terça-feira, 17 de julho de 2012

Diferente

                                             


Como diz o tio Francisco do Paraná: "Diferençô muito!".
Antigamente as casas do meu bairro tinham jardins floridos e árvores frutíferas que viviam sob nosso ataque.
Mesmo andando pelas ruas era fácil encontrar terrenos baldios com goiabeiras, mangueiras, abacateiros e pés de cana. Adoro chupar cana e faz tanto tempo que eu não faço isso.
As goiabeiras eram nossas vítimas favoritas, pois eram árvores mais baixas que as outras e assim ficava mais fácil pegar as goiabas ainda verdes. 
Voltávamos para casa com as mãos cheias de goiabinhas verdes e mamãe dizia: "Vocês não comam isso não. Isso tá verde, vai ofender vocês".
Nossa vizinha fofoqueira tinha uma cerejeira e uma árvore que dava uma fruta estranha de nome estranho: uvaia. 
As árvores frutíferas ficavam bem perto do nosso muro e nós sempre dávamos um jeito de colher algumas; nossas favoritas eram as cerejas e quanto mais escuras, mais doces.
A molecada da vizinhança também apreciava as frutas da vizinha e quando ela precisava sair, nos chamava e dizia: "Vocês olhem a cerejeira pra mim que quando eu voltar eu dou um agrado. Não deixem os moleques da rua pegar minhas cerejas, tá bom?".
Concordávamos e assumíamos a missão de proteger as frutas, mas éramos agentes duplos: protegíamos dos moleques e pegávamos para nós.
Eu e Rogério éramos mais altos e mais velhos e subíamos no muro para pegar as cerejas mais vermelhas enquanto Rosi ficava segurando uma tigela para colocarmos o produto de nosso roubo frutífero.
Ninguém gostava da uvaia azeda, mas devorávamos as cerejas vermelhas e doces.
A vizinha chegava e dali a pouco ouvíamos seus gritos direcionando o marido para onde as frutas maduras estavam. Ela nos chamava e entregava uma bacia cheia de cerejas e nos agradecia por nossos serviços prestados. Se ela comentasse que havia mais cerejas quando saiu e agora quando voltara tinha menos, dizíamos que foram os moleques da ponte que subiram no muro e pegaram as frutas. Não podíamos fazer nada, pois os moleques eram bem grandões e mais fortes que nós.
Anos depois nos mudamos para outra rua do bairro e nossa vizinha, também fofoqueira, tinha um pé de figo em seu quintal. Adoro figos verdes em calda.
Quando os figos maduravam, ela nos dava alguns, mas gostávamos mesmo era de colher os figos diretamente da árvore, mas a vizinha não apreciava muito essa nossa veia ecológica.
Uma vez um conhecido nosso olhava os figos e pediu para que um de nós ficasse no portão vigiando. Não tínhamos visto a vizinha e pensamos que ela havia saído. O conhecido pendura-se no muro e começa a tatear em busca dos frutos maduros quando ouve uma voz: "Então é você que está pegando meus figos?!".
O conhecido quase enfartou com o elemento surpresa, mas teve coragem e cara de pau para dizer: "Não senhora! Estou fazendo ginasca. Sabia que fazer ginasca é bom pra saúde? E eu nem gosto de figo!"
Mas hoje não têm mais cerejeiras, goiabeiras, pés de uvaia, pés de cana...
Hoje vejo árvores sendo derrubadas para dar lugar ao cimento.
O tio Francisco do Paraná tem razão: "Diferençô muito mesmo".


Cana


Uvaia
                                          
                                    

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