segunda-feira, 29 de junho de 2015

Trancado

                                   Resultado de imagem para angustia


Mamãe tinha seu linguajar próprio para definir coisas indefiníveis. Como definir uma emoção, uma dor, esperança, medo, felicidade?
Mamãe dizia que tinha uma coisa trancada dentro dela, uma agonia, um incômodo. Uma sensação desconfortável que surgia de repente e não se sabia o porquê.
Tenho lido, escrito, assistido a filmes, programas de culinária e às vezes, simplesmente sento-me na cadeira lá fora com Rosinha no colo e aprecio o dia. A luz, as cores e suas tonalidades... um luar tão bonito hoje.
O som do silêncio interrompido pelo canto meio exagerado das maritacas que pousam no paredão, pelo miar dengoso dos gatos, pelos ventos brincalhões que balançam o mensageiro dos ventos (sic) e derrubam os vasos, pelo barulho dos carros que passam na Marginal Tietê...
Mas tem essa coisa trancada dentro de mim. Essa revolta, frustração, tristeza, sonhos e planos despedaçados...
Mas têm também esperança, força e fé, ou eu já teria sucumbido.
Quando tinha minha vida corrida, agitada e batia os quatro cantos do mundo, como dizia mamãe, eu não via a hora de chegar o fim de semana ou feriado só para eu poder ficar em casa e fazer o que mais gosto: arrumar e folhear meus preciosos livros ao som de Rock 'n' Roll e com meu xicrão de café. Gatos bagunçando, miando, querendo colo e atenção.
Se eu estivesse inspirada, ainda cuidaria das plantas e depois faria um bolo, pudim, torta, mousse ou uma guloseima qualquer. Adoro cozinhar.
Estou em casa, de licença médica, e bem que podia fazer tudo o que gosto porque estou com tempo livre, mas não tenho ânimo; não é assim que quero e gosto. Minha vontade não está livre.
Sinto-me como um animal enjaulado, como uma árvore podada.
Gosto de ficar só, mas gosto depois de ter feito todas as obrigações e correrias do dia, da vida. Ficar só assim é meio doloroso.
Têm os gatos, são muitos, eu sei, mas eles me ajudam a manter a sanidade, a manter o foco, como está em voga falar. Tudo é foco e foca. Vamos focar...
Dou bronca, tiro fotos deles, me preocupo quando não querem comer, fico brava quando não se entendem, fico preocupada quando a ração está acabando... É uma família.
O autor do livro "O Capa Branca", Daniel Navarro Sonim (é, eu estou muito chique), leu algumas postagens desse meu blog e disse que escrevo com sinceridade. Acho que é meu jeito de ser: honesto, sincero, simples e sem rodeios ou floreios.
Gostei do que ele disse.
Eu tinha dúvidas, receio e até certo medo de escrever sobre meus sentimentos, revoltas, frustrações, medos, fé, esperança e tudo o que nos faz humanos, demasiado humanos. Pensei comigo mesma: "Será correto falar sobre esses temas? Falar sobre as mudanças e problemas que a Acromegalia trouxe e causou no meu corpo e na minha alma? Será que as pessoas entenderiam? Me julgariam?".
Resolvi arriscar e escrevo sinceramente desde então.
Por coincidência, não existem coincidências, dizem, peguei o"Livro do Desassossego", de Fernando Pessoa, e me vi refletida em alguns temores, pensamentos e sentimentos do autor. Poxa vida, eu não sou a única a se sentir só no meio da multidão! Clichê, mas verdadeiro.
Já me vi em tantos textos angustiados de Fernando Pessoa, Kafka, Goethe, Nietzsche... Não, não sou chique, sou leitora voraz, sou apaixonada por livros.
Eu queria um café, mas dizem que tira o sono. Mas com ou sem café o sono só chega lá para de madrugada, depois que o peso trancado torna-se insustentável e corpo e alma se cansam e adormecem.
É isso.



                                  Resultado de imagem para esperança e fé



                                              



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixem comentários, adoro saber o que pensam sobre o blog. Obrigada ;-)