domingo, 11 de março de 2012

Chácaras

                                            


O bairro onde é moro é tomado por caminhões e transportadoras, mas antigamente eram poucos os caminhões e muitas as chácaras e casas simples.
A maioria das ruas era de terra e só as avenidas principais eram asfaltadas.
O bairro era dividido em três partes: o morro e as ruas depois da avenida, onde ficavam as casas bonitas e onde moravam os ricos. São Francisco, pequena vila dentro do bairro onde fica a Paróquia de Santa Rita de Cássia, onde se concentrava a maioria das chácaras e da malandragem da região naquela época (hoje tem por toda a parte), e as outras ruas.
Morávamos nas "outras ruas".
Papai e mamãe não queriam que fossemos sozinhos a São Francisco por ser perigoso, então só ficávamos na nossa rota: escola, casa, mercadinho.
Na hora da saída da escola ficávamos observando os colegas e o caminho que faziam; se fossem em direção às ruas próximas à nossa ou à vila de São Francisco eram pobres pé rapado igual a gente, mas se fossem em direção ao morro ou se atravessassem a avenida, então eram os riquinhos da escola.
Gostávamos de andar pelo bairro e observar as casas bonitas dos ricos. Adorávamos casas grandes, com quintais grandes, janelas grandes, jardins e com campainha. Tocávamos e saíamos correndo. Ótimo exercício físico.
Cada um de nós escolhia "sua" casa favorita e fazíamos planos sonhando acordados. Sempre moramos em casas simples e olhar casas bonitas era uma diversão para nós.
Hoje a divisão do bairro não existe mais com tanta força como era antigamente; as casas grandes e bonitas do morro ainda existem mas as ruas de lá já estão invadidas com caminhões e transportadoras. A vila de São Francisco continua com ares bucólicos e também foi tomada por caminhões. As ruas depois da avenida perderam a graça e foram invadidas por construções horrendas e por habitações populares de programas do governo. 
O bairro que outrora fora tão bucólico e verde hoje está frenético e cinza.
Os novos invasores da vez são os prédios de apartamento e eu fico pensando como será o trânsito quando mais moradores se mudarem para suas novas moradias.
Em uma das ruas onde moramos havia muitas casas térreas com quintais grandes e floridos e eu adorava caminhar pelas ruas só para apreciar a beleza das flores. Tinha uma flor peluda e aveludada chamada de crista de galo e eu parava em frente ao portão só para observá-la de perto. 
Eram margaridas, flores roxas, cristas de galo, coloridas flores do campo, cravos, cravinas, crótons, pitangueiras, amoreiras, pés de cana, sempre-vivas, dálias e uma infinidade de árvores, flores e plantam que deixavam o bairro ainda mais verde.
Hoje temos caminhões, prédios, cimento e cinza.


                                               



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