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sexta-feira, 18 de setembro de 2015

É preciso

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Hospital do Servidor Público Estadual, Grupo de Coluna. Espera.
Exames são entregues ao médico, um jovem rapaz que mais parece um menino.
O doutor sai por alguns instantes com os exames e retorna acompanhado de outro médico, um dos cirurgiões.
Moço novo e franzino e com o maravilhoso sotaque nordestino. Sinto-me de volta pro meu aconchego quando escuto as vogais abertas, o "S" chiado de Pernambuco e outros tons do Nordeste.
Meu Nordeste tem cores e tons, sons e melodias que só quem é de lá entende, compreende, escuta e vê.
Ando meio poética. A melancolia tem esse efeito em mim.
O doutor fala sobre a necessidade de uma nova cirurgia e sobre os riscos envolvidos; não trata-se apenas de tirar os parafusos, que estão soltos, e reajustá-los, é muito mais que isso.
Escutei com atenção e fiz perguntas. Aquela coisa "trancada" dentro de mim quis explodir; segurei.
"Você é um caso difícil e interessante e toda a equipe está muito interessada em você".
Sim, sou muito difícil, ainda brinquei.
Tenho essa habilidade, creio eu, de rir e fazer graça só para segurar aquela coisa trancada que teima em explodir quando preciso manter a calma e parecer normal. Sou humana, demasiado humana.
Estou habituada a hospitais, laboratórios, exames, consultas, remédios e afins e essa será minha oitava cirurgia: cérebro, coluna, traqueostomia e apendicite, a mais "basiquinha" de todas.
Pensei que ficaria livre disso tudo e só iria às consultas de rotina para manter os cuidados e o tratamento. Pensei que voltaria às salas de aula, aos meus pequenos, aos diários de classe, provas, trabalhos e coordenador nos pressionando para entregarmos notas e faltas a tempo para as reuniões.
Era muito stress, mas era uma coisa boa e eu trocaria esse stress por esses problemas de saúde.
Mas se é para eu voltar a andar sem andador, voltar a dirigir e ficar boa, eu encaro. É mais uma batalha e estou acostumada a elas; sou velha guerreira.
Sim, os riscos são meio assustadores, como em toda cirurgia, mas encarar é preciso.
E quando eu ficar boa, vou ver meu doce mar oceano. Mar calmo nunca fez bom marinheiro, disse alguém sábio e experiente.
A água está chegando, vou fazer as coisas. Até que me viro bem mesmo com todos esses problemas de mobilidade.
Faz muito calor. Vou fazer suco de beterraba com cenoura; bem gelado.
É isso.



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segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Ombros

                              


Tenho tido tempos difíceis, bem difíceis.
Como dizem os alunos: "Tá a maior zica!".
Tive uma pequena melhora nas articulações e demoro menos para me levantar.
Tem fase boa e outras nem tanto e assim segue a vida.
Tenho andando sem ânimo, motivação, vontade... Os problemas têm tirado de mim o prazer dos meus pequenos prazeres favoritos: ler, escrever, cuidar das plantas, cozinhar...
Mas hoje eu cuidei da baby rose vermelha; podei, tirei galhos e folhas secas e transplantei para um vaso maior.
Pretendia fazer outras coisas, mas não tinha água; vou verificar se já chegou.
São Paulo enfrenta uma das pioras secas de sua História; quem sabe assim o povo daqui aprenda a respeitar o sofrimento do nordestino ao sentir na própria pele a falta d'água. Não é fácil não.
Ontem foi dia dos pais e fui almoçar na casa da minha irmã; ela havia preparado feijoada, gosto não.
Comi arroz, feijão e bife. Gosto assim.
Li algumas bobagens escritas por pessoas que são eternas Peter Pan, recusam-se a crescer. A gente já é gato escaldado, já sabe o final do filme, mas mesmo assim fica chateado com certas tolices, futilidades, infantilidade e por aí vai.
Aí me peguei pensando: "Será?"
Não, não. 
Se a gente começa a pensar na possibilidade de se tornar realidade ou fazer sentido uma tolice dita ou escrita por um tolo, o tolo seremos nós.
Como diziam meus antigos: "Não podem mais que Deus não".
E como dizia meu bisavô Francisco: "O que é ruim se destrói-se por ele mesmo".
É apenas uma fase ruim, vai passar.
Tudo passa nessa vida, até uva passa.
Tem que fazer gracinha para aliviar um pouco esse peso incômodo que fere nossos ombros.
É isso.


                                        


terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Empregos de papai

                            


Papai trabalhava como vaqueiro na Fazenda Taquari, onde nasci. 
Papai adorava seu trabalho e orgulhava-se de seus conhecimentos na lida com o gado.
Mas a seca mais uma vez assola nosso Sertão, o gado morre de fome e sede, os retirantes tentando vida nova em "Sum Paulo" e papai sem emprego.
Papai vai de fazenda em fazenda mas a situação é a mesma e é aí que um dos poderosos coronéis oferece um emprego de coveiro no cemitério da cidade.
Papai não tinha experiência nenhuma nisso, mas mentiu dizendo que sabia tudo sobre a nova profissão. Sobreviver é preciso.
Papai levanta-se cedo, como todo bom nordestino, e sai leve e fagueiro para seu primeiro dia no novo emprego.
Papai tem que abrir covas novas, tirar os restos das sepulturas existentes e colocá-los em gavetas para dar espaço aos novos defuntos que viriam.
A seca mata gente e bicho sem piedade. Ela não escolhe não.
Papai pega as ferramentas de trabalho e sem experiência nenhuma, mete a pá  bem no meio de uma cova cujo defunto fora enterrado há menos de um mês.
Uma explosão seguiu-se e um susto enorme também. 
Papai contava: "Eu carecia de trabalhar e fiquei reparando como o outro coveiro fazia. Meti a pá na cova e puf! Estourei o bucho do defunto!".
Nós ríamos quando ele contava, mas posso imaginar a vergonha e o medo de perder o emprego que ele sentiu.
Vida de coveiro não era para papai e ele decidiu tentar a sorte em terras paulistanas. Foi metalúrgico por muitos anos e antes de se aposentar trabalhou como vigia de uma empresa.
Mesmo aposentado, trabalhava vendendo doces e salgados em sua barraquinha na calçada do Ambulatório Maria Zélia.
Papai era inquieto, agoniado, avexado, trabalhador, honesto, neto de "intaliano", pernambucano, palmeirense e macho.


                                   

                                   

sábado, 24 de novembro de 2012

Horas

Meu lindo e vesgo Léo Caramelo

Gosto de levantar cedo. Desligo a lâmpada que fica acesa durante a noite; mamãe dizia para sempre dormirmos com uma luz acesa, pois assim os anjos encontrariam nossos lares para levar nossos pedidos e trazer-nos as bençãos divinas. Já falei sobre isso aqui em postagem anterior.
Bom...
Vi uma entrevista do cantor com bela e poderosa voz, Zé Ramalho. Ele disse que todo nordestino gosta de se levantar cedo, e eu concordo. Também pudera, num calor arretado daquele não tem como o cabra ficar mais tempo na cama não!
Levanto, apago a luz, vou ao quintal, dou bom dia às coisas da Natureza, agradeço por mais um dia de vida, coloco ração para os gatos e os peixes, arrumo e limpo o quintal dos bichanos, pego o jornal na garagem, ligo a TV e tento assistir aos telejornais matinais.
Tomo meus remédios e alguns deles me deixam sonolenta e com tontura; volto para a cama e tento assistir TV.
A gataiada, que já dormira a noite toda ao meu lado, volta de barriguinha cheia e começa a disputar o espaço mais próximo a mim. Branca Maria deita-se no travesseiro ao lado e encosta a cabeça na minha; muito lindo. Aurora e Alice disputam o velho edredom, Morena Rosa deita-se aos meus pés, Léo Caramelo ronrona e encosta em minha barriga e Ébano Nêgo Lindo fica em frente à TV, impedindo que eu veja alguma coisa. Eles querem atenção total e irrestrita e eu lhes dou.
Fico assim por algumas horas, cercada de gatos manhosos, ciumentos e lindos  e tentando assistir TV.
O chamego é tão bom e o amor, carinho e confiança são recíprocos.
Li em algum lugar que pessoas que têm muitos gatos são solitárias, não sei se concordo. Sou solitária por opção, gosto do meu canto, do meu espaço, do meu sossego.
Sou normal, embora não pareça; saio, interajo com as pessoas, me arreto com os olhares de estranhamento dos ignorantes, embora não diga nada, sou educada, mas quando volto para casa, quero paz. Minha tão almejada paz.
Passo minhas horas cuidando do meu jardim, das minhas lindas plantas; adoro sentar-me no chão e folhear meus amados livros enquanto tiro o pó de suas preciosas páginas, adoro ver as fotografias da minha grande família, dos lugares lindos por onde passei, adoro ouvir minhas músicas em um volume que não incomode ninguém, bem ao contrário dos meus vizinhos.
Pego o telefone e tento falar com alguém, mas as pessoas estão tão ocupadas, apressadas, sem tempo... E eu queria falar sobre um livro que li, um filme que vi, uma notícia, uma coisa, qualquer coisa... Volto para minha solidão...
Vou até a cozinha, faço chá agora, o café me dói o estômago; faço bolos, pudins e outras guloseimas apreciadas por minha gulosa e "zoiuda" família.
Pego meu laptop, que decidiu funcionar por um pouco mais de tempo, e escrevo. Adoro escrever.
Estou bem assim, vivo bem assim. Não é porque gosto do meu espaço que sou antissocial, arrogante ou outros adjetivos pelos quais me chamam.
Sou boa pessoa, apenas gosto de ficar só por algumas horas.
Adoro estradas, caminhos e estou doida para pegar uma estrada sem destino. Já fiz muito isso. Enchia o tanque e saía sem destino e descobria lugares lindos, cidadezinhas graciosas...
É disso que eu gosto. Coisas simples, sem barulho, sem riscos, sem bebedeira, sem baladas. Deixo isso para os jovens sem juízo que acham que podem tudo e que são imunes aos problemas e perigos.
Eles são jovens e um dia aprenderão. Espero.
É isso.


Minha terrível Aurora
Morena Rosa, minha Rosinha no meu lindo jardim

                           
                                   

domingo, 4 de novembro de 2012

Bicho

Léo Caramelo a descansar sob e sobre as plantas, seu lugar favorito
                                 

Levei Léo Caramelo à clínica veterinária e ele foi muito bem atendido pelo jovem e educado Doutor Leonardo, xará do meu gato.
Mais um com infecção urinária devido à ração. Já troquei de ração conforme sugerido pela Doutora Fabiana, mas ainda não deu tempo de reverter os efeitos nocivos e cumulantes da ração anterior.
O veterinário explicou que os machos sofrem mais e sangram mais com as infecções urinárias porque o canal do pênis é mais estreito. Tadinhos.
Meu Léo sofreu e eu sofri junto com ele. Chorei por demais. Só tenho tamanho mesmo.
Léo foi medicado e está a se recuperar conforme o previsto; ainda está molinho e encolhidinho pelos cantos, mas ficará bem, se Deus quiser.
Eu havia pensado, como disse em postagem anterior, que tivesse sido briga de gatos, mas não foi. Assustei-me com tanto sangue e fiquei desesperada.
Ouvi de pessoas frias, práticas e sem Jesus no coração que deixasse pra lá, que o gato se curaria sozinho, que é bobagem gastar dinheiro com bicho e blá, blá, blá...
Deu uma vontade arretada de mandar o cabra para @#$%!, mas sou educada.
Não vou levar dinheiro comigo quando morrer, acho uma crueldade ver uma criatura inocente sofrer com dor e nada fazer; tem que ter muito sangue frio.
Eu não. Eu tenho sangue quente, vermelho, Latino, nordestino e arretado.
Oxe! Longe de mim não ajudar um bichinho que sofre.
É por isso que me entreguei ao vício de jogar na Mega Sena na esperança de ganhar e assim realizar meu sonho de ter condições de proteger todos os animais que à minha portar bater... bichos humanos, inclusive.
Minha alma agora está mais tranquila, graças a Deus.
É isso.

                                   



segunda-feira, 11 de junho de 2012

Arribaçã

                                              


Arribaçã, arribação, avoantes, pombas do sertão; são todos nomes de uma ave que se parece com uma pomba.
Arribaçã canta triste quando precisa deixar seu ninho para fugir da seca.
Arribaçã é comida de nordestino, é fonte de proteína quando a seca assola e devora o Sertão.
Mamãe e papai diziam que os filhos quando crescem são como arribaçã, não veem a hora de deixar o ninho. 
Que a chuva chegue no meu Sertão e se abanque um bocadinho.
Que arribaçã cante de alegria.
Que arribaçã não careça de deixar seu ninho nem o Sertão.
Que os filhos, que como arribaçã deixam o ninho, que deixem para construir seus próprios ninhos e não para fugir da tristeza que é a Seca.
Tomara meu Deus, tomara.


                                       





domingo, 27 de maio de 2012

Itália

Paróquia de Casa Luce
                                              
Papai tinha orgulho de dizer que era nordestino neto de "intaliano", além de pernambucano, palmeirense e macho! Exatamente nessa ordem.
São Paulo é a cidade mais italiana fora da Itália e a partir do mês de maio podemos apreciar a cultura, a música, a alegria e principalmente a culinária italiana nas festas típicas de Casa Luce, San Genaro, San Vito, Achiropita e quermesses de bairro.
Muito macarrão, vinho quente, quentão, bolos, doces, jogos e muita alegria.
São festas juninas que trazem o melhor do sertão com o melhor da Itália e esquentam as frias noites do outono/inverno paulistano.
Ontem fomos eu, minha irmã Rosi, meu cunhado Pepê e minha sobrinha Beatriz à Festa de Casa Luce (Casa de Luz) no bairro do Brás, um bairro tipicamente italiano mas que recebeu e recebe migrantes e imigrantes de outras paragens: italianos, nordestinos, coreanos, bolivianos...
São Paulo está sempre de braços abertos a receber gente dos quatro cantos do mundo.
Passeamos pela Rua Caetano Pinto, entramos na Paróquia de Casa Luce e depois fomos degustar uma bela macarronada da mamma ao som de belas canções italianas.
São canções conhecidas por nós, pois ouvíamos no rádio que ficava sempre ligado quando mamãe ficava em casa. Adorávamos quando mamãe saía mais cedo do trabalho ou quando não ia trabalhar. Ela trabalhava em casa, e muito, mas estávamos em sua companhia, para nossa alegria.
Músicas como "Torneró, Io que amo solo te, Dio come ti amo, Roberta, Champagne" eram tocadas no rádio e cantávamos num italiano improvisado. Algumas músicas também foram temas de novelas e é muito bom ouvir de novo boas canções.
Fotografei a capela, o cantor de bela voz e Beatriz se deliciando com o macarrão.
Rosi perguntou se ela queria mais alguma coisa e ela disse: "Não, mãe. Eu vou si matar com esse spaghetti aqui".
E enquanto definíamos o cardápio, eu pergunto à Beatriz se ela queria macarrão e ela disse: "Macarrão não, eu quero spaghetti".
É isso.


Beatriz degustando o macarrão da mamma
                                      

quarta-feira, 21 de março de 2012

Caminho

                                                  


Gosto de caminhos.
Caminhos de terra, de chão batido.
Caminhos com o capim dourado e queimado pelo sol e pelo pisar dos pés e das caminhadas.
Celebro quando encontro um caminho de terra perdido em meio a tanto cimento e asfalto na nossa Pauliceia desvairada.
Aguardava passagem em um cruzamento complicado e até gostei da demora, assim pude entregar-me às memórias, lembranças e saudades que os caminhos me trazem. Havia um caminho de terra beirando o asfalto da rua e o cimento da construção.
...
Uma amiga minha, a Cleusa, me perguntou se me lembro mesmo de tudo o que escrevo e a resposta foi e é: Sim.
Foi tudo tão curto, tão rápido e tão intenso mas que deixaram as marcas que hoje são os meus pilares de sustentação.
Minha curta e intensa infância no sertão nordestino do meu amado Pernambuco.
Minha infância e adolescência de trabalho, grandes responsabilidades e grandes cobranças aqui em meu querido São Paulo.
Os mimos, manhas e lundus dados a mim e feitos por mim com o apoio, a conivência e o amor do meu avô Paipreto e do meu avô José.
As broncas de mamãe e de Mãevelha.
Foi tudo tão bonito; mesmo sofrido, mesmo dolorido, mesmo esperançoso, mesmo triste algumas vezes, mas sempre bonito.
Os caminhos por onde andava segurando a mão de mamãe entre os pés de feijão.
Os caminhos pelas ruas de Gravatá com uma mão no bolso da minha adorada jardineira e a outra segurando a mão do meu Paipreto.
Os caminhos até a bodega do meu avô José para me deliciar e me lambuzar com bolo de araruta e tubaína.
Os caminhos pelo milharal e pela mata em busca de coquinho catolé com meu Paipreto.
Os caminhos até a casa de tia Antônia para me deliciar com o lambedor feito por tia Anália.
Os caminhos até a casa de tia Nifa e bisavó Gina para me deliciar com a salgada farofa de farinha e ovo.
Os caminhos que meu bisavô Francisco percorreu quando deixou esse lado da vida. Eu o vi caminhar, parar no meio do caminho, tirar o chapéu, me olhar, se despedir de mim e voltar ao caminho. Eu sentada à mesa saboreando minha farofa salgada via Mãevelha e bisavó Gina no quarto sentadas ao lado do corpo do meu bisavô Francisco; bisavó segurava uma vela acesa nas mãos dele e rezava pedindo a Deus e ao Povo lá de cima que recebessem meu educado, elegante, doce e gentil bisavô. Eu olhava aquela cena e olhava para fora e via meu bisavô se afastar pelo caminho; como ele podia estar deitado na cama e andando lá fora ao mesmo tempo? E por que Mãevelha e bisavó choram? Por que mamãe chora? Daqui a pouco bisavô volta. Oxe!
...
Os caminhos pelas ruas do bairro das chácaras e hoje dos caminhões.
Os caminhos ao encontro de mamãe.
Os caminhos de volta da escola para ficar em casa com meus irmãos.
Os caminhos até os hospitais.
Os caminhos para sair do coma e voltar para esse lado da vida.
Os caminhos até aqui.
Você não sabe o quanto eu caminhei...


                                                 









quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A mala era um saco e o cadeado era um nó

                                            


Mamãe usava muito essa frase, que é letra de uma música de Luiz Gonzaga, quando ia contar as histórias e os causos de pessoas que deixavam o Nordeste em busca de uma vida melhor em São Paulo.
Era uma referência à simplicidade dos pertences que os retirantes nordestinos traziam consigo. Não havia muito o que trazer, o pouco que tinham fora vendido para poder conseguir algum dinheiro e comprar a passagem de ônibus para São Paulo e deixar algum com a família que ficaria a aguardar esperançosa.
Às vezes viajam de "pau de arara" e assim economizavam o pouco que tinham.
A bagagem desses humildes retirantes consistia numa "pareia" (par) de roupas, num par de alpargatas (sandálias que eram chamadas de "oprecatas"), uma toalha de banho e um cobertor muito fininho e simples que era conhecido pelo singelo e sugestivo nome de "abafa peido".
Não havia necessidade de mala, chaves e cadeados. Nada disso.
Porque a mala era um saco e o cadeado era um nó.


Pau de Arara