Mostrando postagens com marcador . Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador . Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Lãs e Linhas

                                      

Arrumava algumas coisas e no meio delas encontro as agulhas e linhas de crochê de minha avó Mãevelha.
Encontrei também a tesoura dela e as escovas de roupa dos meus avôs José e Paipreto.
Saudades.
Decidi fazer crochê; não sei fazer muita coisa, só o básico, mas isso me fez bem.
O problema é convencer os gatos a não brincar com a linha e os novelos. Difícil.
Estou meio cansada e dolorida e os ossos parecem enferrujados.
Amanhã é outro dia e será melhor.
É isso.


                                     

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

As sacolinhas e as bolachas de Mãevelha

                                           


Minha avó Mãevelha sentava-se em sua cama cercada de lãs, agulhas de crochê, de costura e de muitas sacolinhas plásticas cheias de bugigangas, botões, remédios e bolachas.
As sacolinhas com bolachas eram cuidadosamente surrupiadas por nós quando Mãevelha dormia. O problema era que nossa avó tinha o sono muito leve e nos dava um trabalhão danado praticar o doce furto.
Procurávamos fazer o mínimo de barulho, mas o som das sacolinhas plásticas sendo mexidas acordava Mãevelha e dizíamos para ela que estávamos só tirando os gatos de sua cama que era para ela dormir melhor.
Ela dizia: "Sim, tô sabendo".
Mãevelha sentava-se na cama com um leve cobertor em suas pernas, pegava suas linhas e agulhas para fazer crochê e os gatos corriam a brincar com o novelo. Ela ficava brava com os gatos e dizia: "Vem cá menino. Vem pegar minha linha, vem. Mas será Deus impussivi? Esses gatos não estão vendo que eu estou usando a linha? Mas que gatos mais ateimoso!"
Papai ria com as reclamações de Mãevelha e dizia: "Mas Bastião, tu quer que os gatos tenham saber?"
Papai chamava Mãevelha de Bastião. Não sei explicar o porquê; são coisas da minha família maluquetes.
Passado algum tempo, os gatos e Mãevelha faziam as pazes e todos dormiam cercados por linhas, lãs e as sacolinhas plásticas. 
Tinha de tudo nessas sacolinhas; de botão e agulhas a remédios, de fotografias a bolachas. E bolacha era o que mais nos interessava.
Muitas vezes, após o jantar, batia aquela vontade de tomar um chazinho com bolacha, mas nós não queríamos as bolachas que estavam guardadas nas latas de mantimentos em cima do armário da cozinha; queríamos as bolachas que estavam nas sacolinhas de Mãevelha. Eram muito mais gostosas!
Esperávamos Mãevelha adormecer para atacar suas sacolas. O chá já estava pronto.
Arquitetávamos cuidadosamente nosso plano de ataque: Rogério e eu vigiávamos o sono de Mãevelha e quando ela finalmente adormecia, Rose e Naldão entravam em ação. Eles sabiam onde procurar.
Quando ela percebia o movimento e resmungava alguma coisa, dizíamos: "É o gato, Mãevelha. Sai daí, gato danado!".
Mamãe nos dava bronca e dizia para pegar as bolachas da lata de mantimentos e não as de nossa avó.
Mas as bolachas de Mãevelha eram mais gostosas.


                                           

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Picolé

                                         


Era inverno em São Paulo; fazia muito frio.
Mãevelha agasalhava-se bem: longas meias de lã, casacos e um pesado cobertor.
Mas dali a pouco Mãevelha tirava as meias; dizia que esquentava muito e fazia coçar as pernas e os pés. Mamãe também era assim.
Os gatos deitavam-se ao pés de Mãevelha, ora dormindo sob o cobertor que cobria os friorentos e doloridos joelhos de minha avó, ora brincando com os novelos de linha.
Numa noite muito fria Mãevelha está fazendo seu crochê quando um vizinho vai à nossa casa e repara no modelito dela: meias brancas, casaco vermelho, vestido estampado com florzinhas coloridas e o cobertor azul sobre os joelhos.
Como pode-se ver, minha avó era avessa às cores sombrias do inverno, gostava das cores fortes e vibrantes.
O vizinho reparando no colorido modelito de Mãevelha tentar fazer graça: "A senhora está bem agasalhada para o frio, não é Dona Maria?"
Nós rimos, entendendo o comentário do vizinho reparador de modelitos de velhinhas inocentes e friorentas.
Mãevelha não deu muita importância e disse: "Pois é, meu filho, num frio desse a pessoa carece de se agasalhar bem,  se não vira picoléu".
Nós rimos e corrigimos nossa avó: "Não é picoléu, Mãevelha. É picolé".
"E então, esses meninos, não foi o que eu disse? Num frio desse a pessoa vira picoléu".