sábado, 30 de março de 2013

Feriadão

                              



Eu pretendia escrever nesses dias de feriadão, mas não deu. A pressão disparou e as dores de cabeça e nas juntas desembestaram.
Fui à farmácia e comprei meus medicamentos; já tomei alguns e agora sinto-me sonolenta.
Amanhã será melhor. Acredito.
Bom domingo de Páscoa a todos.


                                

quinta-feira, 28 de março de 2013

Quaresma

                               



Finalmente encontrei as sardinhas que tanto queria. Havia pouca quantidade e o preço dobrara.
É a velha lei da oferta e procura.
Cheguei em casa e pus-me a limpá-las e a gataiada ficou extasiada.
Cortei uma sardinha em pedacinhos e dei a eles; comeram de lamber os beiços.
Estava lembrando que no nosso tempo não havia essa variedade de ração para cães e gatos e eles comiam a sobra de nossa comida.
Os gatos adoravam quando mamãe comprava baciadas enormes de sardinha, cavalinha, pescada branca, peixe seco e outros, principalmente durante a Quaresma.
Mamãe afiava a faca para começar a tratar dos peixes e ao ouvir o som da faca sendo afiada, os gatos corriam para dentro de casa e ficavam miando desesperados aos pés da pia e de mamãe.
Não sobrava uma cabeça de peixe para contar a história. As tripas eram chamadas de "fato" por mamãe, minha avó Mãevelha e meu povo antigo; diziam: "Limpe e bote os fatos do peixe pros gatos comerem".
Os peixes maiores tinham as cabeças conservadas e depois cozidas em sopas. Eu tinha nojo de ver aquela cabeçona de peixe envolta em caldo e legumes, eca.
O consumo de coco e seus derivados era e ainda é muito grande durante a Quaresma, principalmente no Nordeste.
Tia Antonia acabava com o estoque de coco seco dos feirantes e mercados locais, ela já fazia a encomenda um mês antes e víamos caixas e mais caixas de madeira cheia de cocos.
Eu adorava furá-los para tomar a água e Mãevelha ficava doida comigo, dizendo que isso estragaria o coco.
Até enjoava.
E tudo era de coco: arroz de coco, feijão de coco, cuscuz de coco, peixe de coco...
Algumas pessoas não comem carne apenas na Sexta-Feira Santa, mas meu povo antigo não comia carne de jeito nenhum durante a Quaresma inteirinha.
Então da-lhe peixe e coco.
Minhas sardinhas serão fritas e o coco será usado para colocar sobre o chantilly do bolo de coco, claro.
Esse bolo bateu recorde de público e crítica e até superou o "pudinho" de Natal de papai.
Minha sobrinha Beatriz adora e daqui a pouco irei prepará-lo para ficar bem geladinho para amanhã.
É isso.
Desejo uma Boa Páscoa a todos.








                                


Vila

                               



Todos nós sonhamos, embora às vezes não nos lembremos do que sonhamos.
Eu tenho sonhos pesados, intensos, tensos e acontecem quando estou em um estágio de sono "meio dormindo e meio acordada".
É como se estivesse ao mesmo tempo do lado de dentro do sonho e do lado de fora. Sei lá.
Sonhei que estava em um vila de rua bem comprida e com várias casas simples. Em cada casa moravam pessoas diferentes; tinha casais, famílias maiores, pessoas sós etc...
As pessoas eram bem simpáticas e acolhedoras e eu conversava com elas do lado de fora, não queria entrar em suas casas.
De repente vejo um grupo vindo em minha direção e, ao se aproximar, sinto um certo desconforto. Eram médicos/as e enfermeiros/as.
Tento fugir deles e sou convidada por um casal a entrar em sua casa, mas assim que entro, tento voltar. Tive a impressão que aquilo era uma armadilha para me pegar e aquela casa que por fora parecia tão pequena e simples, era na verdade cheia de portas e corredores que levavam à uma espécie de hospital.
Corro pelos corredores e encontro mamãe que tenta me convencer a ficar e a acompanhar o grupo de médicos e enfermeiros, seria para meu bem, diz ela.
Mas eu não queria, eu tinha medo. Eu pensava nos meus gatos e perguntava se aquela internação forçada demoraria muito. Quanto tempo eu ficaria ali? O que fariam comigo?
Entro em uma sala onde há uma enfermeira preparando medicação e reparo na mesa de trabalho. Era uma mesa improvisada feita com gravetos, pedaços de madeira e coberta com um pano ou papel branco. Como um hospital pode trabalhar desse jeito? Essa mesa improvisada e estranha estaria limpa? Essa enfermeira higienizou as mãos e o material para aplicar o medicamento?
Que estranho.
Observo a tudo sentada enquanto a enfermeira, que está sempre de costas para mim, continua a manipular a medicação. 
Mamãe e um grande número de médicos e enfermeiros ficam à porta para assegurar que eu não fuja e para me convencer que preciso ficar ali sob os cuidados deles.
A enfermeira finalmente termina e se aproxima de mim com a injeção pronta para aplicar; entro em desespero, pois sinto que aquilo vai me fazer dormir.
O que farão comigo quando eu dormir? Para onde me levarão? Será que sairei daquele hospital estranho? E minha casa? Meus gatos? Minhas coisas? Como ficam?
Vejo mamãe e minha irmã Rosi e peço-lhes que digam à minha irmã caçula, Renata, que cuide dos meus gatos.
Sinto que não sairei dali tão cedo mas ao mesmo tempo sei que mamãe está ao meu lado e nunca deixaria que me fizessem mal.
Mas e se algo der errado e eu não puder voltar? Ficarei ali naquele hospital estranho? Naquela vila agradável de moradores sorridentes e simpáticos?
Quero não. Ainda não é hora não. 
Oxe, vôte! Como diria minha avó Mãevelha.
Entre os anos de 2009 e 2012 foram dezenas de internações e sete cirurgias, somando um total doloroso, física e emocionalmente doloroso.
A última cirurgia foi realizada em fevereiro de 2012, há pouco mais de um ano, e de lá pra cá tive apenas alguns episódios de pressão alta, além de tratar a artrose galopante nos ossos, principalmente no joelho direito.
Está bom assim, meu Deus.
Sem internações, sem hospitais, sem agulhas enfiadas por minhas veias, sem dor, sem desespero, sem uma vontade louca de sair dali e voltar para casa o mais rápido possível.
Tenho vários exames para fazer e faço aos poucos. Até daria para fazer muitos em um dia só, mas é muito doloroso e desgastante. E perigoso também, uma vez que vou quase sempre só ao laboratório e volto meio lesa, mais ainda.
Tenho receio que esse tumor volte a crescer e exija nova cirurgia. Quero não.
Deve haver outros métodos e os usarei, mas cirurgia não.
Sei lá, Minha Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.
Que eu tenha saúde. Que eu obtenha a cura. Que eu tenha paz.
Amém.


                                 
                             



terça-feira, 26 de março de 2013

Culinária Estranha

                                            


Assistir TV está difícil, pelo amor de Deus!
Tenho mania de zapear pelos canais à procura de algo que preste; difícil.
Paro quase sempre no canal Bem Simples e gosto das receitas calóricas da Palmirinha e da Carla Pernambuco.
Detesto as receitas malucas e metidas a modernas dos moços e moças metidos a grandes chefs; eles fazem cada coisa estranha!
Um deles inventou de fazer uma salada com flores comestíveis. Eu não comeria. 
Flores são para exalar perfume, para embelezar, para acalmar.
Tem uma parte do programa que é apresentada por cozinheiros daqui da América Latina e, honestamente, preparam umas coisas estranhas que não combinam. Acho que é questão de hábito.
Temperaram a carne com açúcar, para mim não dá.
Gosto da parte de artesanato, mas têm uns trabalhos ali que só o cara com muita paciência para fazer aquilo.
Têm umas ideias para festas e decoração que não combinam muito com nosso tempo e cultura, isso sem falar na culinária estranha.
Outra coisa com que implico são as medidas. Em vez de dizerem "um ovo, dois ovos etc", dizem uma unidade de ovo ou um copo de ovo.
Quantos ovos são necessários para se encher um copo?
Não é mais fácil e simples dizer um ou mais ovos em vez de uma unidade de ovo ou de qualquer coisa?
Outro chef que me causa estranhamento e cuja comida eu nunca comeria é o tal do "Mago da cozinha" do Fantástico, o Felipe Bronze.
O cara inventa umas coisas estranhas que mais parecem saídas de algum livro de Alquimia Medieval ou de uma aula de Química do Ensino Médio.
Fico pensando e me perguntando se aquelas comidas químicas cheias de nitrogênio líquido e outros compostos não causam danos à saúde. Será que nosso estômago digere bem aquela alquimia toda?
Digo isso por mim, pois meu estômago mal digere o leite e seus derivados, quem dirá se conseguiria digerir aquela gororoba criada em laboratório.
Para mim comida é feita com ingredientes de verdade, com bons temperos, com sal e açúcar usados nos alimentos certos, com elementos químicos na tabela periódica e com flores no canteiro ou no vaso.
Essa semana parece que a implicância é com culinária.
É isso.

                              TABELA PERIÓDICA
                          


Comida

                               


Fomos ao restaurante domingo passado para comemorar e "bebemorar" meu aniversário. Tem gente que comemora no dia, mas pobre que se preze só comemora no sábado ou domingo; tem que trabalhar durante a semana.
Estava na fila para pegar churrasco, mas desisti. A fila estava grande e a carne meio crua; gosto não.
Gosto de carne bem assadinha, crua e com sangue não. 
Fiz meu prato com as comidas que gosto e tinha tutu à mineira, bacalhau com batata, anchova, carne seca com macaxeira, salada...
Estou pegando as azeitonas e observo uma família de gordinhos segurando seus pratos contendo brócolis, couve-flor, uma fatia de tomate, uma folhinha de alface e só.
Pensei comigo: Se eles comessem tão pouco e saudável assim não estariam com esses corpinhos tão vitaminados.
Tive uma colega gordinha que já chegava à sala de aula munida de coxinhas, refrigerante, bolachas e outras guloseimas engordativas. Um dia combinamos de ir a um rodízio de pizza e lá pelo terceiro pedaço ela disse: Aí gente, não aguento comer muito.
Mesmo? Até parece. 
Nada contra, mas o cabra se entope de porcaria o tempo todo e quando vai comer fora com colegas, amigos e familiares fica todo cheio de frescura.
Me pópi, como dizia papai.
Fiz meu pratinho de pedreiro e saboreei peixes, carne seca com macaxeira, bacalhau com batata... Um pouco de tudo.
Voltei para casa, fiz um chá e só fui comer no dia seguinte. Não tinha como jantar com o buchinho cheio daquele jeito.
É assim, simples e sem firulas.


                                








segunda-feira, 25 de março de 2013

"De Menor"

                                



Voltava da perícia médica e entro na rua onde morei por muito tempo. Reduzo a marcha para o caminhão terminar a manobra.
Esse bairro já deu o que tinha que dar! Isso aqui se transformou em uma gigantesca transportadora a céu aberto.
Ruas lotadas de caminhões estacionados irregularmente que impedem a visão de quem dirige e não consegue ver quem vem no sentido contrário.
Barulho, sujeira, incômodo.
Assim que saio da Marginal Tietê e entro na rua percebo dois adolescentes andando de bicicleta; achei estranho e perigoso "duas crianças" andando por uma rua cheia de carros e caminhões circulando freneticamente. Estranhei também andarem em volta do carro, pensei que também aguardavam a manobra do caminhão para poderem seguir. Pensei também que fossem os moleques que jogam futebol na rua com os filhos dos vizinhos.
Andam em círculos, fazem que vão seguir em frente mas voltam. O mais gorducho com camiseta de listras pretas e amarelas puxa a maçaneta da porta do carona e diz: "É um assalto!".
O outro menor e mais magrinho posta-se ao meu lado.
Não conseguiram abrir a porta; eu tenho hábito de travá-las sempre.
O enorme caminhão ainda fechando metade a rua e os "de menor" ao meu redor. Meti a mão na buzina e gritei "pega ladrão!". Acelerei e não sei como consegui passar entre os carros estacionados e a porcaria do caminhão que não acabava nunca a bendita manobra.
Viro à direita na próxima rua e mais um caminhão parado, @#%$!.
Buzinei mais e gritei e as pessoas à volta pararam para ver o que estava acontecendo.
Faço mais uma manobra doida e encontro um camburão da polícia. Eles param e eu relato o ocorrido.
Falam mal da polícia paulista/paulistana. Falam que é bruta, violenta, injusta às vezes. Será?
Como deveria a polícia tratar criminosos? A pão de ló?!
Como os criminosos tratam suas vítimas? A pão de ló?!
Fiquei possessa, revoltada e com um sentimento imenso de ódio, raiva, ira...
Medo não senti na hora, senti raiva e nojo desses "de menor" dos infernos.
Eu sinto mais é raiva mesmo diante de situações como essas. Mas depois que passa tudo, volto para casa um caco e a pressão lá nas alturas.
Cadê o pessoal dos Direitos Humanos quando os "de menor" assaltam, estupram, matam?
Os "de menor" vão para a Fundação Casa, a antiga FEBEM, e de lá saem com a ficha limpa quando completam dezoito anos. É justo isso?
Saem como se cidadãos de bem fossem. É ridículo, é hipócrita isso.
Aí vem gente dizer que são crianças, que vêm de lares pobres, violentos e/ou desfeitos, que isso, que aquilo.
E isso tudo justifica cometer crimes?
Crianças?!
Não para mim!
Crianças brincam, não são criminosas.
As leis desse nosso país foram feitas para proteger criminosos; dá até a impressão que o crime compensa, pois o cabra mata, estupra, rouba, corrompe etc, e depois ou paga fiança ou cumpre uma pequena parte da pena e logo logo está em liberdade.
Então pra que condenar o cara a trinta, cinquenta ou até cem anos de reclusão se nem dez anos na cadeia o desgraçado fica?
E ainda tem o tal do "bom comportamento", que alivia a pena do criminoso.
Esse país imita tanto os Estados Unidos da América; é sua colônia cultural, mas pergunto: "Por que não copia coisas boas?"
Não! Só copiam gírias, gestos, hábitos alimentares e inutilidades afins".
Nos Estados Unidos não tem essa de o cara ser "de menor". Não importa se é criança, adolescente ou adulto; cometeu crime é punido! Cadeia!
As penas são cumpridas integralmente e não tem essa de bom comportamento não.
Lembro de um caso de uma garotinha de seis anos que fora algemada pela  polícia porque estava agressiva e batia nos coleguinhas e professores. Causou comoção mundial, pois onde já se viu algemar uma criança de seis anos?! 
É?
Se deixa pra lá e segue o mantra de que é apenas uma criança, essa garotinha poderia se tornar uma adolescente problemática e até uma criminosa.
Radical?
Sim, sou sim. Sou radical assumida. 
Pra mim não tem essa "de maior ou de menor", cometeu crime é bandido e tem que pagar por isso!
Mas nosso país varonil tem leis brandas para criminosos e leis rigorosas para o cidadão de bem.
O nosso país incentiva a pobreza, a preguiça, o comodismo e o botar filho no mundo com sua Bolsa Família, Programa Mãe Paulistana, Auxílio Reclusão...
O Auxílio Reclusão é o mais revoltante de todos, acredito eu. É um, como o nome já diz, auxílio aos dependentes do segurado recolhido à prisão; presidiário mesmo!
E sabem qual o valor desse auxílio? R$ 971,78! Mais que o salário mínimo, que é R$ 678.00.
Então nos parece que ser um cidadão de bem, um trabalhador honesto e cumpridor de seus deveres não está com nada. O negócio é ser bandido, paga muito mais e melhor!
E com bolsas, programas e auxílios a população acomodada se acomoda mais ainda e dana-se a botar filho no mundo para ser mais uns "de menor" e seguir com o ciclo de comodismo, vagabundagem e criminalidade.
E para ajudar à criminalidade, fazem campanha para o desarmamento da população. 
Eu já fui a favor da campanha, mas depois de hoje e dos "ataques" mequetrefes ao meu portão e à tampa do relógio da luz, mudei e tenho outra visão.
Uma bala bem colocada no meio dos cornos de quem merece resolveria o problema da superpopulação nas cadeias.
É isso.


Foto: Sou da paz, e estou pronto para defendê-la. (Contribuição de Luciano Menegucci)

                                   








sábado, 23 de março de 2013

Kopenhagen

                               


É uma fábrica de chocolate focada nas classes A e B. 
O povão tem pouca chance e eu me incluo nessa.
Estou louca para provar os ovos de Páscoa da Kopenhagen, principalmente aquelas duas metades que aparecem no comercial e estão recheadas com Nhá Benta e chocolate cremoso. Nossa!
Nhá Benta é um tipo de marshmallow cremoso colocado sobre wafer e coberto com chocolate.
Estou tentando salvar umas economias para me presentear com a delícia meio cara para meus padrões.
Mas penso que depois da Páscoa os preços cairão um pouco, assim como acontece com os panettones de Natal.
Estamos a uma semana da Páscoa e os preços do chocolate, bacalhau, coco e seus derivados estão caros pra caramba.
A Páscoa será próximo domingo, dia trinta de um de março, e na segunda-feira primeiro de abril, lá estarei eu numa loja Kopenhagen para comprar meu ovos de Páscoa!
É isso.



                                  

sexta-feira, 22 de março de 2013

Grazie Massafera... Moda Cadáver

                                


Gosto de assistir ao telejornal SPTV e aguardava o fim da novela das seis para tal.
Fiquei assustada com a aparência famélica de Grazie Massafera. A moça que um dia foi tão bonita e tinha carne a cobrir-lhes os ossos está hoje magra demais.
Os ossos da face estão ressaltados e ficam ainda piores quando a pseudo atriz tenta fazer biquinho e boquinha sexies. Não dá.
Ser um monte de ossos coberto por pele é bonito? Está na moda? Quem dita essa moda cruel?
Deixem a moça comer, assim, quem sabe, ela ganha peso e algum talento. Acho que não pode atuar bem porque não tem sustança e energia para tanto.
Implico com pessoas que comem demais como se o mundo fosse acabar no dia seguinte, mas comer de menos também não é legal nem saudável.
Mas devem ser os padrões de beleza ditados por não sei por quem. Será que esses ditadores da moda comem ou vivem de luz?
Penso que deveria-se criar uma campanha, dessas que circulam pela Internet, com o título: "Deixem Grazie Massafera comer!", ou, "Coma, Grazie, Coma!".
Outra que está magérrima é a simpática e inteligentíssima Luciana Gimenez. Ela era tão bonita, mas também aderiu à moda cadáver.
É isso.






Flor da Idade





Minha sobrinha Maria Julia me ligou para me parabenizar pelo meu aniversário, e disse: "Quarenta e seis anos, tia Rejane? É, você tá véinha. Você agora vai ficar lembrando do passado, de quando era jovem e estava na flor da idade".
Poderia soar como falta de respeito, mas ela lembrou do meu aniversário e quis fazer graça. Nada demais.
Todos os meus sobrinhos dizem que sou "véia" e alguns dos meus irmãos me chamam assim também.
Certa vez, minhas sobrinhas Beatriz e Maria Julia tinham deveres de casa nos quais deveriam desenhar ou escrever sobre a pessoa mais velha da família e não é necessário perguntar sobre quem elas desenharam e escreveram.
Sou a mais velha de seis irmãos e não vejo nada demais em ser chamada assim, desde que seja na base da brincadeira e com respeito.
Não estou mesmo mais na flor da idade, devo estar no "fruto meio maduro da idade".
É isso.


Fortuna



Sempre ouvimos dizer, desde criança, que Deus sabe o que vai acontecer com as nossas vidas mesmo antes de nascermos.
Já para outras correntes religiosas, nós fazemos nossa vida e a modificamos o quanto bem entendermos, mas fiquemos atentos ao que fazemos de bom ou ruim, pois há a Lei do Retorno.
A vida faz as contas e no fim vem nos cobrar por aquilo que fazemos aos outros e a nós mesmos.
Deus, Vida, Destino, Fortuna...
Fortuna aqui não trata-se de valores materiais, dinheiro ou riqueza, mas trata-se na verdade do Destino.
Fortuna era a deusa romana da esperança e da sorte, seja ela boa ou má. A deusa carregava uma cornucópia e um timão (Vai Corinthians!), que simbolizam a distribuição de bens e o destino dos homens.
Fortuna tinha os olhos vendados, assim como a Justiça, para que não cometesse erros ou injustiças ao distribuir suas bençãos.
Deve ser por isso que uns têm tanto e outros tão pouco; sejam em termos de bens materiais, de beleza, caráter, sorte, inteligência...
Escrevo sobre o tema porque estava a conversar a sós com meus botões, e com meus gatos, e me perguntava sobre coisas que ainda não estamos prontos para entender. Ou a vida é tão complicada e a complicamos mais ainda que nos impossibilita ver e fazer o mais simples. Sei lá.
Se temos o tal do Livre Arbítrio, então isso quer dizer que temos o controle de nossas vidas e podemos vivê-la como a planejamos. Será?
Mas as coisas nem tão boas também parecem ter o tal do arbítrio e escolhem atrapalhar aquilo porque e por quem lutamos tanto e queremos tanto.
A vida é feita de escolhas; não escolhi ser pobre.
Não escolhi ser acromegálica. Não escolhi ter uma doença estúpida que me rouba aos poucos a vida e a saúde.
Têm tantas coisas que não escolhi ter ou viver, mas que parece que foram escolhidas para mim sem respeitarem meu Livre Arbítrio.
Acho que a vida é simplesmente arbitrária.
Sei lá.
Mexia na minha papelada na faculdade e encontrei textos das aulas de Língua e Literatura Latinas. Adorava as aulas de Latim.
Encontrei A Cantata Carmina Burana, musicada pelo compositor alemão Carl Orff.
A cantata fala sobre a Roda da Fortuna, que está sempre girando e trazendo boa e má sorte; como a vida humana, que está sempre mudando e tem dias bons e outros nem tanto.
Sei lá o que me deu hoje. Acho que estou ficando velha.


Carmina Burana - O Fortuna, Imperatrix Mundi

Em LatimEm Português
O Fortuna,Ó Sorte,
Velut LunaÉs como a Lua
Statu variabilis,Mutável,
Semper crescisSempre aumentas
Aut decrescis;Ou diminuis;
Vita detestabilisA detestável vida
Nunc obduratOra oprime
Et tunc curatE ora cura
Ludo mentis aciem,Para brincar com a mente;
Egestatem,Miséria,
PotestatemPoder,
Dissolvit ut glaciem.Ela os funde como gelo.
 
Sors immanisSorte imensa
Et inanis,E vazia,
Rota tu volubilisTu, roda volúvel
Status malus,És má,
Vana salusVã é a felicidade
Semper dissolubilis,Sempre dissolúvel,
ObumbrataNebulosa
Et velataE velada
Michi quoque niteris;Também a mim contagias;
Nunc per ludumAgora por brincadeira
Dorsum nudumO dorso nu
Fero tui sceleris.Entrego à tua perversidade.
 
Sors salutisA sorte na saúde
Et virtutisE virtude
Michi nunc contrariaAgora me é contrária.
Est affectus
Et defectusE tira
Semper in angaria.Mantendo sempre escravizado
Hac in horaNesta hora
Sine moraSem demora
Corde pulsum tangite;Tange a corda vibrante;
Quod per sortemPorque a sorte
Sternit fortem,Abate o forte,
Mecum omnes plangite!Chorai todos comigo!
  • *** Fortuna é um falso cognato em latim para o português. Fortuna=Sorte, Fortunae=Riqueza Material.