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quinta-feira, 24 de julho de 2014

Anjos

                                


Estava exausta; muitas noites sem dormir direito.
Insônia, dores e barulho dos vizinhos mal educados.
Dormi apenas duas horas na noite de terça para ontem e fui para o trabalho me sentindo um caco. Para ajudar, tem que empurrar o portão do estacionamento para abrir e fechar e isso me custa.
Estou cansada, frustrada e desanimada com as situações, as pessoas, o país...
Nada funciona, nada dá certo e tudo precisa de assinatura, documentação, carimbo, boa vontade (difícil)...
Saí do trabalho e precisei ir ao banco e depois ao supermercado, minhas frutas tinham acabado. 
Voltei para casa, guardei as coisas e arriei no sofá. Estava exausta a extremo e dolorida; empurrar o carrinho de compras era o mesmo que empurrar um carro de verdade.
Tomei os remédios para controle da pressão alta que mantem-se altíssima há muito tempo. A cardiologista mudou a dosagem e acrescentou outra medicação, mas a pressão continua nas alturas.
A hipertensão é agravada pela Acromegalia.
Tomei banho e fui para a cama mais cedo.
Tive sonhos estranhos e simbólicos, como sempre.
Sonhei com mamãe e meus irmãos. Uma porta se abria e eu me encontrava deitada em uma mesa cirúrgica cercada por pessoas vestidas de branco. Me examinavam, conversavam em uma língua que eu não conhecia, mas entendia o significado. 
Sou colocada de pé, uma porta se abre, essas pessoas falam com mamãe e lhe entregam uma radiografia da minha coluna; tem uma formação óssea estranha, como se fossem asas.
Meus irmãos estão do outro lado da porta e eu aguardo mamãe terminar de conversar com essas pessoas. Podemos ir e vejo que essas pessoas vestidas de branco têm asas!
Anjos?!
Mas me pareceram sérios demais, "secos" demais, compenetrados demais e não tinham nada daquela imagem doce e meiga dos anjos barrocos gorduchinhos e com cabelos loiros e encaracolados.
Meu joelho e coluna têm doído bastante. Meu ombro direito e mãos também. É a tal da osteoartrite sistêmica que afeta todas as articulações.
Está frio hoje. Ontem fez um dia belíssimo.
Comprei uma baby rose vermelha exuberante. Vou comprar mais terra para cuidar das plantinhas.
Comprei ração molhada sabor frango, estava em oferta, mas Alice, Branca e Loretta não gostam de frango. Puxaram a mim.
Vou fazer um bolo, estou com vontade.
É isso.



                                     

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Cinza e Rosa

                                 



Estou tão cansada.
Escreverei mais amanhã; vou para a cama com a gataiada.
As pernas pesavam e formigavam, o joelho direito estava duro e era como se minhas pernas não obedecessem.
Tontura, o velho conhecido "soco" na nuca...
Tive dificuldade para me levantar daquelas cadeiras do banco, que estava lotado, e ninguém ofereceu ajuda.
Caminhei cambaleante até o estacionamento e me joguei dentro do carro. Disse ao senhorzinho do local que ele poderia cobrar os minutos a mais que eu ficasse ali, eu não estava bem e precisava descansar um pouco antes de sair.
Vi belíssimas paineiras carregadas de flores róseas a enfeitar seus galhos e o chão à volta. O dia estava cinza, chuvoso e frio e o rosa das paineiras contrastavam com todo aquele cinza. 
Cheguei em casa e agradeci a Deus; cheguei bem.
Tomei mais uma dose dos anti hipertensivos e me deitei no sofá; acordei agora a pouco e não vi nenhum dos programas que costumo ver.
Vou para a cama agora, ainda estou meio zonza.
Amanhã será outro dia e será melhor.
Amem.


                                

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Betânia e Bianca

                                         

Trouxe dois peixes beta, duas fêmeas: Betânia e Bianca.
Betânia é esverdeada, esperta e inquieta, já Bianca é mais tranquila, sossegada e tem uma coloração nude, cor de rosa claro mesmo. Brasileiro adora nomes estrangeiros.
Preparei dois aquários improvisados com pedras e plantas, mas antes de separá-los, coloquei os três juntos e não foi uma boa ideia. Betanilson ficou agitado, agressivo, inquieto e investia contra as meninas; tive que colocá-lo de volta em seu aquário.
As fêmeas não são tão agressivas.
Todos gostam de dormir debaixo ou ao lado da pedra ou da planta que coloquei; todo mundo gosta de ter um cantinho aconchegante e o vazio total é assustador e devastador.
Elucubrei de novo. Mas é verdade.
Bom...
Fêmeas de um lado e macho do outro e o interessante é que ficaram se olhando através do vidro. Vai entender... Juntos brigam e separados se olham.
Acho que Betanilson sentiu sua paz ameaçada pela presença das fêmeas; ele deve estar acostumado a ficar só. Eu o entendo.
Vou ali fazer um chazinho.

                                       

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Toalha plástica

                                            


Na lista de material escolar tinha um item que era meu sonho de consumo: a toalha plástica para cobrir nossa carteira na escola.
Cada professora pedia uma cor, mas os alunos que já tivessem a toalha do ano anterior poderiam usá-la sem problema.
Era um metro quadrado de plástico quadriculado nas cores amarela, azul, vermelho ou rosa; algumas cores eram lisas e em tons claros.
Algumas professoras adotavam a cor rosa, mas os meninos se recusavam a usar e o jeito foi adotar duas cores: rosa e azul.
Eu achava lindo olhar meus coleguinhas abrir as mochilas, tirar a toalha plástica, desdobrar e abrir sobre a mesa. Colocavam seus lápis, estojo, cadernos e livros sobre a mesa forrada com a toalha tão bonitinha. Eu gostava das amarelinhas.
Cobrir a mesa era hábito dos alunos até a quarta ou quinta série e depois dessas fases os alunos já se achavam grandes e maduros o bastante para usar a carteira sem toalha nenhuma, toalha era coisa de criança do primário, diziam eles.
É isso.


                                           





quarta-feira, 27 de junho de 2012

Papai

                                                 


Papai orgulhava-se de ser pernambucano, palmeirense e macho. Exatamente nessa ordem.
Papai foi um homem bonito: cabelos escuros, pele clara e olhos verdes agateados. Papai era o Tom Cruise do Nordeste.
Papai era muito trabalhador, honesto, "inguinórante", teimoso, manhoso, cabra da peste.
Papai não era muito empreendedor, não era forte; dava um passo à frente dois para trás.
Mamãe era forte, titânica e empurrava papai para a frente.
Papai trabalhava duramente, levantava cedo, chegava sempre antes do horário, não gostava de chegar atrasado. Papai era agoniado e avexado, como dizia mamãe.
Papai era meio Gregor Samsa, personagem de Kafka no livro "A Metamorfose". Só trabalho, honestidade, cumprir horários, obedecer.
Papai nunca faltava ao trabalho, mesmo doente.
Papai temia deixar faltar o "de comer" em casa. Papai temia que os filhos passassem fome.
Uma vez papai ficou alguns dias em casa e eu estranhei ver meu pai tão trabalhador ali, dentro de casa. 
Papai tinha muitas dores de cabeça. Papai foi ao médico, depois ao hospital e finalmente voltou para ficar alguns dias em casa para se recuperar e só então voltar ao trabalho. Papai trabalhava na Moóca, na Rua Taquari.
Papai havia feito uma pequena cirurgia na cabeça; foi para remover um tumor que se formara entre o cérebro e o crânio. Papai tinha um curativo em sua cabeça e o esparadrapo branco parecia um laço de fita que combinava com a calça social e com a camisa rosa clarinha. A moda do jeans ainda não era tão forte naquela época.
Papai agachado segurando uma toalha sobre a perna de Mãevelha. 
Mãevelha com uma veia estourada a sangrar através da pele fininha que se rasgara ao raspar na porta do banheiro.
Sangue.
Sangue na perna de minha avó e o curativo na cabeça do meu pai.
O vizinho vem ajudar e leva papai e Mãevelha à farmácia; voltam os dois com curativos limpos e novos.
Papai volta a trabalhar. Papai usa chapéu para proteger a cabeça do sereno e da friagem que "ofendiam" ainda mais suas dores de cabeça".
Papai não tinha culpa de ser fraco e medroso, papai fora criado sem mãe e por muitas madrastas que iam e vinham. Deixavam filhos e levavam pedaços de terra do meu avô José, que era homem de posses para a época.
Avó Mariana fora embora muito cedo e deixou papai pequeno, como apenas cinco anos.
Avô José, moreno bugre de belos e tristes olhos verdes era ainda jovem, bonitão e sedutor e encontrava facilmente pretendentes que muito queriam saber de seus bens e pouco queriam saber de seus filhos e dele mesmo.
Foram criados um cuidando do outro.
Hoje sonhei com papai e ele conversava e sorria. De repente alguém diz que papai morreu. Como?! Papai já morreu! São quase dois anos! Oxe!
Uma dor e uma tristeza imensa me invadem; acordei chorando.
Saudades.
Meu Deus, que papai e mamãe tenham paz, saúde, alegria e sossego; já trabalharam e sofreram demais quando estavam por aqui.
Acredito que papai estava em tratamento e agora que está melhor, passou para um outro lugar mais elevado. Papai estava tão fraquinho quando foi embora.
Meu Deus, olhai por nós. Olhai por papai, mamãe e por todos nós aqui.
Que sejamos felizes, que tenhamos paz, saúde, alegria.
Amém.


                                    

terça-feira, 24 de abril de 2012

Lixão

Uma das marcas de iogurte de nossa época.
                                              


Havia muitas chácaras e muitos terrenos baldios no meu bairro que hoje é dos caminhões e das transportadoras.
O terreno em que hoje está localizado o Hospital Vermelhinho era um campo de futebol onde meus irmãos e meus primos batiam uma bolinha e também onde os supermercados grandes jogavam seu lixo, principalmente de produtos com prazo de validade vencida ou prestes a vencer.
Era muito iogurte, requeijão, manteiga, margarina; basicamente laticínios.
Sempre tinha alguém de olho quando os caminhões se aproximavam e descarregavam seu lixo no terreno e éramos avisados a respeito. Saíamos de casa munidos de carrinhos de feira, sacos, sacolas, caixas e tudo o que desse para colocar e trazer os laticínios do lixão.
Era uma festa!
Íamos com a nossa vizinha, a Dona Maria, e ela organizava o trabalho. Não podíamos ir sozinhos porque éramos crianças e deveria ter sempre um adulto junto conosco. Organização e segurança no trabalho infantil. Tá certo.
Dona Maria tinha mais experiência e nos ensinava como escolher o melhor iogurte, requeijão etc. Dizia para evitarmos os potes muito amassados, com tampa estufada e com validade muito vencida. Mas a grande maioria dos produtos estava ainda com a validade para vencer, questão de um ou dois dias e segundo soube, não é porque a validade de um produto vence hoje que amanhã ele estará estragado, ainda dá para consumir se for bem armazenado.
Bom...
Voltávamos para casa algumas horas depois e carregados com iogurtes, requeijão, manteiga... Trazíamos tudo sujo e lavávamos um por um; depois colocávamos na geladeira para podermos consumir bem geladinho. Delícia!
O requeijão vinha em copos de vidro e depois de vazios e lavados serviam como copos para tomar café, suco, água...Reciclar é preciso.
Até leite em pó nós trazíamos algumas vezes, mas o forte mesmo eram os iogurtes naturais, os requeijões, manteigas e os iogurtes tipo petit suisse, meus favoritos.
Chamávamos o iogurte petit suisse de Danoninho e ainda hoje chamamos. Adorava a embalagem com ondulações rosa e branca e nosso sabor favorito era o de morango. Nossa irmã caçula era pequena na época e só comia o sabor morango, não gostava dos outros sabores. Mas nós comíamos por ela. Para não estragar, claro! Evitamos o desperdício.
Levávamos iogurte na lancheira e nos exibíamos para nossos coleguinhas que diziam: "Nossa! Você é rico hein, trazer Danone de lanche!".
Na nossa época não havia tantas marcas e variedades de iogurte como há hoje e é por isso que a maioria das pessoas falam Danone em vez de iogurte.
Iogurte era produto caro e supérfluo para nós que só tínhamos o prazer e o luxo do iogurte quando mamãe recebia o vale e o pagamento nos benditos dias dez e vinte e cinco de cada mês.
Sabe que me deu vontade de comer um petit suisse? Não tenho aqui, mas posso fazê-lo. É assim:
1 pote de iogurte natural,
1 lata de creme de leite,
1 lata de leite condensado,
1 pacotinho de suco em pó sabor morango (ou outro sabor que desejar).
Mistura tudo no liquidificador, mas é melhor adicionar o suco aos poucos para não ficar muito doce, e despeja em vasilha e leva para gelar. Pronto.