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terça-feira, 16 de outubro de 2012

Tatuapé

O meu é aquele amarelo ali
                                 

Fui ao consultório do otorrinolaringologista que fica no Tatuapé, bairro dos novos ricos e endinheirados da região. 
Aliás, segundo informações do guia médico, o endereço fica na Vila Formosa, Altos do Tatuapé ou Jardim Anália Franco. É tudo a mesma coisa, tudo lugar bonito e rico cheio de gente fina, elegante e sincera.
A região está cada vez mais tomada pela construção de prédios que pipocam por todos os lados; as casonas grandes, bonitas, com jardins e janela grandes  estão rareando, ou são derrubadas para a construção dos prédios ou se transformam em lojas chiques, consultórios chiques, escolas de línguas chique, academia fitness chique e tudo chique. É uma "chiqueza" só.
Achar vaga na rua para estacionar está cada vez mais difícil e olha que quando comecei ir aos médicos que ficam na mesmíssima rua vaga era o que não faltava e ali não passava apenas de um bairro da ZL. Mas como diz o tio Francisco do Paraná: "Diferençô muito".
O trânsito é caótico e o que se vê é o vai e vem contínuo e constante de carrões com playboys ouvindo música em som altíssimo e/ou dondocas loiras, com óculos fashion e enormes.
Será que essas pessoas são felizes? Será que agem assim para preencher o vazio interior? Gastar, ostentar, exibir as fazem mais felizes? Sei não.
Lojas e mais lojas de carrões caros e importados; não se vê concessionárias básicas com carrinhos populares.
As lojas de roupas exibem roupinhas caras e que poderiam ser compradas por um preço bem menor na Rua José Paulino e no Brás.
Subi a Serra de Japi e viro à esquerda da Emilia Marengo e vejo lojas de decoração, moda, carros, bancos nobres. Reparo em um lojinha tímida que vende miudezas, iguais a essas lojinhas simples de bairro; pensei comigo: "Duvido que o povo rico daqui entre numa lojinha simples dessa, loja de pobre igual as que íamos em nosso bairro para comprar material escolar, papelaria etc".
Olho à volta, observo, comparo, viajo na imaginação.
Aguardo o farol abrir na Itapura para pegar a Radial e dois rapazes em um carrão me olham com ares de estranhamento. Claro, óbvio, público e notório que não se admiravam com minha estonteante beleza nem com meu possante popular, mas sim com meu carão acromegálico.
Voltei para casa e volto cansada dessa via crucix de médicos, exames, laboratórios, laudos etc...
Fiz um cuscuz de coco e vou comer com leite. Estava com uma vontade arretada de comer cuscuz de coco, num sabi?
Sei não... Às fico pensando comigo mesma e pergunto onde foi que falhamos. Nosso sonho, meu sonho, era morar em uma casona grandona e bonita, com piso, azulejo, campainha e um enorme jardim. Mas não deu. Moramos em nossos cafofos nada chique, mas estamos bem.
Acho que ser rico dá muito trabalho e eu não sei se conseguiria manter a estafante rotina de esticação de cabelo, maquiagem, caras e bocas. Isso sem contar que rico é mais contido, ri pouco, nunca dá boas gargalhadas e é cheio de não me toques.
Eu não queria ser rica abestada, queria ter dinheiro para ter uma vida digna, sem preocupações com as contas que se acumulam, sem contar os trocados para de vez em quando comprar um pizza de provolone, minha favorita. 
Queria ter uma casona grandona para poder cuidar da minha bicharada e daqueles que fossem jogados em meu quintal.
Queria que cada irmão e irmã ficasse bem e todos seríamos felizes para sempre.
Já fiz minha escolha e escolhi viver entre os meus entes queridos, meus bichos.
A solidão é minha maior companheira. Meus bichos também.
É isso.

                               

                                     


quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Consulta, Cardiologista, Caminhoneiro, Carrões

                                     

Assistia ao programa A Liga que falava sobre baladas. 
Balada para mim é coletivo de balas perdidas. 
Bom...
Mostravam dois tipos de baladas: a dos ricos e a dos pobres da ZL. É nóis.
O que separa essas baladas é o poder aquisitivo das pessoas, porque a futilidade é a mesma. Desculpa aí.
Tanto as meninas pobres quanto as ricas usam salto alto, vestidinhos curtos, muita maquiagem e cabelinho esticadinho. Os meninos ricos usam roupas de marca e os da ala pobre também; todos se esforçam para manter o status, mesmo que para isso todo o salário do mês seja comprometido.
Antes de saírem para a balada param em um bar para um "aquecimento" onde são consumidos litros e litros de bebidas alcoólicas e energéticos. A turma rica gasta mais de dois mil reais nas bebidas do "aquecimento pré balada". 
Só bebem, e se um grupo pedir, por exemplo, cinco garrafas de champagne, o outro grupo pede seis ou sete, é para competir quem gasta mais, quem pode mais.
Futilidade.
Muita bebida, carrões, aparência, exibicionismo, ostentação, vazio.
Como as pessoas podem se esforçar tanto para parecerem aquilo que não são?
Provar o quê pra quem? 
O valor de um produto não tem nada a ver com suas características físicas, já disse Karl Marx.
Assisti parcialmente ao programa, é muita babaquice para meu gosto, mudei de canal e depois decidi me deitar e além do mais, eu teria consulta com o cardiologista na manhã seguinte.
Saio pelas ruas afora no meu humilde possante e vou ao bairro do Tatuapé, o novo Morumbi da ZL. Prédios de luxo, carrões e ostentação. Aguardo o farol abrir e estou entre dois baita carrões, um KIA Sorento e um IX35, e ambos tocam as mesmas musiquinhas chiclete de mal gosto. Nossa! No sentido contrário vem uma Pick Up gigantesca tocando som de balada em altíssimo volume que estrondava os tímpanos dos inocentes ao redor. O dinheiro compra carrões potentes mas não compra bom gosto e educação.
Chego ao consultório do cardiologista, faço a ficha e aguardo. Sou chamada e ao entrar no consultório sou atendida por um homem gorducho, com barriguinha de cerveja que lembrava um caminhoneiro, com todo respeito. O doutor de poucas palavras e paciência igual não usava jaleco, estranhei.
Fez as perguntas de praxe, mediu minha pressão, que para variar estava alta e fiz um eletrocardiograma: Bloqueio divisional antero superior esquerdo. Nada de mais ou de muito grave, apenas um desvio formado pelo esforço do coração para bombear o sangue; esforço acentuado pela pressão alta. 
Segundo o cardiologista, é necessário controlar a pressão e evitar que ela fique nos altos e constantes 16x11, é isso que sobrecarrega o coração. A Acromegalia intensifica o problema já existente e hereditário, papai e mamãe eram hipertensos assim como boa parte da família. 
Às vezes a situação piora e a pressão chega os 22 ou 24x18, aí o risco de um AVC (acidente vascular cerebral) o famoso derrame, é bem maior.
Vou fazer um ecocardiograma e exames de sangue e tomar mais um remédio para o controle da pressão e quando os exames estiverem prontos, os levarei ao lacônico doutor com cara e corpinho de caminhoneiro. 
Aliás, é uma coisa que me incomoda e tira um pouco da credibilidade que poderia depositar em determinado profissional: médicos obesos e/ou fumantes. Não combina. Profissionais da saúde deveriam zelar pela própria saúde para dar o exemplo aos pacientes. Na boa, que moral tem um médico gorducho e/ou fumante? Dá para confiar em um profissional assim? Dá não.
Vou cuidar de mim.
É isso.

                             

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Sala

Li artigo que fala sobre empreendimentos imobiliários destinados aos muito ricos e que trazem como novidade salas amplas onde os carros são estacionados/guardados.
Esse negócio de carro na sala fez-me lembrar das decorações de antigamente em casa de pobre, como a nossa.
Na nossa época, alguns eletrodomésticos eram coisa de e para gente rica e quando um pobre conseguia comprar um, o exibia na sala. Explico.
Liquidificadores, batedeiras de bolo, microondas e afins eram colocados na estante da sala! O objetivo era mesmo fazer com que as visitas vissem aqueles aparelhos modernos e naturalmente ficassem com inveja.
As mulheres faziam capinhas de tricô e crochê para cobrir os liquidificadores, batedeiras, cafeteiras etc... e tal.
Já disse aqui e repito: pobre é besta mesmo!
É isso.

                                  

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Hora do Recreio

                                           


Na nossa época de escola o intervalo para o lanche era chamado de hora do recreio.
Eram curtos quinze ou vinte minutos onde podíamos conversar com nossos colegas, alguns corriam pelo pátio e a maioria ficava na imensa fila da cozinha para pegar o lanche e repetir. Quando alguém dizia que ia ter repetição todos corriam para garantir o lugar na fila.
Via os alunos com seus pratos e canecas nas mão a esperar a tão desejada vez de comer ou beber mais um pouco da gororoba chamada lanche.
Eu raramente pegava lanche, só quando era bolo ou bolacha wafer.
Eu tinha certo nojo das refeições preparadas pelas merendeiras da escola; a sopa era um caldo marrom com uns grãozinhos estranhos a boiar e chamávamos "sopa de Bonzo". Bonzo era uma ração para cães, uma das primeiras a surgir no mercado.
O arroz doce e a canjica era ralos caldos brancos e para encontrarmos um grão tínhamos que pescar com a colher.
Só sobrava mesmo o bolo e as bolachas, porque o resto...
A coordenadora ia de sala em sala para falar sobre a importância de uma boa alimentação, que estávamos em fase de crescimento  e que precisávamos comer. Eu não comia aquela gororoba de cor estranha.
Mamãe foi chamada e informada sobre minha recusa em comer o lanche oferecido pela escola e eu continuei me recusando, mas chegava à casa e só não comia as paredes.
Algumas vezes comprava Lanche Mirabel (já falado sobre em postagem anterior), mas comia no caminho para a escola.
Nossa turma era dividida em riquinhos e pobres e as filas do lanche eram compostas por estes; os riquinhos levavam seu próprio lanche e eu achava chic e delicioso o embrulho em papel alumínio. Outros levavam iogurte e eu achava lindo lamber a tampa do pote e dizia comigo mesma que um dia eu também levaria um delicioso lanche embrulhado em papel alumínio e um pote de iogurte.
Cresci e hoje a variedade de ração e iogurte é imensa.
Mas ainda acho que o lanche embrulhado em papel alumínio fica muito mais gostoso.