quinta-feira, 16 de maio de 2013

Vício

                                



Já havia me consultado com o ortopedista viciado em tecnologia do Hospital Aviccena, e, pelo que pude perceber nessa minha mais recente passagem pelo hospital, o "vício" não é só privilégio do doutor, é de praticamente de toda a equipe médica do local.
Da outra vez que me consultei com o ortopedista, estranhei o fato de demorar mais para fazer a ficha do que para ser atendida e supostamente examinada por ele. O cara não tirava os olhos do celular onde pipocavam aqueles sons chatinhos indicando que tinha novas mensagens.
Ele olhava para mim, fazia anotações e olhava para o celular; tudo ao mesmo tempo agora.
Perguntei-lhe se não me mandaria fazer radiografias para ver melhor o problema e ele disse que não seria necessário e me mandou para a sala de medicação. Pelo que percebi, esse doutorzinho queria era ter o mínimo de trabalho possível para poder ter mais tempo para brincar com aquela porcaria de celular.
Saio do consultório meio frustrada e enquanto me dirijo para a sala de medicação, vejo um grupo de jovens médicos munidos de seus poderosos celulares ultra-mega-power-plus modernos e uma médica diz para o restante do grupo: "Acabei de checar meu status e vocês comentaram que vou trabalhar do plantão do fim de semana. Eu nem sabia e você já sabiam e postaram. Nossa!"
Nossa mesmo! 
Quanta futilidade, inutilidade, vazio e abestalhamento.
Fiquei das três da tarde até as onze e meia da noite no hospital e o que vi foi um festival de sons e cores de celulares, tablets e aparelhos afins.
Todo mundo conectado, todo mundo se achando muito importante; tudo um bando de besta, na boa.
Ao meu lado um paciente com seu Nextel barulhento, apitando, no "viva voz", incomodando, perturbando. 
Eu penso assim: Se eu estou doente e vou a um hospital o que mais quero é ser atendida, tomar o medicamento e voltar para casa. Pronto. Pra que raios vou ficar pendurada ao telefone, falando asneiras e bancando a importante? Vou ganhar o que com isso?
Deixei minha bolsa com minha irmã e pedi que atendesse ao celular caso tocasse, mas ela já havia avisado a quem interessava saber que eu estava no hospital e pronto.
Médicos, enfermeiros e pacientes, todos munidos de seus celulares e todos checando a cada momento se havia algo de novo postado, enviado, mandado, compartilhado, curtido...
Usar sim o aparelho para avisar e dar notícias aos familiares sobre o paciente no hospital é uma coisa, mas ficar que nem um bobo cibernético já é outra coisa.
Eu já estava com vontade de tomar o aparelho do paciente barulhento e jogá-lo na parede (ambos, o celular e o paciente barulhento)!
Imagina só a pessoa passando mal, querendo se deitar e descansar um pouco, mas tendo que aguentar gente mal educada falando pelos cotovelos em seus aparelhinhos barulhentos.
Será que conseguiriam desligar seus aparelhos e se dedicar ao trabalho? Conseguiriam sobreviver sem checar mensagem, sem postar nada, sem curtir ou compartilhar nada? 
As pessoas estão muito viciadas nisso e esse vício etá se tornando muito sério, até mesmo entre os profissionais da saúde.
É isso.





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