terça-feira, 23 de abril de 2013

Biblioteca

                                  



Íamos uma vez por semana à biblioteca; adorava.
Só não íamos quando era época de provas, mas eu não via a hora de as provas acabarem para poder voltar lá.
A biblioteca da escola era linda, perfeita e muito bem organizada.
Estantes de madeira nobre repletas de livros, mesas redondas e cadeiras confortáveis, piso acarpetado para reduzir o barulho, professora para nos orientar sobre quais títulos eram os mais indicados para a nossa idade.
Pegávamos os livros emprestados e tínhamos uma semana ou até quinze dias para lê-los, mas se não conseguíssemos entregar no prazo, renovávamos o empréstimo.
Aquela biblioteca era o paraíso para mim. Era um lugar aconchegante, bom e que me recebia bem. 
Os livros dialogavam entre si e comigo, enquanto eu caminhava lentamente pela sala admirando, olhando e escolhendo os que queria ler. Era tudo tão mágico que parecia um sonho.
Eu adorava a coleção Vaga-Lume da Editora Ática e viajava com as personagens pela leitura. Amo ler.
O tempo passou...
Livros e mais livros empilhados nas escadas da escola, sobre a pia do que deveria ser o laboratório de Química, nas salas vazias, em qualquer sala vazia...
Saramago, Baudelaire, Verissimo e tantos outros maravilhosos autores ali jazem em seus túmulos de poeira, desinteresse, preguiça, comodismo, ignorância.
Onde fica a biblioteca da escola?
Biblioteca? Não! É sala de leitura.
Onde fica a sala de leitura?
Fica em uma sala empoeirada, com livros empilhados de qualquer forma e sem nenhum cuidado, carinho, respeito ou atenção. Sim.
A sala de leitura é apenas um amontoado de livros que estão ali porque ali foram colocados para sobrar espaço em algum outro lugar. Livros não são importantes; acumulam muita poeira e consomem muito espaço.
Os livros tiveram que ser retirados das escadas porque alguém com alguma autoridade assim o mandou fazer.
As coisas não são assim, elas devem ser de outro modo, mas estão assim porque ninguém faz nada. Mas se alguém tentar mudar, bem visto não será.
A biblioteca, ou melhor, sala de leitura, é um cubículo estreito com várias estantes cheias de livros. Tem infiltração no telhado, que está sendo consertado e as paredes estão manchadas e emboloradas. Serão pintadas.
Não tem espaço para mesas e cadeiras e não sei como faremos para levar os alunos até lá.
A escola está localizada em um terreno enorme, mas a parte útil não ocupa todo o terreno. Sobra um espaço grande que poderia ser utilizado de alguma forma, mas que está tomado pelo mato.
Desperdício.
Poderia ser construída ali uma biblioteca grande, bonita e bem bacana. Com estantes repletas de livros, com mesas e cadeiras para os alunos e com professores orientando esses alunos e suas leituras.
Quando comecei a trabalhar nessa escola, perguntei por que não faziam algo com aquele terrenão todo, mas ouvi desculpas. 
Tudo é difícil, tudo é demorado, tudo é feito com uma má vontade do caramba, tudo é complicado.
É aquela coisa, não mexe com o que está quieto.
E assim os anos passam, os alunos se vão, a sala de leitura fica em um espaço claustrofóbico e o terreno fica lá, entregue ao mato.
Achei curioso que ninguém demonstrou interesse pela sala de leitura, que gosto mesmo é de chamar de biblioteca.
Aliás, só eu e o professor Lúcio estamos empenhados nessa árdua e prazerosa tarefa de limpar, catalogar e organizar os livros da nossa minúscula biblioteca/sala de leitura.
O professor Lúcio é uma pessoa simpática, prestativa e inteligente. Demonstrou paciência e boa vontade para comigo, graças a Deus.
Já colocamos a mão na massa e em breve nossa biblioteca estará de pé. 
Espero e confio.
Espero pelo fim das reformas e confio no meu trabalho e no do professor Lúcio, se for esperar e confiar em outras pessoas, "tamo ferrado".
Livros amados, aqui vou eu.
É isso.


                                 


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