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terça-feira, 17 de julho de 2012

Sabores

                                           


Adoro caldo de cana e pastel. E apreciados na feira mesmo, ao fim das compras e com uma mão revesando entre o copo de caldo de cana e o pastel e a outra segurando o carrinho de feira.
Um deliciosos malabarismo.
O sábado era o dia mais esperado da semana; era dia de feira. Íamos com mamãe para ajudá-la a carregar as pesadas sacolas e a puxar o pesado carrinho; mamãe era exagerada.
Mas íamos também com segundas intenções: pastel e caldo de cana.
Mamãe sempre deixava um trocado para satisfazer nossa gula, mas às vezes não dava.
Lembro de uma vez que mamãe não se preparou para ir à feira, não pegou as sacolas e o carrinho; estranhamos. 
Mamãe tinha o olhar triste e preocupado. Nós também.
Mas mamãe conseguiu um dinheiro emprestado com alguma vizinha e me mandou à feira. Era pouco dinheiro, por isso fui só e com uma sacola. Comprei o básico de sempre quando a situação era difícil: batata inglesa, laranja, banana e tomate; se sobrasse, comprava aqueles pacotinhos de legumes que são vendidos por um preço menor.
Eu fui, mas fui acompanhada de uma tristeza tão absurda.
Bom...
Mas eu falava sobre sabores.
Parece que o sabor do caldo de cana e do pastel não é o mesmo de outrora. Parece que antes tudo era mais gostoso. Agora inventaram de adicionar suco de outras frutas ao caldo e isso o descaracteriza, penso eu. E eu quero tomar é caldo de cana e não suco de frutas! Sou meio "inguinórante" às vezes.
A maria mole também não tem o mesmo sabor forte de coco que tinha quando mamãe comprava aqueles pedações enormes e comíamos com café.
Os danones (iogurtes) de morango eram mais azedinhos e saborosos, as goiabadas em lata, os doces e até os bolos de aniversário eram mais gostosos.
Comentei sobre isso com algumas pessoas e elas concordaram comigo. 
Deve ser o excesso de conservante, acidulante, corante e outros "antes" que roubam o sabor original das coisas.
Estou meio nostálgica hoje e com vontade de comer um docinho.
E por falar em docinho, lembrei de um causo: Era a festinha de aniversário de Beatriz e os convites eram entregues. Comentei com minhas irmãs Rosi e Renata que dois conhecidos nossos, belos representantes da ala masculina, disseram que iriam à festa para comer um docinho e uma coisinha. Beleza.
Renata diz: "Então vou colocar uma faixa com os dizeres 'docinho' e você coloca uma com 'coisinha".
É isso.


                                      

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Antenada

Li um e-mail da Silvia onde falava sobre sacolas plásticas e reciclagem e lembrei que muito antes disso tudo virar moda, mamãe já reciclava, reutilizava, reusava...
Acho que já falei sobre mamãe e a reciclagem, mas a lembrança de minha mãe me conforta em dias cinzas. (está sol, mas o cinza é só metafisicamente falando...meio Kafka...entendeu?)
Bom...
Mamãe era antenada e cool para sua época.


                                              



sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

As sacolinhas e as bolachas de Mãevelha

                                           


Minha avó Mãevelha sentava-se em sua cama cercada de lãs, agulhas de crochê, de costura e de muitas sacolinhas plásticas cheias de bugigangas, botões, remédios e bolachas.
As sacolinhas com bolachas eram cuidadosamente surrupiadas por nós quando Mãevelha dormia. O problema era que nossa avó tinha o sono muito leve e nos dava um trabalhão danado praticar o doce furto.
Procurávamos fazer o mínimo de barulho, mas o som das sacolinhas plásticas sendo mexidas acordava Mãevelha e dizíamos para ela que estávamos só tirando os gatos de sua cama que era para ela dormir melhor.
Ela dizia: "Sim, tô sabendo".
Mãevelha sentava-se na cama com um leve cobertor em suas pernas, pegava suas linhas e agulhas para fazer crochê e os gatos corriam a brincar com o novelo. Ela ficava brava com os gatos e dizia: "Vem cá menino. Vem pegar minha linha, vem. Mas será Deus impussivi? Esses gatos não estão vendo que eu estou usando a linha? Mas que gatos mais ateimoso!"
Papai ria com as reclamações de Mãevelha e dizia: "Mas Bastião, tu quer que os gatos tenham saber?"
Papai chamava Mãevelha de Bastião. Não sei explicar o porquê; são coisas da minha família maluquetes.
Passado algum tempo, os gatos e Mãevelha faziam as pazes e todos dormiam cercados por linhas, lãs e as sacolinhas plásticas. 
Tinha de tudo nessas sacolinhas; de botão e agulhas a remédios, de fotografias a bolachas. E bolacha era o que mais nos interessava.
Muitas vezes, após o jantar, batia aquela vontade de tomar um chazinho com bolacha, mas nós não queríamos as bolachas que estavam guardadas nas latas de mantimentos em cima do armário da cozinha; queríamos as bolachas que estavam nas sacolinhas de Mãevelha. Eram muito mais gostosas!
Esperávamos Mãevelha adormecer para atacar suas sacolas. O chá já estava pronto.
Arquitetávamos cuidadosamente nosso plano de ataque: Rogério e eu vigiávamos o sono de Mãevelha e quando ela finalmente adormecia, Rose e Naldão entravam em ação. Eles sabiam onde procurar.
Quando ela percebia o movimento e resmungava alguma coisa, dizíamos: "É o gato, Mãevelha. Sai daí, gato danado!".
Mamãe nos dava bronca e dizia para pegar as bolachas da lata de mantimentos e não as de nossa avó.
Mas as bolachas de Mãevelha eram mais gostosas.