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sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Conjunto, Agasalho, Esquente

Paulista
                                        

Choveu, esfriou e fez um lindo dia cinza hoje. 
Quem me dera ver o mar, meu doce mar, num dia tão lindo como esse.
Gosto de sol, sim, mas não desse sol escaldante que me deixa suando em bicas e vermelha que nem um camarão.
Bom...
Observo as pessoas na ida e na volta do consultório médico e estão todas agasalhadas, encapotadas e encolhidas. Pensei comigo: "Paulista é assim mesmo, basta cair uma gota de chuva ou baixar um grau na temperatura que todo mundo veste roupas de inverno".
E pensando em inverno, lembrei de nossos uniformes escolares, eram dois: o de verão e o de frio. Mamãe dizia que era "liforme de calor e liforme de frio".
Dizíamos "conjunto" para os agasalhos constituídos de calça comprida e blusa de manga comprida, alguns tinham capuz. 
Lembro que sabíamos a qual escola pertencia tal aluno só pelo número de listras em seus "conjuntos", por exemplo: O "conjunto" da escola Heróis da FEB era de um azul anil com duas listras finas e o conjunto da escola Coronel Romão Gomes era de um azul mais claro e três listras largas. Sabíamos se a molecada conhecida estudava no Heróis ou no Romão só pelo tipo de conjunto que usava. Época boba e engraçada.
Mamãe vendia roupas e as pessoas perguntavam se ela tinha agasalhos e em dúvida, ela nos perguntava: "Agasalho é conjunto, é?"
Estávamos em Buíque, Pernambuco, e lá faz bastante frio nos meses de inverno; a cidade está a setecentos e noventa e oito metros acima do nível do mar. Mamãe voltava da casa de uma das sobrinhas que diz para a filha: "Bote um esquente no menino". Estranhamos.
Mamãe perguntou o que era esquente e ficamos sabendo que esquente, conjunto e agasalho são a mesma coisa.
Um só país, uma só língua, mas tanta variedade.
É isso.
                                    

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Besteirinha

Calor demais, detesto!
Tem passado dos trinta graus a temperatura aqui em São Paulo e isso porque estamos no final do Inverno.
Não chove há dois meses também e a secura do ar é outro problema.
Em dias quentes não costumo comer muito, costumo beber muito suco com bastante gelo. Adoro.
Mas suco não enche o bucho de ninguém, diria Mãevelha, e é preciso o camarada comer uma besteirinha para ter "sustança".
É isso. Estou como fome e acho que vou comer uma besteirinha; frutas geladinhas.
Na casa das minhas tias em Buíque, Pernambuco, uma besteirinha dá para alimentar uma família faminta, quem dirá uma só pessoa! É muito "dizagero", como dizia papai.
É isso.

                              

                                     

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Perdidos

                                     

Estava na casa da minha tia Antônia em Buíque, Pernambuco.
A tia riscava moldes de roupa que seriam costuradas a seguir, a tia é ótima costureira.
Mamãe sai do banho e tia Antônia a chama: "Marlene, minha irmã, tu sabe quem se perdeu-se?"
"Sei não, minha irmã. Quem foi? Diga!"
"Foi a filha de fulana. Perdeu-se mais o namorado faz é tempo, visse? E não é de hoje não, já faz tempo que ela não é mais moça"
"E como tu soubesse, Antônia?"
"A mãe me ligou e me contou. Quando eu soube, chega me deu um baque do coração. Meu Cristo!".
E as duas conversavam...
Entrei na conversa, era "inguinórança" demais!
Disse: "Como eles se perderam? Tomaram o ônibus errado? E por que ela não é mais moça? Por acaso virou menino?! E o que é que tem demais? Vão casar mesmo, já compraram os móveis, já marcaram a data do casamento. Vocês duas estão velhas e ultrapassadas!"
Vixe!
Levei broncas de mamãe e de tia Antônia e por pouco não levo uns tapas.
E o sermão prosseguia defendendo a tese de que as pessoas devem segurar o fogo da paixão e esperar até o dia do casamento, que isso, que aquilo.
Curioso, as moças devem manter-se castas, mas os rapazes podem pegar geral!
Direitos iguais ontem, hoje e sempre!
Abaixo a "inguinórança" machista!
É isso.


                                     
                                    

quarta-feira, 11 de julho de 2012

São Paulo

                                          


São Paulo é terra de migrantes e imigrantes.
Em São Paulo pode-se ver judeus, muçulmanos, cristãos, macumbeiros e todo tipo de gente convivendo numa boa. Claro que têm os tolos que se acham melhores que os outros e saem por aí batendo, queimando, violando as pessoas "diferentes" dos padrões estabelecidos sabe lá Deus por quem e por quê.
São Paulo nos recebeu de braços abertos e com sua garoa e seu céu cinza. Amo São Paulo, meu Santo São Paulo, como dizia mamãe.
Ainda lá no meu sertão pernambucano ouvia as pessoas da vizinhança dizer que o filho, o marido, um parente ou algum conhecido tinha ido a São Paulo. Via mamãe esperar ansiosamente pelo carteiro que trazia o dinheiro de São Paulo mandado por papai.
São Paulo é grande, rica, problemática, caótica, frenética, nunca dorme, nunca para; tem tudo, basta procurar.
Mas recentemente tenho sentido uma saudade arretada do meu Pernambuco.
É isso, estou entre dois amores: São Paulo e Pernambuco.
Quero estar onde a paz esteja.
A paz, o aconchego, a alegria...
Falei com minha tia Dolores que mora em Buíque e ela disse: "Olhe, minha filha, o povo aqui pensa que quem mora em Sum Paulo é rico. Basta chegar uma pessoa de lá e eles aqui dizem: 'Aquele cabra veio de Sum Paulo, então é rico, então tem dinheiro".
Não posso colocar aqui o que tia Dolores disse às essas pessoas iludidas com a suposta riqueza "fácil" de São Paulo. É rica sim, mas tem que trabalhar duro, encarar trânsito parado, transporte público esgotado, lotado, atrasado. Não é fácil não.
Meu Paipreto já dizia naquela época em  que a "mudernidade" nem era tanta assim: "É minha filha, Sum Paulo dá o ouro mas tira o couro!".
Paipreto era sábio.
É isso.


                                   

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Galego

Beatriz, galega neta de nordestinos.
                                             


No Nordeste as pessoas loiras, de olhos e pele clara são chamadas de galegas.
Mesmo aquelas que têm cabelo escuro mas que têm pele clara também são chamadas de galegas.
Nas nossa última viagem a Buíque, Pernambuco, saímos papai, eu e Renata pelas ruas da cidade. Era um sábado, dia de feira e já às oito horas da manhã o sol e o calor eram de rachar.
Papai, Renata e eu passamos protetor solar e saímos  paramentados com chapéu, óculos e sombrinha (guarda chuva); chamamos a atenção dos buiquenses. Mas também não era para menos: três branquelos galegos sob sol quente, vestidos como turistas de países frios e papai falando seu português rápido e quase totalmente ininteligível!
As pessoas nos paravam e algumas perguntam: "De que canto do mundo são vocês?".
Ninguém acreditava que éramos brasileiros e nordestinos!
Havia ido à praia da Boa Viagem com minhas primas de Recife e lá chegando fui assediada pelos vendedores de água de coco e toda a parafernália praiana; eles falavam comigo em um portunhol estranho e eu dizia que era pernambucana: "Oxe, é não! Na terra que tu veio não faz sol não, é?".
Faz sim, e muito.


Praia da Boa Viagem. Recife - PE
                                      

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Tia Dolores

                                                




Tia Dolores é irmã de mamãe e ao contrário de tia Antonia, é bastante despachada, engraçada e faladeira.
Tia Antonia é tímida, mais calada e conservadora.
Tia Dolores e tia Antonia moram em Buíque, Pernambuco.
Mamãe adorava viajar e sempre que possível, íamos juntos com ela.
Não tinha época certa para viajar; se fosse no meio do ano pegaríamos chuva, friozinho e névoa em Buíque, que fica a aproximadamente 800 metros acima do nível do mar. Se fossemos em dezembro, enfrentaríamos um calorão danado de grande. Ave Maria!
Além do calor tínhamos que encarar as muriçocas (pernilongos) e baratas enormes.
As baratas pernambucanas parecem ter o dobro do tamanho das baratas paulistanas. Fiquei espantada, assustada e com nojo desse inseto kafkaniano (Kafka nunca disse que o inseto no qual transformara-se Gregor Samsa [metafisicamente] era uma barata, no livro "A Metamorfose"). Beleza.
Tia Dolores percebe que me espantei com o tamanho da barata e diz, para me assustar mais ainda: "É, minha filha. As baratas daqui são bem grandes, visse? Elas até usam óculos!".
"Óculos, tia?! Oxe!".
"Arrepare o tamanho dos zóio delas. Não parece óculos?"
"Vixe. É mesmo tia. Que nojo!".
A tia continua no assunto insetívoro e me pergunta: "E lá em Sum Paulo tem muita muriçoca?"
"Tem sim, tia".
"E como é que vocês chamam as muriçocas de lá?"
"É pernilongo, tia"
"Pois aqui elas vêm sem a gente chamar".
A tia é muito engraçada e maluquetes.


 


                      

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Mato

                                             


Acabei de falar sobre nossa aventura em Gravatá, mas a história se divide em antes e depois.
Papai, claro, é personagem principal dessa história.
Foi assim: Antes de nos separarmos do grupo de mamãe e nos perdermos na cidade, houve alguns acontecimentos insólitos envolvendo papai, obviamente.
Tomamos caldo de cana em um botequinho de beira de estrada e de lá prosseguimos com nossas andanças. 
Papai fica nervoso por não acharmos o caminho de volta e diz: "Acho que quero c..."
"P.Q.P. pai! Mas tem que ser agora? Não dá para segurar até chegarmos em casa?"
"Dá não. Aquele caldo de cana me ofendeu-me. Meu istambo é fraco e quando eu fico néivoso  me dá vontade de c...".
"E onde é que vamos achar um banheiro num lugar desse e a uma hora dessa?"
"Carece de banheiro não. Eu c...ali no mato mesmo".
Papai embrenha-se no mato de um terreno baldio, agacha-se e ali faz suas necessidades. O mato alto lhe dá cobertura, sendo possível apenas ver a sua cabeça branca.
Papai termina o serviço e vem em nossa direção para continuarmos nossa caminhada.
Marcos e Demétrius perguntam: "Você limpou a bunda, vô?"
Chegamos em casa de Lia, nossa anfitriã e estão todos preocupadíssimos conosco e querem saber o motivo de tanta demora; Demétrius explica e pergunta ao mesmo tempo "Sabia que meu vô c...no mato?"
De Gravatá vamos às montanhas da região onde nasci, Cumaru, e depois vamos a Bezerros, Buíque e voltamos a Recife e em todos os lugares Demétrius fala para as pessoas: "Sabia que meu vô c...no mato?"
                         
                                             


                                        

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

P de Vingança



Parque Catimbau - Buíque PE
                                            
Viajamos para Pernambuco; papai, mamãe, Renata, Demetrius, Marcos Paulo  e eu.
Passamos as festas de fim de ano em Buíque, na casa de tia Antonia.
Papai dormia no quarto com o neto enjoadinho da tia.
Ficamos bastante tempo em Buíque; tempo suficiente para papai ficar cismado com o neto manhoso e folgado de tia Antonia.
Papai dizia: "Esse neto de dona toinha é muito enjoadinho. Não topo com ele de jeito nenhum".
Verdade. O moleque não cumprimentava ninguém e se achava o rei da cocada preta.
Além de se encher com as frescuras e falta de educação do moleque, papai também se encheu com a deliciosa e rica comida pernambucana. Era muito queijo, carne de sol, frutas, carnes, tapiocas...
O resultado dessa mistura gastronômica foi uma poluição-tóxico-gasosa- aérea- ambiental, digna de multa pelo IBAMA.
Após anos acostumados à gastronomia paulistana, nossos estômagos demoravam alguns dias para se adaptar à culinária pernambucana. O processo dessa adaptação consistia em muitas idas ao banheiro e em emissão de pesados gases na atmosfera da casa de tia Antonia. 
A vantagem dessas emissões é que não ficava uma muriçoca (pernilongo) viva para contar a história. Além de uma riqueza cultural e gastronômica, Pernambuco também é riquíssimo em muriçocas.
No domingo de Natal mamãe as filhas de tia Antonia preparam a mesa para o almoço natalino. A mesa era farta; com vários pratos doces e salgados.
Todos sentam à mesa para o almoço. Tia Antonia chama o neto fresco que faz dengo para comer. Quer saber o nome de cada prato, como foi preparado e quem preparou.
Papai irrita-se com aquela frescura toda.
Terminado o almoço vamos dar uma volta na cidade com a desculpa de fazer a digestão, mas nossa intenção é falar mal do moleque folgado, fresco e manhoso sem que ninguém nos ouça.
Papai diz: "Vocês viram que moleque mais chato? Botava defeito em tudo. Se quer comer coma, se não: Lasque-se!".
Nós concordamos com papai em número, gênero e grau.
Papai continua: "Mas pode deixar que essa noite eu vou me vinga dele!"
"Como, pai?"
"Tô aqui com o bucho cheio e posso garantir que ele não vai aguentar meus peidos".
Voltamos para casa. 
A noite chega e nos preparamos para dormir.
As luzes são apagadas e faz-se silêncio.
Mas o silêncio é interrompido pelo zunido das muriçocas e pelos sonoros peidos de papai.
Papai finge que dorme para poder ver a reação do neto metido de tia Antonia.
O neto cobre a cabeça numa tentativa de escapar ao ataque gasoso odorífico. Mas o cheiro é insuportável. O neto levanta-se e vai deitar no sofá da sala. O pobrezinho não aguenta o cheiro. 
Papai ri vitorioso. Missão cumprida! 
Papai tem o quarto só para si; nem as muriçocas aguentaram ficar.
P de vingança.