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segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Avental

                                 


Usávamos uniforme escolar: calça ou saia azuis, camisa ou camiseta brancas, sapatos pretos ou tênis azuis e meias brancas.
Estava na oitava série e mamãe já havia feito minha matrícula em outra escola para o colegial, o atual ensino médio.
A escola onde concluíra o primário e o ginásio, atuais ensino fundamental I e II, era municipal e o ensino médio só tinha nas escolas estaduais.
Início das aulas no ensino médio na nova escola e os alunos não usam uniforme, usam avental.
Mais prático, pois podíamos ir com qualquer roupa de casa e era só vestir o avental. 
Eu ficava observando as roupas e calçados das novas colegas da nova escola e me imaginava vestida nessas mesmas roupas tão bonitas e tão fashion. Mas as meninas tinham corpão, pernões, peitões, bundões, e eu era uma Maria Moleque compridona, magricela e sem atrativos físicos nenhum. Ninguém estava nem está interessado em beleza interior, a não ser que seja arquiteto ou decorador.
O avental servia para cobrir minha magreza e disfarçar minha falta de atributos físicos.
Mas o avental me fazia sentir inteligente, esperta, intelectual, séria e estudiosa; e eu era.
Mamãe lavava meu avental, o colocava para quarar e o deixava tão branquinho como coco; depois ela passava e fica impecável. 
Eu saía para a escola e mamãe me fazia as mesmas boas e velhas recomendações de sempre: "Vá com Deus e Nossa Senhora da Guia. Quando sair da escola venha direto pra casa. Não pare no meio do caminho..."
Eu voltava para casa vestida em meu avental branco como coco e me sentido muito adulta, madura e responsável; e eu era.
É isso.


                            

                          

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Conjunto, Agasalho, Esquente

Paulista
                                        

Choveu, esfriou e fez um lindo dia cinza hoje. 
Quem me dera ver o mar, meu doce mar, num dia tão lindo como esse.
Gosto de sol, sim, mas não desse sol escaldante que me deixa suando em bicas e vermelha que nem um camarão.
Bom...
Observo as pessoas na ida e na volta do consultório médico e estão todas agasalhadas, encapotadas e encolhidas. Pensei comigo: "Paulista é assim mesmo, basta cair uma gota de chuva ou baixar um grau na temperatura que todo mundo veste roupas de inverno".
E pensando em inverno, lembrei de nossos uniformes escolares, eram dois: o de verão e o de frio. Mamãe dizia que era "liforme de calor e liforme de frio".
Dizíamos "conjunto" para os agasalhos constituídos de calça comprida e blusa de manga comprida, alguns tinham capuz. 
Lembro que sabíamos a qual escola pertencia tal aluno só pelo número de listras em seus "conjuntos", por exemplo: O "conjunto" da escola Heróis da FEB era de um azul anil com duas listras finas e o conjunto da escola Coronel Romão Gomes era de um azul mais claro e três listras largas. Sabíamos se a molecada conhecida estudava no Heróis ou no Romão só pelo tipo de conjunto que usava. Época boba e engraçada.
Mamãe vendia roupas e as pessoas perguntavam se ela tinha agasalhos e em dúvida, ela nos perguntava: "Agasalho é conjunto, é?"
Estávamos em Buíque, Pernambuco, e lá faz bastante frio nos meses de inverno; a cidade está a setecentos e noventa e oito metros acima do nível do mar. Mamãe voltava da casa de uma das sobrinhas que diz para a filha: "Bote um esquente no menino". Estranhamos.
Mamãe perguntou o que era esquente e ficamos sabendo que esquente, conjunto e agasalho são a mesma coisa.
Um só país, uma só língua, mas tanta variedade.
É isso.
                                    

domingo, 29 de abril de 2012

Faustão

Beatriz tem cinco anos e ainda não entende a relação entre tempo, dias da semana, meses...
Ela sabe que é quinta-feira porque é dia de balé e sexta-feira porque é dia de levar brinquedo na escola.
Sábado é dia feijoada, de lavar roupas, de feira e pastel com caldo de cana.
Domingo é dia de Faustão.
A mãe fala que vai lavar seu uniforme e ela pergunta: "Quando eu vou pra escola, mãe?"
"Segunda-feira".
"Segunda-feira é depois do Faustão?"


                                             

quarta-feira, 14 de março de 2012

Azul & Branco

                                                


Um novo ano letivo começa.
Estava agora na segunda série.
Mais uma lista de material, mais um aviso para comparecer às aulas vestida no uniforme azul e branco.
Vou à loja com mamãe,graças a Deus, para comprar o material escolar e o uniforme e dessa vez tudo seria novo.
Voltamos para casa com nossas compras. 
Chove muito. Espero impaciente a noite chuvosa passar, quero que o dia chegue logo.
Amanhece. Levanto-me bem cedo, tomo banho e visto meu uniforme novo. Meu uniforme azul e branco.
A camisa branquíssima com o bolso costurado por Mãevelha, a saia plissada, azul marinho, as meias brancas e o meu Conga novinho!
Estava radiante em meu uniforme escolar.
O material escolar era agora levado em uma maleta, o saco plástico do arroz tornara-se pequeno para meus cadernos, meus livros e meus lápis.
Estou pronta para ir para a escola, mas antes ouço: "Cuidado para não sujar o uniforme novo. Cuidado com o barro da rua. Cuidado com suas coisas. Quando terminar a aula, venha simbora pra casa".
"Tá bom. Tchau, mãe. Tchau, Mãevelha".
"Que Deus e a Virgem da Conceição de acompanhem".
Caminho pela rua barrenta. Caminho feliz em meu uniforme novo e em meu Conga novo.
Caminho com todo o cuidado para evitar o barro da rua e para não sujar meu tênis azul, novinho.
Eu estava tão feliz que não sentia o chão sob meus pés.
Eu não caminhava, eu flutuava.
O céu cinza e chão de barro marrom não atrapalhavam o colorido da minha alegria azul e branca.