terça-feira, 4 de outubro de 2011

Mariana

Mariana era a mãe de papai.
Avó Mariana era uma mulher alta, forte e de pés grandes. 
Por ser muito alta, avó Mariana calçava números grandes. Era difícil encontrar calçados femininos acima dos números 37 ou 38. A solução encontrada por minha avó era usar os calçados de avô José, que era um homem alto. Ele sempre comprava dois pares de alpercatas (sandálias de couro), um para ele e outro para avó Mariana.
Nossa tia Nifa, irmã de avó José, nos contava que quando avô José e avó Mariana ficaram noivos e marcaram a data do casamento, a primeira providência da noiva foi a de encomendar os sapatos brancos, pois nem mesmo na capital Recife se achava calçados femininos de número grande nas lojas comuns.
Hoje em dia é mais fácil encontrar sapatos grandes, mas o problema é que os fabricantes se preocupam apenas com o comprimentos dos calçados e dos pés e não com sua largura. Tenho pés grandes por causa da Acromegalia, mas o problema não é tanto o comprimento dos meus pés e sim a largura.
Avó Mariana era acromegálica e por isso os pés grandes e a morte tão cedo.
Avó Mariana tinha apenas 36 anos quando partiu e segundo os relatos das pessoas que conviveram com ela, a causa de sua morte foi pneumonia. É estranho imaginar uma doença respiratória fazer vítimas em regiões quentes como Pernambuco. Atribuímos a doença a regiões mais frias como São Paulo.
Mas lembro-me agora que meu Paipreto (pai de mamãe) tinha alergia respiratória e tio José de Recife também tem.
Mas...A Acromegalia não contenta-se apenas em ficar alojada tranquilamente num tumor na hipófise (cérebro), essa doença afeta vários orgãos do corpo. As principais, segundo médicos, são doenças cérebrovasculares, cardiovasculares, doenças renais, diabetes, hipertensão, dores articulares, problemas de visão e por aí vai.
A Acromegalia cerca o corpo por todos os lados e varia de pessoa para pessoa.
Posso imaginar o sofrimento de Avó Mariana; as dores para sustentar um corpanzil de mais de 1.80m e numa época em que a altura das mulheres não passava muito de 1.60m. A falta de diagnóstico e de remédios. Numa época remota e num lugar remoto os remédios encontrados eram chás, garrafadas feitas com ervas, cascas de árvore e cachaça, benzeduras, promessas e esperança.
Mesmo nos modernos dias atuais ainda não foi encontrada a cura para a Acromegalia. São cirurgias, radiocirurgias, remédios etc, tudo usado para o alívio dos sintomas da doença, mas a cura que eu queria tanto...
Penso em avó Mariana com carinho, ternura, orgulho, admiração. Dó não.
Minha avó foi uma mulher forte, tanto fisicamente como em seu cárater sério, honesto e trabalhador. Ajudava meu avô na fazenda; ajudava com a criação e a plantação. Carregava peso que muito cabra macho franzino não conseguia carregar.
Sempre gostei de ouvir falar de minha avó e sempre carreguei comigo a promessa de que se um dia tivesse uma filha a ela seria dado o nome Mariana.
Mas me parece que a Acromegalia já me roubou mais uma Mariana.
Não tem problema. Não tenho minha Mariana, mas tenho Maria Julia, Beatriz, Maitê, Michelle, Giovanna e Rafaela, que acabou de chegar a esse mundo.
Bisnetas de avó Mariana.

Beatriz e Maitê

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