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terça-feira, 30 de julho de 2013

Calçada

                                  


Levantei cedo para aproveitar o sol. Lavei lençóis e edredons.
Sentei-me na cadeira que fica no quintal e de lá observei a tarde, minhas plantas e meus gatos. Lindos.
Alimentei meus felinos famintos com ração molhada, a favorita deles.
Cansei.
Estou igual ao Rubinho Barrichello quando corria na Fórmula 1, começo com um arranque que benza Deus, mas depois acaba tudo.
Deitei-me no sofá e adormeci.
Sonhei com papai e ele entrava aqui em casa e fazia comentários sobre minhas plantas e sobre o relógio de luz (medidor de energia).
Papai depois sentava-se na calçada; fazia uma belíssima tarde de sol. Era hora do crepúsculo, do ocaso, do fim da tarde e ficava aquela luminosidade bonita que nem é dia de tudo e nem noite ainda. Lindo.
Eu caminhava segurando a mão de um menino e precisava levá-lo de volta para casa. O céu estava tão bonito, coalhado de estrelas, como dizia mamãe.
De repente me encontro em um aeroporto e tudo está parado porque há suspeitas de um maluco que lançara um vírus mortal; eu hein.
Todos correm por um porta e nos encontramos todos em um hospital. Sou chamada e uma enfermeira anota minhas informações. Ihhhhhh... Tô gostando disso não!
Estou na minha escola que um dia foi tão bonita e hoje parece mais uma prisão; cercada de grades horrendas por todos os lados.
Subo as escadas apressadamente e converso com uma pessoa enquanto seguro a mão do menino. Faço perguntas rápidas e tenho pressa, preciso levar o menino de volta para o lugar de onde o peguei.
Questiono essa pessoa e faço perguntas de ordem filosóficas, religiosas, sobre a vida, o mundo...
Se o menino é meu, por que não posso ficar com ele? Por que tenho que devolvê-lo? Se ele nunca veio a esse mundo, por que cresce como um menino normal? O que posso fazer para deixá-lo feliz e fazê-lo sorrir? Ele tem olhos tão tristes.
Estou em uma casa diferente, bonita, mas estranha. A sala é grande e mobiliada com móveis clássicos, mas tem uma pia de cozinha no canto da parede. Que lugar mais estranho para se colocar uma pia de cozinha!
Acordo com o centrifugar da máquina de lavar. 
Vou ao quintal e estendo as roupas nos varais remendados. 
Preciso comprar novos varais.
É isso.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Toque

Meu jardim
                                            


Meus gatos têm fixação por água.
Sobem no tanque e ficam longos minutos a observar a água que sai da mangueira da máquina de lavar e escorre pelo ralo.
Quando lavo o quintal, é a mesma coisa; ficam olhando a correnteza formada pela água que escorre das plantas.
Léo Caramelo e Ébano Nêgo Lindo tentam pegar a água com suas patinhas fofas. Já falei para eles que não dá para pegar água, ela escorre.
Termino minhas tarefas e sento próximo à porta e observo meu quintal com minhas plantas cada vez mais bonitas e viçosas; a luz do sol e depois o ocaso deixam a tarde mais bonita.
A noite vem e é hora do leitinho morno de Ébano. Ele me segue pela casa, fica se esfregando em minhas pernas quando estou à pia da cozinha. Pergunto: "Você quer seu leitinho, é meu Nêgo Lindo?". Ele me olha com seus lindos olhos cor de mel e eu dou-lhe o leite morno e gostoso. Já tentei dar a ele leite de soja e de baixa lactose, mas não gostou. Ninguém gostou.
Cansaço.
Vou para a cama, estou muito cansada do meu "pra lá e pra cá" do dia a dia do cotidiano diário (!). Lembrei-me da conversa que ouvi de alguém aconselhando o amigo que estava com uma tosse braba: "Olhe, tu tem que tomar esse remédio todo dia diariamente, visse? Aí tu fica bom".
Insônia.
Insônia somada aos fogos pela vitória do Palmeiras, campeão brasileiro.
Leio. Concluo a leitura de Fahrenheit 451. 
Penso em ligar a TV, mas nesse horário não tem nada que preste: canais religiosos, canais de vendas de produtos e serviços, filmes chatos, e programação chata.
Vou até a cozinha e tomo suco de maracujá. São três e meia da manhã. Adormeço, graças a Deus.
Acordo com as vozes dos garis que varrem a rua.
Tento me mexer na cama mas fica difícil: a gataiada em volta, em cima de mim, na minha cabeça.
Morena Rosa encosta seu queixo quadrado em meu rosto, Ébano Nêgo Lindo coloca a patinha em minha mão, Léo Caramelo esfrega sua cabeça de leãozinho e abaixa para que eu a beije; Aurora encostada em mim, Alice em cima de mim e Branca me olhando com seus olhos coloridos, um de cada cor.
Todos me tocam e eu retribuo o amor, a confiança e o carinho deles com mais carinho.
A bicharada me faz muito bem. 
As pessoas não entendem.
Estou melhor, mas com muita dor ainda. E não apenas dores físicas, mas para estas têm remédios.
É isso.
Lá vou eu esperar um mês e meio para uma consulta com o médico.
Lá vou eu bater os quatro cantos de São Paulo; talvez só bata dois cantos, estou meio a pulso, como dizia papai.
Vou ficar bem.


Léo Caramelo, meu leãozinho
                                          

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Ocaso

                                              
Deveria ter ido à Farmácia Alto Custo e ao consultório para iniciar o tratamento da artrose no joelho direito. Não fui.
A Marginal Tietê congestionada e a previsão de chuva forte para o final da tarde me detiveram de minha missão. 
O céu estava escuro, nuvens carregadas, dava até um medinho.
Liguei para o consultório e remarquei para semana que vem e num horário mais cedo do que o estava previamente agendado.
Final de ano em São Paulo acelera e complica o trânsito e a vida do paulistano.
As distâncias a percorrer não são longas, o problema é o trânsito mesmo. As desculpas são as mesmas: excesso de veículos. E todo santo dia tem um caminhão quebrado ou um motoboy machucado. Ou até mais que isso.
Imprudência, arrogância e falta de educação das pessoas no trânsito e nas ruas relações humanas. Às vezes acho que estamos nos transformando em animais irracionais (somos os ditos racionais) que passa por cima do que e de quem estiver na sua frente para poder garantir seu espaço e território.
Bom...
Não fui e aproveitei para ficar em casa e descansar, "aquetar o facho", como dizíamos e ainda dizemos. Deite-me no sofá e assisti a um capítulo de uma série sobre a cantora lírica Maria Callas (1923-1977) e seu tempestuoso romance com Aristóles Onassis (1906-1975).
E o tempo passa, a moda muda, a tecnologia, a medicina...mas as pessoas são sempre as mesmas. Umas se apaixonam perdidamente, outras brincam com os sentimentos daquelas que lhe devotam paixão e amor desmedidos. A manipulação, a humilhação, o desrespeito e até mesmo uma certa maldade de pessoas apaixonantes para com seus apaixonados.
Paixão é sofrimento, sabia? Vide a Paixão de Cristo. Acho que como paixão é sofrimento é por isso que as pessoas apaixonadas sofrem tanto. Jesus!
O homem, sempre o homem machista, garanhão, e pegador.
Se for uma mulher com esse mesmo comportamento, aí ela recebe outros adjetivos qualitativos negativos. Belas palavras para as quais as mesmas ações têm significados diferentes de acordo com o sexo do sujeito principal.
Vixe! Viajei.
Mas...
Acabou o filme e me levanto para atender ao chamado dos meus gatos. Vou ao quintal e me  chama a atenção uma luminosidade dourada e bela. É o ocaso. 
Seguro o pote de ração enquanto aprecio e me encanto com esse belo espetáculo da Natureza. Mas meus gatos não têm muita veia poética quando estão com fome.
Alimento meus felino mimados, famintos e terríveis e volto a apreciar o ocaso.
Curiosamente, a palavra ocaso tem dois significados que se entrelaçam com o meu fim de tarde: por do Sol; decadência de um império.
Eu prefiro a beleza do ocaso.