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quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Oração do Lobo

                                           


Espírito do Lobo
Tu que vagueias pelas terras selvagens
Tu que caças pelas sombras silenciosas
Tu que corres e pulas entre as árvores cobertas de musgos
Dá-me tua força primordial e a sabedoria de teus olhos brilhantes
Ensina-me a correr incansavelmente atrás dos meus sonhos
E a defender aqueles que amo
Mostra-me os caminhos escondidos e os caminhos enluarados
Espírito feroz
Caminha comigo em minha solidão
Uiva comigo em minha alegria
Proteja-me em meu caminhar por esse mundo


                                     

domingo, 15 de julho de 2012

Pedras

                                            


Sexta-feira que passou fui à cabeleireira para cortar meu cabelo bandido: ou está preso ou está armado.
Enquanto aguardava, fui observada, analisada e estranhada pelas pessoas que entravam e saíam do local. A filha da cabeleireira (palavra difícil) disse: "Meu irmão pensou que você era homem". Uma senhora entra escandalosamente, gesticulando e ignorando a todos que estavam lá: "O fulana, tu seca meu cabelo?", mas quando me viu fez cara de susto e mudou de ideia: "Não precisa não, meu cabelo seca sozinho".
Estou cansada de ouvir isso. Estou cansada de ser objeto de olhares, estranhamentos e o cacete!
Estou cansada de me olhar no espelho procurando pelos supostos traços masculinos e, honestamente, não vejo nada demais; apenas minha cara grande, branca e invocada.
Detesto ser encarada e medida de baixo a cima; se quiser perguntar, pergunta, $#%@#! mas não fica me olhando! 
Bom...
Eu fiquei na minha e ouvia a conversa da mulherada enquanto a cabeleireira trabalhava na minha juba rebelde; foram vários os assuntos tratados:
"Olhe, tu sabia que fulana pegou meu ferro e meu liquidificador emprestados e não devolveu ainda? Ela estragou meu ferro e eu tive que comprar outro; comprei umas marcas que não prestaram não. Olhe, se tu for comprar ferro, só compre 'béquidéqui' (Black&Decker)".
Falaram das vizinhas que não arrumam a casa, das filhas das vizinhas que ficam de conversa pelas ruas da comunidade, falaram de viagens, de preços, do tempo...
Terminado o serviço, paguei e deixei o local com as matracas falantes e fui à lojinha do meu irmão Fubá. Comprei os últimos pães que tinha e conversava com minha irmã Renata quando entram dois caminhoneiros gaúchos: "Tu tens pão?".
Eu disse: "Comprei os dez últimos, mas se você quiser, podemos dividir. Quantos você quer?"
Dividi os pães com os gaúchos e ainda conversei um bocadinho com eles, adoro o sotaque sulista. 
Subi até a casa do meu irmão e dali a pouco chegaram minhas irmãs Rosi e Lila com a família. Comemos pizza, contamos causos, rimos.
Lila levou a pequena Giovanna de cabelos cacheados e a bebezinha Yasmim e enquanto isso Rafaela se lambuzava com um chocolate. Preta, mãe de Rafaela de nove meses, segura Yasmim de um mês e diz: "Ai que saudade de quando a Rafa era pequena".
Hora de ir embora. 
Caminhamos até nossos carros e na rua encontro um casal de alunos que me fazem a mesma pergunta: "Quando a senhora volta?"
Fiquei feliz pelo carinho e pelo desejo e interesse de minha volta; já encontrei alunos que me disseram: "Volta logo, professora, pelo amor de Deus! Não aguentamos mais a professora fulana, ela é muito chata!".
Voltei para casa mais aliviada, como se um bálsamo fosse passado sobre ferida aberta.
Nem tudo pode ser cem por cento bom ou cem por cento ruim. Temos dias bons, outros nem tanto.
Alguns dias as pedras no caminho são mais fáceis de tirar, outros dias não.
E assim a vida prossegue.
Minha vida de acromegálica.
É isso.


                                            No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra 
tinha uma pedra no meio do caminho 
tinha uma pedra 
no meio do caminho tinha uma pedra. 
Nunca me esquecerei desse acontecimento 
na vida de minhas retinas tão fatigadas. 
Nunca me esquecerei que no meio do caminho 
tinha uma pedra 
tinha uma pedra no meio do caminho 
no meio do caminho tinha uma pedra

Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 15 de março de 2012

Encontro

                                            


Morávamos em são Paulo a pouco tempo.
Papai trabalhava em um bairro distante e saía de casa de madrugada para poder chegar ao trabalho.
Mamãe trabalhava mais perto, a umas três ou quatro quadras de distância de nossa casa.
Ainda não conhecíamos bem a região, tudo era novo, estranho e diferente.
Mãevelha me manda ao mercadinho para comprar algo, vou mas não encontro o caminho de volta; estou perdida.
Olho à minha volta e vejo tudo estranho: ruas, casas, chácaras...
Continuo andando e tentando encontrar algo que seja familiar. Ando por uma longa rua de terra e lembro que a firma onde mamãe trabalhava ficava numa rua assim.
Sigo em frente e um pouco mais adiante avisto a firma. O medo desaparece e uma alegria imensa me invade, sei que vou encontrar mamãe.
Chego à portaria da firma e um guarda vem em minha direção, ele se ajoelha para poder ficar na mesma altura dos meus pequenos seis anos e assim poder conversar comigo.
"O que você faz aqui?"
"Quero falar com a minha mãe"
"E quem é sua mãe?"
"É a dona Marlene"
"Tem certeza que ela trabalha aqui?"
"Tenho sim! Ela me falou"
"Espera um pouquinho que eu vou chamá-la. Você gosta de sagu?"
"Não sei o que é isso"
"É um doce. Quer?"
Sento-me num banquinho e como o doce enquanto espero por mamãe.
O guarda havia telefonado pedindo a presença de mamãe na portaria, tinha alguém querendo vê-la.
Acabei de comer o doce, agradeci ao guarda, olho para o corredor e vejo mamãe se aproximando e fico feliz, não estou mais perdida.
Mamãe tem uma expressão preocupada: "Minha Nossa Senhora do Pepé (perpétuo) Socorro, o que você faz aqui? Aconteceu alguma coisa?"
"Mãevelha me mandou ir ao mercado, mas eu me perdi e aí lembrei que a senhora trabalha aqui, então vim pra cá".
"E como você sabia que eu trabalho aqui?"
"Lembra que quando a gente foi à feira e passou por essa rua e a senhora falou que trabalha nessa firma? Então"
O guarda ouve a conversa e diz: "Mas essa sua menina é esperta, hein, dona Marlene!"
Mamãe sorri e pede autorização para me levar em casa, Mãevelha já deveria estar preocupada.
Fomos ate a esquina próxima à nossa casa e eu disse: "Pode deixar, mãe, agora eu sei o caminho".
Mamãe fica na esquina me olhando até eu chegar em casa.
Aceno para mamãe e ela volta ao trabalho.


                                                        

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Mudanças & Explicações



Explico-me.
Eu tive a ideia de fazer/criar/escrever um blog sobre e para crianças do ponto de vista de uma criança. Nos moldes do fabuloso livro "Quando eu voltar a ser criança" de Janusz Korczak.
Escrevi um longo texto contendo conselhos e dicas "semancol" para os adultos que se esqueceram que um dia foram crianças.
Beleza.
Eis que minha amiga Silvia sugere que eu faça o "Blog da Criança" separado do blog "Acromegalicasp". Tentei, mas não deu muito certo. Tive que criar um novo blog, o que fiz, mas o problema é que não pude vincular e usar o "acromegalicasp" ao "blog da criança".
A sugestão o Blogger foi que eu escolhesse uma outra opção, que ficou meio estranha e ninguém conseguia encontrar o "blog da criança" a não ser que eu enviasse um link.
...Isso está ficando enrolado demais...
Bom, resolvi que vou colocar aqui tudo junto misturado e ao mesmo tempo agora. Entenderam? Não? Perfeito.
E quando eu postar algo referente à criança deixarei um parágrafo explicativo acima da postagem. 
Eu acho que vocês vão entender.
E antes de concluir, quero agradecer à todas as pessoas que leram e leem esse meu blog que começou de um jeito e caminha de todos os outros "jeito maneira e jeito qualidade".
Acredito que não ficaria legal se seguisse por apenas uma vertente. A vida segue vários caminhos e nós somos responsáveis por ela, a vida, e pela forma como vamos seguir nossos caminhos.
Às vezes surgem algumas pedras no meio do caminho... Acromegalia é uma das pedras do meu caminho. Mas como dizia minha titânica mãe: "Já comi toucinho com mais cabelo".



No meio do caminho


No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra. 
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra

Carlos Drummond de Andrade.