domingo, 9 de junho de 2013

Os Mais Bonitos

                                


Papai era uma pessoa peculiar. Tinha seu Português próprio com seu modo próprio de escrever e de falar. Tinha suas muitas manias, seus "pantinhos" (dengos e manhas). Papai era único, uma figura.
Havia dias em que nos dava seus intermináveis sermões, cismava com nosso modo de falar, vestir, criticava nossos gostos e achava defeito em tudo o que fizéssemos.
Mas havia dias, raríssimos, em que nos elogiava e nos fazia sentir especiais. 
A boa fase durava pouco e a verdadeira intenção por trás dos elogios era para pura e simplesmente provocar os outros parentes e familiares. O motivo era tolo e simples: implicar com os sobrinhos e filhos dos parentes e familiares, principalmente com seus nomes. Explico.
Nossa família tem o hábito de escolher uma letra para nomear os filhos e todos têm que ter os nomes iniciados por aquela bendita letra. Nós somos todos "R": Rejane, Rogério, Reginaldo, Rosi, Ronaldo e Renata.
Temos uma prima, a Ivete, que ri por todo e qualquer motivo e tem hora que irrita, meu. Sabe aquela pessoa que olha pra você e começa a rir do nada? Já começa a conversar rindo? É chato e irritante, na boa.
Essa prima escolheu a letra "J" para nomear os três filhos e os nomes são peculiares, para simplificar a história.
Ninguém sabe de onde, como, nem porque ela tirou esses nomes estranhos, ou diferentes, para sermos educados: Jacilberg, Jadilberg e Josemberg.
E papai, claro, criticava nossa prima risonha por ter colocado nomes tão estrambóticos nos filhos. Quando não era a gente, papai tinha que encontrar alguém para criticar, pegar no pé, encher a paciência e a vítima favorita, depois de nós, era essa nossa prima. Ele começava: "Vê só se pode uma coisa dessa! Onde já se viu a pessoa botar nos filhos uns nomes doidos desses! Os bichinhos já são
feiinhos, meu Pai do Céu, e ainda mais com uns nomes desses! Meus filhos sim, são bonitos!".
Mamãe admirava-se com os elogios e críticas de papai: "Mas muito me admira tu, Dedé.Tu vive implicando com teus filhos e agora eles são bonitos? Tu cismasse com os meninos de Ivete foi? Por quê?!"
Papai se arretava: "E eu não estou mentindo não senhora, meus filhos são os mais bonitos sim! E se tu quiser saber, nessa família todinha o único que tirou (tem) filho bonito fui eu, porque o resto... Deus me perdoe!".
Era engraçado o diálogo entre papai e mamãe: "Deus te perdoe mesmo, homi!".
"E não é verdade não, mulé? Espia só os nomes dos meninos de Ivete: 'já te pego, vou te pegar, já te peguei".
Papai criava versões dos nomes dos sobrinhos que nem imaginavam que aquele absurdo acontecia e continuava a botar defeitos nos filhos dos outros parentes. Todos tinham defeitos, mas só os filhos dele eram os mais bonitos e tinham os nomes mais bonitos também.
Só papai mesmo. 
De outra feita, mamãe coloca Fubá e Mauricinho juntos, filho de nossa amiga Cleusa, e diz para nossa avó Mãevelha: "Olhe mamãe, não são parecidos?".
E Mãevelha responde: "É, mas meu neto é mais bonito".
É muita buniteza, meu Deus do Céu.
É isso.


                                  

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