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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Réstia De Sol

                                


Fim de tarde.
Observo uma luz que passeia pelos meus livros na estante e muda lenta e gradativamente de lugar até sumir por completo. É uma réstia de Sol.
Sorri e viajei de volta ao passado. 
Fim de tarde no meu Sertão pernambucano; minha avó atarefada com os afazeres da casa, meu avô Paipreto sentado no alpendre nos observando brincar, chão de terra, cheiro de chuva, tarde bonita.
Mãevelha nos manda entrar, é hora de tomar banho e se aquietar em casa, pois sair no sereno da noite pode ofender (fazer mal) e nos deixar constipados.
Exageros de vó.
Banho tomado. Olhamos pela janela o por do Sol e esperamos por mamãe que ainda não chegara do trabalho.
O Sol entra pelas frestas da casa simples e percorre um caminho dourado até desaparecer; a noite chega com os grilos cantando. 
Mamãe chega, que alegria!
Jantar pronto, nos sentamos à mesa e saboreamos cuscuz, sardinha seca assada na brasa, jerimum cozido, café.
É tudo tão simples, tão bom e tão delicioso.
Aos poucos o movimento da rua vai diminuindo e ouve-se só os ruídos da noite.
Mais um dia que se vai, mais um dia que vem e no fim da tarde a réstia de Sol passeará pelas paredes da nossa casa simples.
É isso.


                                  

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Melão

                             


Estava na sala dos professores e o funcionário da cantina traz café, chá e o lanche do dia. O lanche varia de frutas a bolachas, entre outros.
A fruta do dia foi melão e eu gosto bastante. Peguei duas fatias, o melão estava docinho e delicioso.
Os professores se serviram de uma ou duas fatias da fruta, exceto uma professora ranzinza, gulosa, grosseira e que se parece com a Bruxa do 71 do  Chaves.
Ela comia as fatias do melão como se nunca tivesse comido aquela fruta antes ou como se não comesse nada há uns três dias, pelo menos.
Como diz um conhecido meu: "Que falta de classe!"
Enquanto devorava a fruta, dizia que aquilo seria sua janta e isso às três e meia da tarde.
Engolia e falava: "Estou de regime. Eu não vou jantar, isso aqui é minha janta. Melão é bom pra emagrecer, já emagreci dez quilos. Melão é bom pra pressão alta, eu tenho pressão alta. Vocês são ruins de boca, então vou comer tudo. Tem muito melão...blá, blá, blá..."
Pensei comigo: "Eita mulherzinha mundiçada, acanalhada; (gulosa, mal educada, porca)!"
Como dizia mamãe, essa professora deve ser do tipo de pessoa que come tudo o que estiver pela frente só para economizar e não gastar o que tem em casa. 
Eita mundiça!



                                       



segunda-feira, 28 de maio de 2012

Memória

                                                   


Lembro de causos e acontecimentos de quando era muito criança, mas tenho dificuldade de lembrar coisas atuais.
Fui levar Morena Rosa para a veterinária e lá chegando dou as informações básicas, mas na hora de falar o número do telefone...
"Esqueci! Vou pra casa e de lá te ligo para te falar meu número"
E foi o que fiz.
Eu tinha mania de guardar papéis, documentos e até dinheiro dentro dos livros. Ficavam lá e eu me esquecia.
Tempos depois eu ia fazer a limpeza, adorava tirar meus livros da estante e limpar um por um e depois colocar de volta um por um, e encontrava coisas que eu nem lembrava que existiam ou que eu tivesse colocado lá.
Muitas vezes mamãe via-se nervosa por estar acabando as coisas em casa e não tinha dinheiro nem para o cigarro; o problema maior era papai, que não comia sem mistura, tinha que ter carne, ovo nem pensar. 
Papai ficava bravo ao voltar do trabalho e saber que iria jantar arroz, feijão, farinha e ovo: "Oxe, e não tem carne não, é?"
"É fim de mês, meu velho, as coisas estão acabando, graças a Deus. Você quer que eu faça milagre, é?"
"Eu não vou comer sem mistura!"
"Oxe, pai. É só misturar o arroz com o feijão e pronto!"
Papai ficava doido.
Fim de tarde e mamãe começa a preparar o jantar; ela sabe que papai iria reclamar da falta de carne e da presença de ovo, de novo.
Mamãe tem uma ideia: "Vou procurar nos livros! Quem sabe Rejane não esqueceu um dinheirinho dentro de um deles?"
Mamãe procura e acha.
Chego do trabalho e encontro a mesa farta; mamãe fumando cigarros de um maço cheio, café quentinho e cheiroso, panelas cheias no fogão, graças a Deus.
"Oxe, mãe, onde a senhora conseguiu dinheiro pra comprar as coisas? Pegou emprestado com alguém, foi?"
Mamãe sorri e diz: "É que tem alguém aqui em casa que deixa dinheiro nos livros e esquece".
Outras vezes conhecidos iam à nossa casa para pedir ajuda à mamãe e ela dividia o pouco que tinha. Às vezes a pessoa precisava de dinheiro para a condução, para comprar leite ou remédio para o filho e mamãe dizia: "Tenho não, meu filho. Estou esperando meu velho e meus filhos receberem"
Mamãe pensava um pouco: "Espere aí. Vou dar uma olhada nos livros da minha menina mais velha"
Mamãe com o livro nas mãos, olha para o céu e diz: "Deus abençoe minha filha e os livros dela"
Amém.


Alguns dos meus preciosos livros
                                           

Frango e Batata

                                           


Mamãe havia partido e em casa ficaram papai, Renata, Naldão e Fubá.
Renata era a chef da casa e preparava o jantar para quando todos chegassem do trabalho. O cardápio era sempre alguma carne com batata: carne moída com batata, carne com batata, salsicha com batata, frango com batata, qualquer coisa com batata.
Uma vez fui ao supermercado e Renata foi junto, pois precisa comprar, adivinha o que? Batata!
O preço da carne subiu e o consumo de frango aumentou; era frango todos os dias. Frango frito, assado, cozido, empanado, com molho, torta de frango, qualquer coisa com frango.
Fubá chega do trabalho e pergunta: "O que vai ter pra janta, Renata?"
"Frango com batata"
"De novo?! Pelo amor de Deus! Não aguento mais comer frango, daqui a pouco vou criar bico!"




                                                   

terça-feira, 10 de abril de 2012

Fígado

                                       


Não gosto de fígado, apesar de suas vitaminas, sais minerais, benefícios à saúde etc e tal.
Tenho nojo daquela coisa molenga e desmanchante.
Mas o fígado me faz rir, é mais um causo da minha família maluquetes.
Mamãe havia viajado a Pernambuco e ficamos em casa com papai, Mãevelha e o resto da família.
Eu e uma parenta que morava conosco sempre preparávamos o almoço e a janta mas papai sempre se metia em tudo, inclusive na cozinha.
Papai sai do trabalho, vai direto ao açougue e volta com um pacote nas mãos: era fígado.
Papai decide cozinhar. Nossa Senhora!
Papai quase desmonta a cozinha para encontrar panelas e outros utensílios domésticos que serão usados em sua arte culinária. Arte mesmo. Papai xinga, reclama que não encontra as coisas, que não sabe como achamos as panelas, os temperos... 
Mãevelha observa a tudo caladinha e fazendo seu crochê com os gatos aos seus pés.
Depois de muito sermão e muita reclamação o chef Dedé diz que a janta está pronta e a primeira vítima é Mãevelha, que sempre jantava cedo.
Papai coloca o cuscuz em um prato e o fígado cozido em molho em outro; Mãevelha olha para aquele caldo estranho, faz uma cara de nojo (juro por Deus que posso ver a expressão de minha avó ao olhar para o fígado ensopado) e diz a papai: "Quero isso não".
Papai se enfeza e tome sermão: "Oxe! E não quer por que, Bastião? Tu tá com o bucho cheio e fica botando bistaqui na comida! E o que é que tem demais a minha comida? Cozinhei o figo (fígado) com todos os temperos, tudo direitinho nos conformes.Tá tudo limpinho e bem feitinho, deixe de luxo, visse?" Papai chamava Mãevelha de Bastião.
Mãevelha olha mais uma vez para o prato e diz: "Oxe. Quero não. Deus me defenda! O cabra tem que mergulhar pra encontrar um taquinho (pedaço) de figo (fígado). Quero isso não. Vôte!"
Papai ficou ainda mais furioso quando o resto de nós se uniu a Mãevelha e ninguém quis comer o fígado preparado por ele em uma vã tentativa de ser chef de cozinha.
Como cozinheiro, papai era um bom metalúrgico.