligência. Não é isso não.
Tenho esse hábito de explicar, acho que é pelo fato de ser professora, não tenho a intenção de chamar, pensar ou dizer que as pessoas são burras, longe disso.
Às vezes acho que caí de paraquedas nesse mundo, fui jogada aqui por acaso e à própria sorte e sempre acompanhada pela minha fiel companheira, a solidão.
Sempre fui muito responsável por coisas, pessoas e situações que não deveriam ser jogadas nos ombros de uma criança; nasci uma criança velha.
As cobranças, críticas e defeitos. Nada nunca estava bom.
As responsabilidades...
Fiz e faço quase tudo sozinha, vou pra lá e pra cá sozinha, não tenho um/a personal acompanheitor sempre à disposição... Não gosto de incomodar, atrapalhar, sou muito na minha.
Bom...
Mas eu falava da chuva, do céu e dos ventos...
Acho que não sou daqui, não pertenço a esse lugar.
Um dia irei caminhar pelas terras frias do sol da meia noite, vou com os ventos anunciar chuvas e tempestades, vou andar pelo meu Sertão, vou caminhar pela praia de mar azul, vou voltar a conviver com as coisas da Natureza, de onde devo ter saído meio sem querer e sem saber.
Acho que é isso, não sou daqui e por isso sou incompreendida.
Afasto-me e aguardo o dia de voltar para onde pertenço.
Sou normal, embora possa não parecer. 
Só estou cansada.
E a vida segue.
É isso.

                                 

                                 

                              

Sensualidade, Vulgaridade, Filme

                                   


Assisti ao filme "Agente 86", um remake dos anos 60.
Adorávamos rir com as trapalhadas do agente 86 na companhia da agente 99.
Era tudo em preto e branco e gostávamos também da Feiticeira, Jeannie é um gênio, Os Três Patetas, O Gordo e o Magro. 
Observo no filme um ator muito alto, com aparência acromegálica e que mancava um pouco. 
No filme, o ator grandão é um pau mandado dos vilões malvados que querem explodir os Estados Unidos, claro.
Observo também o estereótipo: pessoa grandona é sempre bobona, obedece às ordens, não fala e grunhe como um animal. 
Isso para mim não é piada e muito menos engraçado, é um preconceito bobo disfarçado de humor.
Bom...
O ator grandão é Dalip Rana Singh, mais conhecido como The Great Khali, e nasceu na Índia. Foi submetido à um cirurgia para remoção de tumor de hipófise ainda este ano e ele mede dois metros e vinte e pesa cento e noventa quilos. Acromegalia.
Assisti ao filme porque zapeava pela TV em busca de alguma coisa que prestasse; difícil. Não estou com muita paciência para as novelas atuais e a única que acompanhava com gosto era Gabriela, que acabou nessa sexta-feira.
Aliás, o último capítulo da novela Gabriela foi meio "pesado" para o horário em que foi exibido e achei desnecessárias as fortes cenas de sexo entre as personagens de Juliana Paes e Humberto Martins, parecia filme pornô.
Acredito que insinuar um cena íntima fica de melhor tom do que mostrá-la explicitamente.
Terminado o filme comecei a procurar outros programas, mas só se via lixo disfarçado de humor, mulheres rebolativas com peitões e bundões à mostra. Não dá.
O Brasil insiste muito nessa imagem exacerbada de sensualidade do seu povo. Não precisa tanto, fica vulgar.
Somos um povo sensual sim, viemos de uma bela mistura de povos e etnias, sabemos disso, então não precisa exagerar tanto nas caras, bocas, bundas e peitos.
Nossa imagem lá fora se divide em duas: mato, índio pelado, jiboias, botos, macacos e pássaros coloridos voando pra lá e pra cá ou mulheres seminuas sambando no Carnaval.
Tem hora que dá vergonha disso.
Sou brasileira, não sei sambar, não ando seminua e não sou vulgar.
Chega uma hora que cansa.
É isso.

The Great Khali, o gigante indiano
                                

sábado, 27 de outubro de 2012

Sereno

                                


Nos tempos de mamãe e Mãevelha os recém nascidos só eram mostrados às pessoas quando completassem sete dias de vida. Antes desse período só a mãe, claro, e a avó ou pessoas que cuidavam da parida é que podiam ficar próximas do rebento.
Diziam que nesse período de sete dias a criança era muito frágil e suscetível à doenças e "mal olhado" e muitas morriam do "mal de sete dias", que era o tétano umbilical.
As visitas lotavam as casas para poder ver o bebê que só saía de casa após o "resguardo" de quarenta dias. Nem mãe nem bebê saíam de casa antes desse tempo. Os cuidados eram extremos e um tanto quanto exagerados.
Mesmo quando o bebê já estivesse grandinho só saía com a mãe até a hora do por do sol, pois com a chegada da noite vinha o sereno e isso poderia "ofender" a criança.
Hoje em dia tudo é diferente. Vejo bebezinhos recém nascidos nos braços das mães passeando pelos Shopping Centers, restaurantes e eventos externos.
Acho uma judiação porque me remete aos cuidados exagerados dos tempos de mamãe e Mãevelha.
Os recém nascidos são expostos à mudanças bruscas de temperatura, ao frio forçado do ar condicionado, ao contato com pessoas estranhas que podem ou não estar doentes, fumaça de cigarro, poluição e barulho.
Sei lá, mas acho melhor esperar um tempinho e levar o pimpolho só ao médico e/ou lugares necessários. 
Acho que é por isso que não fui mãe, se o fosse, seria daquelas mães hiper-ultra-super-mega cuidadosa.
Hoje em dia o que mais vejo são mães apenas parindo seus filhos e os largando aos cuidados das avós.
Meu, se não tem paciência para cuidar de alguém, não coloque filhos no mundo! Parto do seguinte princípio: se você se compromete a cuidar de uma vida, seja esta humana ou animal, que cuide bem. 
Penso assim.
É isso.

                             

Geladeira

                                 

Não tínhamos geladeira e colocávamos as frutas e legumes debaixo da pia, que era mais fresquinho e conservava mais.
Naqueles tempos, geladeira, máquina de lavar, microondas e outros eletrodomésticos eram coisa só de gente rica, os pobres se contentavam com um fogão básico e quando dava, comprava uma geladeira "véia" usada.
Mamãe chegou em casa dizendo que o cunhado da vizinha nos venderia uma geladeira usada, legal.
Era um trambolhão enorme, amarelo canário e com um puxador bem estranho. Adoramos! Agora temos geladeira e podemos tomar água e suco geladinhos!
O eletrodoméstico durou uma boa década e no fim da vida começou a dar problemas: choques, a porta do congelador havia caído e o puxador havia quebrado; era preciso amarrar a extremidade de uma corda no puxador e a outra extremidade em um prego batido na parede logo ao lado da geladeira.
Isso sem contar que a borracha não vedava mais, dificilmente gelava e escorria água que molhava a cozinha inteira. Eita pobreza, minha Nossa Senhora!
Finalmente papai e mamãe decidiram que a geladeira já dera o que tinha que dar e foram às Casas Bahia para comprar uma novinha em suaves e infindáveis prestações.
Chegou a geladeira novinha em folha, vermelha, grande e bonita. Que luxo!
Éramos tão bestas, já disse e repito: pobre é besta demais!
Éramos tão bestas que gritávamos do quintal para os vizinhos ouvir: "Coloca a água na ge-la-dêeeeeeee-ra!". Era chique ter geladeira, ainda mais uma novinha em folha.
Hoje os eletrodomésticos são modernos e mais bonitos e sonho com aquelas grandes e caras geladeiras de inox. Quem sabe um dia quando meus dias de pobreza decidirem me abandonar. Já tentei deixá-los, mas insistem em ficar comigo.
É isso.

                                   

Balas, doces e salgadinhos

                                 

Vou à lojinha do meu irmão Fubá e observo a molecada chegar com moedinhas de cinco centavos nas mãos e perguntar quantas balas dá para comprar com aquele dinheiro. Acho gracioso.
Tenho bom coração e não desejo mal a quase ninguém, o que tem de bom e belo em mim é extremamente oposto à minha carona acromegálica. Mas quem se importa com isso se vivemos em um mundo e uma sociedade onde o que vale é o externo?
Paciência.
As balas são compradas e a molecada sai feliz.
Lembrei de quando era criança e catávamos as moedinhas para comprarmos  balas e um determinado dia oferecemos balas à vizinha, mas ela recusou. Disse que não gostava de balas e doces porque grudavam nos dentes; e eu disse para a menina judia: "Adulto é muito estranho, né? Adulto não gosta de bala, de doce, sorvete... Quando eu ficar adulta, não vou ser chata assim não; vou gostar de bala pra sempre!"
Disse isso do alto dos meus sete ou oito anos.
Fiquei adulta, gosto de doces mas das balas nem tanto. Não se fazem mais balas e doces como antigamente. Lembro de um doce de banana açucarado em forma de pinheiro, lambia todo o açúcar até ficar uma coisa marrom, úmida e disforme. Eca! Mas era delicioso.
Lembro do doce "Banda" que vinha embrulhado individualmente e era meio carinho para nossos padrões financeiros. 
Gostava de um doce que vinha em um potinho de casquinha, comíamos o doce e depois a casca, era tão bom!
Tinha amendoim japonês, bem salgadinho, e o amendoim doce que vinha com uma camada rosa de açúcar. 
Os gelinhos eram outra delícia à parte, adorava os exóticos gelinho de guaraná e chocolate e tinha curiosidade em provar o gelinho azul. Do que era feito aquilo? Era mais caro que os gelinhos comuns.
E tinha suspiros coloridos, maria moles branquinhas como coco e marronzinhas com coco queimado, balas, drops, salgadinhos...
Lembro que uma vez comprei alguns canudinhos de doce de abóbora com coco e os escondi até a hora que as visitas foram embora; finalmente. Mamãe percebeu e me deu uma bronca e eu disse que se fosse dividir meus canudinhos com aquele monte de gente, não daria para todos. 
Sou boa pessoa, mas no quesito dividir doces e guloseimas... Dá não. Desculpa aí.
Mãevelha também adorava doces. Acho que é mal de família, está no DNA.
Tempos doces aqueles.
É isso.

                                 

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Cemitério Particular

                                    

Há tempos estou para escrever essa postagem, mas adiei inúmeras vezes achando que não deveria ou que era cisma minha, mas não é não.
Explico...
Uma de minhas qualidades e defeitos é o hábito de sentir tudo muito intensamente. Quando gosto, gosto pra valer, mas quando deixo de gostar não tem Cristo que me convença do contrário.
E o sentimento gostar não refere-se apenas às relações amorosas entre duas pessoas, refere-se também às relações familiares e de amizades.
Um hábito que tenho é o de "matar" as pessoas dentro de mim e enterrá-las em meu cemitério particular. Continuo a falar com a pessoa "falecida", continuo a manter um relacionamento educado, porém frio e distante e sem o mesmo bem querer de outrora.
Para mim é muito difícil "desenterrar" essas pessoas e voltar a gostar e a confiar da mesma forma que confiei e gostei antes. Como trata-se de um cemitério particular, posso enterrar e desenterrar as pessoas de acordo com meus sentimentos e vontade, mas nunca desenterro ninguém.
Visito seus túmulos, mas as mantenho enterradas, uma vez mortas, fica apenas a memória distante do que foi um dia.
Admito que sou de extremos, não gosto de delongas e embromações. Sou também de poucas amizades, não sou Roberto Carlos, não quero ter um milhão de amigos. Sou de poucos, porém bons amigos.
Cada pessoa tem seu modo próprio de lidar com sentimentos, emoções e com suas vidas; e eu não sou diferente. 
Eu também devo estar em algum cemitério particular de alguém.
Sempre nos perguntamos se as pessoas pensam o mesmo que pensamos, da mesma forma que pensamos. Escondemos essa dúvida dentro de nós e seguimos nossas vidas sem nos aperceber que todos nós, de uma maneira ou de outra, temos as mesmas dúvidas e nos fazemos as mesmas perguntas.
Será que além de mim outras pessoas também têm seus cemitérios particulares?
Creio que sim.
Somos humanos, demasiado humanos.
É isso.

                                

Computador

                                 

Retorno ao blog após uma semana sem computador; problemas técnicos insolúveis, é o que parece.
Comprar um novo laptop/notebook está fora de cogitação, não estou pagando nem promessa quem dirá comprar algo novo.
Tá embaçado!
Uso o que já foi bom e velho laptop até a hora que der, depois...
Fui ao laboratório mais uma vez para mais um exame e devo retornar amanhã e domingo, dia das eleições.
É exame que não acaba mais, graças a Deus.
O problema é que quando são pedidos exames em que o paciente tem que ir acompanhado, não o permitem fazer se estiver só. Complica.
Nem todo mundo tem amigos, família, parente ou derente que possa acompanhar e nem todo mundo tem essa disposição, agora chame o cabra para bater perna! Vixe! É na hora!
Fico pensando que deveria fazer como as mulheres de boas famílias de outras épocas e contratar um dama de companhia, uma personal acompanheitor, assim não ficaria totalmente só quando precisasse de ajuda.
Bom...
Vou ao laboratório e aguardo ser chamada e enquanto isso observo as pessoas que passam. Vejo moças, mulheres e meninas bem vestidas e calçadas em sapatilhas, sandálias e sapatos bonitinhos e graciosos e eu com meu pisante 43! 
Vejo uma moça nova rica da ZL, com cabelos loiros e esticados e óculos escuros enormes, claro. Ela vestia um blazer escuro, shortinho jeans com a barra por fazer e com fiapos soltos; lembrei de mamãe. Em outros tempos, roupas com barra por fazer e com fiapos soltos era sinônimo de desleixo, hoje é fashion.
Acho que mamãe não entenderia isso.
Às vezes, muitas vezes, é extremamente frustrante não ter ou ser mais o que outrora fora; coisa boba, mas muito significativa para mim. Nunca fui de vaidades, male male sei passar um batom nos beiços, mas eu adorava sapatos e vivia comprando vários modelos, hoje me restrinjo aos tênis pretos masculinos. Soube de uma loja onde sapatos são feitos sob medida e esse é o único jeito. Vou tentar.
Sei lá... É só patada, problemas, coisas ruins, chatas...
Estou cansada.

                               
                               

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Presença

                                       


Tive o dia bem cheio hoje; fui ao oftalmologista, busquei laudo com o ortopedista, levei o carro para a Inspeção Veicular e ainda passei na lojinha do meu irmão Fubá para ver Rafaela Prenda Minha.
A pequena está cada diz mais linda, esperta, inteligente e encantadora; mostra as unhas pintadas e os sapatinhos fashion, uma clara demonstração de peruíce precoce.
Rafaela lembra muito mamãe, as perninhas e os braços gorduchos e roliços, o pescoço fofo, gostoso de beijar.
Tenho tido sonhos com papai, mamãe, tia Filomena e com meu povo antigo. São presenças constantes que me visitam, acalantam, protegem. 
Foi tão bom sonhar com mamãe, havia tanta bondade e tanto amor no ar meu Deus, que nem parecia sonho, parecia realidade. Mas não pode ser, mamãe partiu há onze anos, embora, para mim, pareçam onze minutos, onze dias, onze semanas apenas.
Bati os quatro cantos de Sum Paulo hoje, fui ao Tatuapé, Vila Guilherme, Jardim Brasil, Vila Medeiros e finalmente para casa. Ufa! 
Calor, sol ardente e um dia muito bonito com muito vento, mas esfriou no fim da tarde.
Dirigia pelas ruas e tinha sempre a impressão de ver mamãe nos carros que congestionam a cidade. Em um dos carros tinha uma senhora de óculos, gorducha e cabelos curtos de cor acaju que lembrou muito mamãe.
Levei o carro ao Controlar da Vila Medeiros e o atendimento foi péssimo por parte do antipático funcionário que fica na guarita e tem a difícil função de levantar a cancela para que os carros passem. Parei e aguardei a cancela levantar... Nada. Uma fila se formou atrás de mim e os outros motoristas achavam que eu estava "segurando" a fila e atrapalhando tudo. Fiz gestos com as mãos para dizer que não estava entendo e não sabia porque a cancela não era levantada; uma funcionária conversava animadamente com o funcionário e ambos ignoravam os motoristas enfileirados aguardando entrar.
A funcionária percebeu nossa impaciência e disse: "É troca de turno, gente. Obrigada".
A dita cuja saiu e o funcionário ficou na guarita e falando ao celular; resumindo, ficamos uns bons vinte minutos aguardando a boa vontade de gente má educada e a suposta troca de turno.
Passamos pela cancela e coloquei o carro na posição pedida pelo agente que faria a inspeção; demorou um pouco e fiquei preocupada. Minha Nossa Senhora, mais um problema não. Oxe.
O carro passou e de lá fui à Vila Guilherme e depois ao Tatuapé. Passei em consulta com o oftalmologista e peguei o laudo com o ortopedista para autorização dos exames. O laudo diz, entre outras coisas: "Acromegalia, Doença do Crescimento, Gigantismo". Fiquei triste, bem triste. Onde já se viu o cabra véio com quarenta e cinco anos de idade nas costas e no resto do corpo e ainda crescendo? Oxe!
Mas esse crescimento é perigoso e acarreta inúmeros problemas. Estou com artrose espalhada pelos ossos e sinto-me cada dia mais entrevada, descer do carro ou me levantar de uma cadeira ou um acento qualquer é muito difícil para mim, subir escadas também. A pressão alta continua sempre desembestadamente alta, graças a Deus.
O cardiologista falou sobre os riscos trazidos pela pressão alta associada à minha doença de base, a Acromegalia.
Todos os dias eu saio e vou fazer exames, buscar exames, levar exames, ver médicos, buscar remédio, tomar remédios... 
Mas se isso for uma forma de pagamento por algo bom que virá a seguir, eu faço de bom grado. Tomara Deus que esse final de ano eu faça tudo o que for necessário e que o próximo ano seja melhor e eu tenha mais saúde. Sinto que "desperdiço" muito tempo com essa correria médica e que poderia fazer outras coisas que gosto, como trabalhar, mas se não tenho saúde suficiente, não dá para fazer muita coisa. 
Mas ficarei boa e terei saúde boa. Amém.
Até lá sigo meu caminho e faço o que é necessário.
Sigo meu caminho contando com a presença sempre forte, maternal e protetora de mamãe e de meu povo antigo.
Serei feliz, bem feliz.
É isso.

                                  

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Primavera

Flores do campo, lembram meu Paipreto


São Paulo tem as quatro estações do ano em um único dia; frio pela manhã, calor à tarde, chuva e frio de noite. É preciso sair de casa munido de guarda-chuva casaco e sacola para guardar tudo isso.
Antigamente as estações eram mais certinhas, hoje, devido ao aquecimento global, à poluição e a destruição feita pela humanidade, a Natureza não consegue mais manter as coisas em ordem.
Tivemos um Inverno quente, com mais de trinta graus, e a Primavera começou fria e chuvosa.
Primavera é estação que sucede ao Inverno e antecede o Verão e se analisarmos a formação da palavra, "prima" é primeiro e "vera" verão; seria um primeiro verão que chega lentamente até esquentar bem.
Primavera é a estação das flores e adoro flores. Meu pequeno jardim já dá amostras da presença primaveril. 
Flores que te quero todas.
Rosas vermelhas, dálias e lírios brancos da paz para mamãe.
Cravinas róseas para Mãevelha.
Flor de maracujá e flores do campo para meu Paipreto.
Girassóis para meu sobrinho Marcos Paulo.
Margaridas, flores do campo, flores miúdas em tamanho mas grandes em graça e beleza, flores... todas as flores.
Sempre que ia à feira comprava flores para enfeitar a casa e papai e Mãevelha faziam graça dizendo que moça solteira que compra flores nunca se casa, vai ficar no Caritó. Acho que estavam certos.
Vou cuidar do meu jardim.
É Primavera.


                                     


                             

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Tatuapé

O meu é aquele amarelo ali
                                 

Fui ao consultório do otorrinolaringologista que fica no Tatuapé, bairro dos novos ricos e endinheirados da região. 
Aliás, segundo informações do guia médico, o endereço fica na Vila Formosa, Altos do Tatuapé ou Jardim Anália Franco. É tudo a mesma coisa, tudo lugar bonito e rico cheio de gente fina, elegante e sincera.
A região está cada vez mais tomada pela construção de prédios que pipocam por todos os lados; as casonas grandes, bonitas, com jardins e janela grandes  estão rareando, ou são derrubadas para a construção dos prédios ou se transformam em lojas chiques, consultórios chiques, escolas de línguas chique, academia fitness chique e tudo chique. É uma "chiqueza" só.
Achar vaga na rua para estacionar está cada vez mais difícil e olha que quando comecei ir aos médicos que ficam na mesmíssima rua vaga era o que não faltava e ali não passava apenas de um bairro da ZL. Mas como diz o tio Francisco do Paraná: "Diferençô muito".
O trânsito é caótico e o que se vê é o vai e vem contínuo e constante de carrões com playboys ouvindo música em som altíssimo e/ou dondocas loiras, com óculos fashion e enormes.
Será que essas pessoas são felizes? Será que agem assim para preencher o vazio interior? Gastar, ostentar, exibir as fazem mais felizes? Sei não.
Lojas e mais lojas de carrões caros e importados; não se vê concessionárias básicas com carrinhos populares.
As lojas de roupas exibem roupinhas caras e que poderiam ser compradas por um preço bem menor na Rua José Paulino e no Brás.
Subi a Serra de Japi e viro à esquerda da Emilia Marengo e vejo lojas de decoração, moda, carros, bancos nobres. Reparo em um lojinha tímida que vende miudezas, iguais a essas lojinhas simples de bairro; pensei comigo: "Duvido que o povo rico daqui entre numa lojinha simples dessa, loja de pobre igual as que íamos em nosso bairro para comprar material escolar, papelaria etc".
Olho à volta, observo, comparo, viajo na imaginação.
Aguardo o farol abrir na Itapura para pegar a Radial e dois rapazes em um carrão me olham com ares de estranhamento. Claro, óbvio, público e notório que não se admiravam com minha estonteante beleza nem com meu possante popular, mas sim com meu carão acromegálico.
Voltei para casa e volto cansada dessa via crucix de médicos, exames, laboratórios, laudos etc...
Fiz um cuscuz de coco e vou comer com leite. Estava com uma vontade arretada de comer cuscuz de coco, num sabi?
Sei não... Às fico pensando comigo mesma e pergunto onde foi que falhamos. Nosso sonho, meu sonho, era morar em uma casona grandona e bonita, com piso, azulejo, campainha e um enorme jardim. Mas não deu. Moramos em nossos cafofos nada chique, mas estamos bem.
Acho que ser rico dá muito trabalho e eu não sei se conseguiria manter a estafante rotina de esticação de cabelo, maquiagem, caras e bocas. Isso sem contar que rico é mais contido, ri pouco, nunca dá boas gargalhadas e é cheio de não me toques.
Eu não queria ser rica abestada, queria ter dinheiro para ter uma vida digna, sem preocupações com as contas que se acumulam, sem contar os trocados para de vez em quando comprar um pizza de provolone, minha favorita. 
Queria ter uma casona grandona para poder cuidar da minha bicharada e daqueles que fossem jogados em meu quintal.
Queria que cada irmão e irmã ficasse bem e todos seríamos felizes para sempre.
Já fiz minha escolha e escolhi viver entre os meus entes queridos, meus bichos.
A solidão é minha maior companheira. Meus bichos também.
É isso.

                               

                                     


Abraço

                                

Sonhei com papai.
Eu caminhava pelas mesmas ruas por onde caminhei em outros sonhos e papai me entregara um pedaço de pão.
Era um dia agradável, ensolarado e bonito. Encontrei algumas colegas da faculdade e passei por uma agitada rua de comércio.
Caminhava, caminhava e caminhava...
Um carro azul vinha no sentido contrário e era dirigido por minha irmã Rosi que levava papai ao médico.
Rosi descia do carro e pedia para eu pegar o volante; papai estava ofegante, fraquinho, cansado, magro. Observava a pele clarinha, enrugada, flácida, cheia de pintas nos braços de papai.
Eu pedia para ele se acalmar, eu o levaria ao médico e ele ficaria bem. Tudo ficaria bem.
Papai colocava o corpo para fora e me abraçava. Um forte abraço. Abraço de aconchego, acalanto.
Acordei com o barulho intenso dos caminhões que passam rapidamente e balançam as casas da vizinhança.
Não acordei triste nem chorando, como sempre, acordei bem.
Acredito que papai me "devia" esse abraço e após dá-lo, prosseguiu em seu caminho de evolução e aprendizado.
Papai seguiu seu caminho e segui o meu.
Continuei caminhando e acordei no nosso mundo "real" de obrigações, responsabilidades, culpas, dor, mágoas, alegrias, esperanças, reparações e a certeza de que dias melhores virão.
Deus, receba bem papai e cuide bem de sua saúde. Papai estava tão fraquinho...
Papai ficará bem.
Nós todos ficaremos bem.
Amém.

                                   

                              
                             

domingo, 14 de outubro de 2012

Franja, livros, televisão colorida, gelatina azul...

                                  

Morávamos em uma casa que ficava em um terreno grande e tinha mais três casas. Havia um pequeno jardim com a majestosa mangueira e algumas plantas de Mãevelha. Suas caqueiras (vasos) com as cravinas ficavam espalhadas pelo muro e sobre o relógio d'água. Um muro baixo separava as duas casas da frente, a nossa e da vizinha, esposa do caminhoneiro que vivia viajando.
Na parte de trás do terreno ficavam as casas da família de judeus e a do casal  que aguardava a chegada do primeiro filho. No quintal dos fundos ficavam os tanques de lavar roupas e os inúmeros varais.
A vizinha esposa do caminhoneiro tinha uma casal de filhos, Kátia e Alexsandro e mamãe e Mãevelha não conseguiam pronunciar o nome da menina e a chamavam de "Káita".
O casal de judeus tinha cinco filhos, todos clarinhos, sardentos e com cabelos lisinhos, assim com a menina Kátia.
O senhora judia nos ajudou muito e nos dava as roupas que não serviam mais em seus filhos; ela também fazia bolos deliciosos e era uma confeiteira de mão cheia. Lembro de um bolo confeitado que ela fizera, era verde com um sapinho em frente a um lago azul de gelatina e uma casinha de chocolate. Fiquei encantada. Existia gelatina azul! Nossa!
O esposo da senhora judia era de pouquíssima conversa, saía todas as manhãs para o trabalho e voltava ao fim do dia. Ele parecia o Delfim Neto, gorducho, óculos enormes escondendo pequenos olhos míopes e o "carão" largo, como dizia mamãe. Ele dizia apenas: "Bom dia e boa tarde", já a sua esposa tagarelava com mamãe e Mãevelha.
A família judia era composta, além dos pais, claro, de dois meninos e três meninas e Raquel era a mais bonita, educada e simpática de todos. Raquel reunia as crianças menores e lia livros de sua biblioteca; gostei de Aristogatas.
Um dia a acompanhei até sua casa para pegar mais livros na biblioteca e fiquei encantada com as prateleiras que iam do chão ao teto cheias de livros. Raquel nos dizia para termos cuidado com os livros.
A menina Kátia tinha uma tia que sempre lhe cortava as pontas dos cabelos e a franja. Eu tinha meus cabelos cacheados e rebeldes e franja não combina com cachos. De jeito nenhum! Fica parecendo um poodle!
Eu pedi para a tia de Kátia cortar meu cabelo igualzinho ao da menina, com franja pretinha e lisinha, mas não deu. 
A tia de Kátia disse que não dava porque meu cabelo não era liso. Fiquei triste. Raquel e sua irmã Esther tinham cabelos escuros e bem lisos, assim como Kátia, mas Sarah, a irmã judia mais velha, tinha cabelos claros e cacheados iguais aos meus. Mãevelha e mamãe diziam que Sarah tinha "cabelo de fogo, cabelo sarará, cabelo ruim" e outras "inguinóranças".
Sarah era inteligente, rebelde, bocuda e de gênio forte, bem oposto ao que era esperado das meninas de então. Esther era molecona e brincalhona.
Os meninos judeus eram o Moisés e Samuel.
Moisés tinha a mesma idade dos meus irmãos menores e Samuel era rapazote. 
Samuel adora pentelhar meus irmãos e eu adorava encará-lo do alto dos meus sete, oito anos. Eu dizia para Mãevelha e  mamãe falarem com a mãe de Samuel, mas elas diziam que era implicância minha, pois o rapazote era muito educado com elas. Com elas sim, mas com meus irmãos não!
Uma vez peguei a vassoura e chamei Samuel para briga e disse-lhe que se atormentasse meus irmãos pequenos e bundões mais uma vez, iria meter-lhe o cabo da vassoura nos cornos!
Uma tarde fui com mamãe à casa dos judeus e a senhora judia preparava bolos e nos ofereceu um pedaço. Estava delicioso. Raquel me chamou para assistir TV e dizia que sua televisão era colorida, uma raridade naqueles tempos.
Observei que colado na tela da televisão havia uma espécie de plástico com listras coloridas e deixava a imagem com nuances que lembravam as cores do arco iris. "Oxe, e isso é televisão colorida?", pensei comigo.
Achei muito estranho aquilo e pegava as embalagens plásticas do arroz, por exemplo, e colocava em frente à nossa velha televisão preto e branco achando que mudaria alguma coisa, mas o que conseguia era broncas de mamãe de chineladas de Mãevelha.
Anos depois os donos das casas nos comunicaram que deveríamos sair dos imóveis, pois eles os haviam vendido e se transformariam em transportadoras, óbvio.
Nos mudamos para a pequena casa de quintal grande na mesma rua e nunca mais soubemos das famílias que eram nossos vizinhos no mesmo grande quintal.
É isso.


                                  
                             

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Nossa Senhora de Aparecida

                                  

Hoje, doze de outubro, comemoramos o dia da criança, o dia do descobrimento da América e o dia de Nossa Senhora de Aparecida.
Mamãe era muito devota da santa e fizera várias promessas; chegou a ir até a cidade de Aparecida para pagar algumas delas.
Quando mamãe ficou grávida de meus irmãos Rosi e Fubá os médicos disseram que não era gravidez e sim mioma. Receitaram remédios abortivos e sugeriram uma curetagem após o efeito dos remédios:aborto.
Que coisa horrível, meu Deus! Imagina eu sem minha irmã que entende tudo e mais um pouco de futebol e meu irmão ignorante, teimoso, trabalhador e pai de Rafaela prenda minha? Nossa Senhora!
Então...
Naquela época a medicina não era tão avançada como hoje e a ultrassonografia feita pelas grávidas atualmente não era muito comum naqueles tempos. Hoje temos ultrassonografias em 3D e dá para ver o rostinho do bebê, mas há mais de três décadas era tudo mais simples.
Mamãe sai do consultório com a receita para o remédio que deveria combater o suposto mioma e vai à farmácia do Pedro; chegando lá o farmacêutico diz que a médica que receitou aquilo deve estar louca, pois mamãe está grávida sim senhor! Pedro salvou as vidas de mamãe e de Rosi e quatro anos depois salvou a vida de Fubá, pois outro médico disse o mesmo absurdo: não era gravidez, era mioma.
Mamãe seguiu com as duas gravidezes (estranho, né?) e fez promessas à Nossa Senhora de Aparecida, que se seus filhos nascessem saudáveis e que se ela e eles voltassem para casa bem e em paz, iríamos todos à cidade de Aparecida para pagar a promessa. E assim foi feito.
A Basílica de Aparecida ainda não estava pronta e fomos à antiga igreja para pagarmos a promessa. Papai, mamãe e Mãevelha acendiam velas e agradeciam por nossas vidas e eu observava as fotos, velas e moldes de partes do corpo espalhados pela sala dos milagres.
Eu era menina e pensei comigo: "Que bom que a santa ajudou mamãe".
Saímos da sala dos milagres e fomos nos sentar às mesas de um enorme restaurante, mas logo em seguida saímos e eu não entendi por quê.
Eu queria tanto almoçar em um restaurante, eu via nas novelas e achava aquilo tão chique! Mamãe explicou depois: "É que tem que pagar para ficar, filha. Hoje não dá, a mãe está sem dinheiro". Fiquei triste.
Mas como bons farofeiros que fomos, Mãevelha e mamãe prepararam um farnelzinho para levar na viagem e enchemos nossas barrigas com carne assada com farinha, frango frito com farinha e garrafas de café e água. 
Mamãe disse que um dia teria condições e iríamos todos a um restaurante.
Pagamos nossas promessas e voltamos para casa com a sensação de dever cumprido e pedindo sempre à Nossa Senhora Aparecida que abençoasse nossos lares e nossas vidas.
Amém.

                                 

Tia Filomena, Sol da Meia Noite,

                                     

Tia Filomena era irmã de mamãe e morava no Paraná com o tio Francisco.
Falei brevemente sobre ambos aqui e falei sobre a fuga para poderem ficar juntos, pois em uma época de muito racismo, preconceito e ignorância, relacionamentos de pessoas de etnias diferentes não eram tolerados. Não uso o termo raça, porque como já disse aqui, só existe uma raça: Raça Humana.
Bom...
Tia Filomena era galega, clarinha, cabelos louros avermelhados, olhos azuis e tio Francisco era negro. Precisa dizer mais?
Tio Francisco vive no Paraná, na cidade de Jaguariaíva, e mora com os filhos depois que tia Filomena foi para o céu.
Sonhei com a tia hoje e no mundo dos sonhos não há tempo, espaço, certo ou errado; as coisas são, simplesmente são.
Havia uma casinha simples e pequena à beira do mar e no céu brilhava o sol da meia noite. Minha sobrinha Michelle pedalava um pedalinho (sic) e eu ia com ela dar uma volta pelas água gélidas e azuis do oceano. Eu ficava preocupada e não permitia que minha sobrinha fosse para muito longe, tinha medo de entrar em oceano aberto e nos perder. 
Amarrávamos o pedalinho à doca no deck da casa e tia Filomena ficava a nos observar, eu dizia: "Olha só para aquelas explosões solares!".
O sol e a lua eram uma coisa só, uma luz quente e amarela em um céu azul que se encontrava com o mar; lindo e assustador.
As águas do mar oceano e os ventos eram gelados e eu estava preocupada com algo e me sentia muito insegura.
Observava a pequena casa à beira do oceano imenso, azul e gélido e me preocupava com a segurança de tia Filomena; será que a casa estaria bem presa às docas, ao deck?  Será que a pequena casa era forte o bastante para suportar a fúria dos elementos da Natureza? Por que a tia fora morar em lugar tão distante desses? Tão perto do mar, tão perto do sol com suas poderosas explosões? Por que eu tinha tanto medo de me perder no mar? Eu que amo o mar tão intensamente?
Eu olhava à volta e via policiais passando alegremente pela rua atrás da casa; eles riam e cantavam. Todos estavam tranquilos, menos eu.
Como já falei aqui, eu vi o sol da meia noite quando estava em coma, vi o mar de águas geladas, estive em países gelados onde brilha o sol da meia noite e vi homens branquelos e galegos iguais a tia Filomena. Será que a tia foi para as terras do sol da meia noite?
Será que a tia virou estrela e por isso não se preocupa com o sol tão próximo?
Quando era criança ouvia dizer que quando as pessoas morrem vão para o céu e viram estrelas. Será que tia Filomena virou estrela? Em que constelação ela estará? Órion, o grande caçador? As três Marias? Andrômeda? Cassiopeia?
Não sei.
Sei que a tia está em um bom lugar. Um lugar onde já estive, já senti muito frio e muito medo. 
Já se passaram três anos, mas às vezes os temores e terrores do coma voltam e me assustam.
Que Deus cuide bem de tia Filomena.
Que Deus cuide bem de minha família e das pessoas queridas.
Que Deus cuide bem de mim.
Amém.

                              


Pilha

                                     

Minha avó Mãevelha adorava seu inseparável rádio de pilha e quando chegava a hora de trocar as pilhas, as quais chamava de elemento, pedia para algum dos "primos" que moravam em nossa casa fazer o serviço.
Mãevelha não confiava em nossa capacidade e habilidade manual para trocar umas simples pilhas, ela achava que o rádio não funcionaria.
Dizíamos que bastava colocar as pilhas nos pólos certos, negativo e positivo, e pronto, o rádio funcionaria e ela poderia ouvir os programas do Zé Betio, Eli Correa, Barros de Alencar e outros.
Mas não adiantava, Mãevelha não confiava em nós e ficava o dia inteirinho sem ligar seu amado rádio esperando até a hora em que os "primos" voltassem do trabalho. Era muita teimosia e "inguinórança".
Mas nos vingávamos dela roubando suas bolachas para serem devoradas com café ou chá quentinhos. Quem manda duvidar de nóis?
Mamãe ainda tentava convencer Mãevelha: "Mamãe, deixe de teimosia, esses meninos vivem na escola e foram nascidos ou criados em São Paulo e sabem de muitas coisas". 
Nosso pais e nossa avó achavam que o fato se sermos nascidos ou vindos bem cedo para São Paulo nos fazia mais espertos. Sei não, há controvérsia.
Os ditos "primos" chegavam e Mãevelha pedia: "Meu filho, bote os elementos no meu ráido, tu bota?"
Papai, mamãe e Mãevelha falavam um português diferente do que aprendíamos na escola e só quando comecei a estudar é que percebi a diferença e fiquei em dúvida sobre quem falava certo ou errado. Eles falavam "táuba, ráido, Káita, sangre, vinargue...".
Já falei sobre isso aqui e parte disso se deve à variação linguística e a outra ao fato de sermos pobres e falarmos como pobres mesmo.
Bom...
Os elementos/pilhas eram trocados e o bendito rádio era ligado e Mãevelha ficava feliz até o nova troca dos elementos.
É isso.

                               

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Otite

                                  

Otite é uma inflamação ou infecção no ouvido e causa muita dor.
Comecei com o ouvido "tampado" e depois evoluiu para uma dor aguda, terrível. Fiquei com a região debaixo do queixo, a papada, muito inchada. 
Às nove e meia da manhã de terça-feira fui ao Hospital Nipo Brasileiro e dei entrada pela emergência; a dor estava forte demais.
Passei pela triagem e depois o médico me atendeu, um jovem e simpático médico, o Dr. Thiago.
O médico me encaminha para a Sorologia, a sala onde os pacientes tomam medicamentos. Sentei-me em uma das cadeiras e a enfermeira disse que iria preparar o remédio... e demorou...demorou...demorou.
Chamei uma das enfermeiras presentes e perguntei pelo remédio, estava com muita dor, pelo amor de Deus!
"Só um minutinho".
Bom, o minutinho demorou mais uns bons vinte minutos; a dor não era nelas nem nas mães dessas desalmadas.
O remédio foi colocado em minha veia e tive ânsia de vômito e a enfermeira me deu um saco plástico. Pedi água e ela disse que eu não poderia tomar porque vomitaria de novo.
Não tomei a água e vomitei novamente.
Fiquei lá no canto encolhida com dor, sono, cansaço, sudorese, pressão alta e um sentimento enorme de abandono e descaso.
Claro, fui vítima dos olhares escrutinantes. Como sempre. 
Pedi água mais uma vez e ouvi o maldito "um minutinho" uma dúzia de vezes, mas não a água. Meus lábios estavam ressecados e eu com muita sede.
Perguntei à enfermeira se meus exames estavam prontos e se eu poderia ver o médico e ela disse: "Eu chamei seu nome várias vezes e a senhora não respondeu. Os exames estão aqui, se quiser pode ir lá".
Respondi: "Acontece que eu sou humana, adormeci sob efeito do remédio. Não durmo há duas noites com dor, estou cansada. Não posso ir sozinha até o médico, estou fraca, tenho artrose e mobilidade reduzida, alguém precisa me ajudar".
"Um minutinho".
Passaram-se longos minutinhos e pedi à enfermeira chefe para procurar meus exames e minha ficha e me acompanhar até o médico.
Saí do Hospital Nipo Brasileiro me sentindo um lixo, um zero à esquerda e isso porque pago caro pelo convênio médico.
Acredito que pagando caro ou não, todos nós deveríamos ser tratados com educação e respeito.
Deus me perdoe, mas tomara que essa quenga tenha uma dor de ouvido bem braba para saber entender e respeitar os outros. Se o paciente vai à emergência de um hospital, é porque precisa de cuidados médicos; ninguém vai lá para passear.
Não pretendo voltar ao Hospital Nipo Brasileiro tão cedo.