sábado, 8 de outubro de 2011

Bolo de Araruta

É uma raiz, um tubérculo. A sua farinha é usada para fazer bolos, mingaus, biscoitos.
É recomendada para pessoas que têm a doença celíaca (intolerância ao glúten).
O bolo de araruta fica amarelinho, fofinho, delicioso.
Avô José tinha bolo de araruta em sua bodega. Em Pernambuco bodega é um pequeno mercadinho onde vende-se um pouco de tudo: fumo de corda, farinha de mandioca, fubá, sal, açúcar, café, elemento (pilhas), macaxeira, jerimum, queijo de manteiga, de coalho e bolo de araruta.
A receita do bolo de araruta é bastante simples:
1 kg de araruta (farinha)
6 ovos grandes. Se os ovos forem pequenos, pode -se colocar uns 8.
3 xícaras de açúcar ou mais. Deve-se experimentar a massa antes de levá-la ao forno.
Fermento em pó.
Mistura tudo e leva para assar. Desenforma quando estiver frio e polvilha com açúcar.
Não é necessário usar leite nessa receita.
Era um bolo bom para meu avô José e para mim; ambos intolerantes à lactose.
Avô José tinha estômago sensível e dificuldade para digerir os alimentos. Avô José não tomava leite de vaca, pois como dizem em nosso Pernambuco, "o leite ofende", faz mal. Tomava leite de cabra, mas preferia mesmo era um bom e forte café acompanhado de um pedação de bolo de araruta.
Papai, mamãe e eu íamos visitar avô José e sempre o encontrávamos trabalhando em sua bodega.
Os tristes e belos olhos verdes de meu avô brilhavam ao me ver. Era um xodó só. Amor mesmo.
Avô José me abraçava, me cobria de beijos e elogios. Elogiava mamãe por me trazer sempre bem vestida e com os cabelos domados em cachinhos angelicais.
Avô José me sentava em cima do balcão de sua bodega, mostrava tudo o que tinha de gostoso e me perguntava o que eu queria.  Papai e mamãe reprimiam o avô coruja, mas ele ignorava e tinha olhos, ouvidos e coração só pra mim.
Avô José me dava um pedaço enorme de bolo de araruta com um copão de cajuína. Era delicioso!
Eu me labuzava toda; mamãe reclamava do trabalho que teria para lavar aquelas minhas roupas brancas que agora estavam coloridas por cajuína e araruta.
Acabava a visita e voltávamos para casa. Eu caminhava feliz e às vezes parava no meio do caminho para dar mais uma olhadela em avô José.
Alguns anos depois meu outro amado avô, Paipreto, partiu e nos mudamos para São Paulo. Eu tinha seis anos quando cheguei ao meu Santo São Paulo.
Avô José continuou em Pernambuco e trabalhando em sua bodega, mas sua saúde dava sinais de que não estava bem. Os problemas estomacais, a intolerância à lactose e ao glúten somados ao cigarro acabaram por prejudicar ainda mais o frágil estômago de meu avô.
Avô José fez algumas cirurgias, mas trabalhador e teimoso que era, não seguia as recomendações médicas de repouso e moderação.
O problema agravou-se e meu avô José teve que deixar sua bodega com seu bolo de araruta.
Saudades dos tristes e belos olhos verdes de meu avô José, da sua bodega, do bolo de araruta, de papai e de mamãe.



                                                              Bolo de Araruta

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