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quinta-feira, 16 de agosto de 2012

As moças e os rapazes de antigamente

                                      

Lia "Antigamente", poema de Carlos Drummond de Andrade.
Pensei comigo: "Como as coisas e as pessoas estão tão diferentes!".
Antigamente as moças andavam vestidas e o sonho dos rapazes era poder ver o tornozelo das donzelas quando elas levantavam as saias para subir escadas, entrar no carro ou dar pulinhos para evitar poças d'água.
Mostrar o braço era coisa rara e sinônimo de sedução, como no conto "A Missa do Galo" de Machado de Assis.
Hoje as moças mostram os braços, os tornozelos, a bunda, os peitos e tudo com muita personalidade! Tem que ter personalidade, é o lema atual. 
Antigamente sabia-se quem era moça solteira e quem era mulher casada, hoje está difícil saber a idade da mulherada, pois meninas impúberes vestem-se e comportam-se como mulheres e as mulheres vestem-se e comportam-se como meninas.
Assistia ao "Café Filosófico" da TV Cultura e o convidado do dia, não me lembro quem, disse algo sobre o fato de mulheres de quarenta anos se parecerem com moças de vinte anos.
Ótimo programa.
Via fotografias de São Paulo antiga e era encantadora a moda da época; homens de terno e chapéu. O jeans ainda não fazia parte do nosso vestuário.
Hoje os rapazes usam calças cujos fundilhos batem nos joelhos e o cós não fica na cintura, mas no meio da bunda. Somos obrigados a ver cofrinhos peludos e nada atraentes.
Os bolsos das calças são enormes e começam no cós e vão até quase perto das pernas, isso sem contar as malditas e horrendas calças saruel, que parecem que a pessoa usa fraldas e lembram muito os pijamas (mijões) antigos.
Bonés, tênis coloridíssimos e enormes, relógios de pulso que parecem o relógio do Faustão, correntes de fechar portão e prender pit bull são usadas no pescoço como adereço.
Isso é moda?
E os cabelos então?
São cabelos milimetricamente desarrumados. Cabelos arrepiados que parecem que o cabra ou viu fantasma ou enfiou o dedo na tomada.
Essa moda é muito difundida entre os novos artistas e cantores da atualidade: cabelos arrepiados e roupas justíssimas do tipo "mamãe tô forte".
Essas roupas tão justas não prendem a circulação? Não incomodam? Acho estranho, fica parecendo um frango vestido, sabe? Começa fininho na parte de baixo e vai alargando. 
Eu hein!
A mim incomoda só de ver!
Eu nunca vi um frango vestido, mas que parece, parece.
Acho que estou ficando velha e vendo a inocência e um certo romantismo darem lugar à malícia, à pressa, ao exibicionismo e competição.
Eu gostava mais dos tempos de antigamente.






quarta-feira, 27 de junho de 2012

Papai

                                                 


Papai orgulhava-se de ser pernambucano, palmeirense e macho. Exatamente nessa ordem.
Papai foi um homem bonito: cabelos escuros, pele clara e olhos verdes agateados. Papai era o Tom Cruise do Nordeste.
Papai era muito trabalhador, honesto, "inguinórante", teimoso, manhoso, cabra da peste.
Papai não era muito empreendedor, não era forte; dava um passo à frente dois para trás.
Mamãe era forte, titânica e empurrava papai para a frente.
Papai trabalhava duramente, levantava cedo, chegava sempre antes do horário, não gostava de chegar atrasado. Papai era agoniado e avexado, como dizia mamãe.
Papai era meio Gregor Samsa, personagem de Kafka no livro "A Metamorfose". Só trabalho, honestidade, cumprir horários, obedecer.
Papai nunca faltava ao trabalho, mesmo doente.
Papai temia deixar faltar o "de comer" em casa. Papai temia que os filhos passassem fome.
Uma vez papai ficou alguns dias em casa e eu estranhei ver meu pai tão trabalhador ali, dentro de casa. 
Papai tinha muitas dores de cabeça. Papai foi ao médico, depois ao hospital e finalmente voltou para ficar alguns dias em casa para se recuperar e só então voltar ao trabalho. Papai trabalhava na Moóca, na Rua Taquari.
Papai havia feito uma pequena cirurgia na cabeça; foi para remover um tumor que se formara entre o cérebro e o crânio. Papai tinha um curativo em sua cabeça e o esparadrapo branco parecia um laço de fita que combinava com a calça social e com a camisa rosa clarinha. A moda do jeans ainda não era tão forte naquela época.
Papai agachado segurando uma toalha sobre a perna de Mãevelha. 
Mãevelha com uma veia estourada a sangrar através da pele fininha que se rasgara ao raspar na porta do banheiro.
Sangue.
Sangue na perna de minha avó e o curativo na cabeça do meu pai.
O vizinho vem ajudar e leva papai e Mãevelha à farmácia; voltam os dois com curativos limpos e novos.
Papai volta a trabalhar. Papai usa chapéu para proteger a cabeça do sereno e da friagem que "ofendiam" ainda mais suas dores de cabeça".
Papai não tinha culpa de ser fraco e medroso, papai fora criado sem mãe e por muitas madrastas que iam e vinham. Deixavam filhos e levavam pedaços de terra do meu avô José, que era homem de posses para a época.
Avó Mariana fora embora muito cedo e deixou papai pequeno, como apenas cinco anos.
Avô José, moreno bugre de belos e tristes olhos verdes era ainda jovem, bonitão e sedutor e encontrava facilmente pretendentes que muito queriam saber de seus bens e pouco queriam saber de seus filhos e dele mesmo.
Foram criados um cuidando do outro.
Hoje sonhei com papai e ele conversava e sorria. De repente alguém diz que papai morreu. Como?! Papai já morreu! São quase dois anos! Oxe!
Uma dor e uma tristeza imensa me invadem; acordei chorando.
Saudades.
Meu Deus, que papai e mamãe tenham paz, saúde, alegria e sossego; já trabalharam e sofreram demais quando estavam por aqui.
Acredito que papai estava em tratamento e agora que está melhor, passou para um outro lugar mais elevado. Papai estava tão fraquinho quando foi embora.
Meu Deus, olhai por nós. Olhai por papai, mamãe e por todos nós aqui.
Que sejamos felizes, que tenhamos paz, saúde, alegria.
Amém.