quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Feroz

                                                 


Observava uma foto do aniversário de minha sobrinha Rafaela, há apenas um ano, e me entristeci com os danos causados, as dificuldades, as dores, o entrevamento... Tudo isso aconteceu em apenas um ano.
Há um ano eu podia andar sem bengala, andar por uns duzentos metros sem me cansar muito, sem doer, sem entrevar, mas hoje está tudo diferente.
Hoje fiz algumas coisas pela casa. Coloquei roupas na máquina, limpei o fogão e a geladeira e só faltou limpar o chão.
Eu ia bem, mas comecei a sentir um peso nas pernas, um entravar e as malditas dores, claro.
Sinto-me um robô velho e enferrujado.
Esticar as pernas dói muito; as pernas "acostumaram-se a ficar dobradas e quando as estico, é uma dor absurda. Preciso ficar de pé lentamente até adquirir estabilidade e confiança para poder andar.
Odeio tudo isso.
Tenho falado com novos pacientes acromegálicos e a maioria teme e reclama dos males causados pela doença. Não é fácil.
Tive quase dois anos de tranquilidade, de dores que eram controladas com remédios e depois desapareciam, de poder caminhar com certa naturalidade.
Acabou o tempo e a Acromegalia voltou com tudo.
Veio a Acromegalia como um animal feroz que ataca a presa, que lhe rasga as entranhas, que a devora, que saboreia a carne e o sangue frescos.
E as pessoas são tão cruéis...
Uma moça acromegálica disse que descobriu-se com a doença por meio de uma brincadeira de mal gosto de uma pessoa que estava na mesa com ela e mais outras pessoas.
Essa pessoa, muito da idiota, diga-se de passagem, começou a fazer brincadeiras e comentários maldosos sobre o nariz dessa moça acromegálica e após todos irem embora, ela chorou bastante.
Gente assim deveria se olhar no espelho antes de sair por aí julgando os outros e de fazer piadinhas nada engraçadas.
Detesto quando me olham insistentemente e em seguida fazem comentários, cochichos e depois dão risadinhas.
Conheço gente assim, infelizmente.
Não está fácil pra ninguém.
E é um porre ter que ser objeto de admiração de ignorantes.
Saio quando necessário, faço minha coisas, mas gosto de ficar na minha.
Não sou boa com palavras ditas e quase sempre sou incompreendida; sou melhor com as palavras escritas.
Guardo-me em meu silêncio e transbordo-me nas palavras escritas.
É melhor assim, evita mal entendidos, mal estares, mágoas...
Em meu silêncio guardo meu barulho. 
É ensurdecedor.


                                      

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