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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Assim Assim

                                

Estava pensando de mim para comigo mesma, será que só eu sou assim ou tem mais gente igual?
Que pensa igual, que sente igual...
Folheava meus preciosos livros e encontro respostas nas palavras de Kafka, Fernando Pessoa, Goethe, Nietzsche...
Os medos, angústias, a solidão, o sentir-se só em meio à multidão, o sentir-se esquecido, abandonado por aqueles para quem um dia fomos muito úteis.
Não importam as épocas, somos todos humanos. E com nossa humanidade carregamos nosso preconceito, medos, temores, tacanheza, crueldade, falsidade; carregamos coisas boas e ruins.
Sei lá, ando meio assim assim ultimamente, seja lá o que isso significa.
Tive um manhã tranquila, graças a Deus. Sem campainha, sem telefone, sem barulho, sem encheção de saco, sem música dos vizinhos. 
Os gatos espalhados pela casa, Aurora e Branca deitadas ao meu lado.
Paz.
Ontem tive um dia estressado. 








quarta-feira, 27 de junho de 2012

Papai

                                                 


Papai orgulhava-se de ser pernambucano, palmeirense e macho. Exatamente nessa ordem.
Papai foi um homem bonito: cabelos escuros, pele clara e olhos verdes agateados. Papai era o Tom Cruise do Nordeste.
Papai era muito trabalhador, honesto, "inguinórante", teimoso, manhoso, cabra da peste.
Papai não era muito empreendedor, não era forte; dava um passo à frente dois para trás.
Mamãe era forte, titânica e empurrava papai para a frente.
Papai trabalhava duramente, levantava cedo, chegava sempre antes do horário, não gostava de chegar atrasado. Papai era agoniado e avexado, como dizia mamãe.
Papai era meio Gregor Samsa, personagem de Kafka no livro "A Metamorfose". Só trabalho, honestidade, cumprir horários, obedecer.
Papai nunca faltava ao trabalho, mesmo doente.
Papai temia deixar faltar o "de comer" em casa. Papai temia que os filhos passassem fome.
Uma vez papai ficou alguns dias em casa e eu estranhei ver meu pai tão trabalhador ali, dentro de casa. 
Papai tinha muitas dores de cabeça. Papai foi ao médico, depois ao hospital e finalmente voltou para ficar alguns dias em casa para se recuperar e só então voltar ao trabalho. Papai trabalhava na Moóca, na Rua Taquari.
Papai havia feito uma pequena cirurgia na cabeça; foi para remover um tumor que se formara entre o cérebro e o crânio. Papai tinha um curativo em sua cabeça e o esparadrapo branco parecia um laço de fita que combinava com a calça social e com a camisa rosa clarinha. A moda do jeans ainda não era tão forte naquela época.
Papai agachado segurando uma toalha sobre a perna de Mãevelha. 
Mãevelha com uma veia estourada a sangrar através da pele fininha que se rasgara ao raspar na porta do banheiro.
Sangue.
Sangue na perna de minha avó e o curativo na cabeça do meu pai.
O vizinho vem ajudar e leva papai e Mãevelha à farmácia; voltam os dois com curativos limpos e novos.
Papai volta a trabalhar. Papai usa chapéu para proteger a cabeça do sereno e da friagem que "ofendiam" ainda mais suas dores de cabeça".
Papai não tinha culpa de ser fraco e medroso, papai fora criado sem mãe e por muitas madrastas que iam e vinham. Deixavam filhos e levavam pedaços de terra do meu avô José, que era homem de posses para a época.
Avó Mariana fora embora muito cedo e deixou papai pequeno, como apenas cinco anos.
Avô José, moreno bugre de belos e tristes olhos verdes era ainda jovem, bonitão e sedutor e encontrava facilmente pretendentes que muito queriam saber de seus bens e pouco queriam saber de seus filhos e dele mesmo.
Foram criados um cuidando do outro.
Hoje sonhei com papai e ele conversava e sorria. De repente alguém diz que papai morreu. Como?! Papai já morreu! São quase dois anos! Oxe!
Uma dor e uma tristeza imensa me invadem; acordei chorando.
Saudades.
Meu Deus, que papai e mamãe tenham paz, saúde, alegria e sossego; já trabalharam e sofreram demais quando estavam por aqui.
Acredito que papai estava em tratamento e agora que está melhor, passou para um outro lugar mais elevado. Papai estava tão fraquinho quando foi embora.
Meu Deus, olhai por nós. Olhai por papai, mamãe e por todos nós aqui.
Que sejamos felizes, que tenhamos paz, saúde, alegria.
Amém.


                                    

terça-feira, 12 de junho de 2012

Obrigações

                                           


Mamãe dizia: "Primeiro as obrigações e depois as devoções"
Organizar, cumprir, realizar, fazer... Parece que um peso enorme é tirado de nossos ombros quando finalmente resolvemos um problema. 
Existem serviços "mudérnos" por telefone e Internet, mas tem coisa que só se resolve com o "olho no olho".
Sou meio antiquada em certas coisas.
Fui ao banco onde tenho minha rica conta salário e fiz atualizações cadastrais, troquei senhas e resolvi outras pequenas pendengas. Fiz as mesmas perguntas que havia feito alguns anos atrás à simpática funcionária, que me garantiu que tudo estava na mais perfeita ordem. Mas não estava. Não sei que raios ela fez ou deixou de fazer, mas as correspondências continuavam indo para o endereço antigo, mas a fia duma égua manca jurou que tinha arrumado tudo.
O banco fica na Rua Clélia, Vila Romana, e não é tão longe, mas o que atrapalha é o trânsito caótico de São Paulo. Saí numa ponte antes, tive que retornar, subi outra ponte e no fim dos erros, acertei o caminho e cheguei a tempo para cumprir minha missão.
Amanhã têm mais missões possíveis.
Estou cansada, moída, como diz meu cunhado Pepê. Dirigi pela Marginal Tietê, fui à Zona Oeste e Zona Leste e finalmente voltei para casa na Zona Norte. Ufa!
Tomei um banho quentinho, relaxei.
A gataiada me espera para irmos para a cama; acho que nem vou conseguir assistir "A Liga" e nem ler "O Processo" de Kafka.
É isso.
Bons sonhos a todos.


Franz Kafka
                                     



quinta-feira, 31 de maio de 2012

Escrever

                                     


Acho que sou melhor com palavras escritas do que com palavras ditas.
Ter que se explicar, tentar fazer o outro entender o que se quis dizer, geralmente surgem mal entendidos.
Sempre adorei ler, escrever, conhecer, saber, descobrir...
Queria muito contar para alguém meu novo aprendizado, minha nova descoberta, minha opinião.
Quando estava na escola prestava atenção a cada detalhe da aula e não via a hora de voltar para casa e contar tudo à mamãe. Mas ela estava sempre muito ocupada com aquela eterna montanha de roupa para lavar, os ouvidos ligados ao rádio e a mente a viajar por algum lugar de paz, conforto, felicidade.
Cresci e continuei faminta por conhecimento, é como se meu cérebro fosse dependente e entrasse em crise ao sentir-se vazio.
Aos quatorze anos já conhecia Kafka, Nietzsche, Goethe, Fernando Pessoa, Clarice Lispector, Oscar Wilde, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Lima Barreto, Machado de Assis, Rachel de Queiroz e tantas outras mente brilhantes da literatura brasileira e mundial.
Era nos livros que eu fugia do meu mundo de dor, críticas, culpa...
Lia escondido, era muito criticada por perder tempo com livros em vez de cuidar da casa e dos irmãos menores.
Como dizia mamãe: "Mateo que pariu, Mateo que balance", mas não era bem assim. Mamãe paria, e eu balançava.
Bom...
Sempre fui de poucos porém bons amigos. Não sou afeita à amizades excessivamente grudentas. Me chamam de anti-social, mas não sou, apenas gosto do meu espaço e detesto exageros.
Às vezes sinto uma vontade tremenda de falar sobre um livro que acabei de ler, um filme ou programa que vi, qualquer coisa... 
Tenho receio de passar a imagem errada, de ser julgada arrogante, metida, mas não sou.
Sou mal interpretada, sempre fui.
Escrever é melhor.
Clarice Lispector disse: "Eu não escrevo aquilo que quero, eu escrevo aquilo que sou".
Cazuza disse: "Escrevo para não falar sozinho".
Faço dessas minhas palavras.
É isso.


                                

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Antenada

Li um e-mail da Silvia onde falava sobre sacolas plásticas e reciclagem e lembrei que muito antes disso tudo virar moda, mamãe já reciclava, reutilizava, reusava...
Acho que já falei sobre mamãe e a reciclagem, mas a lembrança de minha mãe me conforta em dias cinzas. (está sol, mas o cinza é só metafisicamente falando...meio Kafka...entendeu?)
Bom...
Mamãe era antenada e cool para sua época.


                                              



terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Tia Dolores

                                                




Tia Dolores é irmã de mamãe e ao contrário de tia Antonia, é bastante despachada, engraçada e faladeira.
Tia Antonia é tímida, mais calada e conservadora.
Tia Dolores e tia Antonia moram em Buíque, Pernambuco.
Mamãe adorava viajar e sempre que possível, íamos juntos com ela.
Não tinha época certa para viajar; se fosse no meio do ano pegaríamos chuva, friozinho e névoa em Buíque, que fica a aproximadamente 800 metros acima do nível do mar. Se fossemos em dezembro, enfrentaríamos um calorão danado de grande. Ave Maria!
Além do calor tínhamos que encarar as muriçocas (pernilongos) e baratas enormes.
As baratas pernambucanas parecem ter o dobro do tamanho das baratas paulistanas. Fiquei espantada, assustada e com nojo desse inseto kafkaniano (Kafka nunca disse que o inseto no qual transformara-se Gregor Samsa [metafisicamente] era uma barata, no livro "A Metamorfose"). Beleza.
Tia Dolores percebe que me espantei com o tamanho da barata e diz, para me assustar mais ainda: "É, minha filha. As baratas daqui são bem grandes, visse? Elas até usam óculos!".
"Óculos, tia?! Oxe!".
"Arrepare o tamanho dos zóio delas. Não parece óculos?"
"Vixe. É mesmo tia. Que nojo!".
A tia continua no assunto insetívoro e me pergunta: "E lá em Sum Paulo tem muita muriçoca?"
"Tem sim, tia".
"E como é que vocês chamam as muriçocas de lá?"
"É pernilongo, tia"
"Pois aqui elas vêm sem a gente chamar".
A tia é muito engraçada e maluquetes.


 


                      

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Cigarro

                                                                                 


Fui ao hospital para fazer alguns exames e enquanto aguardo leio "Ecce Homo" de Nietzsche.
Adoro Nietzsche. A literatura germânica é minha favorita. Muito densa, tensa, sofrida, pesada, forte, humana, demasiado humana.
Goethe e Kafka também fazem parte de meus favoritos. Kafka era tcheco, mas escrevia em alemão, por isso faz parte da literatura germânica. 
Recomendo "A Metamorfose", "Carta ao pai" ( encontro muita coisa de meu próprio pai nesse livro. É o drama kafkaniano).
De Goethe recomendo "Fausto" e "Werther". "Fausto" é denso e tenso e me comove a situação de Mefistófeles; mesmo tendo seus poderes demoníacos sofre com sua própria imperfeição física.
Maravilhosa literatura.
Mas....
Ah, sim. Falava sobre outra coisa.
É isso, começo a falar sobre livros e se deixar não paro mais. É meu vício e minha paixão (juntamente com minha família e o Corinthians, claro).
Sim...
Aguardo na sala de espera, leio meu livro, sou atendida, saio e caminho pela calçada. Necessariamente nessa ordem.
Era hora do intervalo para alguns funcionários do hospital e vejo muita gente uniformizada saindo pra lá e pra cá e indo em direção às padarias e botecos da região. Hora do café.
Observo um grupo de mulheres que pelo tipo de uniforme deveriam trabalhar na cozinha do hospital. Me chama a atenção uma delas; grávida. Me chama ainda mais atenção o fato de essa grávida segurar um cigarro entre os dedos e dar longas tragadas, como se saboreasse um acepipe.
Fiquei horrorizada. Como pode alguém fumar? Nada contra, cada um cada um, mas não entendo como uma pessoa pode dizer que o cigarro tem sabor. Sabor do quê? De mato queimado?
Lembro dos comerciais antigos de cigarro e muitos deles associavam imagens de esportes radicais ao sabor do cigarro e ao prazer de fumar. Esporte é saúde, cigarro não!
Desculpem-me os fumantes. Até entendo e respeito o vício, pois eu também tenho meus vícios e não gosto quando alguém os critica (gatos, livros, cerimoniosa e outras coisas que é melhor não comentar).
Então. 
Mas acho que todo mundo concorda comigo quando o assunto é grávida fumante. Vejo pelo lado da criança que é um feto ainda. Imagino os malefícios do cigarro à saúde desse bebê ainda em formação na barriga dessa mãe desnaturada!
Os riscos de nascer prematuro, ficar um tempo na U.T.I. Neonatal, baixo peso, baixa imunidade e tantos outros problemas que poderiam ser evitados se a mãe deixasse de levar o cigarro à boca e em vez disso levasse alimentos saudáveis. Que tal? Seria bom para ela mesma e para o bebê.
Mas tem gente que não pensa. Mas deveria.