terça-feira, 2 de setembro de 2014

Uma casa no campo

                               



Trabalhei a pulso hoje, como diria papai. Estou muito dolorida e entrevada e o jeito vai ser mesmo procurar os médicos e voltar à velha rotina de exames, remédios etc...
Trabalho na secretaria da escola e fico sozinha na parte da manhã; falta pessoal. Alguns funcionários pediram remoção para outras escolas e ninguém pediu remoção para a escola onde trabalho; está complicado.
O problema que é os colegas de trabalho confiaram a mim uma função que não é minha, mas que aprendi rapidamente. Têm gente que não sabe nem acessar o próprio e-mail! E é essa gente saudável, que anda muito bem pra lá e pra cá, que dá seus passeios pela escola, que enrola, que não sabe nem ligar o computador e fica enchendo a paciência quando o trabalho a fazer é muito. 
Tem gente que alega um problema para justificar sua impossibilidade de comparecer à escola nos horários da manhã, que chega às dez e sai às duas da tarde, que falta, que fica por isso mesmo, mas é essa mesma gente que dança, que bate os quatro cantos do mundo, que é bem esperta; até demais. E eu trabalhando com minha mobilidade reduzida e toda entrevada. Estou fazendo exatamente o contrário do que diz o laudo médico: evitar esforço repetitivo. Mas eu dei uma reduzida e chamo quem estiver por perto para abrir as gavetas pesadas do arquivo, para levar documentos para a direção assinar etc...
Não dá! Faço até mais do que minha capacidade física permite e quem está se prejudicando sou eu!
Não sei quais critérios os médicos peritos usam para negar ou conceder o benefício ao professor doente; já falei sobre isso aqui. Professores que tiram licença saúde porque estão com dor de cabeça, a pressão um pouco alta ou um simples resfriado! Aí eu vou à perícia com laudos, exames e o caramba e os médicos me olham como se eu fosse uma espertalhona que não quer trabalhar! É dose!
O professor que trabalharia comigo na sala de leitura teve um AVC (acidente vascular cerebral) e teve o benefício negado! Está recorrendo e aguardando o resultado. Ridículo! 
Por que professores com problemas sérios de saúde têm dificuldade para conseguir uma licença médica enquanto professores com um resfriadinho conseguem tão facilmente?!
Que porcaria de avaliação é essa que esses médicos peritos fazem?! Se baseiam em que, na aparência do periciado? Se for bonitinho, consegue, mas se for feinho, tá lascado.
Bom...
Eu pretendia faltar amanhã ao trabalho mas não será possível. O coordenador não virá porque tem um compromisso na DE (diretoria de ensino), esse cara trabalha de verdade, e a espertinha com supostos problemas de saúde não virá amanhã também porque tem médico. Ela tem médico quase todos os dias e nunca cumpre o horário. 
É muita proteção e muito passar de mão na cabeça e isso não é justo! Essa moça tem um leve retardamento, é infantil, mas é muito inteligente, aprende rápido e conhece muito bem a rotina da secretaria.
Na minha cabeça ninguém passa a mão.
Tive um mal estar semana passada e outro hoje; pressão desembestou e a glicemia também. Tomei muita água e esperei passar um pouco, pois não dava para dirigir desse jeito e mesmo morando no mesmo bairro da escola.
Irei amanhã, mas se não me sentir bem, voltarei para casa. Sou humana e não posso carregar o mundo nas costas, ainda mais um mundo cheio de gente esperta demais para meu gosto.
Não dá! E não sei até quando vou aguentar, mas minha saúde não está boa. Hipertensão que não baixa nunca, glicemia que sobe e desce igual a montanha russa, dores e entrevamento articulares.
Sou boa pessoa, sou profissional, respeito a todos, mas há situações em que excesso de bondade, profissionalismo e respeito nos tornam suscetíveis a espertos e expertos.
Fiz e faço minha parte: trabalho, trato a todos com educação, já falei e relatei problemas e possíveis soluções, mas me foram dados ouvidos moucos. É hábito nesse país reclamar, cruzar os braços, reclamar e nada fazer.
Cansei. 
A escola fica, os problemas ficam e se eu não me cuidar, quem não fica sou eu!
Sou de carne, osso e muitos parafusos. Sou humana, demasiado humada.
Eu quero uma casa no campo. Plantas, fores, livros e animais.
É isso.



                                  


                                      


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