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domingo, 22 de julho de 2012

Pela cabeça dos outros

                                        


Mamãe dizia que quem vai pela cabeça dos outros é piolho e que caranguejo por causa de amigo perdeu a cabeça.
Quando pequenos tínhamos o hábito de tomar gemada. Nossa avó, minha Mãevelha, batia as gemas com açúcar e nos dava,
Estávamos em mais uma época difícil: seca, desemprego, fome...
Meu avô Paipreto era velhinho e doente; estava bem fraquinho e os alimentos eram racionados para poder render mais e dar de comer a todos. Nessas épocas difíceis a parentada se reunia e um dividia com o outro o pouco que tinha.
Não tínhamos tomado nossa gemada naquela manhã e minha prima Lúcia estava com vontade. Ela é mais velha que eu dois anos.
Tinha apenas um ovo na cozinha e que foi reservado para Paipreto; os outros poderiam aguentar a fome por mais tempo, eram mais fortes e resistentes.
Minha prima me convence a pegar o ovo na cozinha e levá-lo até ela, estávamos escondidas em um dos quartos. Depois ela me manda pegar uma caneca, uma colher e o pote de açúcar. Eu fui.
Ela fez a gemada. Tomamos.
Fomos brincar pelo quintal grande da casa e adorávamos pegar mamonas maduras e abrir para ver as sementes.
Dali a pouco Mãevelha nos chama e pergunta se vimos o bendito do ovo e eu fiquei sem saber o que dizer e lancei o olhar para minha prima; a filha da mãe diz: "Foi Rejane que pegou, vozinha. Ela queria a gemada e eu fiz pra ela".
Apanhei e nem tive oportunidade de explicar a minha versão da história. Mifu.
Algumas horas depois mamãe voltou de Recife com a ajuda do Tio José e eu contei-lhe a verdade. Fiquei com raiva da prima.
Estávamos agora em São Paulo e minha irmã Rosi era bebê. Naqueles tempos o posto de saúde entregava seis latas de leite em pó mensalmente para as mães que levavam os filhos para pesar, medir e vacinar.
Estava no quintal cuidando e brincando com minha irmã e a vizinha adolescente chega. Ela tinha um nome bem primaveril: Florinda!
Eu estava com nossas bonecas e brincava de fazer comidinha com as plantas do jardim de Mãevelha e com areia. Florinda diz: "Sabia que não pode dar comidinha de mentira para a boneca? Tem que ser leite de verdade, se não ela fica doente!".
"Mas boneca não  é gente", retruquei.
"A minha prima não quis dar leite pra boneca dela e a bonecar ficou doente e morreu".
Bom, fui até a cozinha e trouxe a lata de leite Ninho para fazermos o leite da boneca, mas a esperta da Florinda fez um copão de leite e botou goela abaixo!
Mãevelha veio ver o que estava acontecendo e vê a lata de leite em meio aos nossos brinquedos. Vixe! 
"Tu não sabe que o leite é pra tua irmã e pro teu irmão? Tu perdesse o juízo? Quem no mundo viu dar leite pra boneca?"
Falei que foi ideia da Florinda e Mãevelha botou a menina pra correr: "Vá simbora! Tu tá muito grande pra modi brincar de boneca. Vá pra sua casa! Vá procurar o que fazer!"
Apanhei com uma sandália de borracha grossa e pesada de papai.
Passei a evitar a Florinda. 


                                             

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Rosi

Rosi com Bibi no colo e ao lado do meu irmão Rogério e nossa cunhada Vanda
                                    


Hoje é vinte e nove de junho, dia de São Pedro.
São Pedro é o que cuida das chuvas e quem tem as chaves do céu.
São Pedro é padroeiro dos pescadores e o primeiro papa da igreja católica.
Meu Paipreto nasceu em vinte e nove de junho de 1885, dia de São Pedro.
Em vinte e nove de junho de 1974, nasce minha bela, inteligente e culta irmã Rosi. E corinthiana, claro. Graças a Deus.
Já contei aqui sobre o nascimento de Rosi e o motorista de taxi que se perdera no caminho para o hospital, mamãe com dores e papai preocupadíssimo em não passar em frente ao Corinthians para que o bebê não fosse corinthiano.
Minha Mãevelha queria que mamãe batizasse Rosi com o nome de Pedrita.
Rosi é o bebê que mamãe foi buscar no hospital e pedi a ela que mandasse outra pessoa buscar. 
Rosi é a irmãzinha que ficou internada porque ficou com vontade de comer bolo.
Rosi é a irmãzinha para quem comprei uma boneca morena vestida de índia.
Rosi é a irmãzinha para quem fiz mingau e coloquei nos potinhos verdes de iogurte e disse que era iogurte de coco.
Rosi é a irmã que defendeu os pobres gatinhos das artes do nosso irmão Rogério.
Rosi é a irmã que enciumada não gostou nada nada da chegada de Fubá e disse para mamãe devolvê-lo ao hospital.
Rosi é a irmã que despejou o talco em Fubá quando ele era bebê.
Rosi é a irmã que anos mais tarde doaria parte de seu fígado para Fubá. Foi feito um transplante chamado de "entre vivos", pois nosso irmão não suportaria esperar na fila de transplantes.
Rosi é mãe da minha belíssima, inteligentíssima e terrível Beatriz.
Rosi é a menor de nós seis e por isso é chamada de "Formiga" por nós e de "Fuimiga" pelo nosso irmão Cebolinha, o Rogério.
Hoje é aniversário de Rosi.
Peço a Deus, a São Pedro e ao Povo lá de cima que abençoem minha irmã, a protejam, a iluminem. 
Que tua casa tenha paz, tenha luz, tenha alegria, tenha fartura, minha irmã.
Que teus sonhos se realizem, se não todos de uma vez, mas um bocadinho a cada dia.
Amem.




                                      







sábado, 19 de maio de 2012

Vizinhos

Como sempre falo, meus vizinhos são bem barulhentos. 
Falam alto ao telefone, pessoalmente e tocam música de mal gosto.
Mas até que pararam um pouco de tocar as músicas após o nascimento do bebê que está agora com um mês.
Me pergunto às vezes se eles têm algum problema auditivo, pois se eu daqui escuto tudo, tudo mesmo, imagina esse povo berrando dentro de casa!
Vixe Maria.
Agora a pouco um deles falava com "mãinha" ao telefone enquanto o outro montava a "partileira" do quarto do bebê e um outro cantava.
A criança nasceu há um mês, como disse, e vive trancada às sete chaves. A janela do quarto nunca é aberta, as portas só são abertas quando alguém entra ou sai, para logo em seguida serem trancadas. 
O bebê vai ficar nessa clausura pelos primeiros quarenta dias, só faltam dez. É cultural e até que é bom esse cuidado todo, pois já vi mães largarem seus filhos bebezinhos com a primeira pessoa que possa tomar conta deles, só para ir para a balada fazer outro filho.
É isso.




                                           
                                            

sábado, 28 de abril de 2012

Filmes

                                             


Gosto de filmes e tenho meu favoritos que marcaram época.
Adorava assistir aos filmes da Sessão da Tarde da TV Globo na nossa velha TV preto e branco.
Lembro de alguns filmes que marcaram minha infância e juventude, embora não me lembre os nomes.
Lembro de um filme muito bonitinho onde a menina judia de treze anos finge ser mais velha e estudar em uma escola católica para conquistar o garoto de uma banda de música. A menina faz aula de violão com esse garoto e se apaixona por ele.
Outro filme é sobre alguns rapazes alemães que serviram na guerra e não são bem vistos pela sociedade. Um do rapazes vai à um pequena lojinha do interior para comprar algo e se apaixona por uma garota, filha do dono da loja. O amor proibido e bonito. O pai da menina é muito radical e rigoroso e não quer nem saber falar sobre namoro da filha com um alemão! A menina dá ao rapaz uma camisa que seria dada como presente de aniversário ao pai.
Outro filme ainda é de um agente especial da polícia que precisa levar uma suposta espiã para julgamento e obviamente ambos se apaixonam e enfrentam vários problemas.
O Pássaro Azul foi outro filme que marcou nossa infância e os filmes de aventuras também.
Tinha um filme onde o príncipe fora transformado em macaco pela bruxa má (aliás, tem bruxa boazinha?) e quando o feitiço é quebrado e o príncipe volta à sua forma original, meu irmão Rogério diz: "Eita príncipe feio do caramba! Ele era mais bonito quando era macaco".
Assistíamos ao filme Conflitos No Inverno (Winter People) e Naldão faz sua crítica: "Eita povo feio! Eita cachorro feio, bebê feio...". Todo mundo era feio no filme, na opinião de Naldão.
Gostávamos de assistir aos seriados do MacGyver e do Incrível Hulk.
MacGyver conseguia salvar o mundo com apenas goma de mascar, clipe de papel e elástico. Era um gênio!
Eu tinha dó do David Banner, o médico que se transformava no Incrível Hulk. Tinha muita melancolia e me cortava o coração quando ele caminhava sozinho pela estrada afora.
Mamãe tinha medo do Hulk e tinha medo de ir sozinha ao banheiro durante a noite. Morávamos na pequena casa com quintal grande e o banheiro ficava do lado de fora; mamãe dizia que olhava para o portão e via o Hulk se aproximando para pegá-la e nós ríamos e dizíamos: "Mas mãe, o que raios o Hulk vai querer com a senhora?". Mamãe estava grávida com meu irmão Fubá. Acho que é por isso que ele tem medo do escuro.


                                             

sábado, 21 de abril de 2012

Calmante

Rafaela e Beatriz
                                             


Beatriz é minha sobrinha. É linda, inteligente, terrível, esperta, "rispi, oreiúda e queixo duro", como dizia papai.
Quando era bebezinha Beatriz lutava contra o sono e a prima Rafaela faz o mesmo hoje, do alto dos seus longos seis meses de vida.
Quando tinha dificuldade em fazer Beatriz dormir, Rosi dizia: "Bem que podiam inventar Ypióca Baby e vender em farmácias. Eu compraria logo uma caixa de Ypióca Baby!".
Preta já pensou o mesmo sobre Rafaela.
Elas se esquecem que ser mãe é padecer no paraíso.


                                              

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Skate de Bebê

                                                


O skate era o brinquedo da moda e virou febre entre a molecada.
Fubá vê um comercial na TV mostrando um skate grande e com poderosas e potentes rodas que fazem manobras radicais.
Fubá pede a mamãe para comprar o tal skate e ela diz para ele esperar o dia do pagamento.
Chega o bendito dia do pagamento e mamãe vai ao bairro da Penha comprar o tão desejado skate de Fubá.
Ele espera ansioso e nós também.
Algumas horas depois mamãe abre o portão e a vemos entrar com um pacotinho debaixo do braço. Estranhamos e achamos que ela não comprou o skate. O que teria acontecido?
Perguntamos a mamãe: " Mãe, cadê o skate que a senhora foi comprar para o Fubá?"
"Oxe. E vocês não estão vendo o pacote aqui não, é?"
Nos entreolhamos e notamos a decepção de Fubá ao abrir o pacote e encontrar o pequeno skate.
Mamãe estranha nosso desânimo e pergunta: "Mas o que é que tem de errado com esse skate? Não era isso que Fubá queria?"
"Oxe, mãe. E a senhora chama isso de skate? Só se for skate de bebê".


                                              
                                           

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Talco (Tentativa de Homicídio)

                                


Antes usávamos muito talco. Substituía o desodorante.
Mãevelha dizia talco de pó.
Mamãe comprava talco da Avon para a gente e talco Pom Pom ou Johnson´s para o bebê da época. 
É, somos seis filhos. Oficialmente. Não sabemos os números extraoficiais e é melhor nem querer saber. 
Bom...
Mamãe trabalhava e eu cuidava da casa e dos meus irmãos.
Deixava tudo pronto no berço para facilitar quando fosse trocar o bebê.
Dou banho, mamadeira e coloco Fubá para dormir; depois vou lavar roupas.
Estou estendendo as roupas no varal quando escuto um choro agitado e muita tosse. Corro para ver o que é e vejo Fubá com o rosto todo coberto por um pó branco e Rosi segurando  
o talco.
Pego Fubá e lavo seu rosto e dou-lhe água. Ele tinha talco na boca também.
Tomo o talco das mãos de Rosi e pergunto o que ela estava fazendo. 
"Eu estava brincando com ele".
"Mas ele é pequeno, não sabe brincar ainda".
A partir desse dia, guardava os artigos de higiene e limpeza de Fubá na parte mais alta do guarda roupa. Vai que...
Fubá recuperou-se do susto e dormiu bem cheirosinho.