quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Palavras



Voltei do trabalho agora a pouco. Tento organizar a casa, deixar as coisas em ordem.
Não pretendia escrever hoje, mas algumas situações me fizeram mudar de ideia.
Uma vez li um texto no livro de Língua & Literatura do Ensino Médio que me marcou até hoje. Era um texto sobre o poder das palavras; o poder que elas têm de levar um homem ao deleite ou espicaçá-lo até a morte. Eu tinha 15 anos e esse texto ficou gravado na minha memória assim como as belíssimas letras de canções de Zé Ramalho e Djavan. Lembro-me de "...Eu entendo a noite como um oceano que banha de sombras o mundo de sol. Aurora que luta por um arrebol de cores vibrantes e ar soberano..."
Entrava na sala de aula e vi escrito na lousa esse trecho da canção Beira-Mar de Zé Ramalho e encantei-me.
Ouvi no rádio AM de papai a bela e poderosa canção Faltando um Pedaço de Djavan:
"O amor e a agonia cerraram fogo no espaço, o cio vence o cansaço e o coração de quem ama fica faltando um pedaço..." Essas belas palavras cantadas nas belas vozes de Djavan e Zé Ramalho me elevam ao deleite ainda hoje.
Temos cada vez menos cantores de verdade.
Sempre as palavras...
Sejam elas escritas, ditas, sugeridas, insinuadas. Sempre o poder destruidor ou deleitoso das palavras.
Li algo agora a pouco que me desconcertou.
Por que as pessoas insistem em viver presas a um mundo particular onde elas estão sempre certas e o restante da humanidade está errado? Elas são as vítimas e os outros são os vilões?! E aí de quem tentar mostrar um outro ponto de vista a essa pessoa!
Não creio que as pessoas façam o que fazem sem querer; creio que fazem de caso pensado. Tudo calculado, concebido, manipulado. É uma coisa maquiavélica, maniqueísta mesmo. Mas o que mais me incomoda é o fato de a pessoa ofender e magoar o outro e depois agir como se nada tivesse acontecido. Tudo bem? Tudo bem nada!
Mas de quem é a culpa? Da Sociedade, da educação?
Será mesmo, Jean-Jacques Rousseau que o homem nasce bom e a Sociedade o corrompe?
Mas e se continuar no erro mesmo sabendo que pode e dever mudar? E se optar por viver no mesmo mundo infantil e tacanho, onde todas as mazelas são culpa dos outros?
O desperdício de talento e inteligência; o comodismo, a preguiça desmedida. Meu Deus!
Bom...
Estava a caminho da escola e parei para um senhor passar. Ele puxava uma carroça e deveria estar procurando material reciclável. Atrás de mim para uma mulher nervosinha que buzinava para eu sair da frente. Não podia sair; esperava o senhor completar sua lenta caminhada. E além do mais essa criatura mal educada deve desconhecer a Lei do Trânsito que obriga motoristas a dar preferência aos pedestres.
Fiquei observando o idoso enquanto ele esperava uma chance para atravessar. Vinha carro de todos os lados.
Era um homem negro ou (afro-descendente, se assim o preferirem) que aparentava uns 70 anos. Roupa velha e puída. Nos pés um par de sandálias gastas, muito usadas. A boca sem dentes, os cabelos brancos.
Respirava com dificuldade, fazia um esforço grande para puxar aquela carroça que ainda não estava cheia.
O que mais me marcou em sua aparência frágil, envelhecida e sofrida foi o olhar. Um olhar melancólico de alguém que quer, precisa e merece descansar, mas que não o faz porque tem que trabalhar para no mínimo sustentar algum marmanjo crescido que não tem a mesma coragem e disposição para trabalhar. Vejo muitos casos assim: idosos trabalham para sustentar filhos e netos acomodados. Idosos que deveriam descansar após ter criado seus próprios filhos, mas que agora têm que criar os filhos dos filhos.
Mamãe dizia: "Mateo que o pariu, Mateo que o balance".
Não sou contra esse comportamento, sou contra o comodismo e a exploração de idosos que deveriam descansar e não trabalhar.
O comodismo e cara de pau de gente saudável que tem a coragem de usufruir de um salário mínimo de gente que trabalhou o máximo!
Meu Deus!
As palavras...
Falei com o médico hoje e ele pediu novamente, mais uma vez de novo a liberação para a cirurgia. Temos que aguardar. Mais palavras...

Preto Velho

 O senhor afro-descendente que vi puxando carroça lembrava um Preto Velho.
Trabalhador. Sofredor. Forte.
Que Deus abençoe a todos nós. Sejamos pretos ou brancos, velhos ou jovens. Amém
       

                                    
                                

                                            





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