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sábado, 24 de novembro de 2012

Bonita

                            

Beatriz, minha linda, terrível e galega sobrinha vai à feira de sábado com os pais e por onde passa, chama a atenção.
Beatriz é linda, inteligente, graciosa e articulada e muito esperta para a idade.
Rosi, minha irmã e mãe de Beatriz comenta: "Quando vamos à feira, Bibizinha volta 'almoçada', em cada barraca que passa ela ganha frutas dos feirantes".
Beatriz, que a tudo ouve, diz: "Acho que é porque eu sou bonita".


                                      


                                      

domingo, 2 de setembro de 2012

Mundiça

                                            

Papai, claro, queria as coisas durassem o máximo possível e ficava muito brabo quando mamãe dizia: "As coisas estão acabando, meu velho, tem que fazer as compras".
Se mamãe falasse que acabou o sabão para lavar roupas ou se a mistura ia ser ovo... Vixe!
Fazíamos as compras e íamos à feira com mamãe e sobre a mesa colocávamos a fruteira carregada com laranjas e bananas, isso no sábado, na terça-feira já não tinha mais nada e papai ficava doido e dava-lhe sermão: "Mas será Deus impussivi?! Já acabou as fruitas que tu comprasse no sábado?! Que povo acanalhado! Amundiçado!"
Mamãe tentava explicar o que papai não queria ver nem entender; a família era grande, os filhos estavam em fase de crescimento e é normal ter um grande apetite, que os "primos" também comiam as frutas....
Os "primos" entre aspas eram rapazes solteiros ou homens casados e pais de família que vinham para São Paulo em busca de trabalho. Esses homens eram conhecidos de algum parente nosso que ficara lá em Pernambuco; bastava dizer que o pai conheceu o avô, da mãe, da tia, da sobrinha, de alguém que conheceu nossos avôs e pronto, era "primo"!
Dizíamos "primos" porque soava menos estranho e evitaria perguntas capciosas, pois era estranho colocar dentro de casa desconhecidos recém chegados de outro lugar que diziam ser parente ou conhecido de algum parente ou conhecido de nossos pais ou avós.
Bom, mas essa fase já passou, graças a Deus.
Eu achava engraçado papai falar "mundiça" e "acanalhado" e tempos depois fui descobrir que "mundiça" significava "imundice" e "acanalhado" significava alguém muito guloso, sem educação, zóião mesmo.
Eu estava em sala de aula e tentava fazer a chamada de quarenta e cinco doces e barulhentos alunos quando um deles diz: "Cala a boca, mundiça! Deixa a professora falar!"
Eu parei para rir e eles adoraram, claro.
É isso.

                                                   

                                      

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Pobre

                                   


Ouvi alguém dizer: "Queria ser pobre só uma vez na vida porque todo dia é dose!".
Achei engraçado e lembrei de nosso tempo de dificuldades e de fartura; fartava tudo.
Não somos ricos, ainda batalhamos, e muito, por nossa sobrevivência digna e honesta.
Nossa vida de pobre nos deixou alguns traumas e algumas cismas que fazem com que evitemos alguns alimentos e produtos usados em épocas de dureza: gelatina, banana, mortadela, sardinha em lata, Spam (uma gororoba rosada que deve ser carne enlatada).
Quando não dava para comprar mistura, papai passava no mercado e trazia duas latas de Spam; mamãe fatiava e fritava, ficava um cheiro horrível impregnado pela casa.
E o gosto nem se fala! 
Minha irmã Rosi não gosta desses produtos e alimentos porque a fazem lembrar das fases difíceis de nossa vida de pobre.
Mamãe não gostava quando dizíamos que éramos pobres, mamãe dizia que éramos ricos dos poderes de Deus e que pobre é o diabo.
Mas não dizíamos isso por soberba, mas era tão doloroso vermos os coleguinhas na feira com suas mães a comprar maçãs, peras, uvas, ameixas, melões e mamãe só comprava laranja e banana. Os coleguinhas levavam suas lindas lancheiras com garrafinha para suco e espaço para sanduíches e frutas. Uma colega levou seu lanche embrulhado em papel alumínio e achei aquilo tão bonito e tão gostoso só de olhar.
As coleguinhas iam para a escola usando jeans USTOP e calçando tênis Daytona ou Bamba; no verão elas usavam sandálias plásticas Melissa. Eu sempre quis ter uma.
Os coleguinhas moravam em casas bonitas com piso, azulejo, grades nas janelas, portões altos, campainha, jardim e nós morávamos na pequena casa de quintal grande.
Os coleguinhas iam para a escola vestidos em uniformes novinhos e levavam todo o material escolar pedido na lista, nós íamos com roupas doadas e com parte do material.
Pode parecer bobagem, mas tudo isso marcou muito nossas vidas.
É isso.

Lancheira
                                   






terça-feira, 17 de julho de 2012

Sabores

                                           


Adoro caldo de cana e pastel. E apreciados na feira mesmo, ao fim das compras e com uma mão revesando entre o copo de caldo de cana e o pastel e a outra segurando o carrinho de feira.
Um deliciosos malabarismo.
O sábado era o dia mais esperado da semana; era dia de feira. Íamos com mamãe para ajudá-la a carregar as pesadas sacolas e a puxar o pesado carrinho; mamãe era exagerada.
Mas íamos também com segundas intenções: pastel e caldo de cana.
Mamãe sempre deixava um trocado para satisfazer nossa gula, mas às vezes não dava.
Lembro de uma vez que mamãe não se preparou para ir à feira, não pegou as sacolas e o carrinho; estranhamos. 
Mamãe tinha o olhar triste e preocupado. Nós também.
Mas mamãe conseguiu um dinheiro emprestado com alguma vizinha e me mandou à feira. Era pouco dinheiro, por isso fui só e com uma sacola. Comprei o básico de sempre quando a situação era difícil: batata inglesa, laranja, banana e tomate; se sobrasse, comprava aqueles pacotinhos de legumes que são vendidos por um preço menor.
Eu fui, mas fui acompanhada de uma tristeza tão absurda.
Bom...
Mas eu falava sobre sabores.
Parece que o sabor do caldo de cana e do pastel não é o mesmo de outrora. Parece que antes tudo era mais gostoso. Agora inventaram de adicionar suco de outras frutas ao caldo e isso o descaracteriza, penso eu. E eu quero tomar é caldo de cana e não suco de frutas! Sou meio "inguinórante" às vezes.
A maria mole também não tem o mesmo sabor forte de coco que tinha quando mamãe comprava aqueles pedações enormes e comíamos com café.
Os danones (iogurtes) de morango eram mais azedinhos e saborosos, as goiabadas em lata, os doces e até os bolos de aniversário eram mais gostosos.
Comentei sobre isso com algumas pessoas e elas concordaram comigo. 
Deve ser o excesso de conservante, acidulante, corante e outros "antes" que roubam o sabor original das coisas.
Estou meio nostálgica hoje e com vontade de comer um docinho.
E por falar em docinho, lembrei de um causo: Era a festinha de aniversário de Beatriz e os convites eram entregues. Comentei com minhas irmãs Rosi e Renata que dois conhecidos nossos, belos representantes da ala masculina, disseram que iriam à festa para comer um docinho e uma coisinha. Beleza.
Renata diz: "Então vou colocar uma faixa com os dizeres 'docinho' e você coloca uma com 'coisinha".
É isso.


                                      

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Galego

Beatriz, galega neta de nordestinos.
                                             


No Nordeste as pessoas loiras, de olhos e pele clara são chamadas de galegas.
Mesmo aquelas que têm cabelo escuro mas que têm pele clara também são chamadas de galegas.
Nas nossa última viagem a Buíque, Pernambuco, saímos papai, eu e Renata pelas ruas da cidade. Era um sábado, dia de feira e já às oito horas da manhã o sol e o calor eram de rachar.
Papai, Renata e eu passamos protetor solar e saímos  paramentados com chapéu, óculos e sombrinha (guarda chuva); chamamos a atenção dos buiquenses. Mas também não era para menos: três branquelos galegos sob sol quente, vestidos como turistas de países frios e papai falando seu português rápido e quase totalmente ininteligível!
As pessoas nos paravam e algumas perguntam: "De que canto do mundo são vocês?".
Ninguém acreditava que éramos brasileiros e nordestinos!
Havia ido à praia da Boa Viagem com minhas primas de Recife e lá chegando fui assediada pelos vendedores de água de coco e toda a parafernália praiana; eles falavam comigo em um portunhol estranho e eu dizia que era pernambucana: "Oxe, é não! Na terra que tu veio não faz sol não, é?".
Faz sim, e muito.


Praia da Boa Viagem. Recife - PE
                                      

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Mamãe e as laranjas

                                            


Mamãe dizia não gostar de frutas. Ela ia à feira e trazia frutas para os filhos e netos.
Chego de viagem em um sábado, dia de feira, e mamãe diz: "Comprei umas frutinhas pra você, filha".
Vou até a cozinha para ver as "frutinhas" que mamãe comprou e me espanto com a quantidade e a variedade: mangas, maçãs, peras, melancia, goiabas, abacaxi, laranjas, bananas...Uma verdadeira cornucópia frutífera.
"Experimenta essas laranjas, estão bem docinhas".
Mamãe pega uma enorme bacia plástica e enche com laranjas; começa a descascar e é cercada pelos filhos e netos. Ela corta as laranjas ao meio e dá uma metade para quem atacar primeiro e chupa a outra.
É um festival cítrico.
Passadas algumas agradáveis horas, papai chega do trabalho e encontra mamãe deitada no sofá, as mãos alisando a barriga e soltado sonoros arrotos. Aos pés dela a enorme bacia plástica cheia de cascas de laranjas.
Papai olha aquele cenário, balança a cabeça e diz: "Mas tu num dissesse que não gosta de fruita, Tita?"  Papai chamava mãe de Tita.
"Mas uma laranjinha faz bem de vez em quando, né Dedé?".


                                                 

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Tabuada

                                            


Aprendia as quatro operações básicas da Matemática: adição, divisão, subtração e multiplicação.
Eu ia bem em quase todas, mas travava na divisão e até hoje tenho dificuldade com divisão, principalmente com mais de dois números na chave. Divisão por unidade vá lá, mas por dezena, centena...vixe!
A professora avisara que teríamos chamada oral na próxima semana e todos deveríamos estudar a tabuada.
Fui à feira com papai e mamãe e compramos a Tabuada na barraca que vendia temperos, consertava panela de pressão e vendia até maria mole!
Era um livretinho impresso em papel muito simples, mas que foi muito importante para meu aprendizado.
Na capa do livretinho vinha escrito "Ensino Prático Para Aprender Aritmética" e eu estranhei aquilo: "Será que aritmética e matemática são a mesma coisa? E se não for? E agora? "
Abri minha tabuada e estudava enquanto andava pela feira com papai e mamãe. Chegamos em casa e pedi para papai cantar a tabuada para mim; ele perguntava quanto era tanto multiplicado por tanto e eu falava o valor. Achei as tabuadas do 2, do 5 e do 10 as mais fáceis e as do 6, 7, 8 e 9 a mais difíceis.
Chegou o dia da chamada oral e eu me saí bem.


                                              
                                                

domingo, 29 de abril de 2012

Faustão

Beatriz tem cinco anos e ainda não entende a relação entre tempo, dias da semana, meses...
Ela sabe que é quinta-feira porque é dia de balé e sexta-feira porque é dia de levar brinquedo na escola.
Sábado é dia feijoada, de lavar roupas, de feira e pastel com caldo de cana.
Domingo é dia de Faustão.
A mãe fala que vai lavar seu uniforme e ela pergunta: "Quando eu vou pra escola, mãe?"
"Segunda-feira".
"Segunda-feira é depois do Faustão?"


                                             

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Igreja Matriz de Gravatá

Igreja Matriz de Gravatá - Pernambuco
                                            
Estava na Igreja Matriz de Gravatá com Mãevelha e Paipreto.
Papai e mamãe estavam fazendo a feira.
Mãevelha assiste à missa com seu véu a cobrir-lhe os cabelos e o rosário em suas mãos branquinhas e enrugadas. Meu Paipreto segura seu chapéu coco junto ao peito.
Rezam, cantam louvores, ouvem o sermão do padre, comungam... A missa continua.
Estou inquieta, olho tudo à volta, observo as pessoas compenetradas, a fé em suas feições.
Mãevelha faz sinal para eu ficar quieta e Paipreto diz que se eu não ficar quietinha, Papai do Céu não vai gostar, vai ficar triste.
Forma-se a fila para receber a hóstia e eu caminho pelo corredor da Igreja segurando nas mãos dos meus avós. Caminhamos lentamente ao encontro do padre que colocará a hóstia na boca dos fiéis. Eu também quero. "Pode não".
Enquanto caminho observo as imagens dos santos, as pinturas, os vitrais.
Olho para trás e vejo um homem de estatura mediana vestido em trajes bem parecidos aos dos santos. Eram tecidos de cores em tons crus e vermelhos. O homem sorria.
Puxo a mão da minha avó e digo: "Mãevelha, aquele homem ali é igual ao santo, a senhora viu?". "Se aquiete, tu vai atrapalhar a missa do padre e o povo da igreja não gosta de menina enxerida não".
Voltamos a nos sentar e a missa estava próxima do fim. 
Mexo e remexo, olho para trás, para os lados e o homem vestido com aqueles panos sorri para mim de novo.
A missa termina e nos preparamos para ir embora. Puxo Mãevelha pela mão e a arrasto até a imagem do homem que havia sorrido para mim e digo: "Olha, Mãevelha, era esse homem que estava sorrindo pra mim".
"Oxe, deixe disso, essa menina. Isso é pecado. Não pode desrespeitar a imagem de Nosso Senhor Jesus Cristo".
Mas eu juro por Deus que Ele sorriu pra mim!


                                         

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Laranja

                                          




Rosi já deu uma "latada" na cabeça de Rogério e despejou a embalagem de talco em Fubá quando este era bebê.
Todos esses ataques fraternais tiveram nobres motivos.
A vítima da vez é Renata.
Rosi tinha ido à feira com mamãe e chegara em casa cansada e ainda tinha que guardar as coisas e aturar as manhas de nossa irmã caçula, Renata.
Renata tinha ido com elas e voltara chorando e esperneando por algum motivo. Renata era terrível quando criança. Jesus.
Entram em casa e Renata segue na frente chorando, reclamando, pentelhando mesmo e Rosi puxando o carrinho de feira logo atrás; não deu outra: Rosi pegou uma laranja e jogou em Renata e acertou bem no meio das costas dela. Vixe!
Boa pontaria! Arremesso de laranja à distância. Medalha de ouro.


                                             


                                           

segunda-feira, 19 de março de 2012

Metades iguais

                                                  


Depois das tradicionais e ubíquas laranja e banana, a melancia era a fruta mais presente no nosso cardápio frutífero.
Mamãe foi à feira de sábado e leva com ela meu irmão Fubá para ajudá-la a trazer as sacolas.
Fubá convida seu amigo Rinaldo, moleque igualmente terrível, para ir junto. Nossa Senhora.
Na volta da feira Fubá carrega uma enorme e pesada melancia e reveza com o amigo Rinaldo a tarefa de carregar o pesado fruto.
Mamãe atravessa a praça e segue em frente puxando o carrinho de feira; logo atrás vêm Fubá e Rinaldo fazendo revezamento de melancia.
Em um dado momento Fubá se distrai e deixa a melancia cair no chão. A melancia quebra-se em duas partes iguais. Mamãe fica doida: "Menino danado! Istruiu (estragou) a melancia. Teu pai vai ficar danado quando souber de uma coisa dessa!"
Fubá junta as duas parte da melancia e mostra para mamãe: "Tem problema não, mãe. Olha só, a melancia tá inteira de novo".
"Tá o quê, seu maduscachorro!".
Mamãe não quis saber da melancia quebrada, mas Fubá e Rinaldo pegaram a fruta e fizeram dela bola de futebol. Imagina como a rua ficou.


                                                 


sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Sacolas

                                             


Já disse aqui que o Homem (seres humanos) primeiro destrói e depois tenta consertar o estrago que fez.
Agora a moda é reciclar, combater o aquecimento global, plantar árvores, economizar água, energia elétrica e levar a própria sacola, as famosas eco bags, ao supermercado para trazer as compras.
Sou da época em que levávamos nossas próprias sacolas ao supermercado quando íamos às compras; as sacolas plásticas surgiram pouco tempo depois. 
É...sou véia, como diz Bibi, minha terrível e linda sobrinha.
Antes era normal carregarmos nossas sacolas de feira, como eram chamadas, pra cima e pra baixo, depois virou brega e tínhamos vergonha, mas agora está de volta e é fashion.
Protejamos o planeta após destruí-lo, ou quase.
Mamãe tinha algumas dessas sacolas de feira; eram grandonas, quadradas e com várias listras coloridas. Tem também aquelas sacolas costuradas a partir de sacos de arroz e custam bem baratinho na feira. Ou custavam, mas após o boom das eco bags e do ecologicamente correto, as simples e humildes sacolinhas de feira transformaram-se em artigo de luxo e prova de gente antenada. Suave.
Comprei uma eco bag da Livraria Cultura, muito linda por sinal. Olhando-se ao longe tem-se a impressão de ver uma estante com livros. Por isso a comprei; amo livros.


Minha eco bag (Livraria Cultura)
                                              





domingo, 29 de janeiro de 2012

Peixinho Suicida

                                       


Sábado, dia de feira.
Encontra-se de tudo, ou quase tudo. 
Frutas, legumes, verduras, pastel, caldo de cana e vendedores com suas mais variadas mercadorias.
Numa dessas idas à feira encontro um vendedor de peixes. Comprei dois peixinhos, um dourado e um preto com olhos esbugalhados.
Renata estava comigo e ficou encantada com os peixinhos. Voltamos para casa e providenciamos um aquário.
Tudo ia bem, apesar do assédio felino em torno do aquário.
Notamos que o peixe preto de olhos esbugalhados sempre pulava para fora da água e muitas vezes o pegamos e o colocamos de volta antes de os gatos tê-lo para almoço.
Mas a sorte desse aquático animal durou pouco; um dia ele pulou para fora do aquário e não havia ninguém por perto para salvar-lhe a vida.
Renata chega da escola e encontra o pequeno corpo já sem vida do pobre peixinho suicida. A comoção foi enorme; Renata chorou e lamentou muito a terrível perda.
Ela pegou o peixinho pela cauda e foi até o portão de casa para me esperar voltar do trabalho e me contar o triste acontecimento. Mas ainda era cedo e eu só chegaria de noite. Mamãe explicou para ela que eu demoraria um pouco a chegar, então Renata decidiu providenciar e cuidar ela mesma do funeral do peixinho.
Ela fez uma pequena cova no jardim, pegou alguns jasmins bem fresquinhos e cheirosos, arrancou uma página de um Evangelho e colocou tudo sobre o túmulo do peixe.
Quando cheguei em casa a encontrei com os olhos inchados de tanto chorar; perguntei o que aconteceu e ela me contou o fato emocionada.
Sentiu-se culpada por não estar presente para salvar o peixinho na hora do pulo fatal.
Mas tudo ficou bem depois de explicar-lhe que o peixinho iria para o céu, pois mesmo sendo suicida, ele era também muito religioso. Fato esse comprovado pela presença de uma página do Evangelho no túmulo do peixinho.
O peixinho descansaria em paz.
Amém.
O peixinho suicida era igual a esse da foto
                                            


                                      

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Altura

Mamãe era uma mulher de baixa estatura, pouco mais de metro e meio de altura.
Fisicamente, mamãe era pequena, mas sua força, coragem e decisão titânicas a tornavam um gigante.
Quando alguém perguntava a altura de mamãe, ela dizia: "Um metro e setenta e cinco".
"Impossível, mãe. Só se for de largura. Tira vinte centímetros daí".
E nós, os filhos, puxamos à família de papai, todos altos, grandões e com pezões.
Numa certa tarde mamãe está varrendo a calçada e uma conhecida passa pela rua e puxa conversa: "Acabei de ver seus meninos e suas meninas; eles são grandes, né?".
"É, puxaram ao pai".
Alguns dias depois a mesma conhecida puxa o mesmo assunto e mamãe dá a mesma resposta.
Chega o sábado e mamãe vai à feira e lá chegando encontra a dita cuja conhecida que puxa o mesmíssimo assunto de novo: "Seus meninos e meninas são grandes, né?"
Mamãe já estava cansada dessa mesma ladainha e diz:
"Mas eles não nasceram daquele tamanho".
A conhecida nunca mais falou sobre nossa grandeza e grandiosidade. Para alívio de mamãe.