quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Picolé

                                         


Era inverno em São Paulo; fazia muito frio.
Mãevelha agasalhava-se bem: longas meias de lã, casacos e um pesado cobertor.
Mas dali a pouco Mãevelha tirava as meias; dizia que esquentava muito e fazia coçar as pernas e os pés. Mamãe também era assim.
Os gatos deitavam-se ao pés de Mãevelha, ora dormindo sob o cobertor que cobria os friorentos e doloridos joelhos de minha avó, ora brincando com os novelos de linha.
Numa noite muito fria Mãevelha está fazendo seu crochê quando um vizinho vai à nossa casa e repara no modelito dela: meias brancas, casaco vermelho, vestido estampado com florzinhas coloridas e o cobertor azul sobre os joelhos.
Como pode-se ver, minha avó era avessa às cores sombrias do inverno, gostava das cores fortes e vibrantes.
O vizinho reparando no colorido modelito de Mãevelha tentar fazer graça: "A senhora está bem agasalhada para o frio, não é Dona Maria?"
Nós rimos, entendendo o comentário do vizinho reparador de modelitos de velhinhas inocentes e friorentas.
Mãevelha não deu muita importância e disse: "Pois é, meu filho, num frio desse a pessoa carece de se agasalhar bem,  se não vira picoléu".
Nós rimos e corrigimos nossa avó: "Não é picoléu, Mãevelha. É picolé".
"E então, esses meninos, não foi o que eu disse? Num frio desse a pessoa vira picoléu".


                                               

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