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terça-feira, 26 de novembro de 2013

Pesquisa e Estatística

                                    



Participo de alguns grupos de acromegálicos e troco experiências com pacientes do Brasil e do mundo.
Já falei  aqui sobre a dificuldade de um diagnóstico rápido e certo; o paciente sofre um bocado até encontrar um médico que conheça a Acromegalia e/ou que pelo menos o ouça e o respeite.
Recebi mensagem de uma moça no Rio Grande do Sul e ela disse que é acromegálica há dezessete anos. Já fez cirurgia de remoção do tumor de hipófise e fez Radiocirurgia. 
Observei outro detalhe que me chamou a atenção: mais uma paciente do Rio Grande do Sul.
Falei sobre isso com algumas pessoas e reparamos que em nosso grupo de Acromegálicos de Língua Portuguesa tem gente do Brasil todo, mas a maioria é do Rio Grande do Sul.
Por que será?
Será que está relacionado à forte cultura e colonização europeia, principalmente a colonização italiana/latina?
Sabemos que algumas doenças são mais comuns em determinados grupos sociais e isso faz sentido se compararmos a Acromegalia com os sobrenomes dos pacientes e seus locais de origem.
Fiz uma pesquisa por conta própria e andei comparando, calculando, analisando...
Na nossa família predomina o sobrenome português que por sua vez substituiu os outros sobrenomes também latinos: italiano e espanhol.
Papai adorava dizer que era neto de "intaliano" e sua mãe, a avó Mariana, além de filha de italianos era também acromegálica, conforme os relatos dos familiares que a conheceram e conviveram com ela.
Acho que minha humilde pesquisa faz algum sentido.
Minha pesquisa foi feita apenas para alimentar minha mente inquieta e faminta por conhecimento, não tem fundamento científico, político, médico etc...
Eu gosto de analisar, pesquisar, ler, estudar, descobrir, escrever...
É isso.


                                              

sábado, 15 de junho de 2013

Santa Catarina

                                


Dia frio e cinzento hoje, bem ao modo paulistano. Dias assim deixam São Paulo mais São Paulo ainda. Adoro. 
Venho lá do Sertão quente, seco, esquecido por Deus e pelos homens, principalmente, mas tenho uma queda pelo frio, pelos ventos frios, pelo cinza. Acho que sou assim meio cinza, não sou colorida, não sou de chamar a atenção.
Isso explica o gosto pelo frio, pelo cinza, pela chuva.
Sonhei hoje caminhando por uma cidade praiana muito bonita. Era uma cidade deserta, fantasma; não tinha moradores, mas tinha muita gente olhando o mar. As casas estavam abandonadas, havia algumas já bem destruídas, outras ainda intactas. Roupas no varal sacudiam fortemente ao sabor dos ventos. Ventava muito.
Mas eu percebia em minhas caminhadas por essa cidade que em uma determinada casa os ventos eram mornos e mais delicados e não entendia porque as roupas foram estendidas no varal do lado de fora, onde ventava bem mais forte e fazia muito frio.
As pessoas por ali nada falavam, apenas observavam o mar. Era como se um dia tivessem morado ali e foram apenas para visitar ou se despedir.
Era uma baía azul, com casa brancas de janelas azuis.
Os ventos me fizeram lembrar de Ilha Comprida (SP) e das praias de Santa Catarina.
A partir do litoral sul de São Paulo as águas são frias e o vento é mais forte. Estive em Santa Catarina durante o verão e lá os ventos são fortes e por isso atraem os surfistas. Durante a noite esfria bem e mesmo em dias ensolarados as temperaturas são amenas, bem opostas às esturricantes temperaturas do Norte e Nordeste.
Quero conhecer as praias do Rio Grande do Sul e quanto mais desertas e frias, melhor.
As pessoas vão à praia, principalmente no eixo Rio-São Paulo, para exibir seus belos corpos, seus biquínis e acessórios de marca; raros vão apenas para ver e apreciar o mar.
Eu aprecio e adoro o mar.
Vontade de pegar uma estrada para ir de encontro ao mar.
Quero conhecer a Praia da Joaquina, em Santa Catarina. Reza a lenda que Joaquina era uma rendeira que adorava o mar. Subia as dunas para fazer suas rendas enquanto olhava o mar e um belo dia uma onda veio e a levou. 
Bonita lenda.
Sei lá, dias frios e cinzentos me deixam mais cinza ainda.
Preciso ver o mar azul, verde, cinza...

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Brasil

                              


Triste e lamentável as mortes dos jovens em boate na cidade de Santa Maria, Rio Grande do Sul.
Tenho grande apreço pelos gaúchos, como já disse aqui, principalmente gaúchos caminhoneiros que viajam sós ou com suas famílias pelas estradas do Brasil.
Uma ampla cobertura pela imprensa e destaque nas mídias estrangeiras.
A sempre sorridente Sandra Annenberg falava e entrevistava ao vivo parentes das vítimas ou apenas conhecidos que estavam lá para ajudar.
O bonitão e competente William Bonner também falava ao vivo do local.
Caminhões do Exército Brasileiro, alimentos e água enviados por pessoas que se solidarizaram com a tragédia.
Palavras e lágrimas da Presidenta Dilma Rousseff dizendo que ajudará as famílias das vítimas.
Muito bacana e humano tudo isso. Lindo.
Mas eu gostaria muito que Sandra Annenberg fizesse caras e bocas de choro, trejeitos de quem sente o sofrimento do outro se fosse e quando fosse ao Nordeste do Brasil e visse a seca dizimando, matando e destruindo as famílias e seus animais. Queria ver sua expressão facial ao ver o gado seco e esturricado morto pela fome e pela seca.
Eu queria ver Wiliam Bonner em uma roupa mais leve para suportar o escaldante calor nordestino enquanto relata a gente pobre, humilde, sem estrutura e sem ajuda que caminha léguas até encontrar um resto de água suja e salobra em algum açude perdido por aquelas paragens.
Eu queria que a presidenta Dilma Rousseff voltasse seus olhos, suas lágrimas e sua ajuda para as famílias de miseráveis que minguam na seca.
Fome, sede, seca, miséria, sofrimento, abandono, morte e muito mais estão sempre presentes na vida do sertanejo nordestino. Não à toa, somos antes de tudo fortes.
Tem que ser se quiser sobreviver.
A Região Nordeste parece que não faz parte do Território Brasileiro, parece que é um outro país longínquo, esquecido e ignorado, cuja população não passa de gente de baixa estatura, cabeça chata e pele queimada pelo sol.
Os únicos atrativos no Nordeste são as belas praias e seus cantores, a maioria saltitante e repetitivo.
Talvez o Nordeste não faça parte do Território Nacional porque não tem gente bonita, branca, de olhos claros e com melhor educação e situação financeira.
Nordeste tem gente bonita sim! Gente culta e muito educada!
Reportagens sobre a seca são sempre curtas e ninguém se mobiliza para arrecadar alimentos e água e mandar para os famélicos de lá.
Reportagens sobre outras tragédias em outros estados são longas, recebem muita atenção da mídia e o país todo se mobiliza para ajudar, até mesmo os moradores do país distante que é o Nordeste.
Não pretendo desrespeitar ninguém, muito menos sua dor e seu sofrimento, mas nordestinos também sofrem, também sentem dor no estômago vazio e na alma cheia de esperança.
O Nordeste é um país esquecido, abandonado e ignorado, mas sempre fez e é parte desse Brasil.
Há séculos, décadas e anos a seca assola o Sertão e isso virou rotina e coisa sem importância.
Talvez falar de gente jovem, bonita e classe média que foi se divertir seja mais importante do que falar de gente que morre de fome um pouco a cada dia.
Desculpem mais uma vez e repito que não pretendo desrespeitar ninguém e lamento a dor e o sofrimento de todos, mas o povo nordestino também é gente.
É isso.





                             




sábado, 21 de janeiro de 2012

Previsão Meteorológica no Sertão

                                             


A chuva continua aqui em São Paulo e a seca no Rio Grande do Sul e no Nordeste.
Assistia ao Globo Rural e vi uma reportagem sobre alguns senhores que se uniam em um determinado local do Sertão Nordestino para fazerem previsões meteorológicas.
Escrevo Sertão e Nordeste com letras maiúsculas porque maiúscula é a importância que esse canto seco esquecido por Deus e pelos homens tem para mim.
Causa-me forte emoção rever meu Sertão mesmo que seja pela TV.
Sim...
Os senhores faziam seus rituais tradicionais para saber se o inverno seria bom ou não. Para o nordestino o inverno é a estação das chuvas e não do frio propriamente dito. Inverno no Sertão é época de plantio e colheita farta. Prepara-se a terra e planta-se no dia 19 de março, dia de São José e a colheita é feita entre São João (junho) e Santana (julho).
As previsões são feitas das mais variadas formas e geralmente envolvem elementos da própria Natureza. O canto dos pássaros, o surgimento de espécies que normalmente não ficariam ali caso o tempo não fosse bom, a Asa Branca (espécie de pomba) que se bater asa do Sertão é sinal de seca braba e por aí vai.
Paipreto, avô José e meu povo antigo tinham suas superstições e rituais para fazer as previsões do tempo. Eles colocavam punhados de sal em uma superfície e de acordo com tempo de absorção de água pelo sal saberiam se os meses vindouros seriam chuvosos ou não.
Outra ave tida como agourenta é o acauã. Se ela cantar em cima de uma árvore seca é sinal de sofrimento no Nordeste, mas se ela cantar em cima de uma árvore florida, é sinal de chuva e alegria.
Se o mandacaru começar a florir é sinal de chuva, de tempos bons.
Tudo isso pode parecer bobagem e sem fundamento científico para alguns, mas é levado muito a sério para quem vive o drama da seca no Sertão.
E eu desejo que cantos alegres se espalhem pelo Sertão e por todos os cantos.
Amém.
                                          

                                              


                                               





quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Pedido

                                              


Tem chovido muito aqui em São Paulo e na maior parte da Região Sudeste.
Alagamentos, estradas interditadas e pessoas desabrigadas.
Meu Deus.
Tem feito muita seca no Nordeste e no Rio Grande do Sul.
Gado morrendo de sede, peixes morrendo por falta de oxigênio nos rios com pouca água, plantações perdidas.
Meu Deus.
Eu sei o que é seca. "Venho lá do sertão e posso não lhe agradar", já dizia a canção.
Eu sei o que é alagamento. Enchente em 1987.
Meu Deus.
Do alto de minha insignificância e da minha pequenez humana, peço: Por favor, mande a chuva lá para meu sertão e para o povo do Sul e mande o sol para secar o excesso das águas da Região Sudeste. Não permita que mais vidas inocentes se percam em meio a tanta água. Não permita que a seca, a sede, a fome e a miséria rondem as casas das famílias nordestinas e nem das famílias gaúchas.
Sulistas, nortistas ou de qualquer região; somos todos brasileiros e somos todos humanos.
Independentemente de fé, crença ou religião, peço por todos aqueles que precisam.
Meu Deus.


Chão seco do meu sertão
Alagamentos na Região Sudeste e no meu Santo São Paulo
                                        

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Queijo do Reino

                                            


Adoro queijos, principalmente os salgados e típicos do Nordeste.
Queijos brancos e sem sal, sem sabor, sem nada, não entram na minha lista de favoritos.
Gosto de sabor. Forte, marcado, acentuado.
Acho que tem a ver com minha cultura brasileira e nordestina.
Li um artigo sobre preferências alimentares nas diversas regiões do Brasil e soube que os alimentos precisam ter cor e sabor fortes para agradarem aos nordestinos. A manteiga tem que ser bem amarelinha. Aliás, aqui em São Paulo nós até hoje chamamos a margarina de manteiga e a manteiga mesmo de manteiga verdadeira.
Papai dizia que a margarina não tinha sabor e parecia sebo. Gosto legítimo e verdadeiro tinha a manteiga verdadeira. 
Verdadeiras palavras de meu pai.
Acho que essa preferência forte, intensa e colorida tem a ver com o clima quente do Norte/Nordeste. 
As frutas são exóticas, extravagantes, deliciosas.
O açúcar e o sal são usados sem parcimônia assim como temperos, óleos e gorduras. 
Adoro um acarajé bem douradinho. Meu Senhor do Bonfim. Salve a Bahia!
Adoro as tapiocas enormes e recheadas com coco fresco e queijo coalho assado ali na horinha mesmo, num sabi? Lá no Alto da Sé de Olinda. Pernambuco. Lugar arretado de lindo. Minha terra.
E a comida mineira. Nossinhora!
Os doces de leite e os pães de queijo...Não tem coisa melhor.
E o churrasco gaúcho. Barbaridade!
O brasil é muito grande, muito rico, muito diverso. Graças a Deus.
Toda essa diversidade social, cultural e alimentícia faz de nosso país um lugar único e fantástico.
Para entendermos melhor nossa rica diversidade social e gastronômica, aconselho ler as obras de Gilberto Freyre e Luís Câmara Cascudo que mostram o Brasil de todos o sabores.
E já que comecei a falar sobre queijos...
Meu Paipreto adorava queijo do reino que vem numa lata redonda. É um queijo firme, de sabor forte, marcante e até meio ácido. 
Mamãe colocava farinha na lata junto com o queijo do reino; era para conservar melhor, dizia ela.
Mãevelha punha a mesa e chamava Paipreto para a merenda da tarde. Queijo do reino, farinha e café. Delícia.
Sentávamos à mesa e comíamos de lamber os beiços. 


Luis Câmara Cascudo
Gilberto Freyre













segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Olhar

                                         




Dirigindo pelas ruas do meu bairro e relembrando coisas, fatos e causos de anos passados.
Morávamos em uma casa pequenina de dois cômodos e com banheiro do lado de fora. O quintal da casa era enorme e cheio de plantas. Próximo ao grande portão de madeira havia o relógio da água e gostávamos de subir nele para ora esperar por mamãe e vê-la surgir na esquina e ora roubar as cerejas da cerejeira da vizinha.
Segundo nossos argumentos nem tão politicamente corretos, a parte da árvore que dava para nosso quintal pertencia a nós. Então tínhamos o direito de nos saborear com as cerejas sem nos preocuparmos com as reclamações da vizinha, sua dona.
Na rua de nossa casa pequenina havia uma transportadora de gaúchos. O Rio Grande do Sul tem grande tradição no transporte de cargas e caminhões aqui em São Paulo. Outra coisa bacana é o fato de ser muito comum mulheres caminhoneiras desse estado brasileiro. Eu achava lindo ver mulheres dirigindo, ainda mais se fossem caminhões.
Os caminhoneiros sempre iam à nossa casa e adoravam conversar com mamãe, que ouvia pacientemente as histórias deles e os aconselhava sempre a não beber e dirigir, a descansar antes de pegar a estrada, a cuidar bem da mulher e dos filhos, a não tomar remédios para ficarem acordados a noite toda; enfim, conselhos de mãe mesmo.
Alguns deles viajavam com as esposas e filhos e os deixavam em nossa casa quando precisavam resolver problemas na capital paulistana.
Nos fins de semana faziam churrasco tipicamente gaúcho, tomavam vinho e cerveja, cantavam e até choravam. Os mais solitários e apaixonados lembravam dos filhos e das esposas que estavam longe e se debulhavam em lágrimas. Outros choravam dores de corno mesmo.
Era uma choradeira e bebedeira sem fim.
Na manhã seguinte apareciam em casa todos tímidos e com vergonha da choradeira e declarações da noite anterior. Mamãe dizia: "Oxe, deixe disso, meus filhos. Chorar é normal, você não é gente? Então. Gente chora. Quem foi que disse que homem não chora? Oxe, deixe de bobagem; entre aqui, venha tomar um café". 
E dali a pouco o chorão apaixonado já estava sorrindo e planejando mais um churrasco com cantoria e lágrimas, claro.
Muitos deles pediam para mamãe lavar e passar suas roupas. Eu ajudava mamãe nessa tarefa. Mamãe não queria receber, era uma forma de retribuir pelos churrascos e mimos trazidos do sul do Brasil. Nos davam pães típicos da região, as chamadas cucas, queijos, salames, as próprias carnes para o churrasco e tudo o que sobrasse das cargas dos caminhões. Às vezes o cliente não queria receber as cargas por estarem próximas do prazo de validade, então o gerente da transportadora autorizava os caminhoneiros e ajudantes a dividi-las entre eles.
Era legal ouvir aquele sotaque cantado e bonito.
Era legal ver aquelas crianças e pessoas de pele tão clarinha que pareciam vindas de outro país.
Era legal ver a forma como assavam a carne, bem diferente de nós.
Estranhávamos o sabor do chimarrão e dizíamos que tinha gosto de café forte sem açúcar.
Achávamos engraçado aquelas calças largas que alguns deles usavam e ríamos do jeito que eles usavam o cobertor: faziam um buraco no meio que desse para passar a cabeça e o usavam como um xale. Mamãe dizia que estragavam o cobertor.
Uma bela tarde de sol volto da escola onde fora fazer minha matrícula para o segundo grau (Ensino Médio) e vejo uma carreta gigante estacionada em frente de nossa casa. Apresso os passos para chegar logo, achando que deve ser algum caminhoneiro que fora buscar as roupas limpas para poder seguir viagem. Eu tinha lavado as roupas e as deixado no varal para secar e iria passá-las quando voltasse da escola.
Entro em casa e começo a tirar as roupas do varal e paro para olhar a carreta. Sabe quando tem-se a sensação de que alguém nos está observando?
Olho para a cabine e vejo um homem moreno e bonitão secando os cabelos molhados de quem tinha acabado de sair do banho. Ele para e olha para mim e eu devolvo o olhar. Eu pensei que ele iria perguntar alguma coisa a respeito de roupas lavadas e passadas. Mas não. Não houve palavras, apenas olhares.
Demorei o triplo do tempo para tirar as roupas do varal. Eu olhava para aquele homem bonito dentro daquela cabine de caminhão. Ele olhava para mim.
Me perguntava: "Será que viaja sozinho? Será que tem esposa e filhos? Deve ter; bonitão assim".
Aqueles momentos de troca de olhares foram como uma eternidade, uma paz. Alguém olhava para mim e olhava com certo interesse. Interesse romântico e não interesses vulgares como a maioria nos dias de hoje. 
Senti-me importante, apreciada, querida. 
Se ele olha para mim é porque gostou e se gostou é porque não me achou feia. Foi isso que me deixou feliz por alguns momentos.
Mas dali a pouco mamãe volta do trabalho e pergunta se as roupas dos moços caminhoneiros estão prontas, se os irmãos menores já tomaram banho, se o feijão já está no fogo, se isso se aquilo.
Entro em casa e me entrego às infindáveis tarefas. Anoitece. Tomamos banho, jantamos, assistimos a novela e vamos para a cama. Exatamente nessa ordem, de acordo com os ditames de papai. Amanhã tudo de novo. 
Me levanto bem cedo na esperança de ver a carreta gigante estacionada na frente de casa. Mas não estava mais; havia outra no lugar.
E todas as tardes eu esperava ansiosamente pela carreta do moreno bonitão. Esperava trocar mais olhares e sorrisos tímidos.
Mas nunca mais vi a carreta. Nunca mais vi o moreno bonito.
A transportadora mudou-se para outro endereço e meses depois nós também nos mudamos de casa.
E à vezes a imagem do caminhoneiro bonito vem à minha cabeça e viajo nas doces e curtas memórias de um belo fim de tarde. Um belo fim de tarde sob belos olhares de um belo caminhoneiro.