domingo, 9 de junho de 2013

Partir

                           

Não queria falar sobre o fim da vida, mas sinto-me meio triste e ando tendo sonhos com pessoas que já se foram e com outras que estão prestes a ir. Como sei disso? Não sei, apenas sinto.
Desculpem o tema.
É o destino de todos, dizem uns. Para morrer basta estar vivo, dizem outros. Para todo mundo vai chegar sua hora. É preciso ir para dar lugar aos que virão...
E as frases feitas continuam. 
Às vezes acho que é melhor usar uma dessas frases a ficar em silêncio. Outras vezes, na maioria das vezes, é melhor nada dizer.
Honestamente, não sei o que é "certo ou errado" nessas situações, se é que há certo ou errado nessas situações.
Sempre tive uma grande proximidade com a Morte e algumas vezes já me sentei em um banco gélido em uma praça gélida cercada por árvores gélidas. Tudo era tranquilo por ali, apenas frio demais.
Era comum, acredito que ainda seja, no Nordeste a morte de crianças menores de dois anos de idade. A fome, a seca e a miséria se encarregavam disso. Segundo a tradição local, todas a crianças menores de sete anos eram consideradas anjos inocentes e por isso, seus caixões deveriam ser carregados também por crianças menores de sete anos.
Vivi em Pernambuco até meus seis anos, completados no caminho para São Paulo, e era sempre chamada para fazer parte do grupo que carregaria o pequeno caixão até o cemitério. Era tão comum e eu era tão requisitada que achava aquilo normal. Crianças magras, braços e pernas finas, cabeça e barriga grandes, olhos fundos... Era questão de tempo.
Caminhávamos pelas ruas de terra vermelha e sentia o calor do sol em minha pele, o cheiro forte de terra trazido pelos ventos que só brincavam de anunciar a chuva e nos deixando a todos tão esperançosos.
Carregávamos o pequeno caixão que deveria ser sempre branco e o pequeno defunto parecia dormir tão tranquilamente. Que Deus receba essa pequena criatura que só sofreu em tão curta vida.
Quando acabava o cerimonial e voltávamos para casa, minha avó Mãevelha nos mandava tirar as roupas e os sapatos e correr para o banho. Ela dizia que "prestava não" entrar em casa após voltar do campo santo, como ela chamava o cemitério.
Tenho sonhado muito com mamãe, com meu irmão Naldão e com um conhecido já idoso, mas que recusa-se a aceitar que é idoso. Acha que ainda é o belo rapaz de forte sotaque europeu com seus cabelos negros e belos olhos azuis. Mas o tempo passou e ele não viu isso, ou não quis.
Em quase todos os sonhos com meu irmão obeso eu peço a mamãe que fale com ele e que o faça ver que ainda é jovem e não precisa se devorar junto com a comida. Mas mamãe disse que meu irmão "não tem jeito não". Deus.
Sonhei esses dias com seu enorme corpo deitado sobre uma mesa de pedra e ao chegar, sabia de alguma forma que ele estava morto. Eu ficava tranquila e achava que agora ele encontraria a paz, o conforto, a força e a coragem que nunca teve em vida. Mamãe era o leme, o porto seguro dele e de todos nós. Papai também.
Mas papai e mamãe partiram e nos deixaram já adultos e com nossas famílias formadas, mas quando pai e mãe vão embora não tem ninguém adulto ou jovem demais, somos todos crianças e achamos que nossos pais são para sempre, deveriam ser para sempre.
Deus, meu Deus dai-nos força, dai-nos paz. Amém.
Desculpem esse texto triste.


                                     
                               

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