terça-feira, 24 de março de 2015

Analogia

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Fui ao consultório do cirurgião de coluna e fui de táxi, se sabe.
Geralmente o taxista me espera, mas hoje ele estava com muitas corridas agendadas e disse: "Não vou poder esperar a senhora terminar a consulta hoje porque também vou levar a outra 'véinha' ao médico. Tudo bem?"
Sim. Mas... Outra "véinha", pensei comigo. Acho que ele quis dizer outra cliente e que, por acaso, é uma velhinha.
Bom...
Levei radiografias e o exame de eletroneuromiografia para o médico e o diagnóstico foi: coluna doente e cirurgia. Tirar parafusos, colocar alguns mais para cima e consertar o restante da coluna que ainda está sem parafuso.
"Você tem um coluna doente".
Fiz a cirurgia de artrodese em 2009 e fiquei bem por uns três anos. Comecei a sentir dores e os velhos sintomas de antes por volta de 2012, mas fui levando com remédios e alguma fisioterapia. Segundo semestre de 2014 e tudo começou a piorar ainda mais: dores mais fortes, entrevamento, pernas fracas e outros problemas.
Tudo começou a piorar após a Copa do Mundo; dever ser trauma do 7x1 da Alemanha em nós, disse minha irmã Rosi. Eu andava com bengala, mas agora uso o andador; a bengala não dá mais apoio.
Voltava para casa com outro taxista e ele perguntou se eu queria ir pela Radial Leste ou a Marginal Tietê: "Onde estiver menos pior". Em São Paulo é assim, trânsito difícil.
O taxista fez perguntas e disse que a esposa também é professora e falamos sobre vários assuntos. O simpático condutor disse que Deus coloca obstáculos em nossas vidas para ver como reagimos: encaramos, fugimos, cruzamos os braços, choramos e nos fazemos de vítimas, enveredamos por caminhos errados... Depende de cada um, da força espiritual, do caráter e da fé de cada um.
Deus deve gostar de mim e deve gostar mais ainda de me dar batalhas para lutar. Mais uma. Ele deve gostar de guerreiros e guerreiras arretadas. Deve ser isso.
Fiz uma analogia: O Inferno é exatamente o oposto daquilo que gostamos de ser/ter/fazer. Veja bem: Lúcifer, o belíssimo anjo cujo nome significa "aquele que carrega a luz", foi expulso dos Céus e condenado a viver nas trevas, oposto da luz. Certo?
Um ser belíssimo que carregava a luz é condenado a viver na escuridão; entenderam a analogia e o paradoxo? Isso é Inferno: o oposto, o contrário.
Cada um com sua fé e eu fiz apenas uma analogia que combina bem com o momento e a situação que vivo e tenho vivido nesses anos que passaram.
Eu adorava caminhar todos os dias aos fins de tarde; hoje não posso mais.
Eu adorava dirigir sem destino, "pegar a estrada" e parar quando desse vontade; hoje não dirijo mais. Por enquanto.
Eu adorava lecionar, adorava meus alunos, minha escola, mas hoje estou afastada por conta de uma coluna doente.
São os opostos, os contrários. Tudo o que fazia e gostava de fazer antes já não posso mais fazer hoje. Isso é Inferno.
Mas esses opostos são temporários e eu vou voltar a andar com pernas fortes, mesmo com a coluna cheia de parafusos, mais parafusos.  Mesmo que trave a porta giratória do banco e tenha que responder à singela questão do segurança: "A senhora está carregando algum metal?"
Titânio é metal, né?
Voltei para casa cansada e dei uma cochilada no sofá. Levantei depois e fiz café, tomei com bolacha "cremi cráqui" (cream cracker).
Eu molhava as bolachas no "xicrão" de café de meu avô João Gomes, meu querido Paipreto; era tão bom.
Tenho em mim e carrego essas memórias e lembranças de uma infância curtíssima, mas tão intensa. Tanto amor, tanta proteção, tanto bem querer.
São bálsamos que aliviam as feridas d'alma. 
Às vezes dá vontade de chorar, de se revoltar com toda essa situação. Por que eu? 
Volto-me para as boas memórias: café com bolacha "cremi cráqui" é uma delas. Bolo de araruta com cajuína, farofa de ovo, tomate com açúcar...
É isso.



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