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sexta-feira, 27 de março de 2015

Fome

                              Resultado de imagem para fome


Zapeava pelos canais de TV e parei no "Repórter Record Investigação", apresentado pelo ex global Domingos Meirelles.
O tema, ou pauta, do programa foi sobre quatro das cinco cidades mais pobres do país e que ficam no estado do Maranhão.
Crianças chorando de fome, pais desesperados sem ter como alimentar os filhos, dinheiro do governo federal que nunca chega aos pobres dessas cidades.
Uma mãe fez uma mistura de farinha de mandioca com água barrenta e sal. O único prato e colher passavam de mão em mão e as crianças comiam colheradas generosas daquela gororoba que para eles era um manjar dos deuses.
Um velho sem vergonha seduzia uma menina de onze anos com doces e bolachas; o maldito se aproveitava da fome, pobreza e miséria que ela e a família sofriam.
Como tem gente ruim nesse mundo!
Acabou o programa e eu fiquei triste e pensando naquelas famílias, principalmente nas crianças.
Um adulto aguentar a fome é uma coisa, mas para uma criança é muito difícil e cruel, meu Deus.
No dia seguinte ligo a TV nos programas vespertinos que vivem às custas de pseudo celebridades, escândalos e tragédias. Entre uma reportagem "imperdível" e outra, os/as apresentadores dão os famosos "recadinhos" e a grande maioria é de produtos para emagrecer: gel redutor, cinta que aperta as banhas, shakes, pílulas, iogurtes, bermudas que apertam a celulite e outras ofertas sensacionais. Uau!
Acesso as páginas dos principais veículos de comunicação, jornais, revistas e redes sociais e o que se mais vê são pop-ups oferecendo mais desses produtos milagrosos e perguntando aos incautos (mais às incautas) se elas querem saber como tal celebridade perdeu barrigaa  após ter o filho.
Tal celebridade não ingere mais glúten e agora exibe uma barriga sequinha.
Tal celebridade aparece bem mais magra um mês após ter o filho.
Veja como tal celebridade foi do tamanho 48 para o 38 com essa dieta maravilhosa! E por aí vai...
Essas pessoas que querem tanto emagrecer e exibir uma "barriga seca", deveriam enviar seus alimentos para aqueles que têm fome e viver a vida que eles vivem por pelo menos uma semana; teriam a tal da barriga seca que tanto almejam.
O mundo anda tão fútil, tão besta, tão cheio de gente vazia.
Li um post e achei bem bacana:
"Não importa o tamanho da sua casa, do seu carro ou da sua conta bancária, o tamanho da cova é o mesmo para todos".
Eu só queria que não tivesse mais fome no mundo. Em lugar nenhum do mundo.
É isso.



                                       Resultado de imagem para o pao nosso de cada dia


segunda-feira, 19 de março de 2012

Tanajura

                                           


É uma formiga.
A tanajura aparece em grande número na época das chuvas.
A tanajura é comida por humanos. Pode parecer estranho, mas a bundinha da formiga tanajura é bem gostosa (no bom sentido).
Pode-se comê-la crua ou frita com farinha de mandioca.
Num belo fim de tarde, bonito pra chover, como dizia mamãe, estávamos eu e Paipreto a pegar as tanajuras voadoras.
Mamãe dizia: "A formiga quando quer se perder, cria asa".
Paipreto e eu pegávamos e comíamos a tanajura ali mesmo, na hora.
Mãevelha nos chama: "Venha simbora pra dentro de casa, João. As formigas vão ferroar a menina. E não coma as formigas cruas não, homi. Traga pra eu torrar com farinha".
Paipreto e eu entrávamos em casa com as mão cheias de formigas tanajuras que seriam preparadas por Mãevelha.
Sentávamos à mesa e comíamos enquanto ouvíamos a chuva.


Farofa de tanajura
                                          


                                             

quarta-feira, 7 de março de 2012

Mel de Engenho

                                            


A cana de açúcar é moída no engenho.
Dessa tarefa são extraídos o açúcar, o melaço (ou melado) e a rapadura.
O melaço é chamado de mel de engenho. É chamado assim porque tem a cor e o sabor semelhantes ao do mel de abelhas e é feito no engenho.
O melaço era usado na alimentação dos escravos e da população simples; o mel de abelha era para os ricos.
O mel de engenho é delicioso, cheiroso e tem uma belíssima cor dourada.
Por ser muito doce, o mel de engenho é enjoativo.
Meu Paipreto e eu gostávamos de comer o mel juntos, no mesmo prato. Mãevelha e mamãe não gostavam disso, diziam que eu mais atrapalhava do que comia e não deixava meu avô comer sossegado.
Mãevelha colocava o mel em dois pratos, um para mim e outro para meu Paipreto. Eu ignorava o meu prato e metia a colher no mel do meu avô.
Um hábito que tínhamos era o de misturar farinha de mandioca ao mel de engenho; ficava uma gororoba até que gostosa, mas insuportável após algumas colheradas.
Comíamos eu e meu avô Paipreto. 
Eu não deixava meu avô sossegado, fazia uma bagunça danada e me lambuzava toda. Era farinha e mel pra todos os lados; mamãe e Mãevelha vinham com seus sermões de sempre:
"Mas papai, o senhor deixa essa moleca fazer o que ela quiser...Mas tu não tem jeito mesmo, não é João? Essa moleca faz de tu gato e sapato"
Eu fazia bico de choro e meu Paipreto me segurava junto ao peito e dizia a elas: "Se minha neta quer comer do meu prato, o que é que tem demais? Oxe! Não venha você e sua mãe bulir com minha neta".
O mel de meu Paipreto era mais doce.


                                              
                                                

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Sopa com farinha

                                    


Papai e seu irmão Manoel Soares moravam em uma pensão na região da Moóca.
Papai sempre falava da Rua Taquari, o mesmo nome da fazenda onde eu nasci. E eu dizia para mim mesma que um dia conheceria essa tal de Rua Taquari.
Bom...
Tio Manoel Soares adaptava-se lentamente aos hábitos alimentares de São Paulo. Estranhava o ritual efetuado durante o jantar servido na pensão.
Após chegarem do trabalho os pensionistas tomavam banho e depois sentavam-se à mesa para jantar.
A senhora dona da pensão servia sopa como o primeiro prato, ou entrada, e depois serviria o prato principal que geralmente era composto de arroz, feijão, carne e salada.
Como a maioria dos pensionistas era de nordestinos, a senhora dona da pensão mantinha um bom estoque de farinha de mandioca em sua despensa.
Tio Manoel senta-se à mesa e repara que todos estão tomando a sopa, inclusive papai. O tio olha para o prato e diz: "E é só isso que tem pra comer, é Dedé? Essa água de lavagem?!"
Papai diz que depois da sopa virá mais comida: arroz, feijão, carne...
Mas tio Manoel prefere não arriscar e pega o pote com farinha que está na mesa e despeja o conteúdo em sua sopa.
Papai olha admirado e pergunta: "Oxe. Mas o que tu tá fazendo, Mané?
Tio Manoel responde: "E tu acha que essa tal dessa sopa é comida, Dedé? O cabra trabalha o dia inteiro e quando chega de noite vai comer isso? Tem que botar bem muita farinha que é pra dar sustança!".
Quando terminou de comer sua sopa com farinha, tio Manoel estava com a barriga cheia de mais para comer o prato principal que a dona da pensão iria servir: arroz, feijão, carne e salada.


                                   

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Preconceito & Paz - Santos x Sport Recife

                                




Julho de 2009. 
Apenas dois meses após a cirurgia de coluna (2 hastes e 21 parafusos de titânio).
Minha prima Rosa, filha de tio José de Recife, vem a São Paulo para uma visita. Ficará alguns dias e trouxe consigo o marido e mais dois casais de amigos.
Ela e o pessoal vão à Rua 25 de março comprar bugigangas baratinhas e nós sugerimos uma viagem a Pedreira e a Serra Negra.
Adoro Pedreira e suas ruas de comércio e artesanato.
Sabia que o nome da cidade de Pedreira foi escolhido assim devido ao grande número de homens chamados Pedro? Era muito Pedro, era uma Pedreira.
Voltamos a São Paulo e os primos visitantes querem ir à Vila Belmiro em Santos para assistir ao jogo Santos x Sport Recife.
Viajamos até a cidade praiana e enquanto esperamos a hora de ir para o estádio, fazemos comprinhas básicas e visitamos o Aquário de Santos.
É chegada a hora do jogo e saímos um pouco antes para comprarmos os ingressos.
Rose e Pedro compram cadeiras cobertas para um maior conforto e segurança da pequena Beatriz que não tinha ainda dois anos de idade. Eles querem que eu vá junto com eles, pois estão preocupados com meu bem estar físico pós-cirúrgico. Mas eu recuso, quero ir aonde o povo está (não queria ficar com a torcida do Santos e sim com a do Sport Recife. Oxe!).
Rosi, Pedro e Beatriz ficam na parte coberta e mais civilizada e o restante do pessoal (Fubá, Preta, minha prima, o marido, os dois casais e eu) ficamos na arquibancada com a torcida do Sport Recife.
Na época o estádio passava por algumas pequenas reformas e o placar luminoso estava quebrado.
Entramos e nos acomodamos o mais confortavelmente possível nos duros degraus de cimento da arquibancada descoberta. Garoava.
Pegamos nossas bandeiras do Sport Recife e do estado de Pernambuco e logo iniciam-se as provocações: "Aí, torcida de meia dúzia de paraíba comedor de farinha. Voltem para a portaria do prédio. Voltem pra Paraíba, seus cabeças chatas".
Estávamos nos portando educadamente, mas não podíamos ficar calados às provocações preconceituosas. Paraíba e São Paulo ficam no mesmo país: Brasil.
Fubá responde às gracinhas dos torcedores adversários e nós, claro, o ajudamos de muito bom grado:
"Não é Paraíba, é Pernambuco. Seu analfabeto! Não sabe geografia, não? Volta pra escola, seus piolhentos!", disse Fubá.
"E vocês são tão bestas que nem cuidam do estádio. Olha aqui, vou dar dois reais para ajudar a comprar um novo placar, seus filhos duma quenga!", disse um dos rapazes do nosso grupo enquanto tira a nota do bolso e balança em direção à torcida do Santos.
"Vai, vai, volta pra Paraíba. Pernambuco e Paraíba é tudo a mesma coisa. Vão pra casa comer rapadura com farinha!".
Fubá escolhe um gordinho para fazer chacota: "E você, seu gordinho f.d.p. Você é a baleia do Santos!".
"Seus bestas. Seus preconceituosos. Nós temos belas praias bem perto de casa e vocês têm que ficar preso mais 3 horas no trânsito pra poder achar uma prainha meia boca!".
Finalmente começa o jogo. Placar de 0x0 e exatamente nos 47 minutos do segundo tempo o  time do Santos marca 1x0. 
P. Q. P!!!!
Beleza. 
Voltamos para o hotel rindo muito. Apesar da troca de ofensas leves, nos divertimos muito. Não cometemos quase nenhum tipo de violência; talvez a violência verbal, mas foram eles que começaram!
O importante é a diversão, a alegria. 
Paraibanos, Paulistanos, Pernambucanos, Gaúchos, Cariocas, Mineiros e todas outras naturalidades fazem parte de um único gigantesco e belo país; o Brasil. 
Cada um com seu sotaque, sua cultura, seu futebol. 
Paz no futebol.
Paz a todos nós: gordinhos, magrinhos, sulistas, nortistas: brasileiros.


                               



terça-feira, 1 de novembro de 2011

Café com Banana e Farinha.





No fogão à lenha o café era torrado.
No pilão de madeira o café era pisado (batido, socado) até se transformar em pó.
Minha avó Mãevelha preparava o café e chamava:
"João...Chega...o café tá pronto". João era o meu avô Paipreto.
Paipreto sentava-se à mesa e nela estavam o bule com o café novo, bananas e um prato com farinha de mandioca.
O café era despejado no xicrão (xícara grande).
Paipreto descascava a banana e passava na farinha, comia um pedaço e tomava um enorme gole de café.
Paipreto pedia mais: "Maria, me de mais um golinho de café". 
Mãevelha trazia mais café.
Eu, no colo de Paipreto, passava a banana na farinha, comia um pedaço e tomava um gole de café.
Algumas vezes enchia o xicrão de Paipreto com farinha e depois me lambuzava com aquela gororoba de café doce, banana e farinha. 
Mãevelha e mamãe ficavam doidas com Paipreto.
Paipreto ficava doido de encantos por mim e eu por ele.
A palavra ou o termo amor resume-se àquele café com banana e farinha da minha Mãevelha e do meu Paipreto.