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segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Sabor e Saudade

                                     



Segunda-feira lenta. 
Dia morno e nublado.
Alguns raios de sol passam por entre as nuvens mais desavisadas.
Segunda-feira lenta, tudo é devagar e a gente se pega a divagar.
Passei na lojinha no meu irmão e vi minha sobrinha Rafaela. Tão linda, tão falante, tão graciosa. Perguntei se ela havia almoçado e ela disse que comeu tudinho.
Encontrei outras pessoas; conhecidos, parentes e até alunos.
Perguntaram se eu ainda faço aquelas "coisas boas" de comer e eu respondi que sim. Lembraram que mamãe estava sempre na cozinha preparando algo e nós a ajudávamos ao passo que também aprendíamos.
Era tão bom.
Às vezes preparo minhas guloseimas e adoro fazer isso. Cozinhar é um dos meus hobbies e passa tempo favoritos. Gosto de experimentar, testar, inventar...
Fiz esses dias um bolo de coco cremoso que mais parece pudim. Fica a camada de coco ralado na base do bolo e na parte de cima fica cremoso igual a pudim.
Ontem deu vontade de comer algo doce e fiz mousse de chocolate.
Mas eu gosto mesmo é do sabor de abacaxi com leite condensado. Lembra mamãe, lembra final de ano, as compras de Natal, os sonhos, as esperanças...
O pudim de Natal, ou "pudinho", como dizia papai, é um clássico e sempre teve presença garantida em todas as reuniões familiares de fim de ano e em outras ocasiões.
Trabalhei com uma moça que reclamava do pudim de leite da avó dela. Em todas as reuniões e eventos familiares lá estava o bendito do pudim. Rimos, mas eu disse a ela que agora ela reclama, mas quando a avó dela não estiver mais aqui e a saudade apertar, ela vai lamentar e vai sentir falta da avó e do pudim.
E estou com vontade de comer abacaxi com leite condensado, com vontade de fazer pudins, sorvetes, pavês...
Preciso comprar novas formas de bolo, as minhas estão todas velhinhas, tortas e amassadas.
Muitas são do tempo de papai e mamãe ainda.
É chegada a época das festas, dos preparos, das guloseimas, da saudade.
Às vezes acho que as coisas têm gosto, têm sabor e a saudade tem gosto de abacaxi com leite condensado, de tomate com açúcar, de farofa de ovo, de bolo de araruta, de mel de engenho com farinha de mandioca, de bolacha "cremi cráqui" com café no xicrão do meu avó Paipreto.
É tanta saudade.
É isso.






                                     

                                      



terça-feira, 20 de novembro de 2012

Marmita

                                  

Fomos almoçar na casa da minha irmã Rosi; fomos eu, Naldão e Rogério.
Pepê assou costela, linguiça e picanha; uma delícia.
Conversamos, lembramos causos e histórias antigas e rimos muito.
Hoje rimos, mas se soubéssemos dos "podres" na época, morreríamos de vergonha. Explico.
Meus irmãos Rogério e Naldão trabalhavam com papai na mesma metalúrgica que ficava no fim da rua onde morávamos e vinham almoçar em casa todos os dias. Não precisavam levar marmita, como a maioria dos piões de metalúrgica, como eram chamados os funcionários.
Mas como já disse aqui, meus irmãos têm um apetite que benza Deus! 
Na metalúrgica tinha uma cozinha onde os funcionários tomavam café e almoçavam e tinha também uma geladeira e uma marmiteira (local onde se esquenta as marmitas).
Os funcionários guardavam suas marmitas na geladeira quando chegavam logo cedo para trabalhar e lá pelas onze e meia um deles ia até a cozinha e colocava as marmitas para esquentar.
E o que fazia meu irmão Rogério?
Fingia que ia beber água na cozinha, fechava a porta e atacava as marmitas. Mas só comia a mistura: carne, frango e linguiça, se tivesse ovo, ele deixava pra lá.
Os piões começaram a estranhar o sumiço repentino e inexplicável de suas misturas e comunicou o fato ao encarregado que decidiu manter a cozinha fechada e ficar com a chave. Se alguém precise ir até a cozinha, o encarregado iria junto.
Resolvido o problema das marmitas.
Perguntamos se ele nunca revelou que era ele o assaltante de marmitas inocentes e a resposta foi: "Eu não! Pra eu apanhar?!"
Naldão disse que no começo os piões desconfiaram dele, só porque ele era gordinho.
Rogério disse que hoje pede perdão a Deus. 
Hoje não é tão difícil comer carne como era antes e os piões, como papai, comiam carne com fartura só nos mágicos dias dez e vinte e cinco, dia de pagamento e vale, respectivamente.
Meus irmãos, principalmente Rogério, continua carnívoro, herbívoro e onívoro, graças a Deus.
É isso.

                                       

domingo, 2 de setembro de 2012

Mundiça

                                            

Papai, claro, queria as coisas durassem o máximo possível e ficava muito brabo quando mamãe dizia: "As coisas estão acabando, meu velho, tem que fazer as compras".
Se mamãe falasse que acabou o sabão para lavar roupas ou se a mistura ia ser ovo... Vixe!
Fazíamos as compras e íamos à feira com mamãe e sobre a mesa colocávamos a fruteira carregada com laranjas e bananas, isso no sábado, na terça-feira já não tinha mais nada e papai ficava doido e dava-lhe sermão: "Mas será Deus impussivi?! Já acabou as fruitas que tu comprasse no sábado?! Que povo acanalhado! Amundiçado!"
Mamãe tentava explicar o que papai não queria ver nem entender; a família era grande, os filhos estavam em fase de crescimento e é normal ter um grande apetite, que os "primos" também comiam as frutas....
Os "primos" entre aspas eram rapazes solteiros ou homens casados e pais de família que vinham para São Paulo em busca de trabalho. Esses homens eram conhecidos de algum parente nosso que ficara lá em Pernambuco; bastava dizer que o pai conheceu o avô, da mãe, da tia, da sobrinha, de alguém que conheceu nossos avôs e pronto, era "primo"!
Dizíamos "primos" porque soava menos estranho e evitaria perguntas capciosas, pois era estranho colocar dentro de casa desconhecidos recém chegados de outro lugar que diziam ser parente ou conhecido de algum parente ou conhecido de nossos pais ou avós.
Bom, mas essa fase já passou, graças a Deus.
Eu achava engraçado papai falar "mundiça" e "acanalhado" e tempos depois fui descobrir que "mundiça" significava "imundice" e "acanalhado" significava alguém muito guloso, sem educação, zóião mesmo.
Eu estava em sala de aula e tentava fazer a chamada de quarenta e cinco doces e barulhentos alunos quando um deles diz: "Cala a boca, mundiça! Deixa a professora falar!"
Eu parei para rir e eles adoraram, claro.
É isso.

                                                   

                                      

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Mamíferos carnívoros, herbívoros e onívoros

                                        

Não estou falando sobre animais carnívoros, herbívoros e onívoros, estou falando sobre minha família. Explico.
Minha irmã Rosi me conta que preparava o almoço e perguntou à Beatriz o que ela queria, bife ou carne seca e ela responde: "Os dois".
Rosi tenta manter uma dieta balanceada e meio natureba e prepara carnes brancas como peixe e frango, mas Beatriz sempre pede uma carninha, um bifinho.
Beatriz gosta de dizer: "Eu sou carnívora que nem meu pai".
Eu gosto de um churrasquinho, mas raramente preparo carnes, cozinho legumes e faço saladinhas verdes temperadas com azeite de oliva e vinagre balsâmico. Às vezes me dá vontade de comer carne cozida com legumes e ligo para minha irmã Rosi ou meu cunhado Pepê e pergunto: "Que carne é boa para fazer carne de panela?", e recebo uma aula sobre carnes e cortes. Não entendo desses nomes dados, só sei que é carne e pronto.
Adoro carne seca com cuscuz nordestino.
Uma vez estava cansada de leguminhos e arroz integral e suquinho com soja e fiz uma comida danada de boa, meio mineirinha, sabe? Fiz uma farofa com linguiça e bacon e adicionei feijão e couve; ficou "bão dimais da conta, sô!"
Já falei aqui e repito, mineiros e baianos têm a culinária mais deliciosa do Brasil, acho eu, mas gosto dos bolos Souza Leão, bolo de macaxeira, tapioca com queijo coalho lá do meu Pernambuco e aprendi a apreciar um delicioso churrasco com os gaúchos trilegais.
E falando sobre carnes e outros alimentos, estava me lembrando e rindo sozinha das "inguinóranças" de papai, claro. Em décadas passadas a inflamação era galopante e os preços subiam sem controle, comprar carne era difícil e mamãe improvisava com peixes, frango, linguiça, o tal do Spam e quando a situação financeira estava complicada, mamãe fazia omeletes, ovo frito, cozido...
Papai vinha almoçar em casa e encontrava a mesa posta com arroz, feijão, farinha e ovo. Vixe! Papai ficava doido: "Mas eu trabalho que nem um fio duma égua e não tenho direito que comer um taco (pedaço) de carne?! Num vô cumê não!"
Mamãe ouvia pacientemente e depois dizia: "Oxe Dedé, e tu qué eu me vire em carne ou que vá roubar pra botar carne dentro de casa é? Tu qué que eu faça o que, homi? Quer comer coma, senão, lasque-se!".
Nossa Senhora! E o sermão prosseguia...
Outro alimento muito apreciado por nossa família é o leite. Meus irmãos caçulas Fubá e Renata adoram um leitinho com achocolatados, tomam litros. Rosi também gosta de leite, mas é mais moderada. Por outro lado, há outros de nós que não gostam de leite: eu, Beatriz e Vinícius. Compro leite de soja pra mim e fica muito bom batido com frutas.
Eu compro leite para meus gatos que adoram tomar um leitinho antes de irem para a cama. Ébano Nêgo Lindo se esfrega em minhas pernas e mia olhando para a geladeira, ele sabe que o leite está  lá.
E por falar em meu neguinho lindo, ele está bem melhor, graças a Deus. Comeu a ração que eu fui comprar, pois ninguém queria a que tinha aqui, tomou seu leitinho e agora dorme. 
Eu saí para comprar a ração favorita da gataiada e deixei Ébano deitadinho em um canto fofo que preparei para ele; saí preocupada e pedi a Deus e ao Povo lá de cima que cuidassem do meu gato, que trouxessem saúde para ele. Voltei para casa e o encontrei de pé, andando pelo jardim e cavando minhas plantas; olhei para o céu e agradeci.
Acho que Deus e o Povo lá de cima agiram rapidinho porque não querem ser pentelhados por mim a pedir pela bicharada. Mas eu só peço coisas boas, para mim, para minha família e para as pessoas que gosto. Coisas boas como saúde, solução de problemas que nos aporrinham, paz, alegrias...
Não peço riqueza nem boniteza, mas eu queria ganhar na Mega Sena para ajudar a bicharada carente. 
Amém.

                                          

domingo, 22 de julho de 2012

Pela cabeça dos outros

                                        


Mamãe dizia que quem vai pela cabeça dos outros é piolho e que caranguejo por causa de amigo perdeu a cabeça.
Quando pequenos tínhamos o hábito de tomar gemada. Nossa avó, minha Mãevelha, batia as gemas com açúcar e nos dava,
Estávamos em mais uma época difícil: seca, desemprego, fome...
Meu avô Paipreto era velhinho e doente; estava bem fraquinho e os alimentos eram racionados para poder render mais e dar de comer a todos. Nessas épocas difíceis a parentada se reunia e um dividia com o outro o pouco que tinha.
Não tínhamos tomado nossa gemada naquela manhã e minha prima Lúcia estava com vontade. Ela é mais velha que eu dois anos.
Tinha apenas um ovo na cozinha e que foi reservado para Paipreto; os outros poderiam aguentar a fome por mais tempo, eram mais fortes e resistentes.
Minha prima me convence a pegar o ovo na cozinha e levá-lo até ela, estávamos escondidas em um dos quartos. Depois ela me manda pegar uma caneca, uma colher e o pote de açúcar. Eu fui.
Ela fez a gemada. Tomamos.
Fomos brincar pelo quintal grande da casa e adorávamos pegar mamonas maduras e abrir para ver as sementes.
Dali a pouco Mãevelha nos chama e pergunta se vimos o bendito do ovo e eu fiquei sem saber o que dizer e lancei o olhar para minha prima; a filha da mãe diz: "Foi Rejane que pegou, vozinha. Ela queria a gemada e eu fiz pra ela".
Apanhei e nem tive oportunidade de explicar a minha versão da história. Mifu.
Algumas horas depois mamãe voltou de Recife com a ajuda do Tio José e eu contei-lhe a verdade. Fiquei com raiva da prima.
Estávamos agora em São Paulo e minha irmã Rosi era bebê. Naqueles tempos o posto de saúde entregava seis latas de leite em pó mensalmente para as mães que levavam os filhos para pesar, medir e vacinar.
Estava no quintal cuidando e brincando com minha irmã e a vizinha adolescente chega. Ela tinha um nome bem primaveril: Florinda!
Eu estava com nossas bonecas e brincava de fazer comidinha com as plantas do jardim de Mãevelha e com areia. Florinda diz: "Sabia que não pode dar comidinha de mentira para a boneca? Tem que ser leite de verdade, se não ela fica doente!".
"Mas boneca não  é gente", retruquei.
"A minha prima não quis dar leite pra boneca dela e a bonecar ficou doente e morreu".
Bom, fui até a cozinha e trouxe a lata de leite Ninho para fazermos o leite da boneca, mas a esperta da Florinda fez um copão de leite e botou goela abaixo!
Mãevelha veio ver o que estava acontecendo e vê a lata de leite em meio aos nossos brinquedos. Vixe! 
"Tu não sabe que o leite é pra tua irmã e pro teu irmão? Tu perdesse o juízo? Quem no mundo viu dar leite pra boneca?"
Falei que foi ideia da Florinda e Mãevelha botou a menina pra correr: "Vá simbora! Tu tá muito grande pra modi brincar de boneca. Vá pra sua casa! Vá procurar o que fazer!"
Apanhei com uma sandália de borracha grossa e pesada de papai.
Passei a evitar a Florinda. 


                                             

sábado, 14 de abril de 2012

Pesos e Medidas

                                            


Estávamos em São Paulo há poucos meses e aos poucos íamos nos familiarizando com os hábitos e costumes paulistanos.
Era tudo novo e "mudérno", como dizia Mãevelha.
Uma prima nossa que morava em São Paulo há mais tempo vai nos visitar e ensinar mamãe a preparar alguns pratos paulistanos como: arroz, feijão, salada, bife e batata frita; estávamos acostumados a cuscuz, carne seca, feijão de corda, queijo coalho, rapadura e muita farinha.
Na hora de separar os ingredientes para a aula de culinária descobriu-se que não tinha ovo e precisávamos urgentemente de ovos.
Mamãe me dá dinheiro e me manda ao boteco mais próximo para comprar uma dúzia de ovos, mas quando chego ao estabelecimento comercial me esqueço do que viera comprar. Um funcionário do local se aproxima de mim e me pergunta o que eu desejo e após pensar um pouco, respondo: "Eu quero um quilo de ovo".