quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Coxinha

Meu irmão Naldão é chamado por nós de o "Rei de comunicação". Ele se comunica por monossílabos e frases curtas; tem hora que dá raiva. Na boa.
Meu irmão Rogério e sua esposa Wanda vendiam salgadinhos e deram o telefone de nossa casa para as pessoas ligarem e fazerem suas encomendas.
Numa bela tarde, Naldão estava sozinho em casa e o telefone toca: "Alô, eu queria pedir coxinhas, esfihas...".
Naldão continua calado e a pessoa do outro lado da linha desembestada a falar.
Finalmente a pessoa termina e Naldão diz: "Não posso fazer nada".
Algumas horas depois Rogério vai até nossa casa e dá uma bronca em Naldão pelo péssimo atendimento dado à sua cliente. Fubá fica sabendo do ocorrido e diz, para sacanear Rogério: "Mas o Naldão tá certo, Rogério. Ele não pode fazer nada mesmo, ele não sabe fazer coxinha".
Rogério não gosta muito: "Pô Fubá. Até você, meu?!"


                                          

Horário & Pontualidade

Meu irmão Fubá não é lá muito pontual; se ele marcar de chegar às 14hs, por exemplo, pode esperá-lo lá pelas 17hs ou 18hs.
E ele ainda acha ruim se alguém criticá-lo por sua impontualidade.
Fubá ficou de me levar ao hospital e eu o avisei de que eu deveria me internar às 7hs. Ele disse que às 6hs chegaria à minha casa para irmos e disse que se eu ligasse às 5h30, ele não iria mais.
Fubá é invocado, ignorante, trabalhador, e bocudo. Não necessariamente nessa ordem.
Levantei-me bem cedo e deixei tudo organizado para meus gatos e olhava o relógio a cada cinco minutos à espera de meu irmão. Só que deu 6 horas, 6h15, 6h30 e... nada de Fubá.
Ligo e ele atende com uma voz sonolenta e diz que o celular não tocou; a sorte foi que Rafaela acordou para sua primeira mamada do dia. 
Grande Rafaela!
De outra feita, Fubá e alguns conhecidos iam levantar cedo para aproveitar as promoções dos saldões de fim de ano. Combinaram sair de casa às 5h30 e às 5h20 o celular dele toca e ele diz: "Ainda são cinco e vinte! Não é cinco e meia ainda! Pra que essa agonia? Se encher o saco, não vou mais!".
Não falei? Fubá é ignorante e nada pontual. Mas é muito trabalhador ( e ignorante também).


                                               

Dono da casa

Papai tinha um jeito todo seu de atender ao telefone; atendia assim: "Alou. Qué falá com quem?".
A pessoa do outro lado da linha perguntava: "Quem está falando?"
"Aqui é Dedé Soares, o dono da casa".


                                         

Obsceno

O cantor Wando estava internado e passava bem quando eu fui ao hospital para me internar e ter minha sexta cirurgia realizada.
Recebo alta e meu irmão e cunhada vão me buscar e é aí que fico sabendo do falecimento de Wando. Preta, minha cunhada, me contou no caminho de volta para casa. 
Que pena.
Wando cantava músicas ditas bregas, mas que todo mundo gostava e cantava junto.
Wando entregava flores vermelhas para as fãs e em troca recebia calcinhas, e por esse motivo, foi taxado de obsceno.
Engraçado, flores + calcinhas = obscenidade.
E o que dizer então de sexo em Reality Shows? De peitos e bundas de fora em programas pops e em comerciais de cerveja?
Isso para mim é obsceno.


                                                    

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Cerveja

Fiquei fora de casa alguns dias e sem assistir TV.
Volto e presto atenção à programação televisiva, principalmente aos comerciais.
De novo, o que mais me irrita atualmente são os comerciais de cerveja. 
Já escrevi uma postagem falando sobre diferentes propagandas de diferentes produtos, mas hoje ater-me-ei aos benditos comerciais de cerveja.
Repito a mesma pergunta: Qual é o público bebedor de cerveja? Homens hétero e mulheres gays? Homens gays e mulheres hétero não tomam cerveja?
É sempre a mesma história: homens "manés", descabelados e mal vestidos "babando" por mulheres seminuas e rebolativas. Que porcaria é essa?
Será que não dá para fazer um comercial ressaltando o sabor da bebida que é tomada por vários tipos de pessoas? E sem recorrer à vulgaridade e à sexualidade exacerbadas?
Escrevo isso porque vi o comercial da cerveja Devassa e me incomodou o "novo" garoto propaganda da marca, Hugh Hefner.
A primeira garota propaganda foi a fútil e vulgar Paris Hilton e agora esse "tiozinho" de 85 anos fundador da mansão Playboy, um eufemismo para prostituição. 
Na boa.
Meu, por que cerveja tem que estar ligada a sexo, vulgaridade, mulheres seminuas. Por quê?!
Ah, e para piorar, ainda haverá eleição para decidir quem será a musa da dita cuja cerveja. São quatro moças iguais, sensuais e rebolativas.
E o nome da cerveja é outra pérola: Devassa. Disseram que a palavra significa "sensualidade", será? Segundo dicionário Houaiss, devassa significa: apuração minuciosa; inquérito ou depravada; libertina.
Cadê a sensualidade?
Por que não colocam homens bonitões em vez daqueles "manés" descabelados?
Alguém tem a resposta?


                                                    

De novo

Já estou habituada aos olhares de estranhamento das pessoas "normais" e "perfeitas", mas tem hora que enche o saco!
Procuro ser o mais educada possível, mas me pergunto: "Por que essas pessoas não procuram ser educadas comigo como eu sou com elas?"
Voltei do hospital, graças a Deus, e alguns dias depois fui à farmácia para comprar os remédios prescritos pelo neurocirurgião. Entro no estabelecimento comercial e me dirijo ao balcão; aguardo. Tem um senhora bem baixinha sendo atendida e quando ela percebe minha presença, olha para trás e dá um sobressalto, como se tivesse visto um fantasma. Pergunto se ela já foi atendida e ela balança negativamente a cabeça e afasta-se para os fundos da farmácia. Pensei que ela fosse ter um piripaque.
Estranhei a atitude dessa senhora, mesmo estando eu acostumada a comportamentos preconceituosos e estúpidos como esse.
Sou atendida e me direciono ao caixa para efetuar o pagamento dos remédios. Ao me ver afastar, a senhora volta e pede ao balconista que continue a atendê-la.
Pra que tudo isso? Pergunto eu. 
Não tenho doença contagiosa, Acromegalia não "pega".
Hoje levei minha irmã Rosi e minha sobrinha Beatriz a um compromisso e lá chegando, a mesma ladainha. Entro e as mocinhas do balcão me olham como se estivessem vendo um ser de outro planeta. E lá vou eu de novo com minha educação, dizer: "Pois não. Algum problema?".
Já disse isso várias vezes e repito: Mudam as tecnologias, as invenções, o mundo...mas as pessoas são e serão sempre as mesmas: arrogantes, preconceituosas, fúteis, mesquinhas...
Li o livro "O retrato de Dorian Gray" de Oscar Wilde e estou lendo "Este lado do paraíso" de F. Scott Fitzgterald e vejo a tacanheza e pequenez humanas dos dias atuais do século XXI (21) em personagens de séculos passados. O que mudou? Ou o que não mudou? Não aprenderemos nunca?


                                                 

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Volta

Estou de volta para o meu aconchego.
Estou de volta para minha casa, meu cafofo. Minha família, meus gatos, meus livros...
A cirurgia de fístula liquórica foi realizada, finalmente.
Fui para o Hospital Santa Helena às 7hs da manhã de segunda-feira, 06 de fevereiro. Lá encontrei a anestesista, a Drª. Celeste, que estranhou eu não estar internada desde a noite anterior. Eu expliquei o ocorrido à médica que havia pedido minha internação para a noite de domingo, 05 de fevereiro. A simpática funcionária do hospital disse que não seria possível e que eu só poderia mesmo me internar na segunda-feira. Paciência.
Terminada a burocracia, subo para o quarto no oitavo andar. Deixo lá minhas coisas e respondo às perguntas de praxe para a enfermeira e desço para fazer exames cardiológicos.
Subo novamente e às 13hs a Drª Celeste retorna para falar comigo e me dá um pré anestésico.
Há um pequeno problema: pressão alta. Mesmo tomando religiosamente os medicamentos, continuo muito hipertensa. O pré anestésico talvez pudesse ajudar.
Às 16h30 sou levada para a sala de pré cirurgia e aguardo alguns momentos. Adormeço novamente.
Sou acordada pela Drª Celeste já na sala de cirurgia e conversamos animadamente enquanto os procedimentos habituais são realizados.
Adormeço mais uma vez e acordo cinco horas depois; cirurgia realizada e tudo em paz. Graças a Deus.
Temia o coma, a U.T.I e todo o drama pelo que passei na minha segunda cirurgia.
Sou levada para a U.T.I. e na manhã seguinte o Dr. Chico me visita e me da alta para eu ir para o quarto.
Espero...Espero...Espero.
Continuo na U.T.I. Presa à cama e sem poder sair para caminhar ou ir ao banheiro sozinha. Pergunto o que está acontecendo e sou informada que não há vagas e temos que estar esperando por uma vaga.
O gerundismo bem que poderia entrar em coma.
Bom, espero segunda, terça e finalmente, na quarta-feira, peço para ligarem para meu médico. Quero sair dali o mais rápido possível. Minha irmã Rosi ligava e perguntava por mim e ouvia sempre a mesma desculpa. "Ela está bem, está na U.T.I."
E eu perguntando quando iria para o quarto, pedindo para abaixarem as grades da cama, pedindo para ir ao banheiro sozinha, pedindo para tirarem de mim aquele monte de fios, eletrodos, aparelhos e afins.
Eu estava agoniada e doida para ir embora.
Suplico ao Dr. Carlos que ligue para o Dr. Ricardo para que venha me dar alta... ou fugirei do hospital descalça e com aquela camisola horrível.
Eu já havia pedido o mesmo um milhão de vezes às enfermeiras, mas elas diziam que não conseguiam falar com o meu médico. Tá. Me engana que eu gosto.
Na quarta-feira o Dr. Ricardo me dá alta e orientações pós operatórias e peço que avisem minha família. Às 17hs chegam meu irmão Fubá e minha cunhada Preta. Eles haviam chegado ao hospital às 13hs e estavam tentando convercer a funcionária de que a bagagem erroneamente etiquetada com o nome de outra paciente, era a minha. Fubá abriu minha bolsa, pegou meus documentos e mostrou à moça, para convencê-la de que falava a verdade.
Dr. Ricardo reclama do absurdo de o paciente ter de ficar na U.T.I suscetível à infecções só porque não havia quartos livres! Eu e outro paciente estávamos na mesma situação.
Mas se eu fui internada e levada ao quarto, porque não poderia voltar para o mesmo bendito quarto no dia seguinte à cirurgia?!
Bom...
Estou de volta e doida para escrever.
Aos poucos organizo minha vida e vou ficar bastante boa para voltar ao trabalho e à minha rotina, se Deus quiser.
Estou seriamente pensando em voltar ao Pet Center. (e não apenas para comprar ração).


                                               


                              

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Bastante boa

Estou melhor, graças a Deus.
Dei uma madorna (cochilada), como dizia mamãe, e acordei melhor.
Comecei a organizar as coisas por aqui. Quanto mais arrumo/organizo, mais tem o que arrumar/organizar.
A poeira é o principal problema; não sei de onde vem tanta!
Bom, por hoje é só. 
Dias melhores virão e eu ficarei cada vez "mais bastante boa".
Amém.


                                              

Bela Adormecida

Devo estar com síndrome de Bela Adormecida. Mas sem príncipe encantado, cavalo branco e bruxa malvada.
O cansaço e as dores de cabeça prolongam-se há várias semanas.
Ontem nem assisti TV direito, deitei e dormi.
Vou passar por tudo isso para depois ficar bastante boa, como diz minha sobrinha Beatriz.
É isso.


                                        

Pit Bull

Continuo cansada e com dores de cabeça.
Acho que minha cabeça sabe que irá passar por nova cirurgia e por isso dói o que tem que doer só para fazer valer.
E o calor continua. 
E os vizinhos barulhentos também. 
Hoje não estou bem disposta, estou bem ao contrário de minha sobrinha Beatriz quando toma vacinas. Ela fica mais ativa, mais terrível. Rosi, mãe de Beatriz, falou: "Bibi parece que tomou Red Bull na veia em vez de vacina".
E Beatriz gosta de dizer: "Eu tomei Pit Bull na veia".


                                              

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Correria

                                               


Fiz os exames que os médicos pediram. Faltou só o eletrocardiograma, mas este eu posso fazer no hospital.
Estou muito cansada; foi uma correria tremenda e o calor só piora. 
Não gosto de calor excessivo; incomoda, me deixa molenga, cansada, com mal estar.
Não vejo a hora de o outono chegar; minha estação favorita.
O hospital ligou confirmando a data da internação e falei com a anestesista e o neurocirurgião. Tudo certo. Tudo vai dar certo. Se Deus quiser
Estou muito cansada. Dormi mal noite passada e a maioria das outras noites. Fortes dores de cabeça; acordei como se tivesse um martelo a bater na minha cabeça de dentro pra fora.
Latejava, doía.
Vou aquietar o facho e vou descansar.
É isso aí.
                                                     

Acromegalia: Preconceito

                                                


Fui hoje cedo ao laboratório para fazer os exames pré operatórios pedidos pelo neurocirurgião. Parece que dessa vez essa bendita cirurgia vai acontecer. Amém.
Tudo vai dar certo, se Deus quiser. Tenho sempre gente boa comigo.
Eu costumava fazer meus exames no laboratório CDB na unidade Tatuapé. O laboratório foi recomendado pelo Dr. Sandro, meu endócrino.
Fiz exames nesse local durante muitos anos, mas agora não posso mais. O motivo é que "planos do tipo do da senhora não vão mais estarem sendo aceitos. A senhora deve estar procurando outros laboratórios".
Liguei para vários e foi sugerido que eu fizesse um tipo de exame em um laboratório diferente. Perguntei porque não poderia fazer tudo em um só e foi-me dito que nem todos os exames são feitos ali. Tá.
Vou à CPA (Centro de Procedimento e Apoio), uma unidade da Unimed Paulistana na Avenida Celso Garcia, Tatuapé. Lá tem o laboratório Lavoisier
Chego ao local, vejo doze guichês e apenas uma pessoa atendendo aos pacientes. Pego a senha e espero. Senha número 481. A senha que estava sendo atendida era a senha 479. A espera demorou 15 minutos.
Me pergunto: Pra quê tantos guichês se só uma ou duas pessoas trabalham? São para enfeite?
Uma ou duas trabalham enquanto as outras conversam, tomam um cafezinho, riem...E os pacientes pacientemente esperando.
Finalmente sou atendida e faço exames de sangue. Vou ao outro balcão e entrego a guia para fazer Raio X de tórax. Sou encaminhada à sala de espera e aguardo ser chamada.
Pela porta do corredor vejo se aproximar a moça da limpeza empurrando seu carrinho de trabalho. Ela para bruscamente, como se tivesse levado um susto, olha para mim, me encara, faz cara de nojo e diz: "Credo em cruz, o que é isso?!". Ela entra numa sala acompanhada por outro funcionário e diz: "Olha só pra aquilo!".
Ambos me encaram e devolvo o olhar; pergunto: "Pois não. Algum problema?"
O rapaz desviou o olhar para a faxineira como se só ela estivesse a me olhar e a dita cuja saiu da sala empurrando o carrinho enfurecidamente.
Fiz o exame e fui ao balcão de novo e perguntei quem era o responsável pelo local. A atendente me pergunta qual o motivo de eu querer saber e se tive problema com o atendimento ou com o exame. 
Não.
Expliquei o ocorrido e ela me deu um papel com o número de telefone para "estar ligando".
Disse a ela que vou fazer mais. Vou ligar, colocar nas redes sociais e no meu blog.
Já estou farta de olhares e comentários cruéis de gente que se acha perfeita e que não deve ter problemas. Se tivesse, não cuidaria da vida dos outros.
Sou Acromegálica e não pedi para ser. Aconteceu.
Vou encarar minha sexta cirurgia e me machuca muito mais o preconceito e ignorância das pessoas do que o procedimento em si. 
Para dores físicas temos remédios, tratamentos e até cura. E para o preconceito, tem remédio?


                                                

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Sono

                                             

Exames

Fui ao consultório do neurocirurgião levar alguns exames. 
Ele me pediu para fazer mais alguns.
Amanhã deverei voltar ao consultório para falar com a anestesista da equipe do neurocirurgião. 
A cirurgia foi marcada para o dia 06/02 e a validade da autorização é até dia 22/02.
Vamos ver se essa bagaça desenrola!
Imagino amanhã cedo sair para fazer exames e depois ir ao consultório. Amanhã é sexta-feira e para ajudar está chovendo. 
São Paulo não para, mas diminui a marcha quando chove. 
E pra variar, estou com dor de cabeça.
Falei com o médico a respeito dessas dores, da perda de líquido e sangue pelo nariz. Ele disse de novo que tenho mais sorte do que juízo e que já deveria ter feito a cirurgia há muito tempo.
Peraí, companheiro! Devagar com o andor que o santo é de barro!
A minha parte eu fiz: exames, internações, tratamentos, antibióticos...
Agora não tenho culpa se o convênio embaça, procura pelo em ovo, chifre em cabeça de cavalo, cabelo em sovaco de cobra, dente em galinha...
Como dizia papai: "Me pópi!".


                                        

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Escola, Primos e Sobrinhos

Alguns dos meus lindos sobrinhos
                                                  


Trabalho em uma escola pública e a maioria dos meus alunos são moradores de comunidades e/ou projetos sociais.
Hoje caminhava por uma rua da comunidade e encontrei uma aluna minha, que me perguntou: "Professora, a senhora vai dar aula pra gente?"
"Que série você está?"
"Na sétima".
"Sim, tenho algumas 7ª séries".
"Oba! Eu sou da 7ªC. A senhora vai dar aula pra 7ª C, não vai?".
Vou aos supermercados, bancos, padarias e lojas do bairro e sempre encontro algum aluno meu e eles sempre me perguntam as mesmas coisas: "Professora, a senhora vai voltar a dar aula pra nóis? "
"Não sei, lindinho". Chamo meus alunos de lindinho e lindinha e eles adoram.
"Ah, professora! Volta cum nóis, pelo amor de Deus, mano. A professora fulana de tal que ficou no seu lugar é muito chata. A senhora é mó legal".
"Tudo depende se eu estiver bem para voltar a trabalhar. Eu adoraria. Adoro a escola, adoro vocês, seus terríveis!".
"Volta sim, professora. Vou pedir pra minha mãe, minha tia, minha prima, minha avó, a namorada do meu irmão, a vizinha...Vou pedir para elas rezarem pra senhora ficar boa. Beleza?".
Beleza.
Encontro outros alunos que perguntam espantados: "Professora?! A senhora aqui na comunidade?!".
"E por que não? Sou uma pessoa trabalhadora e honesta como a maioria das pessoas que mora aqui. E meu irmão mora aqui na comunidade também".
"Mora?!"
"Sim, fazemos as coisas de acordo com nossas posses. E não tem nenhum problema em morar na comunidade. Tem gente boa e tem gente ruim tanto em mansões quanto em barracos. Ninguém é melhor ou pior que ninguém. A gente faz nossa vida".
Suave.
Uma vez cheguei à escola e fui à secretaria para assinar o ponto. Uma funcionária da escola me pergunta: "Você tem sobrinhos estudando aqui na escola?"
"Tenho sim".
"Mas eles são negros? Não são?".
"São sim. Somos uma mistura de todas as cores e todos os amores. Tenho sobrinhos negões lindos, branquelos de olhos azuis, de cabelos espetados, cacheados...Todos lindos, graças a Deus".
Penso que a funcionária achou que eu iria ter vergonha de dizer que tenho sobrinhos negros. Oxe! E por que havera de ser?!  Só porque eu sou morena clara?! Oxe!
Vergonha é o nosso salário de professor!. 
Pretos, brancos, azuis, amarelos, vermelhos, rosa, lilás...O que importa? Como diria Mãevelha: "Povo mais besta!".
Estou em sala de aula e batem à porta. Abro e vejo uma meia dúzia de pimpolhos hiperativos que me perguntam:"Professora, não é verdade que a senhora é tia do Demétrius e do Marcos Paulo?"
"Sou, sim".
"Então, é que nóis é tudo primo deles. Então, se a senhora é tia deles então é nossa tia também! Né não?"
"Claro que é".
"Viu só? Num falei? Seus trouxas!"
E todos os dias ao chegar á escola e andar pelos corredores até a próxima sala de aula, eu escuto: "Oi professora. Oi tia".
"Olá, sobrinhos queridos".
Amanhã vou levar exames para o médico e já estou pedindo a Deus e ao povo lá de cima que essa bendita cirurgia aconteça logo que é para ficar bastante boa e voltar a trabalhar.
Estou com saudade do meu aconchego.


                                             

Senhora

Minha irmã Rosi e eu conversávamos e ela disse que durante um atendimento por telefone a pessoa a chamara de "senhora". Beatriz está por perto e diz: "Mãe, desculpa interromper sua conversa, mas você não é senhora".
"É, filha? E quem é senhora, então?"
"A tia Rejane".