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quinta-feira, 23 de julho de 2015

Se fosse...

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Eita que esses ossos "véios" tiraram o dia para doer, dizia mamãe, sempre que sentia dores nas articulações. Acho que é chaga (doença) de família.
Minha avó Mãevelha, mãe de mamãe, tinha os joelhos inchados, quentes, avermelhados e doloridos. Mamãe fazia massagem com um medicamento popular chamado de "doutorzinho" e que até hoje é usado e conhecido.
O "doutorzinho" era um óleo com forte cheiro de arnica e cânfora e dava certo alívio.
Gosto do frio, mas as dores pioram nessa época. Meu joelho direito dói muito e é acompanhado pelos ombros, coluna que estala e mãos que doem como se algum objeto pontiagudo as estivesse perfurando. Dor desgraçada!
Tudo estala; sou crocante.
Queria dar um rolê por aí; passar no açougue, no tiozinho das frutas, na padaria... Gosto do pão da padaria, o pão francês, principalmente com manteiga verdadeira, queijo e salame. Faz muito tempo que não me entrego ao pecado da gula.
Queria passar no açougue e comprar bife e carne moída, faz tempo que comi carne e essa vida de arroz com legumes todo santo dia já está se transformando em castigo.
Queria comprar goiabas, pêras, caqui, mangas, mamão...Adoro frutas.
Mas pesei bem e, infelizmente, não deu. Sair e entrar no carro a cada lugar que eu fosse; fechar e abrir andador; o cansaço e as dores e o preço do táxi, que poderia ser usado para comprar mais frutas, por exemplo. Não está fácil não. Que pena.
Vou tentar fazer tudo isso amanhã; veremos.
Essa mobilidade reduzida, essas dores, esse impedimento, essas coisas que me roubam a liberdade de executar a mais simples das ações: dirigir e fazer minhas coisas.
Se fosse só o tumorzinho básico enfiado no cérebro, estaria bom. Se não afetasse meus ossos e minhas articulações, estaria bom. Se não tirasse minha liberdade, estaria bom.
Mas não, tudo tem que ser complicado, difícil e dolorido.
Dói-me o corpo, e a alma também.
É isso.


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quinta-feira, 20 de junho de 2013

                                   



Pretendia ir à casa da minha irmã Rosi para levar o café que lhe prometi. Sempre compro café Melitta Fazenda, meu favorito.

Gosto de café forte, encorpado e doce na medida e detesto aqueles cafés fracos, bem doces que mais parecem água de batata.
Eu levantei bem animada pela manhã e pretendia fazer muitas coisas, mas de repente as dores de cabeça me pegaram legal.
Fazia tempo que não as tinha e há duas ou três semanas retornaram.
Liguei para o neurocirurgião mas ele está em um congresso no Chile e de lá vai para o Canadá. Chique esse dotô.
Ele é o neurocirurgião que fez as cirurgias para a remoção do tumor de hipófise e para a correção de fístula liquórica.
E por falar em fístula...
Eu bem sei, é só começar a escorrer aquele líquido com cor, aparência e gosto de lágrima que as dores de cabeça virão e os problemas também. Infecções, edemas, meningites e tudo relacionado à entrada de vírus e bactérias por essa convidativa abertura para meu cérebro.
Estava pensando em ir ao hospital amanhã, mas não sei o que farão comigo. Me darão remédios na veia e depois me mandarão de volta para casa ou me deixarão um tempo por lá a tomar medicamentos e controlar essa possível infecção?
Será necessário corrigir mais uma vez essa fístula liquórica? É horrível, meu Deus, é horrível.
A cirurgia em si não demora muito, algo em torno de duas horas, mas o problema é o pós operatório; é ruim demais.
A cabeça dói, o tampão no nariz para absorver as sobras da cirurgia, o sentimento de sufoco, a dificuldade para respirar, a dificuldade para deitar a cabeça em uma posição confortável e conseguir dormir. 
Gosto disso não.
Mas tudo vai ficar bem. Tenho fé.
Boa noite a todos.

          
                                      

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Lobo Guará

                              


Sonhei que me encaminhava para o quarto do hospital e ia me preparar para mais uma cirurgia. Era tudo muito limpo e claro, mas meus pés calçados em sandálias estavam sujos de barro e deixavam pegadas no piso.
Tinha um pano de chão e eu começava a esfregar para tentar limpar a sujeira que havia feito quando uma faxineira se aproxima e diz que poderia deixar, ela terminaria o serviço. Pedi desculpas.
Estou no quarto e médicos vêm conversar comigo, eu estava tão chateada e com a aparência muito mais acromegálica do que já é. Por algum motivo a cirurgia não é autorizada e deixo o quarto para ir embora; me encontro em um grande pátio arborizado e com pessoas vestidas com roupas simples e branco azuladas. Eu me sentira expulsa do hospital.
Caminho por entre essas pessoas me sentindo muito triste por minha doença e pela rejeição que sofri quando um enorme lobo guará vem correndo em minha direção. Pensei que ele me atacaria, mas uma das pessoas presentes disse que o animal era tranquilo. 
O lobo guará me derruba no chão e fica sobre mim a me lamber o rosto e a abanar a cauda peluda; o medo passou e brinquei com o belo animal.
Acordei meio preocupada com a possibilidade de mais uma cirurgia em meu cérebro. Tomara Deus que não haja necessidade, pois como já disse, me recusarei e procurarei outros métodos como outra radiocirurgia.
Tenho cisma, medo não, de passar por tudo que já passei. Deus me livre!
Mas vou ficar boa, tenho fé, força e coragem.
Sou Leão do Norte, 
Sou cabra da peste.
Oxe!


                               
                                

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Caras e Bundas

Perdoem-me o título, mas causou-me irritação saber sobre um certo concurso que elegerá a bunda mais bonita! Teve até candidata desclassificada por usar implante de silicone; a bunda tem que ser natural, minha filha!
Meu Deus!
É o que mais temos hoje: concursos bizarros de beleza. E o pior é que o número de candidatas é imenso! Todo mundo quer se inscrever, todo mundo quer se exibir e mostrar o corpinho e o cabelinho bonitinho, todo mundo quer ser celebridade.
Por que não há mais concursos sobre conhecimento, literatura ou algo em que use o cérebro e não a cara, a bunda e outras partes?!
Estamos nos tornado um país babaca que investe e se orgulha de suas mulheres fruta, bundudas, boazudas e burras. Somos um país burro.
Aliás, uma coisa que não entendo e abomino é o fato de as pessoas, principalmente os homens, dizerem coisas como "gostosa... fulano comeu ciclana..."
Acho isso horrendo e de um desrespeito enorme!
Gostosa/o para mim é comida, é bebida, é alimento.
Come-se comida, alimento sólido, porque se fosse líquido, bebe-lo-íamos.
Não somos antropofágicos, não comemos gente, não somos canibais.
Que país é esse?

                                        

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Pré e Pós Acromegalia

                                           

Fiquei e estou bastante animada com meu blog e sua utilidade pública, de certa forma.
Muitas pessoas comentam minhas postagens, as acham engraçadas, elogiam minha memória  e fazem perguntas sobre a Acromegalia: como descobri, se fiz cirurgias, quais sintomas, se estou curada etc... Fiz várias cirurgias e não estou curada, a doença e o tratamento são para sempre; controlamos com exames e remédios e cirurgia quando necessária.
Como já falei aqui e vivo falando para as pessoas, a Acromegalia não é apenas um tumor localizado na hipófise, glândula que fica na base do cérebro e que é responsável por muitos hormônios e sua regulagem, a Acromegalia afeta praticamente o corpo inteiro e tem suas consequências: crescimento ósseo, fadiga, diabetes, hipertensão, pólipos intestinais, perda da visão quando o tumor está muito próximo do nervo óptico, artrite, artrose, osteoartrite sistêmica, sudorese, alterações de humor, ganho de peso etc...
A Acromegalia é uma doença rara de nome estranho e por isso também é conhecida como doença do crescimento, mais alguns detalhes: em crianças e jovens em fase de crescimento a Acromegalia é chamada de doença do crescimento, pois esses jovens crescem exageradamente e ultrapassam facilmente os dois metros de altura, já em adultos o crescimento da-se nas extremidades (pés, mãos, cabeça) porque a fase de crescimento deles já passou.
Outro detalhe até que engraçado é o fato de "encolhermos", explico. Além do ganho de peso, nossa altura parece que fica menor; o tórax fica mais largo e isso dá a impressão de que perdemos alguns centímetros na altura. Torna-se difícil fechar/abotoar as camisas que outrora serviam sem nenhum problema, pois o peito/tórax está mais largo.
Eu amo camisas e tenho algumas, principalmente brancas, mas está difícil abotoá-las.
O peso é outro problema. Eu era magérrima e o primeiro sintoma da Acromegalia é o ganho inesperado de peso e anos depois são os anéis e os sapatos que não servem mais; as dores de cabeça também são uns dos primeiros sintomas.  Demora-se uma década aproximadamente para perceber as mudanças e ver que tem algo de errado porque o crescimento é lento. 
Outro fator que contribui para o ganho de peso é o uso contínuo de corticoides que são remédios usados no tratamento de doenças endócrinas (glândulas).
Procuro manter alimentação saudável e adoro frutas e verduras, consumo granola, leite de soja, chás e outros alimentos natureba, mas como sou humana demasiado humana, ataco sem dó nem piedade os docinhos, salgadinhos e bolos de festinhas de aniversário. O bom é que não temos festas de aniversário todos os dias. Já pensou no estrago? 
Outro problema chato são a artrose, artrite, osteoartrite e todos os problemas envolvendo os ossos e as articulações (juntas); em uma das radiografias feitas constou-se "bico de papagaio" em minhas mãos, nas juntas dos dedos. Dói, principalmente quando está frio.
Estamos acostumados a ouvir e a relacionar o termo "bico de papagaio" apenas à coluna, mas o médico explicou que isso pode ocorrer em outras parte do corpo também.
Via com uma pessoa conhecida fotos minhas da fase pré acromegalia e ouvi o seguinte: "Nossa! Como você era magrinha e bonitinha!". 
Achei graça por ser chamada de "bonitinha", eu que sempre fui taxada exatamente pelo adjetivo oposto.
Bom.
Na fase pós acromegalia tenho feições nada bonitinhas, peso maior, pezões que parecem com o do Incrível Hulk, mãos grandes, dentes da acarda inferior separados e projetados para a frente/fora, cansaço, sudorese extrema, cabeça fervente, artrose e artrite e uma "pá" de coisas, como dizem os jovens daqui de São Paulo.
Às vezes me revolto, pergunto por que eu...
Que doença mais "fia duma égua manca", minha Nossa Senhora!
E para ajudar, vivemos numa Sociedade que prioriza, valoriza e idolatra o belo. "Si ferrei", como diz meu irmão Naldão.
Incomodam, e muito, os olhares de estranhamento, as risadinhas de gente abestada e os comentários cruéis. 
Esse povo deveria cuidar da própria vida, que tal? Deveria cuidar de gatos, pois cada gato tem sete vidas e aí teriam vidas de sobra para cuidar!
Espero que esse texto tenha ajudado, esclarecido e sido útil para quem tem dúvidas sobre essa doença besta que é a Acromegalia.
É isso.

                                       

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Faculdade

                                               

Quando eu estava prestes a concluir o ensino fundamental II, o antigo ginásio, já me imaginava ingressando em um escola nova e diferente. Não via a hora de as aulas começarem. 
Quando estava prestes a concluir o ensino médio, o antigo colegial, sonhava em fazer um curso superior. Achava lindo quando alguém dizia que estudava na faculdade ou universidade tal, que tinha muitos trabalhos para fazer, muitos livros para ler.
Para mim, todas as pessoas que faziam faculdade eram importantes, mais cultas e mais inteligentes. E eram.
Àquela época, faculdade era algo caro, raro e levada muito a sério.
Hoje avacalhou. Infelizmente.
Hoje há uma proliferação desvairada de faculdades que oferecem cursos mais baratos e de qualidade duvidosa.
Para falar a verdade, talvez a culpa não seja só da faculdade, mas de sua clientela... também.
Explico.
Hoje as faculdades são muitas, os cursos são muitos e os alunos também são muitos, mas a qualidade é inversamente proporcional (adoro esse termo).
A maioria dos alunos se forma meio "nas coxas", desculpem mas é verdade. São alunos que entram em sala de aula para deixar suas coisas com algum colega e que descem para os inúmeros botecos que ficam no entorno da faculdade. Música alta, bebida, pegação...
Estudar que é bom...
Muitos alunos pedem ao colega CDF que inclua seu nome no trabalho do grupo e assim garante sua nota e seu diploma.
As alunas se dedicam a retocar a maquiagem e a desfilar em suas roupinhas compradas no shopping ou na 25 de Março ou na José Paulino. Estudar que é bom...
Que profissionais serão esses?
Estudei e me formei em Letras (Português/Inglês) e estudei mesmo! Trabalhos, leituras, TCC, estágios, provas e tudo o que envolve o estudo real e a dedicação de quem quer ser um bom profissional. 
Ouvi barbaridades de colegas que diziam: "Eu não gosto de ler... Me dá um sono quando começo a ler...Eu não tenho tempo pra ler". Tá bom, mas tempo para assistir televisão você tem! Para bater perninha atrás de roupinhas fashion você tem! Para ir a shows de sertanojo você tem!
Sou meio "inguinórante" às vezes.
Na época das avaliações sobre a leitura dos livros pedidos pelos professores só se via o povo desesperado e pedindo pelo amor de Deus que nós, os CDF mal-ajambrados, os ajudássemos. Mal olhavam na nossa cara, mas quando estavam no sufoco e queriam garantir nota, lembravam que existíamos.
Já falei sobre algo semelhante em postagens anteriores e volto a falar após ter assistido reportagem no Jornal Nacional sobre analfabetos funcionais. São pessoas com diplomas de curso superior mas que leem e escrevem igual a uma criança que está sendo alfabetizada. São pessoas que leem mas não sabem interpretar o que leram; já pensou esse povo lendo Kafka, Nietzsche, Fernando Pessoa, Goethe, José Saramago, Guimarães Rosa?! 
Vixe! Ferrou!
Segundo a reportagem, uma empresa precisou entrevistar oitenta candidatos para escolher um que prestasse e mesmo assim, muitas empresas investem em cursos para aprimorar a formação do recém mal formado!
Tem gente que também se acomoda, acha que tem o diploma e isso é suficiente. Não investe em mais educação, em mais cursos ou em mais leitura.
Estou louca para voltar a estudar, mas como não posso agora, devoro livros, jornais e revistas e escrevo muito. O cérebro não pode ficar parado e o conhecimento não se restringe a um papel com letras douradas e bonitas emitido por uma faculdade.
Como cantou Cazuza: "O tempo não para".
Acabei de ler "A terceira margem do rio", de Guimarães Rosa. 
Lindo!

                                          





quinta-feira, 26 de julho de 2012

Alzheimer

                                             


Alzheimer é uma doença degenerativa do cérebro. Na fase inicial a pessoa esquece de coisas simples como datas, números de telefones, nomes etc, e aos poucos vai perdendo a capacidade de pensar, racionar e se esquece até mesmo de pessoas próximas, familiares e não pode cuidar de si mesmo.
Segundo alguns artigos, a leitura, fazer jogos como caça-palavras e outros ajudam a retardar o Mal de Alzheimer. Atividades como fazer crochê, tricô, bordar também são úteis e saudáveis.
De todos os males que afetam o cérebro, a memória e a cognitividade o que mais me assusta é o Alzheimer. Tenho medo.
Tenho histórico em minha família de doenças cardíacas, diabetes e hipertensão; herdei a acromegalia de minha avó Mariana e o estômago "ruim" de meu avô José. 
Minha avó Mãevelha tinha oitenta e quatro anos e era lúcida, inteligente e tinha ideias claras. Ela costurava e colocava a linha na agulha sem ajuda e nem usava óculos! Tinha quase todos os dentes e seu único problema era o diabetes. 
Meu tio José do Recife está com noventa anos e lembra de "causos" passados como se fosse hoje. É um idoso inteligente, ágil, teimoso e lúcido.
Mas eu ando me esquecendo muito das coisas. Já errei caminhos, já me esqueci para onde estava indo e o que ia fazer, já esqueci o número do meu celular e tive que voltar em casa e ligar para a pessoa para dar meu número! 
Vou buscar ou fazer algo em algum cômodo da casa e acabo voltando para trás sem saber o que deveria fazer ou buscar e tudo em questão de segundos: estava na minha cabeça agorinha mesmo!
Tenho receio e acredito que a cirurgia que fiz para a retirada do adenoma de hipófise (tumor), as correções de fístula liquórica e a Radiocirurgia de alguma forma afetaram minha capacidade cognitiva e áreas do meu cérebro.
Vou falar sobre isso com meus médicos. 
Estou começando a me preocupar e peço a Deus que eu melhore e que nunca mais fique presa em mim mesma, presa em mundo solitário e frio e tentando me comunicar com as pessoas mas ninguém me via ou ouvia, para elas eu estava simplesmente dormindo. Que toda essa fase horrível do coma nunca mais se repita. Que eu envelheça com saúde, sanidade, lucidez e alegria e se não for possível, que eu feche meus olhos e os abra em um lugar bom, com gente boa. 
Não quero ficar gagá, caduca e esquecida. Não quero ser esquecida nem ficar esquecida em um asilo e longe da família e das pessoas que gosto.
Afasta de mim esse cálice.
Amém.


                                           

terça-feira, 24 de julho de 2012

Hipertensão/Pressão Alta

                                                  
                 
Sou hipertensa.
Recentemente tenho estado hiper-mega-super-plus-hipertensa.
A pressão alta afeta rins, coração, cérebro e é causa de inúmeros problemas de saúde que podem até levar à morte.
A pressão alta somada a outros fatores contribuíram para com a morte prematura de mamãe, ela tinha apenas cinquenta e cinco anos.
A Acromegalia também intensifica os problemas já existentes, ela piora o que já é ruim.
Fui ao bairro da Vila Maria para resolver algumas pendências mas tive que voltar para casa, comecei a me sentir muito mal e a pressão ficou muito alta e tive uma sensação de desmaio. É uma agonia, um mal estar tremendo e pensei comigo: "Meu Deus, será que eu vou morrer?.
Não, agora não. Ainda tenho muito o que fazer.
Não posso ir agora; penso nos meus gatos, nos meus livros, nas coisas que quero realizar, nas viagens que quero fazer. Ainda mais agora que resolvi deixar meu lado Gregor Samsa e pensar em mim, viver por mim. A vida toda me anulei e me preocupei com os outros, com a fragilidade dos outros, em resolver o problemas dos outros porque me achava forte e responsável pela vida dos outros. Não sou super-humana, sou apenas demasiadamente humana.
Os outros vão bem, obrigada. Os outros vivem suas vidas, continuam fazendo suas burradas e a vida continua. Comigo ou sem migo os outros vivem muito bem.
Não estou me tornando uma pessoa má, sempre fui boazinha demais e aí está meu erro. Ajudar sim e quando realmente necessário, mas virar capacho de gente folgada exploradora não dá! Papai dizia: "Se fazer de morto pra comer o fiofó do coveiro".
Vou cuidar de mim. Eu morro e a vida continua, tudo e todos continuam.
Bom...
Preciso voltar à cardiologista que terá vaga na agenda só em setembro. Tentei agendar consulta com outros médicos, mas a maioria deles não aceita mais meu plano de saúde e/ou mudou de endereço. Como diz meu sobrinho Vinicius: "Que doga!"
Isso porque eu pago convênio médico há uma década, imagine se fosse pelo SUSI (SUS), como dizia papai?!
Que país é esse que cobra as maiores taxas de juros e impostos do mundo e que não investe em saúde, educação, transporte e outras coisas importantes para o bom funcionamento de uma nação?!
A corrupção rouba tudo.
Vou tomar mais uma dose do remédio anti-hipertensivo, tomar meu banho noturno e me agasalhar com minha gataiada.
Vou viver muito ainda.
Vou trabalhar, viver, lutar e ser forte que nem uma cavala, como diz minha sobrinha Beatriz.
Vou ver todos meus sobrinhos e sobrinhas cidadãos de bem, formados, lindos e com uma vida honesta, digna e boa.
Amém.


                                          

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Papai

                                                 


Papai orgulhava-se de ser pernambucano, palmeirense e macho. Exatamente nessa ordem.
Papai foi um homem bonito: cabelos escuros, pele clara e olhos verdes agateados. Papai era o Tom Cruise do Nordeste.
Papai era muito trabalhador, honesto, "inguinórante", teimoso, manhoso, cabra da peste.
Papai não era muito empreendedor, não era forte; dava um passo à frente dois para trás.
Mamãe era forte, titânica e empurrava papai para a frente.
Papai trabalhava duramente, levantava cedo, chegava sempre antes do horário, não gostava de chegar atrasado. Papai era agoniado e avexado, como dizia mamãe.
Papai era meio Gregor Samsa, personagem de Kafka no livro "A Metamorfose". Só trabalho, honestidade, cumprir horários, obedecer.
Papai nunca faltava ao trabalho, mesmo doente.
Papai temia deixar faltar o "de comer" em casa. Papai temia que os filhos passassem fome.
Uma vez papai ficou alguns dias em casa e eu estranhei ver meu pai tão trabalhador ali, dentro de casa. 
Papai tinha muitas dores de cabeça. Papai foi ao médico, depois ao hospital e finalmente voltou para ficar alguns dias em casa para se recuperar e só então voltar ao trabalho. Papai trabalhava na Moóca, na Rua Taquari.
Papai havia feito uma pequena cirurgia na cabeça; foi para remover um tumor que se formara entre o cérebro e o crânio. Papai tinha um curativo em sua cabeça e o esparadrapo branco parecia um laço de fita que combinava com a calça social e com a camisa rosa clarinha. A moda do jeans ainda não era tão forte naquela época.
Papai agachado segurando uma toalha sobre a perna de Mãevelha. 
Mãevelha com uma veia estourada a sangrar através da pele fininha que se rasgara ao raspar na porta do banheiro.
Sangue.
Sangue na perna de minha avó e o curativo na cabeça do meu pai.
O vizinho vem ajudar e leva papai e Mãevelha à farmácia; voltam os dois com curativos limpos e novos.
Papai volta a trabalhar. Papai usa chapéu para proteger a cabeça do sereno e da friagem que "ofendiam" ainda mais suas dores de cabeça".
Papai não tinha culpa de ser fraco e medroso, papai fora criado sem mãe e por muitas madrastas que iam e vinham. Deixavam filhos e levavam pedaços de terra do meu avô José, que era homem de posses para a época.
Avó Mariana fora embora muito cedo e deixou papai pequeno, como apenas cinco anos.
Avô José, moreno bugre de belos e tristes olhos verdes era ainda jovem, bonitão e sedutor e encontrava facilmente pretendentes que muito queriam saber de seus bens e pouco queriam saber de seus filhos e dele mesmo.
Foram criados um cuidando do outro.
Hoje sonhei com papai e ele conversava e sorria. De repente alguém diz que papai morreu. Como?! Papai já morreu! São quase dois anos! Oxe!
Uma dor e uma tristeza imensa me invadem; acordei chorando.
Saudades.
Meu Deus, que papai e mamãe tenham paz, saúde, alegria e sossego; já trabalharam e sofreram demais quando estavam por aqui.
Acredito que papai estava em tratamento e agora que está melhor, passou para um outro lugar mais elevado. Papai estava tão fraquinho quando foi embora.
Meu Deus, olhai por nós. Olhai por papai, mamãe e por todos nós aqui.
Que sejamos felizes, que tenhamos paz, saúde, alegria.
Amém.