sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Ruas

Gostava de andar pelas ruas do bairro e observar as casas, as pessoas, os carros...
Esperava o entardecer, o sol abaixar para poder caminhar tranquilamente.
Hoje não posso mais me dar ao prazer de caminhar e me encantar com o belo fim de tarde; não posso mais me deliciar com o doce cheiro das flores, da terra, da chuva.
Perdi o olfato e tenho mobilidade reduzida. Várias cirurgias.
Mas...
Antigamente havia mais árvores nas ruas e eu adorava o jasmim que caia no chão e eu pegava para cheirar e enfeitar a casa.
Havia pés de boldo na calçada do vizinho. Sempre que alguém tinha um probleminha no estômago, lá íamos nós "roubar" umas folhinhas de boldo. Tudo pelo bem estomacal daqueles que cometiam exageros contra o próprio corpo. Por que as pessoas se auto destroem?!
Bom...
Havia uma belíssima paineira que forrava o chão com suas belas, delicadas e cheirosas flores cor de rosa. Havia, não há mais. Foi derrubada para dar lugar a uma pequena transportadora e permitir a passagem quase impossível de carretas gingantescas. É o progresso destruidor.
Havia casas de muros baixos e quintais enfeitados com plantas, flores e árvores frutíferas. Hoje há cada vez menos casas e mais prédios. Menos quintais floridos e mais cimento e no lugar das plantas, um lugar para o carro. 
No lugar dos muros baixos há grades altas, lanças, arame farpado, seguranças profissionais, camêras filmando a tudo e a todos, como um Big Brother de George Orwell no livro 1984. Pelo amor de Deus não confundam com aquele lixo anual que passa na TV. Na época da "casa mais vigiada do Brasil",  nem me dou ao trabalho de assistir a programação desse canal.
Hoje há prédios erguidos à pressas para dar lugar a mais uma transportadora. Espaços exíguos para acomodar caminhões altos e enormes. As ruas são invadidas por eles assim como o espaço e a segurança para se andar a pés.
Estacionar o carro na rua é outra dificuldade.
Uma nova realidade das ruas de hoje é a música de gosto duvidoso das pessoas. O volume que tocam as ditas cujas é altíssimo e me pergunto se a pessoa dirigindo o auto não se incomoda com tanto barulho.
É uma situação estranha e paradoxal. Progresso + modernidade = gente mal educada e barulhenta. 
Hoje há uma imensa e crescente falta de educação e desrespeito pelo outro. Somos obrigados a ouvir as músicas horrendas e vulgares que tocam em alto volume.
Somos obrigados a conviver com excesso de carros e caminhões que dominam as ruas.
Somos obrigados a ver árvores e plantas saindo para dar lugar a mais cimento.
Meu bairro era bucólico, verde, simples. Havia chácaras, de onde "roubávamos" umas verdurinhas de vez em quando. Hoje há firmas, indústrias, trânsito, caos!
Só as ruas mais importantes do bairro eram asfaltadas e eu adorava o cheiro de terra molhada pela chuva.
Havia terrenos baldios onde pegávamos flores como copos de leite, dálias; e onde formavam piscinas naturais quando chovia bastante. Havia nessas piscinas muitos girinos e eu os pegava e colocava na caixa d´água extra que havia no quintal. Era uma época de muita falta d´água e era comum as casas terem um depósito extra de água ou mesmo um poço. 
Sim, mamãe ficava louca com minhas experiência biológicas. Me obrigou a tirar os girinos e dar um jeito neles. Eu que nunca tive jeito! Foram girinos, peixes, porquinhos da Índia, gatos, cachorros, tartarugas, pintinhos...E não deixava meus irmãos matarem abelhas e formigas porque elas eram do bem.
Nas noites de verão mamãe sentava-se na calçada e conversa com os vizinhos enquanto observava os meninos jogarem bola. Não nos preocupávamos com assaltos, invasões, sequestros relâmpagos, arrastões. Essas coisas não existiam em alto número com existem hoje. A vida era simples. As pessoas eram simples.
Hoje o bairro, a rua, as pessoas não são mais simples.
Hoje há menos flores, menos crianças brincando na rua, menos vizinhos conversando na calçada enquanto observam e até se divertem com as brincadeiras da molecada.
Hoje não tem mais mamãe nos mandando buscar café para ela e acender um cigarro enquanto ela " só conversava" com a vizinha fofoqueira.
Mamãe dizia: "Não estamos fofocando, só conversando".
Imagina, mãe.


Boldo

Conversa na calçada
Meninos jogando bola
Jasmim

Um comentário:

  1. De onde você "pegou" essas fotos? Me fez lembrar das noites nas calçadas, do futebol arte jogado por irmãos e "primos" na rua. E nossa mãe perguntando por que o Reginaldo não saia de perto do goleiro, da equipe adversária!!!! Emoção e saudade, de algumas coisas e pessoas, não de tudo!!
    até,Rose.

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