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quarta-feira, 16 de julho de 2014

Maçã Verde

                               



Fui para a cama mais cedo e tomei um remédio para aliviar a dor de cabeça chata que eu estava tendo.
Melhorei bem, ainda bem.
Adormeci.
Sonhei com papai, mamãe e meus irmãos. Todos juntos e felizes.
Uma longa rua de terra e ladeira. Eu caminhava por essa rua na companhia de algumas pessoas e via cachorros abandonados . 
Eram cães de todos os tamanhos, cores, pelos... Todos ficavam alegres ao me ver e eu os chamava para vir comigo. 
Descia até o fim da rua e subia de volta com os cachorros até a casa. Ficava preocupada com a reação de papai, ele certamente não aprovaria aquela cachorrada toda.
A rua e as casas eram como antigamente, tudo simples, bonito, cheio de gente. Jardins, muitas plantas e muitas árvores nas ruas de terra.
Eu entrava em casa e via uma cesta com maçãs verdes e vermelhas e mamãe me dava uma bronca: "A senhora ainda não comeu da maçã verde, né mocinha? Comer maçã verde é bom pra tu".
Acordei e era hora de levantar.
Os gatos estavam ao meu redor e Alice miava avisando que os potes estavam vazios.
Levantei e segui minha rotina diária mas fiquei com esse sonho na cabeça.
Tem muito mais que a rua de terra, os cachorros, as casas, as maçãs...
Tiramos pessoas da nossa vida porque fizeram burrada e ainda fazem... Tem gente que não aprende, por mais que falemos e tentemos alertar.
Lembro de quando a vida era mais simples e os problemas pareciam pequenos porque tínhamos papai e mamãe sempre por perto.
É isso. 



                                 


                                          

sábado, 15 de junho de 2013

Santa Catarina

                                


Dia frio e cinzento hoje, bem ao modo paulistano. Dias assim deixam São Paulo mais São Paulo ainda. Adoro. 
Venho lá do Sertão quente, seco, esquecido por Deus e pelos homens, principalmente, mas tenho uma queda pelo frio, pelos ventos frios, pelo cinza. Acho que sou assim meio cinza, não sou colorida, não sou de chamar a atenção.
Isso explica o gosto pelo frio, pelo cinza, pela chuva.
Sonhei hoje caminhando por uma cidade praiana muito bonita. Era uma cidade deserta, fantasma; não tinha moradores, mas tinha muita gente olhando o mar. As casas estavam abandonadas, havia algumas já bem destruídas, outras ainda intactas. Roupas no varal sacudiam fortemente ao sabor dos ventos. Ventava muito.
Mas eu percebia em minhas caminhadas por essa cidade que em uma determinada casa os ventos eram mornos e mais delicados e não entendia porque as roupas foram estendidas no varal do lado de fora, onde ventava bem mais forte e fazia muito frio.
As pessoas por ali nada falavam, apenas observavam o mar. Era como se um dia tivessem morado ali e foram apenas para visitar ou se despedir.
Era uma baía azul, com casa brancas de janelas azuis.
Os ventos me fizeram lembrar de Ilha Comprida (SP) e das praias de Santa Catarina.
A partir do litoral sul de São Paulo as águas são frias e o vento é mais forte. Estive em Santa Catarina durante o verão e lá os ventos são fortes e por isso atraem os surfistas. Durante a noite esfria bem e mesmo em dias ensolarados as temperaturas são amenas, bem opostas às esturricantes temperaturas do Norte e Nordeste.
Quero conhecer as praias do Rio Grande do Sul e quanto mais desertas e frias, melhor.
As pessoas vão à praia, principalmente no eixo Rio-São Paulo, para exibir seus belos corpos, seus biquínis e acessórios de marca; raros vão apenas para ver e apreciar o mar.
Eu aprecio e adoro o mar.
Vontade de pegar uma estrada para ir de encontro ao mar.
Quero conhecer a Praia da Joaquina, em Santa Catarina. Reza a lenda que Joaquina era uma rendeira que adorava o mar. Subia as dunas para fazer suas rendas enquanto olhava o mar e um belo dia uma onda veio e a levou. 
Bonita lenda.
Sei lá, dias frios e cinzentos me deixam mais cinza ainda.
Preciso ver o mar azul, verde, cinza...

domingo, 23 de dezembro de 2012

Escada

                            


Comentei com minha irmã Rosi que a maioria dos consultórios médicos onde vou são sobrados com escadas sem fim.
Eu vou degrau por degrau e isso demora um pouco.
Na minha mais recente consulta com o gastroenterologista, sofri para subir as escadas cujo corrimão ficava do lado "errado"; ficou difícil subir me apoiando no corrimão com a mão esquerda.
Cada vez menos encontramos casas térreas, ou são sobrados ou prédios. Pelo menos a maioria dos prédios têm elevadores.
Estava me lembando de uma época em que procurávamos casa para alugar e todas as que víramos tinham escada. Eu fazia piadinhas para provocar a Rosi e dizia: "Mas tem escaaaaaada".
Hoje em dia sou eu quem as evita, mas isso não fácil.
Acho que paguei a língua por "zuar" minha irmã.
Si ferrei.
É isso.

                             

                                   

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Carinho

                            

Fui a três farmácias no bairro para comprar meu remédio para controle da hipertensão e nenhuma delas tinha o que eu queria; fui à Droga São Paulo, na Vila Maria e encontrei.
Eu havia ido à drogaria da Vila Maria no feriado e não tinha o medicamento, o motivo alegado foi que era feriado e não haviam feito reposição dos remédios. 
Legal. Então quer dizer que durante feriados ninguém fica doente, ninguém nasce, ninguém morre e os problemas também tiram folga?
Passei pela ruas paralelas à Avenida Guilherme Cotching e vi casas antigas e ainda sobreviventes ao boom imobiliário de prédios. São casas simples, com quintal grande e muitas plantas. Senti saudades dos tempos antigos.
Volto para casa e encontro no caminho uma aluna minha, Isabel.
Isabel é uma aluna exemplar, educada, gentil, estudiosa e gostava de me ajudar a fazer a chamada e a colocar as informações na lousa.
Ela sempre pergunta quando eu voltarei para a escola e eu não vejo a hora.
Aproximo da minha rua e vejo de longe a molecada jogando bola, diminuo a velocidade e peço para tirar os cones que bloqueiam a rua; dois deles vêm ao meu encontro: "Oi, professora, tudo bem com a senhora? Quando a senhora volta?"
Perguntei se eles estavam indo bem na escola e se as notas eram boas; pelas carinhas que fizeram...
Tão pequeninos, tão lindinhos e tão danadinhos.
Eu disse: "Vão para casa direitinho, seus terríveis"
Eles sorriram e eu fiquei com um aperto no coração.
Tanto cabra safado com saúde e eu batalhando pela minha. Mas ficarei bem, tenho fé.
Claro que nem tudo são flores; têm aqueles alunos maldosos, cruéis e preconceituosos, mas eu pego a melhor parte e as coisas boas e as uso como minha ferramenta de trabalho.
Estou doida para voltar a trabalhar e estudar, e vou conseguir.
Amém.

                             

domingo, 14 de outubro de 2012

Franja, livros, televisão colorida, gelatina azul...

                                  

Morávamos em uma casa que ficava em um terreno grande e tinha mais três casas. Havia um pequeno jardim com a majestosa mangueira e algumas plantas de Mãevelha. Suas caqueiras (vasos) com as cravinas ficavam espalhadas pelo muro e sobre o relógio d'água. Um muro baixo separava as duas casas da frente, a nossa e da vizinha, esposa do caminhoneiro que vivia viajando.
Na parte de trás do terreno ficavam as casas da família de judeus e a do casal  que aguardava a chegada do primeiro filho. No quintal dos fundos ficavam os tanques de lavar roupas e os inúmeros varais.
A vizinha esposa do caminhoneiro tinha uma casal de filhos, Kátia e Alexsandro e mamãe e Mãevelha não conseguiam pronunciar o nome da menina e a chamavam de "Káita".
O casal de judeus tinha cinco filhos, todos clarinhos, sardentos e com cabelos lisinhos, assim com a menina Kátia.
O senhora judia nos ajudou muito e nos dava as roupas que não serviam mais em seus filhos; ela também fazia bolos deliciosos e era uma confeiteira de mão cheia. Lembro de um bolo confeitado que ela fizera, era verde com um sapinho em frente a um lago azul de gelatina e uma casinha de chocolate. Fiquei encantada. Existia gelatina azul! Nossa!
O esposo da senhora judia era de pouquíssima conversa, saía todas as manhãs para o trabalho e voltava ao fim do dia. Ele parecia o Delfim Neto, gorducho, óculos enormes escondendo pequenos olhos míopes e o "carão" largo, como dizia mamãe. Ele dizia apenas: "Bom dia e boa tarde", já a sua esposa tagarelava com mamãe e Mãevelha.
A família judia era composta, além dos pais, claro, de dois meninos e três meninas e Raquel era a mais bonita, educada e simpática de todos. Raquel reunia as crianças menores e lia livros de sua biblioteca; gostei de Aristogatas.
Um dia a acompanhei até sua casa para pegar mais livros na biblioteca e fiquei encantada com as prateleiras que iam do chão ao teto cheias de livros. Raquel nos dizia para termos cuidado com os livros.
A menina Kátia tinha uma tia que sempre lhe cortava as pontas dos cabelos e a franja. Eu tinha meus cabelos cacheados e rebeldes e franja não combina com cachos. De jeito nenhum! Fica parecendo um poodle!
Eu pedi para a tia de Kátia cortar meu cabelo igualzinho ao da menina, com franja pretinha e lisinha, mas não deu. 
A tia de Kátia disse que não dava porque meu cabelo não era liso. Fiquei triste. Raquel e sua irmã Esther tinham cabelos escuros e bem lisos, assim como Kátia, mas Sarah, a irmã judia mais velha, tinha cabelos claros e cacheados iguais aos meus. Mãevelha e mamãe diziam que Sarah tinha "cabelo de fogo, cabelo sarará, cabelo ruim" e outras "inguinóranças".
Sarah era inteligente, rebelde, bocuda e de gênio forte, bem oposto ao que era esperado das meninas de então. Esther era molecona e brincalhona.
Os meninos judeus eram o Moisés e Samuel.
Moisés tinha a mesma idade dos meus irmãos menores e Samuel era rapazote. 
Samuel adora pentelhar meus irmãos e eu adorava encará-lo do alto dos meus sete, oito anos. Eu dizia para Mãevelha e  mamãe falarem com a mãe de Samuel, mas elas diziam que era implicância minha, pois o rapazote era muito educado com elas. Com elas sim, mas com meus irmãos não!
Uma vez peguei a vassoura e chamei Samuel para briga e disse-lhe que se atormentasse meus irmãos pequenos e bundões mais uma vez, iria meter-lhe o cabo da vassoura nos cornos!
Uma tarde fui com mamãe à casa dos judeus e a senhora judia preparava bolos e nos ofereceu um pedaço. Estava delicioso. Raquel me chamou para assistir TV e dizia que sua televisão era colorida, uma raridade naqueles tempos.
Observei que colado na tela da televisão havia uma espécie de plástico com listras coloridas e deixava a imagem com nuances que lembravam as cores do arco iris. "Oxe, e isso é televisão colorida?", pensei comigo.
Achei muito estranho aquilo e pegava as embalagens plásticas do arroz, por exemplo, e colocava em frente à nossa velha televisão preto e branco achando que mudaria alguma coisa, mas o que conseguia era broncas de mamãe de chineladas de Mãevelha.
Anos depois os donos das casas nos comunicaram que deveríamos sair dos imóveis, pois eles os haviam vendido e se transformariam em transportadoras, óbvio.
Nos mudamos para a pequena casa de quintal grande na mesma rua e nunca mais soubemos das famílias que eram nossos vizinhos no mesmo grande quintal.
É isso.


                                  
                             

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Prédios e Apartamentos

                                              


Há um grande boom imobiliário no setor de prédios de apartamentos e até bairros esquecidos como o meu se transformaram e valorizaram no mercado. 
Os preços dos apartamentos aumentaram, praticamente dobraram nos últimos dois anos.
De repente descobriram que meu bairro, além de caminhões e transportadoras, tem fácil acesso à Marginal Tietê, Via Dutra, Fernão Dias, Ayrton Senna...
Bairros como Tatuapé, principalmente o Jardim Anália Franco que é o Morumbi da ZL, valorizaram demais e só os novos ricos da ZL podem comprar.
Um dia, na hora da saída, um coleguinha me chamou, apontou para um prédio do outro lado da Marginal Tietê e disse: "Sabia que a professora mora naquele prédio?"
"É mesmo? Nossa! Então ela deve ser rica, né? Porque só ricos podem morar em apartamentos".
Assistia as novelas e achava chique, bonito e até meio triste morar em apartamento. Lembro de uma cena de uma novela onde a filha rebelde deixa a casa dos pais e vai morar sozinha em um apartamento; achei aquilo tão estranho, tão triste e tão diferente da minha realidade. Morar longe de casa, dos pais, dos irmãos, da família?! Eu julgava essas pessoas, mesmo que personagens de novela, frias, insensíveis e até más.
Hoje eu entendo melhor.
Não sou muito fã de apartamento, prefiro casa com quintal e jardim onde possa cultivar minhas adoradas plantas e onde meus amados bichos tenham espaço para correr pra lá e pra cá.
Mas a tendência atual é a verticalização dos bairros e das cidades.
A segurança é melhor, penso eu, em apartamento, principalmente para quem mora só. 
Mas me preocupa também o grande número de pessoas utilizando mais água, luz, gás; mais trânsito, mais poluição no mesmo espaço onde antes moravam famílias em casas simples com quintal e jardim.
É isso.


                                   

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Trabalho

                                             


Levantei-me cedo e começo a arrumar a casa, principalmente a área dos gatos. Acredito que pessoas que tenham animais em suas residências devem primeiramente amá-los e respeitá-los e depois mantê-los limpos e alimentados.
O local onde a bicharada usa como sanitário deve ser mantida sempre limpa; isso é bom para saúde do bicho quanto para a de seu dono.
É isso.
Bom...
Arrumava o quintal, colocava roupas na máquina... Lembrei-me da época em que mamãe trabalhava como faxineira nas empresas e como diarista nas casas de família.
Achava interessante falar casas de família, pois dava a impressão de serem casas grandes, bonitas, com sala com TV e estante cheia de livros, piso e azulejo.
Era assim que imaginava a casa dos meus sonhos, bem ao contrário da nossa casinha simples de quintal de terra, piso vermelhão e banheiro do lado de fora!
Eu também gostava das casas mais simples do bairro; casas com muros baixos, janelas abertas sem grades, roupas penduradas no varal secando ao vento e com muitas plantas nos jardins. Eu achava tudo aquilo muito lindo.
Mas eu achava chique mesmo eram as casas da parte rica do bairro e saía a tocar as campainhas e oferecer meus serviços de faxineira diarista. Eu tinha meus doze ou treze anos e achava bonito o trabalho de mamãe; queria ser igual à ela.
Mas nenhuma dona de casa quis meus serviços, eu era muito novinha e não tinha experiência, segundo elas. 
Mal elas sabiam que desde que botei os pés no meu Santo São Paulo que trabalho; cuidando de irmão pequeno, fazendo mamadeira pra um, lavando roupa e passando roupa pra fora (no bom sentido), indo à reunião de pais e mestres (deveria ser reunião de irmãs e mestres), levando irmãos ao posto de saúde para vacinas, pesos, medidas e leite em pó, indo à Vila Maria e à Penha para pagar as prestações feitas nas Casas Bahia e ir ao Banco do  Brasil para mandar dinheiro para os familiares dos nordestinos que a Sum Paulo chegavam em busca de uma vida melhor.
Uma vez mamãe me levou ao seu trabalho, em uma fábrica de lâmpadas, e eu ajudei a colocar as lampadinhas coloridas nos terminais dos fios e depois vê-las acesas a piscar. Era um espetáculo de luz e cor. Lindo!
É isso.