sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Faz parte do meu show

Mais uma noite insone. Isso já está virando moda; parece que peguei gosto pela coisa.
Mas não é não.
São os vizinhos barulhentos e sem educação mesmo.
São vizinhos musicais também.
O vizinho da esquerda - à esquerda da minha casa; não trata-se de preferência política - tem o gosto musical variado; ora é sertanejo, ora é pagode, ora é MPB. Prefiro a velha e boa Música Popular Brasileira.
Mas às vezes o musicalíssimo vizinho abusa. Ligou o aparelho de som às sete horas da manhã e só o desligou às cinco horas da tarde! Acho que ele está apaixonado ou com dor de cotovelo, pois tocou e retocou a mesma música sertaneja-de-dor-de-corno cinco vezes!
Consegui até memorizar alguns trechos da música de dor de cotovelo.
O pior é ter que ouvi-lo cantando junto. Jesus!
Já o vizinho da direita tem um gosto musical que é um desgosto.
Sei que gosto não se discute, se lamenta; mas o pobre vizinho acha que está abafando com suas músicas horrendas tocadas em alto e bom volume.
Também acho emocionante o desapego material desses vizinhos: eles dividem suas músicas comigo e com os outros moradores e com quem tiver o azar de passar pela rua.
É tocante. Literalmente tocante.
Será que meus vizinhos musicais estão preocupados com nossa conta de luz e/ou com o fato de alguns vizinhos - eu - não termos aparelhos de som? Acho que sim. E por causa disso eles tocam suas músicas para que todos possamos ouvi-las - obrigatoriamente - e apreciá-las (nem por um decreto ou sob tortura!).
As músicas parecem sempre serem as mesmas. Acaba uma e começa outra e tem-se a impressão que é a mesma música que demora muito a acabar. É aquele tum tumm desgraçado acompanhado de uma voz masculina e outra voz feminina, ambas esganiçadas e medonhas.
São versões horrendas de sucessos internacionais que por sua vez também são de gosto duvidoso.
Sou do tempo em que cantava quem sabia cantar, hoje basta ter um corpão, uma carinha bonitinha e um Q.I. de ameba invertebrada e acerebrada e pronto, já temos um novo sucesso!
Minha Nossa Senhora do Chuveiro, dai-me resistência !!!
Mas...
Há os raros bons momentos musicais. Hoje mesmo, por exemplo, acordei ao som de Faz parte do meu show, de Cazuza. Sabe quando a gente está dormindo e acorda aos poucos, como se deixasse lentamente o mundo dos sonhos e caminhasse em direção a esse nosso mundo real?
Nossa! Bonito isso,hein?
Fez-me lembrar também do livro Música ao longe de Erico Veríssimo; "Um amor que não tem forma é como uma música ao longe..."
Bom. Acordei ao som dessa bela música de Cazuza e lembrei-me de minha avó Mãevelha. Era Maria Higinia, mas para nós os netos e bisnetos ela era simplesmente mãevelha.
Mãevelha gostava de Faz parte do meu show,principalmente da parte que diz "Te levo na escola e encho tua bola com todo meu amor..."
Ela dizia, enquanto fazia seus crochês com os gatos aos seus pés brincando com o novelo de linha: "Olha só que música interessante, minha filha. O rapaz vai levar a moça pra escola".
Acordei meio brava por ter o sono interrompido mas também rindo pela lembrança de minha avó.
Minha família é musical e a música e sua musicalidade fazem parte de nosso show.
Os vizinhos musicais que os digam!

Um comentário:

  1. Não gostei do livro psciografado, achei ele incompleto, mas tem essa "verdadeira psicografia do cazuza" de 1996 que muito mais interessante que o livro: http://www.4shared.com/document/qvQupRbL/PSICOGRAFIA_-_CAZUZA.html

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