terça-feira, 26 de junho de 2012

Frio

                                          


Faz muito frio aqui em São Paulo e na região sul do país.
Hoje o sol até que deu o ar de sua graça dourada, mas ontem o dia estava cinzento e com muita neblina.
Estava lembrando de uma tarde fria, cinzenta e chuvosa quando me preparava para ir à escola e do portão vi mamãe vindo lá no fim da rua acompanhada de uma prima nossa. Fiquei tão feliz!
"A senhora não vai trabalhar hoje de tarde, mãe?"
"Não filha, a patroa disse que hoje eu não precisava ir"
Mamãe trabalhava das seis da manhã às duas da tarde em um firma e depois ia para as casas de família e trabalhava o resto do dia.
"Então posso faltar na escola hoje, mãe?"
"Mas você não vai perder as lições, filha?"
"Depois eu copio de alguém".
Não era sempre que tínhamos mamãe em casa todos os dias, era só nos corridos finais de semana e era aquela correria para irmos à feira, ao supermercado, lavar roupas, limpar a casa... Mamãe estava sempre ocupada e estressada e vivia nos pedindo café e cigarro enquanto encarava o velho tanque áspero de cimento com aquela montanha de roupa para ser lavada.
Era tanta roupa, meu Deus, mas quando íamos para a escola usávamos o uniforme que não "emparava" o frio, como diziam mamãe e Mãevelha.  Era um tecido muito fininho e gelado e esfregávamos as mãos para gerar algum calor. As unhas e os lábios ficavam roxos de frio, era como se tivéssemos usado batom ou esmalte roxos.
Lembro que eu tinha uma cacharréu (eu falava caixa régua) de três cores que me lembrava um sorvete napolitano: branco, rosa e marrom. Era fininha e não aquecia muito e eu puxava as pontas das mangas para cobrir meus magros e longos braços. 
Uma vez a patroa de mamãe deu várias peças de roupas e calçados e na época estava na moda aquelas horrendas sandálias plataforma. Aquilo pode ser usado como arma!
Bom, entre as roupas havia um blazer a que chamávamos de paletó e era forrado e bem quentinho. Não tive dúvidas, vesti o blazer e calcei as sandálias plataforma e fui para a escola. A molecada me zuou, claro: "Aonde você vai com esse tamancão? Você veio pra escola com o paletó do seu pai?!"
Não vou colocar aqui o que eu respondi para a molecada.
No outro dia fui para a escola com meu Conga surradinho e com minha cacharréu napolitana; deixei o paletó e a sandália plataforma para doações.


                                            

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixem comentários, adoro saber o que pensam sobre o blog. Obrigada ;-)