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segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Interior

                                


Está cada vez mais difícil dirigir pelo bairro que está cada vez mais tomado por caminhões e transportadoras. 
Caminhões que estacionam nas esquinas e tiram a visão de quem precisa passar pela rua, caminhões  que fazem das ruas o seu local de carga e descarga, caminhões barulhentos e incômodos; na boa.
Antigas e graciosas casas dão lugar a galpões horrendos, que são construídos às pressas e de qualquer jeito, para abrigar mais caminhões.
A desculpa ou motivo é a proximidade do bairro com as rodovias Dutra, Fernão Dias, Marginal Tietê e Ayrton Senna. OK.
Tem um baita terrenão de uma antiga transportadora que foi invadido pelos sem teto e que poderia muito bem servir como um terminal de cargas, pois fica sito na Marginal Tietê entre as Pontes Aricanduva e Tatuapé, sentido Castello Branco, e bem próximo à Via Dutra.
Estressa, meu, na boa!
A rua do farol no sentido Dutra está há meses interditada e até o SPTV da Rede Globo esteve no local e até agora nada de obras.
Já falei sobre o tema aqui, mas volto a falar porque o dia de hoje foi estressante.
Estacionar nas ruas do bairro era fácil, mas agora está mais fácil encontrar um nota de cem reais que encontrar uma vaga!
Mas com todo o caos e stress, hoje precisei comprar ração e ainda comprei umas frutas e mantimentos. Até o sal estava acabando!
Vontade de morar em algum lugar sossegado do interior. Uma casa simples, chão de terra batida, fogão à lenha, uma horta, um pomar, um jardim... Muitos bichos e meus livros.
É isso.


                                 

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Ladrões de Bicicleta

                                      



A violência é crescente e preocupante nas grandes cidades e até no interior.
A "moda" agora é ladrão de bicicleta. Não o ladrão que "apenas" rouba bicicletas, mas que usa a bicicleta como meio de transporte para efetuar seus delitos.
A maioria desses ladrões de bicicleta é de jovens e adolescentes; geralmente menores de idade, porque sabem que a lei os protege.
Há cerca de um ano sofri uma tentativa de assalto e os dois moleques conseguiram "apenas" arrancar a maçaneta da porta do carro. Paguei em torno de cem reais para ter o concerto feito. Para quem devo mandar a conta? Para os defensores dos "de menor"?
Pretendia lavar a garagem, mas não tem vaga na rua para estacionar o carro. Ia deixar o carro sobre a calçada até terminar o serviço, mas a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), está na rua e adjacências controlando os caminhões folgados que estacionam na contra mão, param em frente às garagens das casas, bloqueiam a visão da rua etc...
Isso vai durar só até a hora em que o "marronzinho" estiver nas imediações, assim que virar as costas o oba oba de caminhões volta.
Fui até a papelaria e, como sempre faço, paro o carro na rua estreita e desço para abrir o portão da garagem. A rua é pequena, estreita e de mão dupla e toda vez que volto para casa sou obrigada a ocasionar um pequeno congestionamento duplo. Alguns motoristas mais educadinhos esperam eu guardar o carro, outros buzinam e querem passar a qualquer custo. Por onde? Só se for por cima! Será que os carros deles têm propulsão a jato?!
Desço e abro o portão; volto para o carro e vejo dois jovens de bicicleta que intimidam suas vítimas pelo olhar. Fazer cara, gestos, expressões e olhar de mau é a primeira tática para assustar as potenciais vítimas.
Fechei rapidamente o portão e voltei para o carro; olhei para o "marronzinho" do CET, que entendeu a situação, e dei uma volta. Os pobres, inocentes e adoráveis "de menor" passaram a mil em suas bicicletas. Os caras deveriam participar de competições de ciclismo; vai pedalar rápido assim no inferno!
Dei uma volta, olhei bem e só então desci de novo para abrir o portão.
Guardei rapidamente o carro e tranquei o portão.
O susto e o nervoso desconcertam a gente.
Não levarei multa por deixar o carro sobre a calçada, não serei assaltada por esses ladrões de bicicleta e não lavarei a garagem, por enquanto.
Os vagabundos foram embora, mas ninguém garante que não voltem mais tarde para "filmar" o movimento.
A violência está à solta não só em São Paulo e quando nos tira o sagrado direito de ir e vir, aí a coisa complica ainda mais.
Ainda tem gente que me chama de radical e que acredita em medidas socioeducativas para educar e inserir esses vagabundos na Sociedade.
Nas festas de fim de ano centenas de presos foram soltos para poder passar as festas com a família e a grande maioria cometeu crimes apenas horas depois de estarem em liberdade! O crime corre no sangue desses m...
Desculpem o radicalismo e não me envergonho de assumir o que penso, mas bandido bom é bandido morto!
Pronto, falei!
Não se tem nem o singelo direito de ir e vir e nem de lavar a própria garagem em paz?!
Que @#$%! de país é esse?!
É isso.


                                               

                                      


terça-feira, 20 de novembro de 2012

Animais

                               

Tenho vizinhos educados, tanto moradores das casas da rua quanto os funcionários das empresas e transportadoras que disputam o espaço e atormentam a paz da vizinhança.
Os educados comem bolachas, doces, tomam refrigerantes e simplesmente jogam na calçada as embalagens vazias. Gentalha, gentalha!
O vento se encarrega de espalhar a sujeira e a depositar em minha calçada. Isso sem contar que os educados de plantão colocam o lixo na rua depois que o caminhão do lixo passa ou em dias que ele não passa, fica aquela lambança.
Falei com os vizinhos para não fazer mais isso e como sempre, ouvi o "Eu não!". Todo mundo é inocente até que se prove o contrário, In dubio pro reo.
Varria, lavava, limpava e a vizinha vem fora e puxa conversa. Falamos sobre o barulho dos caminhões, a poeira, baratas etc e tal.
Meus gatos estavam próximos e andavam tranquilamente pra lá e pra cá, mas sempre sob minha cuidadosa vigilância, quando a vizinha diz: "Eu já matei muito gato, muito cachorro. Eu não gostava de bicho não, mas agora parei de fazer isso por causa do meu filho".
Essa pessoa muito humana tem Jesus no coração.
Eu disse: "Mas você nem ninguém têm o direito de matar um bicho só porque não gosta dele. Existem leis que punem o abandono ou a violência contra animais; vai de um a quatro anos de reclusão. Cadeia!"
A vizinha ficou sem graça e disse: "Mas eu não mato mais não e se por acaso algum gato seu aparecer morto, não vá pensar que foi eu não, viu?"
"Sim, lembre-se: Decreto Federal, de um a quatro anos de reclusão. Cadeia!"
"Tá certo, vizinha. Vou entrar que está na hora do banho do bebê"
Continuei a limpar minha calçada tranquilamente.


                               

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Biópsia

                                    



Fiz ontem exames de colonoscopia, endoscopia e biópsia para pesquisa de H. Pylori, uma bactéria que afeta a mucosa do estômago e causa gastrites, úlceras e outros males.
O exame foi pedido pelo médico por dois motivos: investigação e controle dos danos causados pela Acromegalia, entre os quais estão os pólipos intestinais, e minha difícil digestão.
O exame ocorreu tranquilamente e voltei para casa meio sonolenta devido à anestesia. Durante a noite o quadro mudou e me senti muito mal, dores e vômitos constantes. Fiz chá, tomei água, remédio para controle de vômito, mas tudo o que eu tomava era posto para fora. 
Pensei em ligar para meus irmãos mas fiquei preocupada com a violência que assola as noites paulistanas ultimamente, mas segundo vi no telejornal, essa noite foi tranquila, graças a Deus.
Passei a noite assim, entre chás, água, remédios, vômitos e um mal estar tremendo. Consegui cochilar lá pelas cinco horas da manhã, mas meu sono foi interrompido pelo buzinar insistente de um caminhão que não tinha paciência para esperar o outro manobrar.
Hoje, especialmente, e não sei porque, os caminhões incomodaram muito mais que de costume; parece que decidiram se reunir e atazanar as manhãs das pessoas que tentavam dormir.
Será que não haveria um meio de mudar essas transportadoras para outro local? Um local adequado para caminhões, manobras, buzinas e barulho?
O curioso, como já relatei aqui, é que há placas indicando a proibição de caminhões e dizendo que a área é restrita. Foi apenas desperdício de dinheiro e mão de obra, pois as placas são ignoradas e até arrancadas e os caminhões continuam a infernizar as vidas das pessoas que tentam entrar ou sair com seus carros da garagem e até a mesmo a dar um cochilo.
Sei lá...
Parece que quando não estamos bem tudo contribui para piorar.
É isso.

                                

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Botafogo

                                            


Seis horas da manhã; sou acordada com um grito: "ES - PE - TA - CU - LAR!!! Botafogo campeão!"
A princípio me assusto e me irrito pela maneira brusca com que fui despertada, $#@%!
As vozes aumentam em número e em volume: "Botafogo, meu? Você tá errado, foi o Corinthians, mano"
"Não, você tá errado! O Corinthians não ganhou, só empatou... Botafogo!"
E no turbilhão de vozes ouviam-se "porcos", "bambis", "peixes", "gambás" e outros animais representantes dos times de futebol brasileiro, todos a defender e a exaltar as glórias de seu time e a colocar defeitos nos times dos outros. 
Ao som das vozes somam-se os barulhos dos motores dos caminhões e o apito " pi pi pi" chatinho que anuncia a marcha à ré.
Alguém diz: "Bora trabaiá, gente! Tá ha hora! Oxe!"
"ES - PE - TA - CU - LAR!  Botafogo campeão!"


                                  
                                       

domingo, 11 de março de 2012

Chácaras

                                            


O bairro onde é moro é tomado por caminhões e transportadoras, mas antigamente eram poucos os caminhões e muitas as chácaras e casas simples.
A maioria das ruas era de terra e só as avenidas principais eram asfaltadas.
O bairro era dividido em três partes: o morro e as ruas depois da avenida, onde ficavam as casas bonitas e onde moravam os ricos. São Francisco, pequena vila dentro do bairro onde fica a Paróquia de Santa Rita de Cássia, onde se concentrava a maioria das chácaras e da malandragem da região naquela época (hoje tem por toda a parte), e as outras ruas.
Morávamos nas "outras ruas".
Papai e mamãe não queriam que fossemos sozinhos a São Francisco por ser perigoso, então só ficávamos na nossa rota: escola, casa, mercadinho.
Na hora da saída da escola ficávamos observando os colegas e o caminho que faziam; se fossem em direção às ruas próximas à nossa ou à vila de São Francisco eram pobres pé rapado igual a gente, mas se fossem em direção ao morro ou se atravessassem a avenida, então eram os riquinhos da escola.
Gostávamos de andar pelo bairro e observar as casas bonitas dos ricos. Adorávamos casas grandes, com quintais grandes, janelas grandes, jardins e com campainha. Tocávamos e saíamos correndo. Ótimo exercício físico.
Cada um de nós escolhia "sua" casa favorita e fazíamos planos sonhando acordados. Sempre moramos em casas simples e olhar casas bonitas era uma diversão para nós.
Hoje a divisão do bairro não existe mais com tanta força como era antigamente; as casas grandes e bonitas do morro ainda existem mas as ruas de lá já estão invadidas com caminhões e transportadoras. A vila de São Francisco continua com ares bucólicos e também foi tomada por caminhões. As ruas depois da avenida perderam a graça e foram invadidas por construções horrendas e por habitações populares de programas do governo. 
O bairro que outrora fora tão bucólico e verde hoje está frenético e cinza.
Os novos invasores da vez são os prédios de apartamento e eu fico pensando como será o trânsito quando mais moradores se mudarem para suas novas moradias.
Em uma das ruas onde moramos havia muitas casas térreas com quintais grandes e floridos e eu adorava caminhar pelas ruas só para apreciar a beleza das flores. Tinha uma flor peluda e aveludada chamada de crista de galo e eu parava em frente ao portão só para observá-la de perto. 
Eram margaridas, flores roxas, cristas de galo, coloridas flores do campo, cravos, cravinas, crótons, pitangueiras, amoreiras, pés de cana, sempre-vivas, dálias e uma infinidade de árvores, flores e plantam que deixavam o bairro ainda mais verde.
Hoje temos caminhões, prédios, cimento e cinza.


                                               



domingo, 29 de janeiro de 2012

Ladrão que rouba ladrão

                                            


Morávamos em frente à uma distribuidora de frutas, legumes e verduras. Os donos do depósito eram feirantes que carregavam e descarregavam seus barulhentos caminhões dia e noite.
Muitas vezes havia fila de caminhões na rua, cada um esperando sua vez para manobrar e carregar ou descarregar o veículo.
Um desses caminhões está carregado com melancias e um garoto passa por perto, percebe que o motorista está distraído e aproveita a deixa para se apoderar de uma das frutas. Afinal de contas, com tantas melancias, ninguém sentiria falta de uma só.
O garoto pega a melancia e a coloca em cima do muro de nossa casa enquanto aguarda um melhor momento para levá-la consigo sem que o motorista do caminhão perceba.
Mas acontece que havia alguém observando todos os movimentos do garoto, e esse alguém era ninguém menos, ninguém mais que papai.
Papai vê a melancia em cima do muro, olha para os lados para certificar-se que ninguém estava olhando e pega a fruta e a leva para dentro de casa.
Passados alguns minutos ouvimos alguém chamar no portão; era o garoto que perguntava por sua melancia.
Mamãe que até então nada sabia, pergunta a papai se ele sabe de alguma coisa e ele fingindo de bobo, diz: "Oxe. Que melancia?!".
O garoto indignado com a cara de pau de papai, diz: "Que melancia? Aquela que eu deixei em cima do muro e o senhor pegou!".
"Eu?! Oxe. Peguei nada não sinhô. Tu tá é variando das ideia, esse menino".
Mamãe entende tudo e dá uma bronca em papai: "Mas Dedé, tu teve a coragem de roubar a melancia do bichinho?".
Papai bravo por ter sido repreendido por papai na frente do garoto, diz: "Roubei não senhora! A melancia estava em cima do meu muro. E pra começo de conversa, ele roubou primeiro. Oxe!".


                                       


                                     

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Paradoxo

                                                       


É o oposto do que alguém acredita ser a verdade.
Moro num bairro invadido/tomado por caminhões e transportadoras e é fácil imaginar a dificuldade que temos para estacionar, manobrar e dirigir pelas ruas.
Alguns anos atrás as transportadoras se concentravam em determinadas ruas e locais do bairro, mas agora espalharam-se geral.
Além da ocupação das ruas, barulho e poluição, os caminhões pesados abalam as estruturas das casas quando passam em alta velocidade. A casa treme, literalmente. Dias desses comentei com a vizinha e ela me disse o mesmo. Então não sou a única a sentir a vibração. Uhu!
Até mesmo na região nobre do bairro há transportadoras com prédios minúsculos onde são enfiadas carretas gigantes. Os motoristas desses veículos mereciam um prêmio!
Não sou contra os caminhões e transportadoras; tenho até muito respeito por eles, mas acho que deveria haver um local onde concentrasse todos. Tem o terminal de cargas Fernão Dias, mas já está lotado e por isso as empresas de transportes espalham-se pelos bairros adjacentes.
Outro problema é a crescente verticalização da cidade. A região onde moro era um local de chácaras e casinhas simples na parte baixa e de casonas bonitas na parte alta. Hoje há cada vez menos casas que são derrubadas para dar lugar a prédios e/ou transportadoras.
Meu bairro permite fácil acesso às marginais e principais rodovias e esses são motivos atraentes para empresas de transporte de mercadoria e serviços.
Paradoxalmente, com tantas empresas, falta ao bairro outros tipos de comércio; faltam lojas de calçados, roupas, restaurantes, lojas de "um real" e outras. Temos muitas padarias e lojas de material de construção, mas falta ainda muita coisa.
Acredito que com o crescente número de prédios de apartamentos haverá uma melhoria no bairro e isso atrairá lojistas e comerciantes. Fico imaginando também o fluxo de carros que aumentará bastante quando esses prédios receberem seus moradores. Serão carros dos próprios moradores e dos visitantes. 
Como dizia Mãevelha: "Dou por vista. Dou por derradeiro". 
E voltando a falar dos caminhões e caminhoneiros...Deveria, na minha opinião, concentrar as transportadoras em um único local para facilitar a vida desses trabalhadores. Um lugar com infraestrutura, que oferecesse banheiros limpos, cozinhas, área de lazer e facilidades que melhorassem a vida dessas pessoas.
Mas o consumismo desenfreado somado à ganância e à cegueira de consciência não permitem nada que atrapalhe o ganhar, o fazer dinheiro. 
A vida, ou a qualidade desta, fica relegada a segundo plano.
Paradoxal.







segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Olhar

                                         




Dirigindo pelas ruas do meu bairro e relembrando coisas, fatos e causos de anos passados.
Morávamos em uma casa pequenina de dois cômodos e com banheiro do lado de fora. O quintal da casa era enorme e cheio de plantas. Próximo ao grande portão de madeira havia o relógio da água e gostávamos de subir nele para ora esperar por mamãe e vê-la surgir na esquina e ora roubar as cerejas da cerejeira da vizinha.
Segundo nossos argumentos nem tão politicamente corretos, a parte da árvore que dava para nosso quintal pertencia a nós. Então tínhamos o direito de nos saborear com as cerejas sem nos preocuparmos com as reclamações da vizinha, sua dona.
Na rua de nossa casa pequenina havia uma transportadora de gaúchos. O Rio Grande do Sul tem grande tradição no transporte de cargas e caminhões aqui em São Paulo. Outra coisa bacana é o fato de ser muito comum mulheres caminhoneiras desse estado brasileiro. Eu achava lindo ver mulheres dirigindo, ainda mais se fossem caminhões.
Os caminhoneiros sempre iam à nossa casa e adoravam conversar com mamãe, que ouvia pacientemente as histórias deles e os aconselhava sempre a não beber e dirigir, a descansar antes de pegar a estrada, a cuidar bem da mulher e dos filhos, a não tomar remédios para ficarem acordados a noite toda; enfim, conselhos de mãe mesmo.
Alguns deles viajavam com as esposas e filhos e os deixavam em nossa casa quando precisavam resolver problemas na capital paulistana.
Nos fins de semana faziam churrasco tipicamente gaúcho, tomavam vinho e cerveja, cantavam e até choravam. Os mais solitários e apaixonados lembravam dos filhos e das esposas que estavam longe e se debulhavam em lágrimas. Outros choravam dores de corno mesmo.
Era uma choradeira e bebedeira sem fim.
Na manhã seguinte apareciam em casa todos tímidos e com vergonha da choradeira e declarações da noite anterior. Mamãe dizia: "Oxe, deixe disso, meus filhos. Chorar é normal, você não é gente? Então. Gente chora. Quem foi que disse que homem não chora? Oxe, deixe de bobagem; entre aqui, venha tomar um café". 
E dali a pouco o chorão apaixonado já estava sorrindo e planejando mais um churrasco com cantoria e lágrimas, claro.
Muitos deles pediam para mamãe lavar e passar suas roupas. Eu ajudava mamãe nessa tarefa. Mamãe não queria receber, era uma forma de retribuir pelos churrascos e mimos trazidos do sul do Brasil. Nos davam pães típicos da região, as chamadas cucas, queijos, salames, as próprias carnes para o churrasco e tudo o que sobrasse das cargas dos caminhões. Às vezes o cliente não queria receber as cargas por estarem próximas do prazo de validade, então o gerente da transportadora autorizava os caminhoneiros e ajudantes a dividi-las entre eles.
Era legal ouvir aquele sotaque cantado e bonito.
Era legal ver aquelas crianças e pessoas de pele tão clarinha que pareciam vindas de outro país.
Era legal ver a forma como assavam a carne, bem diferente de nós.
Estranhávamos o sabor do chimarrão e dizíamos que tinha gosto de café forte sem açúcar.
Achávamos engraçado aquelas calças largas que alguns deles usavam e ríamos do jeito que eles usavam o cobertor: faziam um buraco no meio que desse para passar a cabeça e o usavam como um xale. Mamãe dizia que estragavam o cobertor.
Uma bela tarde de sol volto da escola onde fora fazer minha matrícula para o segundo grau (Ensino Médio) e vejo uma carreta gigante estacionada em frente de nossa casa. Apresso os passos para chegar logo, achando que deve ser algum caminhoneiro que fora buscar as roupas limpas para poder seguir viagem. Eu tinha lavado as roupas e as deixado no varal para secar e iria passá-las quando voltasse da escola.
Entro em casa e começo a tirar as roupas do varal e paro para olhar a carreta. Sabe quando tem-se a sensação de que alguém nos está observando?
Olho para a cabine e vejo um homem moreno e bonitão secando os cabelos molhados de quem tinha acabado de sair do banho. Ele para e olha para mim e eu devolvo o olhar. Eu pensei que ele iria perguntar alguma coisa a respeito de roupas lavadas e passadas. Mas não. Não houve palavras, apenas olhares.
Demorei o triplo do tempo para tirar as roupas do varal. Eu olhava para aquele homem bonito dentro daquela cabine de caminhão. Ele olhava para mim.
Me perguntava: "Será que viaja sozinho? Será que tem esposa e filhos? Deve ter; bonitão assim".
Aqueles momentos de troca de olhares foram como uma eternidade, uma paz. Alguém olhava para mim e olhava com certo interesse. Interesse romântico e não interesses vulgares como a maioria nos dias de hoje. 
Senti-me importante, apreciada, querida. 
Se ele olha para mim é porque gostou e se gostou é porque não me achou feia. Foi isso que me deixou feliz por alguns momentos.
Mas dali a pouco mamãe volta do trabalho e pergunta se as roupas dos moços caminhoneiros estão prontas, se os irmãos menores já tomaram banho, se o feijão já está no fogo, se isso se aquilo.
Entro em casa e me entrego às infindáveis tarefas. Anoitece. Tomamos banho, jantamos, assistimos a novela e vamos para a cama. Exatamente nessa ordem, de acordo com os ditames de papai. Amanhã tudo de novo. 
Me levanto bem cedo na esperança de ver a carreta gigante estacionada na frente de casa. Mas não estava mais; havia outra no lugar.
E todas as tardes eu esperava ansiosamente pela carreta do moreno bonitão. Esperava trocar mais olhares e sorrisos tímidos.
Mas nunca mais vi a carreta. Nunca mais vi o moreno bonito.
A transportadora mudou-se para outro endereço e meses depois nós também nos mudamos de casa.
E à vezes a imagem do caminhoneiro bonito vem à minha cabeça e viajo nas doces e curtas memórias de um belo fim de tarde. Um belo fim de tarde sob belos olhares de um belo caminhoneiro.